O que os leitores querem: um jornalismo isento ou um espelho daquilo que pensam?

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Não existe jornalismo imparcial, segundo Alexandre Marini. Em artigo publicado no Observatório da Imprensa, o professor e sociólogo avalia que nos espaço destinado a artigos opinativos, cada vez mais a imprensa tem demonstrado o afunilamento de ideias, ou o esvaimento da “pluralidade”. O leitor médio brasileiro costuma se informar a partir das redes sociais e, na maioria das vezes, busca conteúdo que confirme suas convicções e critica aquilo que vá de encontro com seus dogmas – inclusive desconsiderando o trabalho jornalistico por trás do que é divulgado. Para onde caminha a comunicação?

Por Alexandre Marini

Isenção ou identificação?

Do Observatório da Imprensa

O que os leitores querem: um jornalismo que busque o máximo de isenção ou um espelho daquilo que pensam?

Há muito já sabemos que imparcialidade não existe nem em sentença judicial, quanto mais na produção diária de notícias. A crítica aos jornais deve também passar por uma crítica de consciência do leitor. Não basta acusar a ausência de imparcialidade das mídias jornalísticas, o que é importante, pois deve-se ir além. A busca pela imparcialidade está hoje mais na capacidade do leitor de buscar diferentes narrativas factuais e pontos de vistas entre as inúmeras fontes e formas de acesso trazidos pela era digital do que pela ação editorial dos jornais que, como já sabemos, nunca foram capazes de tal feito.

Anteriormente considerado um produto altamente perecível (o que as bancas de jornais não vendiam até o fim do período da manhã estava fadado ao encalhe), os jornais agora são reverberados pelos leitores através das redes sociais, durante o dia todo e, muitas vezes, pelos dias subsequentes (no último caso, o que importa não é a novidade da notícia em si, mas a capacidade de permitir passar a ideia que o leitor tem sobre o mundo ou seus problemas).

Cada vez menos o editor tem controle sobre o impacto do que é publicado. Segundo a Reuters, o brasileiro é o que mais consome notícias por redes sociais (70%) e o que mais comenta (44%). Uma notícia ou artigo em local de pouco destaque em um jornal pode ser compartilhado quase infinitamente, ganhando uma visibilidade antes impensada editorialmente. O 4º poder está mudando e isso deve-se muito à forma pela qual o leitor se relaciona com as notícias.

A pluralidade se esvai nos editoriais e nos artigos de opinião

Para repercutir uma mesma forma de pensamento vale qualquer coisa. De Joselito Müller a Diário Pernambucano, conhecidos por inventarem notícias falsas, são reproduzidos nas redes sociais como verdades desde que o artigo ou “notícia” tenha a mesma linha de pensamento de quem compartilha, o que, para muitos, parece ser o suficiente para ser verossímil.

Nesse ínterim, notícias sem qualquer relação com a verdade, como o gasto de milhões pelo Ministério da Cultura para a produção de uma estátua com mulheres seminuas em homenagem ao funk, tampouco com um discurso minimamente verossímil, como a instituição do bolsa-prostituta que daria dois mil reais ao mês para as mulheres que deixassem esta profissão,

Os grandes jornais de hoje não vivem só de novidades. Os artigos de opinião têm a capacidade de se aproximar do leitor (não necessariamente dialogar) e fogem da perecividade comum às notícias. Estas últimas servem, no entanto, como combustível para novos artigos opinativos, originais ou não, de qualidade ou não, repetitivos ou não. O número de artigos de opinião é quase tão grande quanto o noticiário. Basta ir a jornais como Folha de S.Paulo, Estadão e O Globo para perceber isso. Vendem, inclusive, a ideia de que essa pluralidade é sinônimo de isenção. Mas quem lê Guilherme Boulos, lê Kim Kataguiri?

A maioria dos articulistas conversa com um público específico, dado à reprodução de seus artigos nas redes sociais, pequenos sites, blogs ou demais páginas digitais, como música de uma nota só, repetitivamente, exaustivamente. Tal “pluralidade” defendida pelos jornais serve menos como análise dos fatos e mais como marcador de determinados pontos de vista ou ideologias compartilhadas por certos grupos de pessoas.

Nos pequenos portais de notícias, a pluralidade se esvai tanto nos editoriais, nos artigos de opinião, como nas notícias que produzem e reproduzem, geralmente contra ou a favor de alguma coisa. De Brasil 247 à Folha Política, quem entra lá sabe exatamente o que vai encontrar. Funcionam como as reprises dos programas e desenhos infantis – muitas vezes fantasiosos –, que não cansam as crianças mesmo sendo repetidos e repetidos indefinidamente, sem apresentar novidades no enredo. Diz a psicologia infantil que isto está ligado à capacidade das crianças de terem controle sobre o que veem. Sem surpresa, sabem, de antemão, que o rato dará um jeito de escapar do gato até final do episódio e que tudo acabará como deve acabar: sem sustos. O mesmo comportamento parece permanecer em muitos leitores, já adultos.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

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  1. Artigo bobo, como de resto ficou o OI.

    O que não possui nada de original é essa análise tola. Há anos leio análises semelhantes. E o OI, depois que Alberto Dines se indispôs com alguns dos melhores analistas que lá escreviam (Luiz Egypto e LMC, por exemplo), perdeu completamente a significância. Na mesma ocasião o portal de análise de mídia restringiu a participação de leitores, que comentavam os artigos. Resultado: quase ninguém mais lê ou assite ao OI. Eu era leitor assíduo; lia as análises diàriamente. Depois das mudanças que fizeram, abandonei o portal. Há mais de seis meses não o acesso e não leio pràticamente nada do que  é publicado lá.

    Já fui leitor diário e assinante de jornais e revistas de papel. Mas depois que o oligopólio midiático se uniu em torno do instituto millenium e se transformou num partido político, o PIG, aí o ponto de ruptura foi atingido. O articulista critica os leitores e alguns blogs, mas não faz menção ao que disse Judith Brito, então presidente da ANJ, ao admitir que o oligpólio dos grandes veículos de comunicação tinham assumido o papel de partido de oposição aos governos petistas. Alexandre Marini quer sugerir que algum dia houve – ou que hoje em dia haja – pluralidade e imparcialidade no jornalismo do oligopólio? A quem ele pensa que enganar? Os leitores abandonam os veículos tradicionais exatamente porque perceberam a manipulação, a distorção, a perseguição política, a omissão e mesmo as mentiras deslavadas e assassinatos de reputação que os veículos do PIG fazem em relação aos adversários sócio-políticos, ideológicos e econômicos daqueles que controlam os grandes veículos de comunicação.

    Leitores atentos, observadores e inteligentes sabem que não existe jornalismo neutro ou imparcial. O que existe é jornalismo honesto. E jornalismo honesto é o que menos se encontra nos chamados veículos da velha mídia comercial. A diferença dos blogs para os veículos da velha mídia comercial é que eles não tentam vender ao leitor uma falsa imparcialidade. Mesmo sendo parciais, os blogs são mais honestos que os veículos da velha mídia comercial; não é por outra razão que a audiência dos blogs e redes sociais cresce exponencialmnete, enquanto a velha mídia patinha ou declina. No artigo, Alexandre Marini compara o Brasil 247 à Folha Política, uma tremenda forçação de barra. Esse tipo de comparação equivale a chamar o SPD alemão de extrema esquerda, para compará-lo com a extrema direita, hoje representada pelo Pegida.

    1. Desde minha infância ( sou um

      Desde minha infância ( sou um septuagenário )  costumei-me a , já pela manhã, ler avidamente os jornais do Rio. Houve tempos em que meu pai comprava a ùltima Hora, O globo e o Correio da Manhã. Lia Alceu, Corção, Sérgio Porto, Antonio Marinho, Ibrahim Sued, Nelson Rodrigues,  editoriais dos jornais ( tinha , às vezes O Jornal )  Era época dos matutinos e vespertinos. Hoje, no Rio,  quem concorre com o Globo ? Os jornais , rádios ( Inclusive a JB )e canais de tv sobreviventes, repercutem tão somente o que o  Sistema Globo divulga. É o famoso pensamento único,  pois os editoriais dos Frias, Marinhos, Civitas, Mesquitas….cantam a mesma canção, batem nas mesmas teclas…

           Resta-me as redes  sociais,  artigos de leitores e ex-leitores de jornais ( como eu )  que comentam discutem ou formulam algo. E há as publicações de jornalistas libertos do jugo das famiglias dos proprietários do òrgãos de comunicação. Há ainda publicações de historiadores e acad~emios diversos que ,  na sua área de conhecimento abordam aspectos raramente presentes nas publicações impressas.

           Havia saída em gestação na EBc,  mas foi atingida ,  presumidamente mortalmente,  pelos usurpadores do poder.

            Hoje também me nutro dos blogs, das publicações, da imprensa laternativa.  E não me queixo.

    2. Talvez o artigo não entregou o que prometeu, mas não é ruim

       

      João de Paiva (segunda-feira, 27/06/2016 às 23:36),

      A bem da verdade o Alexandre Marini não conseguiu responder a questão que ele propõe: “os leitores querem: um jornalismo que busque o máximo de isenção ou um espelho daquilo que pensam?”

      Por se tratar de texto do Observatório da Imprensa e tendo em vista o título imaginei que ele tinha ido no cerne da resposta e nem cheguei a ler o texto para fazer o comentário que enviei terça-feira, 28/06/2016 às 08:53, para Jornal GGN. Quis aproveitar o tempo para deixar três links sendo que apenas um está mais diretamente vinculado com o que o autor discute no texto.

      Ainda assim, as outras duas referências também trazem ligações com este texto de Alexandre Marina, pois o texto tem sua origem vinculada à forma como os meios de comunicação estão debatendo, se se pode chamar o que os meios de comunicação fazem de debate, a atual situação política brasileira. Nesse sentido tanto o artigo de Luiz Felipe de Alencastro “Os riscos do vice-presidencialismo” como o comentário de Marco Antonio Castello Branco que ele fizera junto ao post “Para entender o desgaste do governo Dilma” parecem-me bem pertinentes.

      O que me trouxe aqui junto ao seu comentário foi a sua referência ao seu afastamento do Observatório da Imprensa e a minha tentativa de encontrar um artigo muito bom que saiu lá sobre a internet e os blogs. De imediato não encontrei o artigo que procurava, mas encontrei o artigo “Jornalismo de alto risco em grande estilo” de autoria de Luiz Weis e publicado no Observatório de Imprensa da edição número 356, segunda-feira, 22/11/2005. Junto ao artigo havia um comentário meu que muito provavelmente está entre os primeiros que eu enviei para o Observatório da Imprensa e provavelmente entre os primeiros que enviei pela internet. E sinto a falta de Luiz Weis que eu, embora discordasse bastante dele, tinha-o em alta conta.

      E o artigo que eu queria mencionar e que custei a encontrar diretamente no Observatório da Imprensa é “Notícias sobre a internet” de autoria de Michael Massing e foi publicado segunda-feira, 31/08/2009, na edição 552 do Observatório da Imprensa. Este artigo é muito bom, mas eu tenho um interesse particular na passagem que transcrevo a seguir. Diz lá Michael Massing:

      “Isso aponta para alguns dos aspectos mais preocupantes do jornalismo na web. Os excessos em polêmicas atribuídos à blogosfera permanecem reais. Em seu livro And Then There´s This, sobre a cultura na internet, Bill Wasik descreve como “a rede de blogs políticos, por meio do retorno entre blogueiros e leitores” produziu um mecanismo que fornece ao leitor “informação pré-filtrada” em apoio às suas opiniões. Segundo uma pesquisa citada por Wasik, 85% dos links de blogs eram com outros blogs da mesma tendência política e “praticamente nenhum blog mostrava respeito algum com um blog de tendência distinta”.

      E apesar de Alexandre Marini não ter explorado como eu pensei que ele exploraria a questão de o destinatário do que sai na grande mídia procurar notícias que confirmam o que ele pensa, há muito no texto dele que reflete as ideias de Michael Massing. Serve como exemplo a frase que transcrevo a seguir do artigo de Alexandre Marini:

      “A maioria dos articulistas conversa com um público específico, dado à reprodução de seus artigos nas redes sociais, pequenos sites, blogs ou demais páginas digitais, como música de uma nota só, repetitivamente, exaustivamente”.

      Enfim, o artigo não me pareceu tão frágil como você o descreve. No artigo Alexandre Marini, assim como Michael Massing fizera no dele, chama atenção para um grande problema dos blogs que é eles se tornarem um nicho de pessoas com os mesmos gostos e opiniões. Para enfrentar esse problema o jornal se abre a opiniões diversas. No mesmo parágrafo, mas na frase seguinte do artigo de Alexandre Marini à frase que transcrevi acima, ele comenta essa tática dos meios de comunicação. Diz ele:

      “Tal “pluralidade” defendida pelos jornais serve menos como análise dos fatos e mais como marcador de determinados pontos de vista ou ideologias compartilhadas por certos grupos de pessoas”.

      Essa tática, entretanto, tem limites. O ecletismo não assume uma ideologia e a argumentação sem uma fundamentação ideológica perde consistência. Ai entra em defesa dos grandes meios de comunicação a tática da obscuridade. Entregar a notícia pela metade é arma indefectível de que os grandes meios de comunicação usam e abusam. Eles não têm o interesse de esclarecer completamente o assunto, pois quando chega-se a tal ponto o receptor da mensagem perde o interesse pelo que está sendo transmitido.

      Essa prática da grande mídia de utilizar do ecletismo é bem conhecida de Luis Nassif que o adota de preferência em um tipo de argumentação que você e, talvez, eu também tenhamos chamado de uma no cravo e outra na ferradura. Em meu entendimento ao fazer esse tipo de análise que comporta o elogio e a crítica ao mesmo tempo e quase pelas mesmas razões, há sempre o risco de entrar em contradição a menos que seja genérico tanto nos elogios como nas críticas.

      De todo modo esse ecletismo é um instrumental de sobrevivência empresarial capitalista. O empresário sabe que para manter o leitor é preciso abrir ao leitor a possibilidade de ler opiniões com quais ele concorda. Para sobreviver empresarialmente, qualquer mídia precisa ir aonde o receptor de sua mensagem está. E o receptor de mensagem só aceita a mensagem que lhe é favorável. Para não atrair só um bloco de leitores, o empresário abre um leque de opiniões. E ao mesmo tempo procura manter uma linha de condução, pelo caminho que permita atrair o máximo possível de leitores.

      E aí é que entra a minha argumentação contra os que acusam a imprensa de conduzir a opinião pública e que me levou a mencionar em meu primeiro comentário o artigo “A cegueira branca do Estado e o gigante iluminado” do professor Rafael Araujo. Por instinto de sobrevivência, a mídia empresarial de comunicação só envia notícias ou emite opiniões que as pessoas querem receber. Já existe uma cultura muito forte na sociedade predisposta a receber um tipo de notícia. Então é esta notícia que a sociedade vai receber. Não é assim a mídia que forma a opinião pública e sim o contrário.

      Eu creio que a força maior que comanda o espetáculo humano é a economia. Foi ela que destruiu o governo da presidenta Dilma Rousseff. É claro que a mídia ajudou. Só que se a economia estivesse bem não teria havido impeachment. E não foi a mídia que criou as dificuldades econômicas que o governo da presidenta Dilma Rousseff enfrentou. Em meu entendimento foram uma série de circunstâncias que deveriam ser bem estudadas. É bom observar que a economia não tem o pendor de modificar a cultura de uma sociedade. Uma economia em crescimento apenas arrefece a animosidade contra o governante.

      Um pouco da crítica que eu faço a essa idéia de que a mídia influencia a economia parte da constatação que não há nenhum exemplo de país no mundo onde a mídia tenha sido capaz de erguer uma economia ou evitar que ela entrasse em recessão. Eu me alonguei um pouco mais sobre o que eu considero falta de influência da mídia em direcionar a economia em comentários que enviei para o post “Sobre a criação de uma clima de pessimismo” de segunda-feira, 19/05/2014 às 15:38, aqui no blog de Luis Nassif e que pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/sobre-a-criacao-de-uma-clima-de-pessimismo

      Trata-se de post de autoria de Andre Araujo e originado de comentário dele enviado segunda-feira, 19/05/2014 às 15:54, lá no post “O catastrofismo não tem amparo nos fatos” de segunda-feira, 19/05/2014 às 08:26, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria de Alessandre de Argolo.

      A ideia de Andre Araujo é que a mídia não cria o clima de pessimismo. O pessimismo se instala e a mídia divulga. Até ai eu concordo com o Andre Araujo, mas como ele é preconceituoso, e o preconceito dele destilava contra o Guido Mantega e contra a presidenta Dilma Rousseff e ele mais atribuía aos dois o clima de pessimismo que existia no Brasil na época do post “Sobre a criação de uma clima de pessimismo”.

      Faltaram e ainda faltam estudos para analisar exatamente o que ocorreu no período que vai de 2013 até o fim de 2014. E falta também estudos para saber se a alternativa que a presidenta Dilma Rousseff tentou emplacar via Joaquim Levy era a melhor para o Brasil. Eu avaliei que sim e continuo defendendo minha avaliação, mas se trata de avaliação de leigo. Assim é preciso que se realizem mais estudos para que possamos ter um conhecimento maior sobre a realidade da economia brasileira nesses anos recentes.

      Bem, o endereço do artigo “Notícias sobre a internet” no Observatório da Imprensa é:

      http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/noticias_sobre_a_internet

      E eu encontrei o link do artigo não diretamente no Observatório da Imprensa, mas em comentário que eu enviei quarta-feira, 07/01/2015 às 20:00, para Nickname junto ao post “A solidão disfarçada das redes sociais” de quarta-feira, 07/01/2015 às 14:35, aqui no blog de Luis Nassif e originado de sugestão de Nickname para entrevista que o sociólogo francês Dominique Wolton concedera a Marcos Flamínio Peres da Folha de S. Paulo e que fora publicada com o título “Solidão no Facebook”, sendo que o post pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/a-solidao-disfarcada-das-redes-sociais

      E lembro ainda que critico não só aqueles que atribuem à grande mídia os nossos infortúnios como também aqueles que vêm direcionando suas críticas à operação Lava Jato. Aliás, o Andre Araujo que foi mencionado acima tem bons posts em que ele atribui muito da nossa atual situação econômica à Operação Lava Jato.

      Eu considero que essa avaliação de que a operação Lava Jato teve consequências danosas para a economia como falsa. O problema é que a Petrobras tem muita influência nos investimentos brasileiros e com a queda dos preços do petróleo e com a desvalorização do real, a dívida em dólares da empresa pesou de tal modo que inviabilizou a política de investimento da empresa.

      A questão importante seria saber porque a Petrobras se endividou tanto em dólares. Em princípio parece-me que essa é medida preconizada pelos keynesianos. Pode ser que seja medida correta, em especial dentro de um processo de planejamento. Algo talvez tenha dado errado no que fora planejado pelo governo e a dívida veio para estragar tudo de uma vez. De novo é preciso fazer estudos, levantamentos e pesquisas para saber realmente quem tomou as decisões e por que e dentro de quais perspectivas elas foram tomadas. Nós, entretanto, vivemos em um tempo ligeiro em que ninguém tem mais disponibilidade para fazer esses estudos e assim optamos por só acusar quem quer que seja.

      Por fim, espero que o Observatório de Imprensa assim como esse artigo de Alexandre Marini não esteja tão ruim como você descreve. O Alberto Dines, apesar das idiossincrasias, é muito culto e inteligente para que não esteja realizando um trabalho de valor que preste algum serviço aos brasileiros.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 28/06/2016

  2. Excelente artigo. Só a

    Excelente artigo. Só a introdução jã vale a prazerosa leitura. 

    O fenômeno realmente existe: os consumidores de mídia avaliarem isenção(ou a falta dela) pela régua das suas paixões políticas e visões de mundo.

    Ressalte-se  que muito disso ocorre também em função de um jornalismo engajado que tal uma imã atrai os de uma certa linha politica-ideológica ao tempo em que repele os contrários.

    De certa maneira os dois se merecem.  

  3. Jornalismo hesitante

    Essa história de que não existe jornalismo isento é muitas vezes usado como um passaporte para a desonestidade intelectual. Alguém deveria cobrar que a noção de “isenção” fosse trocada em miúdos. Noves fora, não sobraria muita coisa. O que se quer dizer com isso? “Puramente fatual”? Besteira. O que o jornalismo tem que ser não é isento, ou imparcial. Ele tem que ser hesitante – e é isso inexiste em Guilherme Boulos e Kim Kataguiri. Eles fazem jornalismo ESTRATÉGICO. Não são expectadores inteligentes de uma disputa na qual teriam simpatias que não precisam nem devem ser escondidas. A consciência de que seus textos têm consequências inevitáveis na disputa que observam os levam à conclusão absurda de que devem instrumentalizar seu espaço em favor da opinião que possuem. Juca Kfouri é corinthiano. Nunca escondeu isso de ninguém. Alguém acha que ele instrumentaliza seu espaço para favorecer o seu time? Na hora de escrever, ele dá um passo para trás e escreve para todos. Alguém pode me dizer, por exemplo, em que time joga Elio Gaspari? Eu não tenho a menor ideia. 

    1. Há razão na hesitação que é a dúvida que apraz aos céticos

       

      João Vergílio Gallerani Cuter (terça-feira, 28/06/2016 às 06:43),

      Como todos nós, você apresenta apenas a sua preferência. Você prefere os céticos, os que têm dúvida, os que hesitam. Talvez haja aí um ponto próximo daquilo que um jornalista que trata de fatos deveria perseguir e que é a racionalidade. Há mais razão na dúvida do que na verdade, daí até porque a racionalidade nem sempre nos leve à análise correta.

      Então a sua preferência pelo jornalismo hesitante não difere muito da minha. E essa sua preferência faz-me lembrar de passagem quase ao final do livro “Minha Vida” de Lev Davidovich Bronstein, que eu li há uns bem quarenta anos, em que ele diz que não escrevera o livro para os céticos, ou seja, todo aquele calhamaço que eu lera não fora para mim.

      É o dogmatismo de que fala Marco Aurélio Nogueira no fraco artigo “Desentendimento e dogmatismo” publicado no jornal o Estado de S. Paulo de domingo, 26/06/2016, e que aqui no blog de Luis Nassif deu origem ao post “É preciso reduzir animosidades para reformar o País, por Marco Aurélio Nogueira” de sábado, 25/06/2016 às 12:03, e que pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/e-preciso-reduzir-animosidades-para-reformar-o-pais-por-marco-aurelio-nogueira

      E já que mencionei Leon Trotsky e o dogmatismo dele, não custa lembrar principalmente nessa época de Brexit que é dele a concepção do que resta para a esquerda realizar: a revolução permanente e universal. Foi isso que recomendou o filósofo Slavo Žižek no post “Žižek: Esquerda européia não quer deixar o nacionalismo para a direita radical” de sexta-feira, 24/06/2016 às 17:36, e que pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/zizek-esquerda-europeia-nao-quer-deixar-o-nacionalismo-para-a-direita-radical

      E voltando ao tema do post “O que os leitores querem: um jornalismo isento ou um espelho daquilo que pensam?” de segunda-feira, 27/06/2016 às 22:03, aqui no blog de Luis Nassif, eu reafirmo o que deixei implícito no início desse comentário, salvo no caso do jornalista ficcionista, o que o jornalismo deva buscar é a racionalidade. Um Gabriel Garcia Marques quando vivo, ou um Elio Gaspari, como grandes ficcionistas que são, estão livres dessas amarras. Qual o viés ideológico de “Cem Anos de Solidão”? Daí que, ainda que seja jornalismo, deve ser visto como um jornalismo bem específico em que é lícito que, para encantar a plateia, alguém como Elio Gaspari ponha na boca de Joãozinho Trinta a fase dele sobre intelectual e pobreza. Ali, Elio Gaspari se despediu ou despiu do jornalismo não ficcional, mas se manteve como um dos melhores ficcionistas brasileiros.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 28/06/2016

  4. Bom texto que traz velha idéia que defendo há tempos

     

    Jornal GGN,

    Talvez os três artigos ou posts ou comentários que eu mais tenho mencionados aqui no blog de Luis Nassif sejam: mais recentemente, o artigo “Os riscos do vice-presidencialismo” publicado na Folha de S Paulo de domingo, 25/09/2009, e de autoria de Luiz Felipe de Alencastro para o qual ele deixou um link em comentário que ele enviou sexta-feira, 07/08/2015 às 23:56, para junto do post “O raio X da política e o fator Temer” de sexta-feira, 07/08/2015 às 19:45, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele, algum tempo antes o comentário que Marco Antonio Castello Branco enviou quinta-feira, 26/06/2014 às 01:45, para o post “Para entender o desgaste do governo Dilma” de segunda-feira, 16/06/2014 às 16:47, também aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele e com mais tempo no passado, o artigo “A cegueira branca do Estado e o gigante iluminado” do professor Rafael Araujo e que foi reproduzido aqui no blog de Luis Nassif com o mesmo título como o post “A cegueira branca do Estado e o gigante iluminado” de quinta-feira, 20/06/2013 às 15:10.

    Os três posts referidos acima podem ser vistos no seguinte endereço:

    1) o endereço do post “O raio X da política e o fator Temer” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-raio-x-da-politica-e-o-fator-temer

    2) O post “Para entender o desgaste do governo Dilma” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/para-entender-o-desgaste-do-governo-dilma

    e 3) O endereço do post “A cegueira branca do Estado e o gigante iluminado” é:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-cegueira-branca-do-estado-e-o-gigante-iluminado

    E particularmente no post “A cegueira branca do Estado e o gigante iluminado”, eu tenho chamado atenção para o seguinte parágrafo:

    “É verdade que as manifestações revelam um descontentamento da população e uma falência do sistema de representação política. Há uma crise de racionalidade pelo fato do Estado de direitos não ser capaz de cumprir com aquilo a que se propõe. Os articulistas têm repetido isso como um mantra, mas até que ponto trata-se de uma crise exclusivamente brasileira? Até que ponto podemos associar o descontentamento do povo ao descaso e à corrupção? Esse é o raciocínio de superfície que estrutura os meios de comunicação tradicionais e que está por toda parte: nas músicas, filmes e novelas, nos sermões e discursos políticos, nas conversas de bar e de família, nas fábricas e escritórios, nas ruas e praças. Se todo o público que consome notícia pensa dessa forma rasa, como esperar que a velha mídia se comporte de outra maneira? São empresas que precisam de anunciantes, dizem e escrevem o que o espectador quer ouvir e ler. O jogo é esse. As fontes de informação dizem aquilo que se quer ouvir, assim garantem a audiência. Afirmar isso tem um fundo de perigo, principalmente quando estamos em um período de desequilíbrio como agora, porque essa afirmação significa ampliar as responsabilidades também para os receptores”.

    A minha intenção em reproduzir esse parágrafo sempre tem sido mostrar que a influência da mídia na opinião pública é muito menor do que se imagina. Já existe uma cultura pronta a receber determinada mensagem. Para uma mídia empresarial, o ganho na competição capitalista consiste em descobrir qual a mensagem que será mais bem recepcionada pelo público. E a mensagem mais bem recepcionada é aquela que está de acordo com a cultura do receptor. De certo modo, não é a mídia que faz a cabeça do público, mas é o público que faz a cabeça da mídia.

    Há muito tempo insisto na ideia de que existe uma cultura enraizada em todas as sociedades e que só muito tempo após provado que aquela cultura é falsa é que é possível introduzir em uma sociedade uma nova cultura. Crenças como o mundo é plano, o sol gira em torno da terra persistiram na sociedade muito tempo após provado que a terra era redonda e girava em torno do sol.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 28/06/2016

  5. Cidadão ou consumidor?

    Nem tudo o que se lê nos jornais é Jornalismo, às vezes, é mero produto comercial, criado apenas para ser vendido e para retroalimentar o consumismo. Da mesma forma, há leitores mas há também meros consumidores.

    Agora quanto a ser espelho, esse é o dilema do marketing, propaganda comercial: quando causa algum dano social a propaganda alega que não faz nada além de refletir o que já está na boca do povo, mas para ganhar um cliente a agência de propaganda jura que cria hábitos e induz comportamento.

    Jornalismo não é propaganda e propaganda não é Jornalismo. A nós cabe saber distinguir um do outro.

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