O retorno da fome e a lumpen-burguesia nacional

O Brasil do golpe do pato amarelo e de Temer vai retornando ao mapa mundial da fome.

Um vexame internacional. O próprio golpe, executado em nome do combate às “pedaladas fiscais”, logo a seguir “destipificadas” pelos algozes de Dilma, foi um vexame!

Mas não se enganem. A nossa burguesia – ou pelo menos grande parte dela – é indiferente a isso. Nesse momento está comemorando a deflação e a diminuição de assalariados em aeroportos. E pressionando o Congresso Nacional para fazer as reformas trabalhista e previdenciária.

Mas nada é tão ruim que não possa piorar, nossa burguesia é entreguista. E lá se vai o pré-sal, um sinal ao Império para que os ianques saibam: os súditos fiéis retomaram o galinheiro tupiniquim!

A fome vem batendo às portas dos miseráveis. Mas não se pode esperar uma reação destes lumpens. Caso os demais subalternos – falo aqui em especial dos assalariados – tivessem consciência de classe (ainda que só um pouquinho!), já teriam virado a mesa e posto os golpistas a correr!

A hegemonia cultural, educacional e política é da burguesia. E assim foi mesmo quando Lula e Dilma governavam. Marx e Gramsci explicam (mas isso é uma outra conversa).

A esquerda brasileira colocou um pé na cúpula do Estado a partir da vitória de Lula (nunca fincou os dois, não teve força para isso) e, ainda assim, fez muito em termos de inclusão social. Mas não avançou na construção da consciência de classe do mundo do trabalho.

O projeto liberal-burguês mostra sinais de decomposição em todo mundo, o capitalismo passa por grave crise, cuja ponta do iceberg despontou em 2007 na turbulência asiática que derrubou as bolsas em todo o mundo e na bolha imobiliária nos EUA (especulação no mercado hipotecário).

Mas aqui no Brasil os sintomas são piores. Ocorre que a nossa classe dominante reclama um aprofundamento do modelo rentista e de valorização do capital financeiro (em detrimento do capital produtivo). Gostam de papel que representa a riqueza – e não cuidam da geração da riqueza. Especular rende mais que produzir…

Um parêntese. Marx, em “O Capital”, no Livro Primeiro (terceiro capítulo da primeira seção), sinalou que num certo estágio do capitalismo a “(…) mercadoria é vendida, não para comprar mercadoria, mas para substituir a forma-mercadoria pela forma-dinheiro. De mera mediação da troca material, esta mudança de forma torna-se fim de si mesma (…)”.

Quando a economia não dispõe de riqueza (mercadorias, como produto do trabalho) para sustentar o papel (a forma-dinheiro), repassam a conta para os assalariados (sobrando também para os excluídos).

Para isso, conta-se com os poderes da República. E se alguém por lá atrapalha, golpeia-se.

No poder, falam em cortar direitos previdenciários e, ainda, congelar gastos sociais por duas décadas, medidas para combater a crise fiscal. O que não se quer contar: como o dinheiro foi transformado ele próprio em mercadoria, tem de ser entesourado para não de desvalorizar. Governo tem de diminuir gastos, bancos têm de reduzir a oferta de crédito.

Mas a principal causa da crise fiscal (pelo lado das despesas) são os recursos que o Estado repassa aos rentistas via serviço da dívida. Nessa brincadeira vai-se quase a metade do orçamento fiscal! Quer se entesourar, mas a gastança na ciranda financeira continua! Aqui se vê o propósito.

Neste cenário, o sistema produtivo, para manter suas taxas de lucros, tem de ampliar a mais-valia, afetando salários. Aí entra a reforma trabalhista.

A burguesia nacional é tão atrasada (dependente e parasitária) que se encaixa no conceito de lumpen-burguesia, “zumbis” de uma velha sociedade, que sequer consegue sobreviver sem o socorro do Estado (que financia com os recursos do erário e protege com o sistema legal).

Redação

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Não existe burguesia
    Não existe burguesia nacional. Uma sub-burguesia dependente e cordial talvez continue existindo por séculos amém até ocorrer uma revolução francesa-tupiniquim nesta colônia gringa.

  2. Magistral texto de Charles Bakalarczyk de como as medidas de Guedes se encaixam para perpetuar e expandir o que ha de mais perverso no sistema de classes do brasil.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador