Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Os limites da cooperação judiciária internacional, por André Araújo

Por André Araújo

OS LIMITES DA COOPERAÇÃO JUDICIARIA INTERNACIONAL – Ao fim da Grande Guerra de 1914-1918, duas grandes correntes do pensamento político passaram a competir. De um lado a tradicional noção do ESTADO NACIONAL, a “teoria das soberanias” pelas quais a lealdade dos cidadãos se dá ao Estado, princípio que veio desde a formação do Estado francês por Luís XIV, e de outro lado os movimentos de “causas” supra nacionais, que nasceram com grande força a partir do Presidente Woodrow Wilson, que atribuía a Grande Guerra à ambição dos Estados Nacionais aos quais era preciso contrapor o idealismo da causa da paz acima das ambições egoístas dos Estados. Com base nesses propósitos de causas nasceu a LIGA DAS NAÇÕES, ideia de Wilson que todavia não foi referendada pelo Congresso dos Estados Unidos, que ainda se regia pela noção do Estado Nacional e não das causas, Estado imperialista com pretensões mundiais, sem causas.

O idealismo derrotado de Wilson é a raiz do conceito do “politicamente correto”, essa série de movimentos que, desde então, com altos e baixos, vem gerando enorme confusão no mundo moderno. Para o “politicamente correto”, o Estado é menos importante e chega a ser um estorvo, já que a causa  uma vez  abraçada vale mais que o Estado.

Dessa fonte de “causas” nasceu a ideia da “cooperação judiciária internacional”, movimento que ganhou força nos últimos 15 anos, fazendo nascer uma aliança entre ministérios públicos e juízes para combater pela causa da Justiça.

É um conceito e base que vai contra o conceito de soberania, é diametralmente oposto à noção de Estado Nacional, noção essa que rejeita a supranacionalidade da busca pela Justiça que considera inerente à soberania de suas fronteiras e portanto imune à interferência estrangeira, especialmente em questões de justiça.

No geral, os Acordos de Cooperação Internacional se destinam a delitos comuns e nunca a ações que interferem na política e no poder de cada País. Cooperação não se APLICA A CAUSAS POLÍTICAS, pois essas são prerrogativas da soberania de cada País, do seu sistema político interno e de seu jogo de poder institucional e partidário.

Os limites da cooperação foram largamente ultrapassados pelos investigadores brasileiros no caso da Lava Jato, ao estabelecerem elos com o Departamento de Justiça dos EUA para que este processasse a Petrobras, empresa do Estado brasileiro. Pedir ao estrangeiro que ataque o próprio Estado do qual faz parte era outrora fato de extrema gravidade para aqueles que veem no Estado a concepção final da sociedade, mas é aceitável para aqueles que tem por valor maior uma “causa”, neste caso a causa da Justiça, que leva a cooperar com o estrangeiro contra valores de seu próprio país.

A Internacional Socialista, movimento do começo do Século XX, era contra a noção de soberania. Os movimentos pacifistas, pela igualdade racial, pelos direitos humanos, pela ética e moral, pela justiça,  pelo meio ambiente, praticam a lealdade da CAUSA contra o conceito de Estado Nacional, são movimentos anárquicos em sua essência ao desarrumarem a ordem geopolítica baseada nos Estados Nacionais.

Ao manejar essas novas lealdades, cidadãos entram em um terreno EXTREMAMENTE PERIGOSO, pois o Estado Nacional é uma invenção muito mais sólida e mais racional do que os movimentos de “causas” cujo conjunto forma a ideologia do POLITICAMENTE CORRETO.

O fracasso do idealismo do Presidente Wilson construiu o ninho do fascismo e do nazismo e as bases ideológicas da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria. O fim da URSS fez rebrotar os movimentos de “causas” contra o Estado Nacional, levando o mundo ao atual Estado de insegurança causada pelo terrorismo supranacional e pelos movimentos politicamente corretos DESORGANIZADORES DA ORDEM INTERNACIONAL.

No caso da busca de cooperação anti-corrupção com o Departamento de Justiça dos EUA, os brasileiros que fizeram essa conexão extremamente perigosa não se apeceberam que:

1.O epicentro e maior beneficiário final dos movimentos de causas, que lá nasceram, são os Estados Unidos.

2.Os beneficiários dos acordos de cooperação judiciária internacional não são todos os países por igual, são os EUA, regente do sistema de cooperação que funciona mais em seu benefício do que para os demais países. Por esses acordos as autoridades americanas controlam todos os movimentos econômicos e financeiros do planeta, obtendo informaçõs gratuitas de juízes e procuradores pelo mundo, informações que depois são usadas pelo Governo dos EUA em benefício de suas empresas e negócios e da ampliação de sua zona de influência pelo mundo.

3.O parceiro desses acordos nos EUA NÃO é uma instituição independente como é o Ministério Público brasileiro, e sim o Departamento de Justiça, que é uma dependência diretamente controlada pela Presidência dos EUA, sem nenhuma autonomia institucional, já que todos os Procuradores Federais dos EUA são nomeados diretamente pelo Presidente, não tem mandato e podem ser por ele demitidos a qualquer momento.

Os ciclo em que os movimentos de “causas” ganham força são contrapostos historicamente por ciclos onde os Estados voltam a ter força exclusiva como são os períodos de turbulência econômica, guerras, terrorismos, período no qual estamos no qual o mundo está ingressando. Nesses períodos de perigo de sobrevivência de suas populações, os Estados PRECISAM se fortalecer e anular os movimentos de “causas” que sendo supranacionais colocam em perigo os Estados.

Voltando à História e como simbologia, a Liga das Nações, maternidade dos movimetos de “causas” do fim da Grande Guerra, cujo edifício sede está na foto abaixo, foi extinta pouco antes da Segunda Guerra, símbolo maior da causa da paz fracassada porque a crise econômica da Grande Depressão exigiu novamente o revigoramento dos Estados Nacionais contra os idealismos de “causas”.

O PT nasceu como um partido de “causas” e não como um partido de Estado e agora colhe os prejuízos de uma visão tão equivocada do mundo. O Brasil só sobreviverá como País uno e um dos dez maiores países do mundo, potência regional de primeira linha, se quiser ter por base o Estado Nacional fortalecido e centralizado,  sem concessões de autonomia aos movimentos de “causas”, às soi disant “instituições fortalecidas” resultado decorrente da Constituição de 88 que levou o Brasil à atual crise política, social, econômica, financeira e de sobrevivência da população.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

27 Comentários

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  1. É ROUBALHEIRA MESMO!

    A ação de nosso judiciário é vergonhosa, e não adere a nenhuma corrente. Nossa justiça é podre, corrupta, subimissa aos interesses imperialistas estrangeiros, e ainda detém poderes medievais. Ou seja, nossos juízes e promotores tomam atitudes assim, por pressões (R$R$R$R$) do poder econômico interno e externo, que estão aí defendendo os interesses de outros países. Confiram como uma sentença de juiz pode ser comprada, sem a menor possibilidade da PF rastrear a propina:

    https://www.facebook.com/democracia.direta.brasileira/photos/a.300951956707140.1073741826.300330306769305/724563484345983/?type=3&theater

    E isso se dá com a CONIVÊNCIA de nossas ESQUERDAS BANANAS. Uma aberração nacional, que toma conta de grande parte desse segmento político. No mensalão, eles não foram capazes de pedir a cassação do Joaquim Barbosa, sujeito que escondeu provas a favor de reus, tirou reus ilegalmente do processo, e mantém um apartamento ilegal nos EUA. E se não são capazes de defender nem a si mesmos, que dirá ao povo…

    É um vexame que esse seguimento político, que se diz defensor mor do povo; submeta-se cega e inocentemente às palhaçadas de nosso judiciário! Se tivessem cumprido com seu dever, teriam pedido a cassação do Joaquim Barbosa. Mesmo que não conseguissem, abririam um amplo debate nacional sobre alterações em nossa lei. Porque no mundo desenvolvido o próprio povo cassa seus juízes. Confiram:

    https://www.facebook.com/democracia.direta.brasileira/photos/a.300951956707140.1073741826.300330306769305/649128891889443/?type=3&theater
     

  2. Dia antes do Neymar depor lá foi ferro cá pela Midia e pelo MPF

    Isso é que é cooperação.

    Mídia e comentaristas especialistas brasieliros de diversas áreas  torcendo descaradamente pra justiça americana ferrar a Petrobras

  3. Excelente!

    Mais um tema extremamente amplo e profundo que foi magistralmente resumido pelo André Araújo. Nada a tirar nem acrescentar. Trata-se do fator “Brizola” na área progressista do espectro político da sociedade.

    O maior problema é que esta divergência é encontrada não apenas no campo da cooperação judiciária internacional, nem em atividades ou “acordos” propositalmente criados para isso, mas em quase todas as atividades públicas e privadas, produto da formação histórica de cidadãos brasileiros que convergem para a visão do Brasil como apenas sendo um enclave territorial temporário, que lhes permite evoluir – apenas para alguns “privilegiados” – para o dito mundo desenvolvido (Miami).

    Grande parte das elites brasileiras, onde a categoria dos juízes e procuradores está inserida, fez essa peregrinação rumo ao fortalecimento do conceito global da sua vida pessoal, começando inúmeras vezes desde criança, com a viagem a Disney (tão importante no mundo ocidental como a peregrinação a Meca, dos muçulmanos).  

  4. Discordo do último paragráfo.

    Discordo do último paragráfo. Justamente os entreguistas é que estão fazendo o possível e o impossível para tirar o PT do caminho e colocar o país de quatro aos interesses dos EUA.

    1. por aqui tem também esta intenção principal sim…

      as coisas rolam na TV e a gente nem se toca

      pequenos milionários que adorariam um governo mais desatento, tolerante e confiável, como Aécio, por exemplo

      um governo engavetado, podemos dizer assim, para não dizer sabotado em todas as cidades e estados do país

  5. Acho que esse processo levantará a muitas questões importantes.

    Questões em análise:

    1- Principio da solidariedade

    2- A maior concentração de SA se encontra justamente na cidade na qual o processo foi aceito

    3-  Politico-juridico a nivel local, internacional e  nacional

    1- Principio da solidariedade

     Qualquer empresa ( individual, Limitada, SA) seus dono (os)  tem direitos e obrigações de acordo com a cota de participação de  cada. Se esses cotistas da Petrobras que fazem parte do processo são aqueles com direito a voto ou não acho que nesse caso não importa de qualquer forma isso não isenta participar da fiscalização da empresa. Acho estranho que tenham aceito essa denuncia dos socios que se dizem indignados, lesados de uma empresa da qual são donos.

    2- A maior concentração de SA se encontra justamente na cidade na qual o processo foi aceito

     Temos que lembrar que nos EUA a maior fraude aconteceu exatamente em empresa bancária que tinha como caracterista ser SA, foi ajudada pelo governo para não quebrar mesmo assim suas ações só vem despencando e dando prejuizo aos acionistas. Houve o caso da petroleira no golfo  do Mexico que causou acidente ambiental gravissimo  fez sua ações cairem e se soube que foi má administração. Obama foi lá e se banhou nas aguas para dizer que tudo estava bem. Se a Petrobras perder essa questão abrirá processos inumeros naquele pais falindo empresas do proprio pais onde esse julgamento acontecerá 

    3-  Politico-juridico a nivel local, internacional e  nacional

    Está claro que o grupo do Paraná apresentou ¨provas¨ para abertura do processo nos EUA, isso é deslealdade no minimo e pode ser no futuro caracterizado como traição.  

     Muita água ainda vai passar por debaixo dessa ponte chamada LAVA JATO, cuja jurisdição processual deveria ter ficado em Brasilia

    Acordos de envio  de documentos devem passar pelo Ministério da Justiça. Já tivemos o caso da Suiça e a ilegalidade da entrada de documentos pedido pelos procuradores do Paraná. A Petrobras pode arguir que tais documentos sejam excluidos do processo, afinal são ilegais .

    Há a questão da Arábia Saudita ter aumentando enormente sua produção de petroleo justamente no periodo relatado pelos querelante do tal prejuizo alegado. Sabe-se que mesmo assim a Petrobras foi a que melhor se recuperou dentre todas a petroleiras do mundo naquele evento e vem mostrando muita robustez.

    A questão que eu julgo ser de maior importancia é por que a Petrobras está sendo ameaça em pais estrangeiro? A resposta mais simples é : Ela foi parcialmente privatizada pelo Senhor das Trevas nos seus 8 anos de desgoverno.

    A população vai ligando os pontos e o ganho politico para o partido dos trabalhadores será ENORME, por mais que a imprensa mercantila venha a usar esse evento do processo, ele pode ainda favorecer as forças de esquerda.

  6. à exceção das referncias ao

    à exceção das referncias ao pt, concordo como artigo  do andré…

    a operação lava-jato, na verdade, incrementa o imperialismo norte-americano…

  7. A direita e a esquerda coincidem nos extremos

    Os artigos do André tem sido uma ótima demonstração disso.  Sua defesa do nacionalismo e contra causas internacionais, assim como contra movimentos politicamente corretos, encontra eco direto em direitistas como um Bolsonaro da vida. No mais, sem supranacionalidade temos apena a barbárie. Os organismos supra nacionais posteriores à segunda guerra, como ONU e União Europeia deveriam ser fortalecidos, não enfraquecidos, visto o cada-um-por-si internacional obviamente só nos levará a desgraças (as duas guerras mundiais já são exemplos que bastem). O problema é que mais uma vez o André inverte a lógica (na última que vi, ele confundiu descaradamente governo e estado apenas para justificar uma blindagem dos atuais governantes em cumprimento de mandato). Alguns exemplos: “O fracasso do idealismo do Presidente Wilson construiu o ninho do fascismo e do nazismo e as bases ideológicas da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria.” Ora, Como assim se o fascismo e o nazismo são doutrinas nacionalistas??? Aliás, a extrema direita e os neo-nazistas são totalmente contrários à União Europeia, uma organização supra nacional. A ONU é um organismo supra nacional, criado exatamente para engendrar uma arbitragem internacional que evite desastres como a segunda guerra. E o André diz mais: “O fim da URSS fez rebrotar os movimentos de “causas” contra o Estado Nacional, levando o mundo ao atual Estado de insegurança causada pelo terrorismo supranacional e pelos movimentos politicamente corretos DESORGANIZADORES DA ORDEM INTERNACIONAL.” Mas qual a relação de causa-efeito disso? Os movimentos terroristas não têm absolutamente nada de politicamente corretos!!! O Estado Islâmico busca justamente fundar um estado, com pretensões imperialistas, mas um estado. E um estado alheio ao direito internacional (portanto, ALHEIO AO DIREITO SUPRA NACIONAL). Que argumentação torta……

    1. 1.O fracasso do

      1.O fracasso do INTERNACIONALISMO pro paz do Presidente Wilson foi representado pelo fiasco da Liga das Nações em impedir que a Italia inadisse a Abissinia em 1935. Os nacionalismos eram representados pós 1918 pelo fascismo e nazismo,

      que eram o oposto do conceito de Liga das Nações, entidade totalmente rejeitada por Mussolini e Hitler. Não vi onde vc viu contradição.

      2. Eu faço uma analise sem integrar torcida, no sentido de que periodos de crise tendem a requerer o fortalecimento dos Estados nacionais contra a ampliação dos movimentos supra nacionais. A simples existencia da candidatura Trump nos EUA representa essa percepção de impotencia dos EUA em intervir por exemplo na Siria, algo que grande numero de americanos

      considera uma confissão de impotencia dos EUA, a exigir um energico sem medo como Trump.

      Só os Estados nacionais fortalecidos podem enfrentar mega crises politicas e economicas, é da Historia, não é opinião pessoal. Paises em crise e se enfraquecendo podem prosseguir em crise por muito tempo até que surja o Estado forte que reorganiza a produção e desmonta os movimentos de “causas”, é lição da Historia. Foi esse o sentido do Estado Novo de Getulio em 1937, do Estado Novo português de 1929, do Alzamiento de Franco em 1936, do enfrentamento por Roosevelt da Suprema Corte que em 1934 queria tornar ilegal o New Deal. Sem se fortalecer politicamente Roosevelt jamais poderia enfrentar a Grande Depressão.

      3.Se vc não vê terrorismo como expressão radical e violenta de um movimento de “causas” não sei como vc centende a formação do pensamento politico. O terrorismo se faz EM NOME de alguma causa, o ISIS é a expressão de uma causa

      sob a bandeira, apenas bandeira, de um “”Estado”” que obviamente não tem sentido concreto porque esse Estado não será aceito pela comunidade internacional e pelos paises da região, então é apenas uma “causa” retórica e não a pretensão real de um Estado viavel por um movimento legitimo como é por exemplo o movimento pro-criação do Estado Curdo.

      1. André

        A numeração abaixo segue a numeração que você fez acima em resposta:

        1. O internacionalismo fracassou e com isso os nacionalismos nos levaram ao fascismo e ao nazismo.  Ok, não há o que discordar. A contradição está no seu artigo defender o nacionalismo no seu artigo, em direção contrária às causas supra nacionais. Afinal, você está ao lado dos nacionalistas fascistas ou dos internacionalistas que pretendem que as relações entre nações não sejam à base da lei do mais forte?

        2. A candidatura do Trump nos EUA (assim como o de Bush) exemplifica o nacionalismo destrutivo que deploro, e está bem próximo ao nacionalismo que você defende. Mais uma vez, assim como no caso dos nacionalistas fascistas, acima, você se coloca ao lado de Trump na defesa do nacionalismo? Ainda sobre o item 2, você diz: “Só os Estados nacionais fortalecidos podem enfrentar mega crises politicas e economicas”. Ora, uma ação coordenada de maneira supra nacional dos estados teria efeito muito maior que com os estados agindo isoladamente. Veja bem, aproveitando o gancho, sobre causas, a Alemanha superfortalecida destruiu a “solidariedade” na Europa após a crise de 2008. Essa “solidariedade” é uma causa, não um interesse nacional. Você aprova as políticas draconianas que a Alemanha impôs à Grécia em oposição à causa da solidariedade dentro da União Européia? Elas representam bem o interesse nacional alemão, e vão contra as causas comunitárias da Europa. No mais, o fortalecimento da ditadura franquista é um fato histórico, mas não algo desejável, ou seja, não um estado de coisas que seja do nosso interesse buscar (a não ser que você tenha tendências stalinistas, algo que em outro artigo seu suspeitei bastante). Você considera que a ditadura franquista foi benéfica ao fim das contas?
         

        3. Sim, o terrorismo é um movimento de causas, mas não tem absolutamente nada a ver com o politicamente correto, pelo contrário, é seu antípoda. 

        4. Não existe um item 4 na sua argumentação, mas esse merece ser criado: não se esqueça que alguns dos ideais da revolução francesa, como a noção de direitos humanos, são causas. E em boa parte das vezes eles vão contra os interesses nacionais. Ainda bem!!!

        1. só uma errata

          É óbvio que os direitos humanos foram criados no pós guerra, e não na Revolução Francesa. O que eu quis dizer é que eles são herdeiros diretos do “igualdade, liberdade e fraternidade” da revolução, os quais, enquanto conceitos universais, são CAUSAS supra-nacionais, obviamente.

        2. só uma errata

          É óbvio que os direitos humanos foram criados no pós guerra, e não na Revolução Francesa. O que eu quis dizer é que eles são herdeiros diretos do “igualdade, liberdade e fraternidade” da revolução, os quais, enquanto conceitos universais, são CAUSAS supra-nacionais, obviamente.

        3. Meu caro, vc confunde adesão

          Meu caro, vc confunde adesão são com analise. Eu aqui faço analises e por elas concluo que o Estado nacional é mais importante que causas. Quer uma prova? A Revolução Francesa que vc elogia afundou na ditadura de Napoleão Bonaparte que de consul se tornou Imperador, sucedido por Luis XVIII. Nem Napoleão e nem Luis XVIII, irmão do guilhotinado Luis XVI tinha algo a ver com a defesa de direitos humanos, a Revolução Francesa foi enterrada por eles e a França seguiu seu curso de Estado nacional classico. Portanto não tem nada a ver analise com idolatria, sigo Hobsbawn que era marxista desde criancinha e como historiador não introduziu o marxista em nenhuma linha de sua vasta obra.

          Quanto à Espanha de 1936, o Pais estava um caos e Franco foi o mal menor, a Espanha se desintegraria sem um lider unificador como Franco, que esmagou o ridiculo nacionalismo catalão que agora rebrota, não só o catalão, Franco acabou na sua era com os nacionalismos basco, galego e sabe-se lá quantos mais, assim como Stalin impediu o fracionamento do legado do Imperio do Czar mantendo una a Russia, que lideres menos capazes deixaram desintegrar em 1990 em 16 republicas, perdendo a Russia um terço de seu territorio. Nesse sentido admiro Stalin, tenho 63 de suas biografias, creio que no Brasil não há biblioeca particular com tal percentagem de suas quase 400 biografias publicadas. Stalin tinha profunda noção de Estado e não de causa, mandou sufocar o movimento comunista grego, o ELAS, que já estava conquistando Atenas , porque não era do interesse do Estado sovietico desafiar a area de influencia britanica na Grecia, é o estadista classico, no nivel de um Talleyrand e de um Metternich. Estadista é conceito que vem de Estado, que quer patrocinar ausas nunca será estadista.

          1. André, o estado para você é, evidentemente, uma finalidade em si

            E esse é um ponto fundamental, onde considero estar seu equívoco: o estado é um meio, não um fim. A revolução francesa é realmente um bom exemplo. É óbvio que os direitos humanos foram criados no pós guerra, e não na Revolução Francesa, mas o que eu quis dizer é que eles são herdeiros diretos do “igualdade, liberdade e fraternidade” da revolução, os quais, enquanto conceitos universais, são CAUSAS supra-nacionais. O império napoleônico ruiu, mas essas causas permaneceram, e elas foram e são infinitamente mais importantes para o desenvolvimento civilizatório da humanidade que os estados. Tanto que hoje são abraçadas de maneira supra nacional. Você diz: “Eu aqui faço analises e por elas concluo que o Estado nacional é mais importante que causas.” Ora, então apenas porque historicamente a brutalidade do estado na maior parte das vezes superou o alcance das causas devemos abraçar a brutalidade? Se a selvageria sempre imperou na natureza, devemos nos tornar bárbaros? Creio que não, mas a sua ANÁLISE te leva a uma ADESÃO ao estado quase incondicional. No entanto, já é de saída um princípio equivocado subestimar o poder das causas. Os desenvolvimentos culturais são mais perenes que os estados, e a cultura se move, em parte, por conta das causas defendidas no seio dessa cultura. A herança cultural grega sobrevive até hoje, mais de 2000 anos após a queda da Grécia antiga. Assim como o direito e a cultura romanas sobreviveram em muito o império romano. Os ideais da revolução francesa hoje são coisa corriqueira no ocidente. Veja que a própria noção de estado moderno, com sua divisão de poderes, busca atender exatamente às causas da revolução francesa. E isso ultrapassa em muuuuuuuuuuuito as fronteiras da França.

             

             

          2. Meu caro, afradeço seu

            Meu caro, afradeço seu inteligente e substancioso comentario. Há um problema com as “causas” e seus movimentos quando eles são instrumentalizados por potencias como “bandeiras” em seu beneficio, disfarçadas como “causas universais”.

            Os EUA são especialmente haveis nessa construção, veja a questão do Tratado de Não proliferação de Armas Nucleares, os EUA combatem como valor moral impedir que paises emergentes não tenham dominio do ciclo nuclear mas FINGEM que não há nenhum problema em Israel ter armas nucleares numa região explosiva.

            Os EUA são campeões em defender principios de direitos humanos mas não seguem esses principios em incontaveis situações como nas prisões do Iraque, que eram camaras de tortura, em Guantanamo, as proprias prisões americanas, onde 80% dos presos são negros, são locais de barbarie, MAS VENDEM ao mundo o manual de direitos humanos.

            A França herdeira dos grande LEMAS da Revolução Francesa foi praticante das piores formas de tortura na Guerra da Argelia, sua politica domestica nos anos entre guerras não tinha absolutamente nada de Igualdade, Liberdade e fraternidade.

            A instrumentalização de causas pela politica é um dos grandes capitulos da Historia atual.

            Prefiro o Estado nu e cru, com seus objetivos geopoliticos naturais de logica de Estado do que Estados retalhados com  essa pletora de pseudo “causas” cuja legitimidade contesto absolutamente, algumas delas são patéticas e contra o interesse da maioria da população fingindo ajudar minorias, apenas bandeiras demagogicas de manipulação rasteira.

          3. Não questiono nenhum desses pontos, mas sim a conclusão

            Tomando exatamente os mesmos exemplos citados, uma conclusão praticamente oposta é que essas instrumentalizações criminosas das causas se dão justamente pelos interesses estatais realizarem cooptações em prol de sua própria fisiologia. É a própria máquina estatal distorcendo causas em benefício próprio. E exatamente por isso não posso considerar os estados um fim em si, mas um simples meio, o qual passou a atuar como finalidade última nesses exemplos. Mas então voltamos ao ponto inicial de nossa discordância… De qualquer maneira, foi uma discussão interessante. Boa para esclarecer as ideias. Um abraço meu caro.

          4. Não discordo de nenhum desses pontos, mas da conclusão

            Tomando exatamente os mesmos exemplos citados, uma conclusão praticamente oposta é que essas instrumentalizações criminosas das causas se dão justamente pelos interesses estatais realizarem cooptações em prol de sua própria fisiologia. É a própria máquina estatal distorcendo causas em benefício próprio. E exatamente por isso não posso considerar os estados um fim em si, mas um simples meio, o qual passou a atuar como finalidade última nesses exemplos. Mas então voltamos ao ponto inicial de nossa discordância… De qualquer maneira, foi uma discussão interessante. Boa para esclarecer as ideias. Um abraço meu caro.

    2. Perfeito comentário!

      A ONU não é nenhuma instituição sacrossanta e é óbvio que seus sócios majoritários dela se beneficiam e muito. Mas é incrível como as pessoas se esquecem que ela surgiu EXATAMENTE para refrear o caos dos Estados nacionalistas, que procuravam impor sua vontade no mundo por meio exclusivo da força militar e sem quaisquer limites, a não ser a força de outro Estado mais poderoso.

  8. Nacionalismo? É o Horror!

    Creio ser impossível interpretar os diversos sistemas de organização de grupos sociais sem um entendimento da psicologia evolucionista, especialmente da evolução da cooperação. O instinto que alimenta a cooperação é o altruísmo. Para Darwin, o altruísmo – visível em todos os animais sociais – era um paradoxo, pois sua teoria se baseava na aptidão, medida pela capacidade de um dado espécime de deixar prole abundante. Por mais de um século o altruísta pareceu ser um inapto, pois sacrifica-se em benefício de outros e com isso deixa menos prole. Nos anos 1964-1975 a questão foi esclarecida com o conceito de altruísmo recíproco e sua teorização, principalmente por meio de teoria dos jogos. Esse é um tema inteiramente consolidado, e por meio dele é possível entender quase toda a moralidade humana. Os grupos sociais mutuamente solidários por meio do altruísmo recíproco são agressivos a outros grupos. Há também conflito e agressividade intragrupo, mas na presença de conflito intergrupos a primeira é parcialmente apaziguada. Essa é a base do conhecido comportamento nós contra eles. O ser humano sente uma necessidade compulsiva de ser parte de algum grupo, seja um partido político, uma sociedade de coleção de selos, uma agremiação esportiva, um Rotary Clube, uma religião, uma ideologia – religião laica – uma tribo, uma etnia ou, na era moderna, uma nação. O nacionalismo – identificação com uma nação –  era inexistente no mundo antigo. Os sumérios, egípcios e outros grandes agrupamentos de milênios atrás tinham grande identidade cultural interna, mas nenhum sentimento nacional. O primeiro grande império foi o persa, fundado por Ciro, o Grande em medos do século VI a.C. Unificou quase todos os povos e etnias de um vasto território ao sul da Rússia e a leste do mar Egeu, até perto  do Himalaia, descendo ao sul até as bordas do Paquistão e incluindo o Egito. Nunca houve uma nação persa, cada região com características distintas era governada por um vice-rei. A já milenar cultura egípcia foi mantida intacta, a autoridade do faraó e dos sacerdotes foi respeitada. No ano 334 a.C. o jovem Alexandre, com 22 anos, cruzou o Bósforo para dominar o grande império, então sob o reinado de Dario III, o que conseguiu muito rapidamente. Alexandre era um macedônio, mas seu maior intuito era organizar o mundo sob os princípios da cultura helênica. Morreu uma década depois, sem nunca retornar à macedônia. Fez de Babilônia a sede do seu império, teve duas esposas, uma delas filha de Dario e a outra, uma afegã. Casou-se segundo os ritos locais (babilônicos), passou a usar trajes locais. Alexandre fundou Alexandria, em terra egípcia, para ser a capital da cultura helênica, o que acabou tornando-se fato.

    O império romano, que sucedeu o de Alexandre e durou sete séculos, também não criou o conceito de Estado Nação. Nunca defendeu uma cultura românica, supostamente superior às outras. Os grandes intelectuais romanos, principalmente Cícero, reconheciam a superioridade da cultura grega, valorizada durante todo o império, sobre a cultura romana. O imperador Adriano tentou fazer de Atenas a capital cultural do império romano. Roma respeitou a cultura, as religiões e os costumes de todos os povos conquistados.

    Após a queda do império romano a Europa começou a dividir-se em feudos, unidades políticas independentes. No final da Idade Média havia na Europa umas cinco mil unidades políticas independentes. A guerra entre os feudos era contínua e endêmica. Segundo avaliação minha, não publicada, de 20 a 25% dos adultos da época morriam assassinados. Era o caos e a estagnação, a coisa obviamente não funciona. Em parte desse período houve também os califados muçulmanos e o Império Otomano, que aniquilou os primeiros, tudo organizado sobre princípios religiosos. Maior do que todos, houve o império mongol, sem qualquer princípio relevante, fundado unicamente nos costumes de cavalarias com a vocação de invadir tudo o que avistasse à frente e matar todos, exceto as mulheres atraentes. Sua eficácia foi insuperável.

    A partir do século XVI formaram-se na Europa os Estados Nacionais e não tardou que guerras devastadoras ficassem comuns entre esses estados. A religião, a ideologia e o nacionalismo geraram as maiores guerras da História. É difícil defender qualquer desses tipos de “nós”. Bertrand Russel, um gênio sob qualquer parâmetro, a começar por ter sido um dos três maiores matemáticos do século XX, combateu todas essas obras do altruísmo recíproco. Seus argumentos permanecem válidos. Ou se inventa um sucedâneo do nacionalismo compatível com a natureza humana ou a espécie humana não tarda em se extinguir. A análise da religião e da ideologia não cabe neste comentário. São as duas outras cabeças da Besta.

  9. excelente…

    e assim criaram um poder acima de todos os outros, de todos os governos

    e os EUA se deu bem nessa, a meu ver, com a idéia inicial de recuperar todos os valores roubados durante as guerras, qualquer guerra e em qualquer ponto do planeta

    inicialmente, focando mais o que vou roubado pelos naziz, foi dito que era para voltar para onde estavam os mais afetados, como para Israel, por exemplo, mas

    voltou mesmo?

  10. Neste tema não concordo com

    Neste tema não concordo com André. Para ter um Estado forte e pautado no patrimonialismo, corporativismo e burocracia, prefiro estado nenhum. Na verdade, sempre rejeitei o estado brasileiro pelos motivos elencados acima e muitos outros mais. O nosso estado é pautado no controle e não na liberdade. Além disso, foi praticamente privatizado pelos órgãos públicos e seus funcionários obtusos: nós sustentamos os caras que sabotam o país.

    Portanto, a única forma de libertar o povo desses funcionários públicos atrasados que acreditam que se vence na vida através de uma prova de marcar x, ou seja, o cara passa um tempo decorando coisas estáticas para depois ver quem foi o melhor decorador. Só pode dar merda!! As mentes mais obtusas serão as vencedoras. Einstein no final do século IXX era o aluno mais medíocre de sua sala porque na época a educação era pautada em decorar. Hoje, no século XXI, o Brasil valoriza as mentes mais obtusas e ainda permite que elas pautem o país, juntamente com nossa imprensa que, diga-se de passagem, é antro (a imprensa) de desmiolados e consumidores de drogas.

    Sim, voltando ao tema, O Estado Nacional, como defende André, só é bom se a cultura dominante dentro dele for moderna. Caso contrário, é uma tragédia como a que vivemos atualmente com os funcionários públicos da lava jato fazendo tolices de todas as ordens. Acredito que estamos diante de gente que nunca leu um livro na vida quanto mais uma biografia de stalin. É um povo raso demais. Eu vi um brasilianas onde um funcionário público da pf, uma liderança lá, só falava água. Água mesmo!!

    Na linha do pensamento do André, talvez um estado forte e liberal seja a saída, mas se for para ter um estado que nós temos, prefiro que o Brasil seja particionado ou anexado a outro país. Ou até mesmo as duas coisas. Que, diga-se passagem, acredito que irá acontecer.

    1. Nada a ver. Estado forte não

      Nada a ver. Estado forte não é o atual caos onde existem ilhas de poder com autonomia e onde a burocracia desafia o Chefe de Estado. É exatamente o oposto disso. Estado forte é onde o Presidente comanda sem barreiras burocraticas e corporações ditas independentes barrando qualquer iniciativa, hoje qualquer projeto de infra estrutura não consegue ser implantado porque

      o Estado é fraco e não consegue anular barreiras de indios, quilombolas, ambientalistas, sindicais, trabalhistas, Tribunais de contas, ministerios publicos, todos param tudo e nada anda, esse é um ESTADO FRACO e não forte.

      1. Funcionário PúblicoCracia

        Meu caro, mais uma vez não concordo. O que temos é parte do poder político fraco. Digo: o poder executivo. Pior, o poder político que é portador da vontade coletiva está à mercê de um poder político corporativista. Esse é o fato. Ambos, segundo a constituição fazem parte do estado.

        Continuando a tragédia, o outro poder eletivo, o legislativo, está totalmente dessintonizado com a vontade coletiva e com os interesses dos país. Parte do legislativo apoiam esse estado judicial: são os membros das corporações do estado que foram “eleitos”, tais como delegados, procuradores, juízes e etc. Outra parte do legislativo é composta de famílias especializadas em comprar votos. Assim, parte considerável do poder legislativo é vitalícia e hereditária.

        Voltando ao judiciário e mp que são, de fato, vitalícios. E, talvez até, hereditários. Ainda tem os delegados da pf querendo os mesmo privilégios dos seus colegas. Ou seja, é uma monarquia, uma privatização do estado operada pelas corporações de funcionários públicos.

        Então estamos diante de um estado fraco? Não. Estamos diante de uma sociedade capitalista fraca, não-representada e desprotegida perante um estado policesco e judicial. Já que o poder executivo praticamente está a nocaute: não defende nem a si mesmo quanto mais a sociedade capitalista. E o legislativo? ou é cúmplice do regime dominante, ou sendo chantageado, ou faz parte do judiciário/mp/pf.

        Portanto, se é para ter um estado desses, prefiro estado nenhum. Como sou liberal ao extremo, prefiro que o Brazil seja anexado ou particionado. Repito: acredito que as duas coisas irão acontecer.

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