Para entender a crise global e os juros americanos, por Luis Nassif


Entenda o xadrez acima:

Nos últimos anos, a inflação americana convergiu para a meta fixada pelo FED (o Banco Central norte-americano) de 2% ao ano.

O mainstream econômico desenvolveu duas teorias sobre a inflação.

Uma é a teoria fiscal dos preços, que diz que sempre uma economia em desequilíbrio fiscal gera inflação. Outra, a teoria monetária que vê uma relação inversa entre juros e inflação. Sempre que a taxa real de juros cai, a inflação sobe. Por isso, um desequilíbrio fiscal também provocaria inflação, na medida em que exigiria mais emissão de moeda para cobrir o déficit. Com mais emissão, teoricamente haveria mais inflação, exigindo mais juros.

Nos últimos anos, no entanto, mesmo com juros próximos a zero, a uma situação fiscal delicada, a inflação cedeu nos EUA. Mas o resultado foi fundamentalmente influenciado pelo IPC Energia, que despencou em 2014 e 2015 (-10,6% e -12,6% respectivamente) devido à queda nos preços internacionais das commodities. Nos últimos tempos, os preços voltaram a subir, de 40% para o petróleo e 20% para os metais, puxando novamente a inflação, e levando o FED a anunciar o aumento dos juros.

Aumentando os juros, o xadrez da economia global segue o roteiro do infográfico.

O impacto sobre as dívidas corporativas.

Há dois efeitos da alta de juros.

Um é sobre as dívidas corporativas, nos EUA e nos emergentes, principalmente China, Índia, Brasil, África do Sul, Turquia e Argentina.  Segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF) em 2018 e 2019 estarão vencendo US$ 1 trilhão de dívidas denominadas em dólares nos países emergentes. No caso brasileiro, um volume robusto de reservas torna a situação cambial mais confortável, mas, mesmo assim, não resolve o problema do endividamento das corporações não financeiras.

Segundo a Bloomberg, 25% dos créditos corporativos na China e no Brasil são de alto risco. Se a taxa do dólar aumentar em 200 pontos bases, esse percentual poderia aumentar para 45%. O BIS (o Banco Central dos Bancos Centrais) apontou como um dos grandes fatores de risco a concentração de dívida corporativa nos Estados Unidos na categoria de crédito BBB (um nível apenas dos títulos junk).

O segundo efeito é sobre o preço dos ativos. Há dois movimentos derrubando os preços. O primeiro, de empresas se desfazendo de ativos para honrar compromissos. O segundo, própria elevação dos juros, que impacta diretamente o preço dos ativos globais. Isso leva a uma queda no valor das garantias dadas, aumentando o risco do efeito contágio.

O impacto sobre as dívidas públicas

O risco do endividamento é medido pela relação dívida/PIB. Há duas maneiras de reduzir essa relação: uma é através da redução da dívida (o numerador); a outra, através do aumento do PIB (o denominador).

O alerta do BIS colocou dois pontos claros:

  • A política monetária deve continuar sendo favorável, mas é importante encontrar outras formas de políticas macro-prudenciais para garantir que os riscos do mercado financeiro sejam mantidos sob controle.
  • É importante colocar em prática políticas que apoiarão o crescimento no longo prazo.

O aumento do PIB, aliás, permite dois movimentos virtuosos: reduzir a relação, pelo aumento do denominador; e reduzir a dívida porque crescimento traz aumento da arrecadação fiscal.

O grande nó que divide neoliberais e neokeynesianos é sobre os limites para estimular a economia.

As ferramentas de estímulo são as seguintes:

  1. Aumento dos gastos públicos, o que significa, em um primeiro momento, aumentar a relação dívida/PIB até que os resultados comecem a aparecer.
  2. Redução dos juros e aumento da oferta de crédito. Muito tempo de juros mínimos induz a um aumento do endividamento, como de fato ocorreu depois de 2008. Hoje em dia, depois de um bom período com taxas próximas de zero, não se acredita mais no estímulo monetário para reativar a economia.
  3. Flexibilização fiscal. Da mesma maneira, significaria um aumento do numerador (pela redução fiscal), antes que comece a influenciar o denominador (o PIB).

Em síntese, há nuvens se formando no horizonte da economia mundial e da brasileira. E os timoneiros, no caso dos EUA e do Brasil, são dois desvairados que precisam ser contidos por assessores para não colocar a nave a pico.

 

Luis Nassif

18 Comentários

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  1. O ajuste neoliberal
    É o que se propõe pelo governo do Guedes. Ou seja: a última preocupação é com o crescimento e a principal é com a queima dos ativos, a entrega das estatais e das riquezas a preço vil sob a mentira de que é o “ajuste fiscal que se está fazendo” e que “ele vai reduzir a dívida e criar as condições de crescimento ‘no futuro'”. Essa mentira que foi implantada na cabeça das pessoas, pelos jornais, grande mídia e os think tanks (muitas faculdades de economia, inclusive) e que permite ir fazendo a transferência de renda para o rico e essa mentira é contada como se fosse uma teoria que tem o propósito de concertar o país. Nunca teve. É um engodo para destruir as nações. Observe a Grécia e o sul da Europa.
    Pois bem, 2,5% de juros nos EUA é pouco. As comodities subirão, mas não de uma vez. Então o Brasil é um dos que pagarão o pato. Essa semente começou a germinar agora. O objetivo final, depois que as riquezas forem sangradas será a quebra da moeda e a volta da inflação. Pra isso temos uma segunda etapa que é a queima (a transferência) das reservas de $370 no que “o pobre e analfabeto do Lula deixou”.
    Os generais brasileiros gostam e assistem novelas. Assistem e acreditam no JN e estão aí pra proteger a burguesia e a pseudo-burguesia brasileira.
    Nós acreditamos em kit gay e colocamos o capitão expulso do exército como presidente. Além deles elegemos o Tiririca, o Romário, outros ladrões iniciantes e muitos velhos ladrões.
    O pior é que as comodities vão subir mais nos próximos anos anos e, consequentemente, a inflação e juros americanos: está será a fórmula para acabar de nós desgraçar.
    E, desta vez, acho que o tio Sam se lasca também. Sobrará a Eurásia, Rússia, China e Irã prósperos.
    E nós jogamos fora, mais uma vez, nosso futuro e bem estar.

  2. Conjunturais e estrurturais

    No atual patamar dos juros americaos nossas preocupações devem aumentar caso o FED pare ou diminua os juros, na verdade o aumento gradual dos juros significa um bom sinal, indica que estamos caminhando ara a normalçidade, que seria os juros americanos em torno dos 5% anuais.

    O FED já deu várias demonstrações e indicações que observa muito mais o núcleo do IPC, que exclui os preços de energia, para verificar os impactos da demanda sobre os preços internos.

    Além disso o aumentos dos preços dos combustíveis, reduz a demanda das familias, o que acaba funcinando como uma conteção da pressão de demanda sobre os demais preços da economia.

     

  3. Sobra dinheiro e falta lastre

    Tudo indica que a massa monetária aumentou tanto que o dinheiro procura qualquer lastre para se ancorar antes de virar apenas um papel pintado, neste caso, na compra de ativos em países latino-americanos que entraram na linha neoliberal. A “financieirização” da economia é algo notório e o dinheiro entrou em todas as possibilidades de endividamento das atividades produtivas, permeando brechas e orifícios dentro da economia real. A inflação vai vir quando não haja mais atividade real na economia que sustente esse jogo. Hoje, neste shopping mundial, o “dono” da loja ganha enquanto é o locatário quem se arrisca com um negócio. Em breve aparecerão lojas vazias sem ninguém mais para locar.

  4. não confere
    Não confere a informação de que o preço das commodities vem subindo

    Nos últimos tempos, 90 dias, após subir por 12 meses, os preços estão desabando

    O petróleo, por exemplo, foi de 85 pra 50 us$ em 3 meses

    ..metais e demais commodities seguem a trilha

    Alias, ocupados com BOZO, a mídia deixou de cobrar o “corrupto inominável dos portos” pela redução no preço dos combustíveis, por exemplo.

  5. Prestados todos os esclarecimentos…
    Sobrou prá familia bolsossaura o bagaço da laranja.

    O bolsonaro pediu desculpas à Michelle por tê-la envolvido no caso Coaf e o Queiroz pede perdão à familia bolsonària por ter envolvido seus membros no laranjal. Ele garante serque um homem de negócios, que faz dinheiro.

    Se faz tanto dinheiro, devia emprestar dinheiro ao Bolsonaro mas pediu emprestado. E devia pagar de uma vez, não parceladamente.

    1. Interessante que o GGN não se

      Interessante que o GGN não se meteu a discutir isso

      – entrevista direcionada, preparada por jornalista fraca (graças a Deus, bom pro BRASIL), com a jornalista ajudando a cumprir a pauta sem disfarces

      – o cara tava nervoso, memória falhava, mas esquecer o nome do HOSPITAL e do médico ?

       

      – mostrou-se deveras queixoso, pedindo cólo ..não sonseguiu explicar pq pegou grana da filha FANTASMA e da mulher

      – com a grana que recebia não precisaria esta morando numa FAVELA

      – falou em documentos, não apresentou NADA, nem um recibo de compra e venda de carro por exemplo  ..muito menos receituário médico

       

      – como vc lembrou, se fazia tanta grana, pq pediu empréstimo ? e pagou em suaves prestações ??!!

      – ademais, sair, junto com a filha, antes do CHEFE assumir  e o escandalo eclodir ? será mesmo que BOZO não arrumaria um lugarzinho pro companheiro de 30 anos ?  ..NÂO COLA

       

      – o COAF fala em valores picados, vindos de funcionários  ..convenhamos, carro hoje em dia custa caro

      FATO, os BANDIDOS GOLPISTAS proto ditadores revachistas, estão esperando SERGIO MORO assumir pra ABAFAR TUDO  ..e colocar a culpa no LULA, claro

       

        1. bem interessante
          deveria

          bem interessante

          deveria estar sendo exposto pela midia alternativa

          Cadê o Queiroz ?

          Pq candidatos FRANCO FAVORITOS perderam, inexplicavelmente, a eleição pro senado, na ultima hora (Viana. Graziotin, Suplicy, Dilma e Requião) ?

          e o esclarecimento sobre este atentado ?

          tudo dificil de engolir num ambiente PRECEDIDO do GOLPE dos militares, judiciário e da prisão ILEGAL e inconstitucional de LUIZ INACIO (o 1o nas pesquisas)

      1. É frutífero o tempo gasto tentando converter
        Uma hiena ao herbivorismo?

        O fato de eu não perder tempo tentando converter uma hiena em vegetariana, não quer dizer que eu vou deixar como está prá ver como é que fica.

        “Eu, que nada mais amo

        Eu, que nada mais amo
        Do que a insatisfação com o que se pode mudar
        Nada mais detesto
        Do que a profunda insatisfação com o que não pode ser mudado.”

        Bertolt Brecht

  6. Cá a crise internacional é

    Cá a crise internacional é bem mais complicada. Sempre que fala ou escreve sobre sua área (ainda não sabemos exatamente qual é ela), o Ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro se prepara muito. Parece até que  ele toma chá de lirio. Depois degusta um bolo feito com manteiga saturada de maconha por uma semana. E para finalizar um cálice de caipirinha de cogumelo alucinógeno. Então ele fica pronto para salvar deus e o diabo na terra do sol. Glauber Rocha e o jacaré gigante que perseguia ele ao fim da vida ajudam o Ministro das Relações Extraterrestres a se teleportar para São Tomé das Letras, onde ele recebe orientações do um autêntico ET de Varginha. Tá tudo muito louco, mano…

  7. Péssimo contexto para vender ativos: privatização é burrice!

    Acho que Trump quer sair integralmente da Síria e parcialmente do Afeganistão para economizar. Simples assim. Conseguirá? Difícil prever. Mas uma coisa o texto me leva a pensar. Se os ativos vão desvalorizar em cima de subida da taxa de juros nos EUA, vender ativos do Brasil (privatização selvagem) agora parece que seria a maior burrice do mundo: momento de desvalorização. É isso mesmo???

  8. Para entender a crise global e os juros americanos

    Trump continua confirmando que não veio para explicar e sim para confundir. ou na verdade seria ao contrário?

    após a retirada de imediato das tropas norte-americanas da Síria, também anuncia uma saída do Afeganistão. mas para compensar via Twitter declara guerra ao FED.

    seria também o BC brasileiro o único problema de nossa economia? mas quem ousaria dizê-lo…

    Bibi Netanyahu vem. Bibi Netanyahu não vem. Bibi Netanyahu vem.

    inconfomadas com a retirada dos EUA, as “Forças de Defesa Israelenses” lançam um novo ataque contra a Síria no Dia de Natal.

    e os destemidos F-16 e F-35 da IAF usam aviões de carreira como escudo humano, como antes fizeram na derrubada do russo IL-20.

    para piorar ainda mais, Rússia ameaça retaliar com mísseis S-200 contra Israel, em caso de novo ataque.

    novamente Trump toma a palavra: “Se você reparar bem, Israel está se defendendo muito bem sozinho, não precisa da ajuda dos EUA. Além dos US$ 4,5 bilhões anuais que já recebem de nós”.

    afinal, qual a relação entre entre o boné da campanha pela reeleição de Trump, na cabeça de um dos Três Primeiros-Filhos, e o lobby pró empreendimento israelenses, feito por Bolsonaro?

    business as usual?

    p.s.: enquanto isto, o Dragão Chinês já não cospe tanto fogo, muito mais bolhas…

    .

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