Polícia Federal sob Moro: de FBI dos trópicos a tonton macoutes, por Luis Nassif

Hoje em dia, sob o comando de Sérgio Moro, a PF vive o maior desafio da sua história. Moro é um Midas ao contrário. Tudo o que toca vira lama

Gradativamente, sob Moro, a PF do Paraná foi se desvirtuando e espalhando o mau exemplo por outros estados. Não era mais o FBI brasileiro, respondendo a valores e a princípios, mas os os tonton-macoutes de um Baby Doc curitibano, inclusive conduzindo expurgos internos contra quem ousasse questionar a contaminação política.

A Polícia Federal é um poder permanente. Como tal, não pode se vincular a governos e nem se deixar instrumentalizar. É a pré-condição essencial de um poder permanente.

Uma organização, empresa ou corporação pública, ganha maioridade quando seus integrantes se preocupam em deixar um legado para as gerações futuras, uma história, um bom exemplo que irá se multiplicando em outros exemplos.

Em outros tempos, especialmente sob a liderança de Paulo Lacerda, a Polícia Federal tinha essa ambição. Lembro-me da fase inicial da modernização da PF, preparando seus programas de qualidade, aprimorando seus processos internos. Os consultores me relatavam, maravilhados, o espírito profissional, a meta proposta – ser o FBI brasileiro -, a visão de futuro, o comprometimento de todos com a corporação. Enfim, o compromisso com o futuro, a intenção de deixar um legado para as novas gerações, de profissionalismo, de aprimoramento contínuo das investigações, de avanços na polícia científica, nas novas tecnologias.

O modelo dos mais jovens eram os policiais mais antigos, os grandes feitos na rua, como o desmantelamento da quadrilha que roubou o Banco Central em Fortaleza, um trabalho primoroso, discreto. Até hoje a opinião pública não sabe o nome dos heróis responsáveis por esse feito. Mas os jovens que entravam se espelhavam nesses heróis comprometidos com o trabalho, não com a popularidade fácil.

Hoje em dia, sob o comando de Sérgio Moro, a PF vive o maior desafio da sua história. Moro é um Midas ao contrário. Tudo o que toca vira lama. A partir da Lava Jato, do seu canto em Curitiba, foi um dos responsáveis pela politização do Ministério Público Federal, comprometendo os valores firmados na Constituição de 88 e contaminando toda a corporação, pelos celebração dos maus exemplos.

Foi, também, o principal estimulador dos absurdos cometidos pela Polícia Federal do Paraná, pelos deslumbrados que deixaram na história da PF a mancha das invasões espetaculosas de universidades, a humilhação de pessoas, a exposição de ex-políticos com algemas nos pés e nas mãos, o comprometimento das exportações brasileiras de carne.

Gradativamente, sob Moro, a PF do Paraná foi se desvirtuando e espalhando o mau exemplo por outros estados. Não era mais o FBI brasileiro, respondendo a valores e a princípios, mas os os tonton-macoutes de um Baby Doc curitibano, inclusive conduzindo expurgos internos contra quem ousasse questionar a contaminação política.

Agora, no comando da PF, Moro repete a lógica da contaminação. Os policiais que trouxe com ele não representam a corporação. São pessoas de Moro, não da PF. E a contaminação vai se espalhando por todos os poros de uma outrora PF, orgulhosa de seu profissionalismo.

De repente, Policiais Rodoviários Federais invadem reunião de sindicalistas em Manaus, usando indevidamente o nome do Exército. Monta-se a operação contra hackers e, antes mesmo dos interrogatórios, Moro já decide que saiu deles o dossiê divulgado pela Intercept, justo no momento em que o país inteiro, graças ao Intercept,  já sabe das manobras da Lava Jato, das armações, das delações combinadas.

Como lembrou Pedro Serrano, essa contaminação política comprometerá todo o futuro da PF. Em algum momento, haverá inversão no jogo político com a volta da democracia. E não haverá como poupar a PF de uma justiça de transição.

As chagas deste período tenebroso serão expostas, as vítimas, indenizadas. Os barras-pesadas que embarcaram de cabeça nessa aventura sairão da organização e se organizarão em outras bases, como as milícias que nasceram dos porões da ditadura. E haverá uma reformulação da PF, acabando com suas prerrogativas de poder permanente. Um poder permanente não pode conviver com a partidarização implementada por Moro.

Quanto tempo levará, dez, vinte anos? Pouco importa. Mas, lá na frente, algum velho policial contará aos tempos dos tempos pré-Moro, quando havia uma Polícia Federal orgulhosa, profissional, cujo sonho maior era ser o FBI dos trópicos. E que terminou sendo um instrumento nas mãos de um “chefe de puliça”. E mostrará, na parede da sala, o que restou do sonho: um quadro na parede com os valores que, um dia, marcaram a corporação:

Missão

A MISSÃO DA POLÍCIA FEDERAL foi assim declarada: “Exercer as atribuições de polícia judiciária e administrativa da União, a fim de contribuir na manutenção da lei e da ordem, preservando o estado democrático de direito.”

Visão

A VISÃO DE FUTURO DA POLÍCIA FEDERAL foi assim descrita: “Tornar-se referência mundial em Ciência Policial.”

Valores

A Galeria de Valores da PF, conforme disposição do item 5 da Portaria nº 4.453/2014-DG/DPF, de 16 de maio de 2014, é composta dos seguintes valores.

Coragem – Possuir a capacidade e a iniciativa de agir no cumprimento de dever em situações extremas, ainda que com risco à própria vida.

Lealdade – Cultuar a verdade, a sinceridade e o companheirismo, mantendo-se fiel às responsabilidades e aos compromissos assumidos.

Legalidade – Comprometer-se com a democracia e com o ordenamento jurídico vigente, sublimando a determinação de defender os interesses vitais da União.

Ética e Probidade – Desenvolver práticas de gestão e padrões de trabalho calcados em preceitos éticos e morais, pautados pela honradez, honestidade e constante busca da verdade.

Respeito aos Direitos Humanos – Alicerçar atitudes, como servidor e cidadão, na preservação dos princípios basilares de respeito aos Direitos Humanos.

E o neto reagirá espantado: Então um dia a PF foi assim?

 

 

 

 

 

 

19 Comentários

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  1. Nassif, não é somente a policial federal que é assim.
    É todo o estamento brasileiro das organizações públicas, e em alguns casos também estamento privados(que vivem de verbas públicas), tipo as APAES, que se utilizam de sua estrutura para promover “OS OPORTUNISTAS DE SEMPRE” que se transformam em pequenos imperadores dos ditos cujos.
    Assim, é na procuradoria, PF, Petrobrás, BB. CEF, Correios, formas armadas, logicamente no, e especialmente no Judiciário, até então intocável ao controle da sociedade.

  2. Nassif, não é somente a policial federal que é assim.
    É todo o estamento brasileiro das organizações públicas, e em alguns casos também estamento privados(que vivem de verbas públicas), tipo as APAES, que se utilizam de sua estrutura para promover “OS OPORTUNISTAS DE SEMPRE” que se transformam em pequenos imperadores dos ditos cujos.
    Assim, é na procuradoria, PF, Petrobrás, BB. CEF, Correios, formas armadas, logicamente no, e especialmente no Judiciário, até então intocável ao controle da sociedade.
    Somente há uma maneira de se evitar isso. É a sociedade ter controle total dos órgãos que dão suporte a todo o controle do processo democrático. Pegue o exemplo do CNJ e veja como não se deve estruturar um estamento de controle.

  3. “(…)
    O advogado Ariovaldo Moreira afirmou na noite desta quarta-feira (24) que seu cliente, o DJ Gustavo Henrique Elias Santos, disse em depoimento à Polícia Federal que a INTENÇÃO de Walter Delgatti Neto, amigo do DJ e apontado como o hacker que invadiu os celulares do Ministro Sergio Moro e outras autoridades, QUERIA vender ao PT as mensagens que obteve.

    E ele falou: “A minha intenção é vender para o Partido dos Trabalhadores. E o meu cliente narrou que o Walter é um sujeito propenso ao Partidos dos Trabalhadores. É uma pessoa que tem uma certa simpatia do Partido dos Trabalhadores”.
    (…)

    https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/07/24/dj-preso-afirma-a-pf-que-hacker-queria-vender-mensagens-de-moro-ao-pt-diz-advogado.ghtml

    Eu tenho muita simpatia pelo Sergio Moro e sou propenso ao P$L, Partido do $uco da Laranja. Em razão disso, eu quero vender informações hackeadas do Escritório de Advocacia da Defesa do Lula para a Rosângela Moro e para o Zucollotto.

    Será que eles querem comprar?

  4. A imprensa corporativa ontem ficou o dia repassando informações vazadas criminosamente por
    pessoas públicas (PF) de uma investigação sigilosa cujo objeto era descobrir quais as pessoas privadas que vazaram dados sigilosos de pessoas públicas à imprensa livre…

  5. O jurista Pedro Serrano acredita que com a volta da Democracia a PF será submetida a uma Justiça de transição.
    Espero que essa Justiça de transição seja severíssima, pois há inocentes mortos pelo caminho.

  6. Outro dia mesmo, menos de uma semana atraz, um policia aqui reteitou um fake news sobre uma politica com um comentario que ela merecia um tiro, e outro deu um like no item.

    Ambos foram despedidos em menos de 4 dias.

    PF brasileira nao chega nem a qualificar como policia DE RUA nos EUA…

  7. “Moro é um Midas ao contrário. Tudo o que toca vira lama.”
    .
    O fato de ser celebrado como “herói” é uma demonstração cabal do nosso imenso déficit civilizatório……

  8. “FBI tropical”… Acho improdutivo, caro Nassif, a quem pretende que nosso país seja justo, próspero e soberano, tomar como exemplo instituições estrangeiras, especialmente de país que baseia sua dominação na criação, junto ao imaginário popular, vulgar, de admiração a eles. Essa forma de dominação a que eles chamam de “soft power”. Não é do interesse dos EUA que sejamos um país justo, próspero e soberano.

    Reforçar a imagem da polícia federal dos EUA como bacana não só não ajuda em nada em estabelecer uma polícia federal brasileira competente e séria como aumenta nossa vulnerabilidade nacional em relação àquele país. E não é nem necessário: podemos estabelecer uma polícia federal muito boa e adequada à nossa realidade sem ter que comprar nada dos EUA. Além disso tudo, os policiais estadunidenses não só não vão ensinar o pulo do gato como, conhecendo nossas fraquezas, vão querer sabotar-nos, legal ou ilegalmente.

    Por último a polícia federal dos EUA tem contra si diversas acusações de, por exemplo, plantar provas (Brandon Mayfield é apenas um dos milhares de exemplos) e de cometer muitos outros crimes em nome de manter o poder do interesse privado sobre o que é público dentro de seu país e até interferindo em outros países. Não é uma organização admirável, exceto na ficção, mentira, nos filmes que o país deles faz.

    Defender-se de inimigo, qualquer um sabe; quero ver é defender-se dos amigos…. “muy amigos”.

  9. Nassif, Nassif, o neto vai falar “quase viramos uma Venezuela, um ‘Cubao’, não é, vovô?”

    É só lembrar que em 64 depuseram um presidente constitucional, fazendeiro, e, ainda assim, não cansam de repetir que “livraram o pais da ditadura comunista”; que achataram o salario “pro bem estar do trabalhador”; que suspenderam o habeas corpus para “garantir a liberdade”; e por aí vai… A boçalidade e a mentira são as marcas registradas dessa turma.

  10. E pensar que Moro pode incluir a PM em sua rede de repressão Brasil afora : neste caso nem os generais terão vez, conforme desenhou Nassif no texto O próximo alvo será o Exercito, citando um colega parece-me q RogérioMaestri….Moro é uma figura rude com aparência de gentlemann, sqn: por dentro ele ferve de ódio e frustração por não ter sido um Lula: como assim, logo ele que estudou: se bem que não sabe o básico da língua portuguesa.

  11. Não me surpreende o quadro de degradação visto hoje na PF, a polícia federal foi grande protagonista durante a ditadura, a instituição tem extenso histórico colaboracionista com regimes autoritários.

    O que se viu durante os governos ingênuos do PT foi exceção, o profissionalismo e o apego à legalidade nunca foi uma marca da PF.

    No ministério público federal vejo o contrário sempre foi uma instituição com grande pendor democrático mas, hoje, não passa de departamento jurídico da direita folclórica brasileira.

  12. Muitos anos sem ver telejornal brasileiro, esta semana assisti a dois jornais e tanto Record quanto Globo News são angustiantes. Ao ver as afirmações sobre os tais hackers e a defesa explícita de Sergio Moro, percebi que o povo não sairá fácil dessa pantomima em que foi colocado.

    1. Sem contar com o fato dessa Operacao Parodia ser ILEGAL para Moro ordenar por ser conflito de interesse dele, publico e visivel de Netuno…

  13. por isso, a luta pela retomada do estado de direito
    e pela democracia plena – a mais ampla
    possível, a da inclusão social….
    sem povo
    -participação popular –
    não há paz.

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