Presidiário, cuidado ao engolir a ressocialização!, por Samuel Lourenço

Presidiário, cuidado ao engolir a ressocialização!

por Samuel Lourenço

Preso passa fome, ainda que as fornecedoras de comida possuam nutricionistas, o preso passa fome. Não é drama, é verdade. As comidas na sua grande medida, quando fornecidas por terceiros, são de péssimo gosto, às vezes azedas e com um custo suspeito. Nesse caso, não falta comida, a questão de passar fome, está relacionada ao fato das comidas chegarem na unidade estragada ou de uma qualidade que tira o apetite.

Muitas são as vezes, que o preso tem que engolir aquela comida. É a refeição disponível, come ou morre de fome! Engolir o gosto amargo daquilo que “tá muito bom pra quem é!” ou pra quem “tinha que comer capim ou chumbinho!”. Engolir a comida temperada com o ódio externo, daqueles que entendem que a melhor comida para os presos deveria ser munição de 762 disparada da guarita do agente. Bem, é muito melhor comida azeda.

Mas passado o momento gastronômico, quero falar de algo que tentam fazer o preso engolir, e tem gente que acha isso o prato principal. Aos meus amigos presidiários, vai um alô: cuidado ao engolir o discurso sobre Ressocialização! Isso é mais tóxico e mais nocivo que uma comida estragada. Mas às vezes, precisamos engolir para não morrer de fome, ou seja, para sobreviver no contexto social.

Ressocialização, assim como quentinha de cadeia, é um produto, uma mercadoria que é oferecida como indispensável no processo da execução da pena. Se está preso, não pode faltar: comida e ressocialização. Cuidado, as duas podem vir contaminadas.

Ressocialização é farsa! Um produto fajuto que é oferecido como a proposta de evolução civilizatória. Preso, tu és um bárbaro, um primitivo, um ser deformado. E a Ressocialização é a maldita forma que vem pra te fazer civilizado, um ser social, humano, ordeiro, de bons costumes e blá blá blá.

Ressocialização é engodo, para expiar a responsabilidade social. Ressocializar é adotar um papo de que o preso nunca fez parte de tal sociedade, quando na verdade, a prisão é fruto da vivência nesta mesma sociedade e civilização. Como se o preso fosse um extraterrestre, que caiu aqui cometendo crime e agora precisa aprender o hábito dos civilizados locais.

Amigos de prisão, tenham cuidado ao engolir o papo de Ressocialização,  pois ele pode te empurrar para essa sociedade de agora: Sociedade do consumo, do preconceito, do extremismo, do racismo, machismo, da intolerância religiosa, dos privilégios. Cuidado, ao ser ressocializado, tu pode ser inserido numa sociedade excludente!

Amigos, tenham cuidado! Ao ser ressocializado, podem te fazer acreditar em Lava Jato, Redução da Maioridade Penal, em Auxilio Reclusão de R$ 4 mil reais. E que bandido bom é bandido morto. Cuidado!

Ressocialização te faz acreditar que a cidade é um mundo distante e que precisa ser alcançado, que é o ideal! Mentira. Prisão está na cidade e com a cidade. Prisão é um fato social, e eles insistem em fazer o preso engolir que é algo horrendo e que não pertence à sociedade. Desonestos, mentirosos, hipócritas, não assumem o que fazem e tentam nos fazer sentir excluídos, que não queremos ser inseridos por sermos seres ruins, maldosos e bárbaros.

Fiquei  preso com ex policiais que depois de excluídos da corporação, ficavam em carceragem com outras pessoas que por eles um dia foram presas. Vi o ex governador Sérgio Cabral inaugurar cadeia junto com o Secretário  de Administração Penitenciária, hoje os dois estão presos, os tais pregavam ressocialização e coerção!

Cadeia está inserida na sociedade,  os presos também. Não tem ninguém de fora, o que falta é a gente assumir isso. Agora, muito cuidado ao comer desse produto, possa ser que possua pitadas de psicopatia e mau sentimento, proposto a te fazer mal ou então, te matar mesmo. Não se ressocialize, pois assim como comida azeda, isso pode te fazer mal.

Samuel Lourenço – Cronista, palestrante, egresso do Sistema Prisional, aluno de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social -UFRJ
Samuel Lourenço Filho

3 Comentários

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  1. presidiário….

    Uma Policial matou um bandido na porta da escola. O tal tinha 20 poucos anos. Nasceu sob o manto de uma Constituição Cidadã, em sucessivos Governos Socializantes e Progressistas. E a Sociedade Brasileira a cada dia produz mais e mais criminosos. Ou seja este papo esquerdopata, esta bandidolatria não leva a lugar algum. E o caminho do inferno realmente é pavimentado por boas intenções esquerdopatas. Ressocialização? O pilantra safado, primeiramente pense em não ir para a cadeia. Pobreza não é desculpa para nada. Um Retirante Pobre tornou-se Presidente da República. Nossos Vizinhos são muito mais pobres que Nós. E tem a milésima parte da criminalidade que temos. E não exportam tal criminalidade, como nossas Autoridades Públicas covardemente acusam. Éexatamente o contrário. Primeiro onde estão as Escolas e Creches de 1/4 de século de Governos Progressistas? Onde estão os resultados das Politicas Sociais, já que os indices de melhoria social foram tão propagandeados? Onde estão os Direitos Humanos dos Encarcerados em Presidios com condições e lotação dignas, bibliotecas, área de exercicioos fisicos, alimentação digna, alfabetização, cursos profissionalizantes,…? Quando que a Sociedade foi contra isto? A incompetência e mediocridade de Governos Esquerdopatas Socilizantes e Progressistas não alterram a realidade presidiária brasileira. Apesar de estratosféricos Orçamentos. Não aletrou nem a humilhante, vexatória, animalesca, Revista Intima de Visitantes que adentramm nos Presidios. Principalmnete as Mulheres das Familias dos Presos. O que isto tem a ver com o Orçamento, mais que vontade politica e simples respeito às pessoas e cidadãos brasileirios? Então paremos de Vitimizações e Fatalismos. Carro Chefe de Ideologias Arcaicas.         

  2. Nos dias de calor é melhor nem nascer

    Esse discurso da ressocialização é usado quase sempre por politicos e gente que trabalho com presos para passar uma mensagem à sociedade de que é preciso “ressociabilizar” o bandido, marginal, deliquente, sei la, para que ele tenha as chaves, as condições de voltar a conviver com essa mesma sociedade. 

    Esta claro que é um sofisma que não engana [praticamente] nem ao preso nem à sociedade. Porém, se a sociedade tem seu grande quinhão de responsabilidade face ao drama social que vivemos, toda pessoa tem também, em algum momento de sua vida, a escolha de qual caminho trilhar. Ou matar, roubar, traficar, em algumas circunstâncias, seria uma fatalidade? 

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