Publicada originalmente em 16/10/2016
Por Cintia Alves
Operação Janus: As nebulosidades na denúncia contra Lula no caso Exergia e Odebrecht
Procuradoria não inseriu na denúncia detalhes sobre a participação de estrangeiros na criação da Exergia Brasil, com a desculpa de que falta “acordo de cooperação internacional”. Dado é relevante para atestar (ou confrontar) a tese de que Lula está por trás da empresa beneficiada pela Odebrecht
Jornal GGN – Se existe uma corrida para condenar Lula e inviabilizá-lo como candidato em 2018, a denúncia da Procuradoria do Distrito Federal, aceita na quinta-feira (13) pela Justiça de Brasília, tem grandes chances de estar neste contexto. Um dos motivos é que ela foi retirada de uma investigação maior, que ainda tem outras cinco partes em andamento, e não explica uma série de dúvidas sobre quem, de fato, supostamente tirou vantagem da relação Odebrecht-BNDES em Angola.
Com 166 páginas (link aqui), a peça centrada em Lula foi construída em cerca de um ano, a partir de interceptações da Polícia Federal, informações da CPI do BNDES manipuladas para favorecer a denúncia, passagens da Lava Jato vazadas na imprensa e o sofrível uso de reportagens, inclusive de portais cuja credibilidade e isenção são questionáveis.
Logo nas primeiras páginas, os procuradores do Distrito Federal admitem que foram pautados por reportagens de veículos da grande mídia, que lançam suspeitas sobre as atividades de Lula no exterior. Nessas matérias, o que poderia ser entendido como o trabalho de um ex-presidente – reprodução do que fazem outros estadistas – para defender interesses locais, é usado para acusar Lula de tráfico de influência.
Como cada suposto movimento do ex-presidente para favorecer a Odebrecht em Angola com financiamento do BNDES precisa ter uma contrapartida, a Procuradoria elencou pelo menos três, que viraram os queridinhos dos jornalões: 17 contratos que somam mais de R$ 20 milhões ao filho do irmão da ex-esposa de Lula, Taiguara Rodrigues; as palestras que a Odebrecht contratou da LILS, empresa do ex-presidente, e os pagamentos de custas com plano de saúde e supostos gastos com combustível (suspeita de lavagem de dinheiro), no total de R$ 20 mil, feitos pela empresa de Taiguara, a Exergia Brasil, ao irmão de Lula, conhecido como Frei Chico.
Há um grande esforço para consolidar a narrativa (cheia de convicções) de que Lula, enquanto presidente, atuou em favor da Odebrecht para conseguir os contratos para Taiguara. Às vésperas de deixar o Planalto, ele teria comandado uma reunião da cúpula do BNDES para definir a manutenção da linha de investimentos na África e América Latina até 2014 – uma extensão, na visão dos procuradores, do lobby que vinha fazendo. A partir da eleição de Dilma Rousseff, Lula teria criado o Instituto Lula e a LILS apenas para receber os pagamentos da Odebrecht e de “eventuais clientes” que pudessem aparecer, dizem.
O problema é que, além de ignorar o prestígio de Lula no exterior, os próprios procuradores admitem que as palestras contratadas pela Odebrecht foram devidamente comprovadas – mas preferem acreditar que tratava-se de uma espécie de lavagem de dinheiro.
“(…) a remuneração pelas palestras (bem como outras vantagens recebidas, de empresas diversas, pelo Instituto Lula ou pela LILS Palestras, a título semelhante), embora formalmente justificada, não passava, em verdade, de cortina de fumaça para encobrir o real intento das viagens do ex-presidente ao exterior: angariar a confiança dos governos estrangeiros e apresentar-se como autêntico fiador dos empréstimos a serem liberados, pelo Brasil (BNDES) para a ODEBRECHT, de modo que esta empresa pudesse facilmente ser apontada como favorita nas negociações para contratações de obras de engenharia realizadas pelos países estrangeiros.”
Nessa mesma semana em que a denúncia foi aceita pela Justiça de Brasília, a Folha publicou que a delação premiada de Alexandrino Alencar, ex-representante da Odebrecht em Angola, não foi aceita pela força-tarefa porque, entre outros pontos, inocentava Lula ao afirmar que as palestras foram realizadas. Não houve qualquer pagamento sem prestação de serviço.
Também teria dito Alencar, contrariando a Lava Jato, que a Exergia realmente foi contratada pela Odebrecht “a pedido de Lula, mas negou que os serviços não tenham sido realizados.” Mas na versão engessada da Procuradoria do DF, a Exergia é uma empresa de fachada que Taiguara abriu em 2009 para, dois anos depois, firmar os contratos com a Odebrecht. E, na incapacidade de executar os serviços, diz a acusação, a Exergia Brasil delegou o trabalho em parceria com a Odebrecht para a Exergia em Angola.
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