Rock da “Micheque” e caso Queiroz repercutem na mídia argentina

Entre agosto de 2019 e 21 de setembro deste ano, "Micheque" e outras piadas sobre a primeira-dama tiveram 9 milhões de contatos no Twitter, Facebook e Instagram, segundo a consultoria Quaest

Do Página 12

Michelle Bolsonaro, também chamada de “Micheque” Bolsonaro

O apelido “Micheque”, que circula nas redes sociais e já inspirou uma canção de rock, irrita os Bolsonaros. Vamos ver por quê.

Michelle Bolsonaro, esposa de Jair, recebeu dezenas de cheques enviados por um militar aposentado e suposto “miliciano” atualmente preso [em regime domiciliar] no Rio de Janeiro.

Há quase dois anos, o clã familiar liderado pelo presidente, que está construindo um modelo de poder com ambições dinásticas, dá explicações pouco convincentes sobre a origem daquele dinheiro que o ex-militar Fabrício Queiroz transferiu para a hoje primeira-dama Michelle.

Depois de tantos cheques recebidos – à medida que avançam as investigações, descobre-se que há cada vez mais – e vários processos abertos nos tribunais sobre lavagem de dinheiro que pontuam (e às vezes incorporam) o ambiente presidencial, Michelle acabou ganhando o pseudônimo de “Micheque”.

Entre agosto de 2019 e 21 de setembro deste ano, “Micheque” e outras piadas sobre a moça tiveram 9 milhões de menções no Twitter, Facebook e Instagram, segundo a consultoria Quaest. Foi algo “impressionante”, sintetizou o cientista político Felipe Nunes, diretor daquela agência especializada em redes sociais. Um dos picos da “Micheque”, com quase 2,2 milhões de menções, ocorreu no dia 24 de agosto depois que Bolsonaro se enfureceu e ameaçou girar um repórter curioso que queria saber mais sobre o dinheiro sujo arrecadado por sua jovem esposa.

A audiência nas redes daquela intimidação presidencial ao cronista e as críticas que ela causou foi muito grande: tanto que não puderam ser neutralizadas pelo exército de trolls comandado por Carlos Bolsonaro, filho de Jair, de seu escritório no Palácio do Planalto onde trabalha uma redação dedicada a refutar críticas instantaneamente.

Essa “Máquina do Ódio” (título de um interessante livro da jornalista Patricia Campos Mello) destinada a intoxicar a opinião pública e denegrir os opositores, atua em tudo que deu desde a campanha presidencial de 2018 e está a serviço do clã comandado por Jair com verticalismo militar. Sabe-se que tudo o que seus membros fazem com certeza foi previamente autorizado pelo patrão.

A primeira linha dessa organização que parece aspirar a perpetuar-se no poder é ocupada pelos filhos mais velhos, o senador Flávio pelo Rio de Janeiro, o deputado por São Paulo Eduardo e Carlos, que é vereador no Rio de Janeiro, onde é menos visto do que em Brasília, onde é o responsável pela fábrica de notícias falsas disparada do palácio presidencial.

Os filhos se completam com Michelle, que foi designada para um programa de caridade, o filho mais novo Jair Renán, 20, que já anunciou suas aspirações políticas, e as duas ex-esposas do presidente, Rogeria e Ana Cristina. Ambos já teriam participado do esquema econômico com a compra de mais de uma dezena de imóveis à vista, sendo alguns adquiridos quando morreram no mesmo dia. Outra coisa sugestiva.

Nessa pirâmide de poder, Fabrício Queiroz teria sido caixa durante anos, quando trabalhava como assessor de Flávio Bolsonaro . Mas sua influência começou a se deteriorar com as primeiras revelações de transferências duvidosas, no final de 2018, até que ruiu em junho, quando foi parar na cadeia carioca de Bangú, embora mais tarde tenha ido para prisão domiciliar com a esposa. também acusado de lavagem de dinheiro e organização criminosa. Além disso, Queiroz é suspeito de estar vinculado ao Gabinete do Crime, uma “milícia” que opera nas favelas da zona oeste do Rio, comandada pelo matador Adriano da Nóbrega, morto em um tiroteio no início deste ano.

E mais: Adriano da Nóbrega foi reivindicado publicamente por Jair Bolsonaro e a esposa do pistoleiro aderiu ao suposto esquema de cobrança ilegal que está sendo investigado, com grande relutância, pela justiça.

Rock da michelle

A ameaça lançada pelo Bolsonaro há um mês ao repórter curioso em saber mais sobre o dinheiro que Queiroz mandou para Michelle foi recriada na canção “Micheque” lançada recentemente pela banda Detonautas, comandada por Tico Santa Cruz.

“Você quer quebrar a boca com um soco (´porrada´)”, inicia o vídeo de “Micheque” antes de dar lugar ao desenho de uma criança carregando um rifle.

“Ei Michelle, venha nos contar, o dinheiro que entrou na sua conta veio do Queiroz?”

“Ei Capitão (Bolsonaro) como isso aconteceu, levante as mãos e agradeça muito a Deus. Reanime-se, quem você acha que vai enganar?”

O efeito do rock dos Detonautas, com 700 mil visualizações no YouTube, e das piadas nas redes sociais foi devastador para a esposa do presidente, cuja imagem vem sendo cuidadosamente trabalhada desde o início do governo.

No dia da posse do Bolsonaro, 1º de janeiro de 2019, ela desempenhou um papel de destaque na cerimônia, traduzindo a fala do marido para a linguagem de sinais. Do Palácio do Planalto a jovem primeira-dama, então com 36 anos e vestida de branco, deu um toque de humanidade à imagem do marido, um neofascista de 65 anos. Com o passar dos meses, a aura de Cinderela foi desaparecendo, embora não completamente porque Michelle optou por um perfil discreto.

Informações e relatórios do Palácio da Alvorada, o casarão oficial, relataram nos últimos meses alguns dos caprichos de Michelle de Paula Firmo Bolsonaro: roupas caras de estilistas, cirurgias frequentes, posições evangélicas conservadoras. Diz-se que ela influenciou o marido, com quem se casou há sete anos, a abordar o fundamentalismo religioso.

Sabia-se também que, como Bolsonaro, tinha algum tipo de vínculo com pessoas ligadas às “milícias”, das quais faria parte seu tio preferido, o policial aposentado João Batista Firmo Ferreira, libertado em abril posterior quase um ano de prisão. Em janeiro de 2019, Firmo Ferreira foi um dos poucos membros da família da primeira-dama convidados pelo Bolsonaro para a cerimônia de inauguração. Os meses de prisão foram por fazer parte de uma “milícia” em Ceilândia, cidade nos arredores de Brasília onde Michelle cresceu com sua avó Aparecida Firmo Ferreira, que cumpriu pena por tráfico de drogas entre 1997 e 1999.

Embora a imprensa tenha noticiado na época sobre o ambiente familiar de Michelle e suas ligações com atos criminosos, em geral eles não receberam cobertura extensa. Mas essas histórias agora ressurgem e ganham outro significado, no calor do escândalo das transferências de dinheiro do suposto “miliciano” Queiroz. O fato de Michelle ter trabalhado durante anos no gabinete do deputado federal Jair Bolsonaro, o mesmo cargo de onde esse esquema de negócios sombrio foi dirigido, também assume outra perspectiva.

Para reduzir os danos, Michelle entrou com uma ação na Polícia Federal contra seus detratores nas redes sociais por calúnias e insultos e exigiu a retirada do tema “Micheque” das plataformas digitais , juntamente com a proibição de ser realizada em locais públicos, relataram os jornais O Globo e o site de notícias UOL, neste final de semana. O vocalista Tico Santa Cruz considera que a denúncia é uma forma de “intimidação” contra ele e a banda Detonautas e afirmou que quando a questão do dinheiro “for esclarecida com uma resposta clara, objetiva e honesta, qualquer apelido, como Micheque, perderá a validade. “

2 Comentários

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  1. E a primeira dama ajudou a banda a divulgar-se, a música e o canal. Com 25 dias de postagem, já é o 2º vídeo mais visto do canal do grupo musical. São mas de 2,1 milhões de visualizações.

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