Seis meses após fechamento, El País deixa leitores “viúvos” de um jornalismo fora do mainstream, diz Carla Jimenez

Johnny Negreiros
Estudante de Jornalismo na ESPM. Estagiário desde abril de 2022.

Apesar da bancarrota, Jiménez destacou o papel do jornal na defesa da democracia

Em 14 de dezembro de 2021, o jornal espanhol El País anunciava o encerramento de suas atividades no Brasil. Seis meses depois, a ex-diretora da redação brasileira, Carla Jimenez, fala à TVGGN sobre o sentimento que compartilha com muitos leitores que ficaram “viúvos” após o fim de um veículo de comunicação que se mostrou intransigente na defesa dos direitos humanos e da democracia nos últimos anos, participando de coberturas históricas, como a série de reportagens sobre a Vaza Jato.

Jimenez é uma das jornalistas cujo trabalho de investigação na Vaza Jato foi retratado no documentário “Amigo Secreto”, que estreia na próxima quinta-feira, 16, em cinemas de todo o País. A nova produção da cineasta Maria Augusta Ramos é uma releitura da Operação Lava Jato, que levou à prisão o ex-presidente Lula. Confira aqui a entrevista com a cineasta.

Apesar das grandes reportagens e da audiência na casa dos milhões, o El País não sobreviveu às decisões empresariais que focavam na lucratividade da empresa. Em entrevista ao jornalista Luis Nassif, do GGN, Carla Jimenez creditou o fechamento da redação no Brasil a um modelo de negócios não alinhado à nova era da mídia digital.

“A nossa última audiência mensal de leitores foi de 10 milhões de leitores, com uma equipe de 16 pessoas. Não era um número desprezível, mas houve decisões coorporativas. Nós tínhamos uma área comercial que não estava casada com os tempos atuais. Em 2019, eles falaram: ‘nós vamos fechar porque não estamos no caminho do gol, retomaremos devagarinho’. Eu falei: ‘beleza, eu ajudo a encontrar algo que fale mais com o digital’, para poder capitalizar essa audiência. Mas entrou a pandemia, e isso prejudicou os planos comerciais deles, afetou poder societário de quem apoiava e era entusiasta do projeto no Brasil, e entrou gente que olhou para o Excel e falou: ‘prejuízo’.”

Apesar do desfecho, Jimenez destaca que o El País fechou as portas com sensação de dever cumprido. Mais do que isso: provou que há espaço para cativar uma audiência interessada em um jornalismo diferente do que é oferecido pelos oligopólios da mídia tradicional.

“É uma história que já tem seis meses. Passado esse tempo, acho que, como a grande legião de leitores, me senti uma viúva por muito tempo dessa mídia independente, mas aguerrida e focada no fortalecimento da democracia, mas que cumpriu seu papel. Fortaleceu outros veículos, fortaleceu a certeza de que é possível fazer um jornalismo que fuja do que o mainstream hoje oferece. Então é uma lástima [ter acabado], mas sabemos como são as decisões empresariais.”

Assista à entrevista completa com Guta Ramos e Carla Jiménez na TVGGN:

3 Comentários

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  1. Não tenho a mesmo percepção que ela sobre o opusdeisiano El País. É que a panfletaria brazurca é tão ignóbil que qualquer tendenciosismo, por mais às claras que seja já se parece com algo isento.

  2. É preciso haver apoio para grandes jornais, como o El País, fora do mainstream brasileiro: Folha, Estadão,
    oGlobo. A elite econômica do país tem controle de mão-de-ferro sobre nossa mídia. Só financiam quem eles possam controlar.

  3. Sim, o El Pais Brasil faz falta, muita falta. A diferença do jornal para os outros era notória, não apenas pela abordagem editorial, mas pelo seu formato e estilo. Todos os dias eu lia o El Pais e sabia que encontraria um jornalismo marcante, muito bem escrito, formatado e pensado. Saía de cena o puro hard news para dar espaço a um hard news embasado, destrinchado. Ficamos todos órfãos com seu trágico fechamento.

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