Um escândalo imobiliário em SP: moradias sociais viram mini apartamentos de luxo e compradores são enganados

Mercado prejudica compradores que adquiriram seus imóveis na planta sem terem sido avisados do caráter social

Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Imagine que a prefeitura de sua cidade, visando aquecer o setor imobiliário e, ao mesmo, supostamente atender às famílias de baixa renda, decide dar vultosos incentivos fiscais para a construção de empreendimentos habitacionais que se encaixaram na categoria HIS, ou seja, com finalidade social.

Várias construtoras, então, passam a pedir e obter autorização da prefeitura [mais de 500 são emitidas] para entrar nesse ramo. Mas na hora de vender os apartamentos na planta, as empresas decidem mudar o público-alvo, atraindo investidores ou casais de classe média e alta, que buscam comprar o imóvel erguido em regiões nobres para aluguel ou posterior venda. E contam, as empreiteiras, com a absoluta falta de fiscalização da prefeitura durante anos e anos.

Esse mercado passa a crescer vertiginosamente, sobretudo após a pandemia, com centenas de arranha-céus subindo pela cidade, com alguns empreendimentos pagando taxa por ultrapassar os limites de tamanho permitidos pelo Plano Diretor.

Os apartamentos onde teoricamente deveriam morar as famílias de baixa renda mudam claramente de finalidade: são projetados para receber no máximo um casal ou pessoas solteiras, estudantes, quer dizer, um número inferior à média brasileira de quatro pessoas por habitação.

Isso acontece porque a média desses novos apartamentos é de 25 metros quadrados. São mini apartamentos ou estúdios, e seu custo está absurdamente fora do alcance de uma família de baixa renda: uma média de 18 mil reais o metro quadrado, variando de acordo com a localização.

Esse escândalo no setor de habitação vem acontecido em São Paulo a partir da gestão do ex-prefeito João Doria, segundo informações do UOL, até chegar à administração do atual titular do Paço, Ricardo Nunes, que somente em janeiro passado emitiu um decreto para começar a fiscalizar a situação. A lei não retroage sobre os imóveis construídos no passado.

Para além de favorecer as empreiteiras e os investidores que compram várias unidades desses mini apartamentos ou “estúdios” caros para locação ou venda posterior, esse mercado está criando uma bolha que vai explodir a qualquer momento, prejudicando muitos compradores de classe média que adquiriram seus imóveis na planta sem terem sido avisados de que se tratavam de apartamentos para famílias de baixa renda.

As informações são da jornalista Adriana Ferraz, do site UOL. Na semana passada, Adriana participou de um podcast com o jornalista José Roberto de Toledo, onde contou em detalhes o esquema desvendado na reportagem [assista abaixo].

Desavisados vão à Justiça

Em investigação pelo Ministério Público, essas construções começam a dar problemas para os compradores desavisados, que precisam ir à Justiça obter reparação pela compra supostamente maculada pela má fé das construtoras que venderam as unidades sem explicar claramente que se tratavam de moradias sociais.

Na maioria dos casos, os compradores deram uma entrada no ato da compra e seguiram pagando parcelas à construtora normalmente. Mas quando chegaram na fase de financiamento do saldo devedor junto a uma instituição bancária, o processo foi barrado pelo banco, justamente porque esses compradores têm renda mais elevada do que as famílias de baixa renda, que são as destinatárias dos imóveis HIS.

Além disso, por se tratar de um imóvel HIS, eles só poderiam ser alugados para famílias de baixa renda ou vendidos somente depois de 10 anos da compra.

Assista ao episódio do podcast abaixo para obter mais detalhes desse caso:

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11 Comentários

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  1. Um monte de inverdades nesse podcast. As rendas são avaliadas por empresas de analise de credito . Para vender um HIS existe um limitador no valor do imóvel que é 350.000.00.
    A pesquisa tinha que ser melhor feita para colocar no ar esse podcast. Conheço varias pessoas com renda até 6.600.00 que compraram esses imóveis pois eles tem FGTS , economias .

    1. Exatamente! Esses imóveis tinham placas avisando que eram contemplados pelo plano Minha Casa Minha Vida. Acompanhei amigos que compraram e estava bastante claro quais eram as condições.

    2. Vc minha cara.. esta enganada e confundindo “as bolas” como se.diz no jargao popular… limite de 350mil é o limite do Minha Casa Minha Vida…. agora os limitadores do HIS , HIS2 e HPM esta na renda do comprador que varia de 3 a 10 salarios minimos…

  2. Não tem ninguém desavisados,nem enganados. Essas pessoas que compraram imóveis HMP ou HIS sabiam muito bem o que estavam fazendo. Pois compram e pagam no período de obras ou financiam direto com a construtora. Os chamados investidores vão aos plantões e escolhem as melhores unidades,e eles mesmos fazem todo o processo sozinhos. Em muitas construtoras esses estúdios nem vem para a venda normal de plantão para os corretores venderem, são negociados direto pelos diretores com grupos de investidores. Esse tipo de negócio é feito e todos os envolvidos sabem muito bem o que estão fazendo.
    Como no Brasil tem sido assim sempre, não se pode fazer nada para os pobres,que os ricos e a classe média se apodera.

    1. E onde fica a responsabilidade do CRECI sp em fiscalizar vendas diretas sem corretores?
      E onde fica a responsabilidade dos corretores de esclarecer os clientes?

  3. 25 metros quadrados são um palacete diante dos imóveis que vêm sendo construidos nas regiões centrais e nas regiões nobres da cidade. Ví subir esse prédio na Rua das Palmeiras, num terreno onde por alguns anos bêbados dormiam em frente. Puseram a placa, anunciaram a venda na planta e começaram a construir. Vendeu tão rápido que não deu tempo nem de montar um decorado.
    Na época o m2 era mais ou menos 6 mil reais. Observem a metragem.
    Olha hoje – https://www.vivareal.com.br/imovel/apartamento-1-quartos-santa-cecilia-centro-sao-paulo-10m2-venda-RS225000-id-2756740962/

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