Witzel diz que a culpa pela corrupção na Saúde do Rio é do Congresso, por Luis Nassif

Os argumentos do governador são da mesma natureza da piada do sujeito flagrado roubando um porco. Detido, alega inocência. Mas como explicar que estava carregando o porco? E ele: nem vi, tira esse bicho das minhas costas?

Acompanhei vários momentos de catarse no país, especialmente aqueles em que se tenta derrubar um presidente. Em todos eles, destacaram-se, na maior parte das vezes, jornalistas deslumbrados com o próprio poder (outorgado, é claro), fazendo todas as concessões à ética e ao fato para disputar espaço nas manchetes e alçar-se profissionalmente. Foi assim no impeachment de Collor, na CPI dos Anões do Orçamento, na CPI dos Precatórios, no Mensalão, na Lava Jato.

Desta vez, estou positivamente surpreendido por uma  nova geração de jornalistas, que comporta-se com a sobriedade e objetividade de jornalistas maduros e bem informados.

É o caso do âncora Diego Sarza, da CNN, na entrevista em que desnudou por completo o governador Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, no caso do escândalo da Secretaria da Saúde, sem uma frase agressiva sequer – ao contrário do padrão dos anos 90 de jornalismo agressivo na forma e vazio no conteúdo.

Witzel começa a entrevista com o ar indignado contra a corrupção no Brasil, como se o escândalo não fosse de sua responsabilidade.

O que se tinha objetivamente? Um empresário envolvido em escândalos há anos, alvo de um processo tramitando na Justiça Federal, impedido de continuar participando de licitações no Rio de Janeiro.

Eleito governador, Witzel derrubou a proibição. Permitiu contratos de R$ 900 milhões no Estado e só agiu depois que o Ministério Público Federal começou a investigar o escândalo, e os empresários envolvidos foram presos.

Os argumentos do governador são da mesma natureza da piada do sujeito flagrado roubando um porco. Detido, alega inocência. Mas como explicar que estava carregando o porco? E ele: nem vi, tira esse bicho das minhas costas?

O nível das explicações de Witzel é o seguinte:

  1. A corrupção não acabou porque o Congresso não aprovou a versão original do pacote anticrime e porque não aprovou também o teste de idoneidade. E porque a corrupção no Brasil é gigantesca, Logo, ele é apenas uma vítima desse país de corruptos.
  2. A administração pública não possui elementos, como o Judiciário, para ter acesso às contas do servidor, à sua relação de bens. Todo funcionário público é obrigado a disponibilizar sua declaração de bens às autoridades. E muitas administrações montaram corregedorias eficientes no combate à corrupção. Cadê a dele?
  3. A nomeação do subsecretário de Saúde, Gabriel Neves, preso por corrupção se deu pela análise de currículo pelo Secretário Edmar Santos. Simples assim.
  4. O estado do Rio tem 250 mil servidores e ele, Witzel, não teria condições de fiscalizar um por um. Está-se falando de um dos maiores fornecedores do estado, não de um terceirizado qualquer.
  5. Diz que tomou todas as providências, abriu inquérito, afastou o Secretário da Saúde, mandou bloquear as bens da empresa etc. Não explicou que foi apenas depois que as denúncias se tornaram públicas.
  6. Diz que levantou a proibição do empresário Mário Peixoto contratar com o Estado, porque ele, Witzel, analisou os processos e constatou que Peixoto não teve direito à ampla defesa. Assim, decidiu lhe dar a oportunidade de se defender em nome do princípio do contraditório. Ou seja, admite que analisou pessoalmente os contratos e as acusações contra Peixoto. Mesmo assim, foi apanhado de surpresa pelas denúncias de corrupção.
  7. A culpa pela continuidade dos contratos de Mário Peixoto não foi dele, que liberou os contratos, mas do juiz Marcelo Bretas, que manteve o inquérito na gaveta durante os governos Cabral e Pezão. O sujeito deixa entrar no governo um empresário que só não foi preso devido à lentidão da Justiça. Quando estoura o escândalo, a culpa das falcatruas cometidas é… da lentidão da Justiça, que não prendeu o empresário antes do próximo e óbvio escândalo.
  8. Diz que manteve o ex-secretário da Saúde Edmar Santos em um cargo no conselho que administra o Covid-19 porque nessa função não há nada que desabone sua conduta, apenas na gestão. Fantástico!
  9. Sobre o fato dos grampos terem captado menções ao 01 do Palácio e ao WW, a lógica é a mesma: quem mencionou tem que ser preso.
  10. Sobre as razões das prisões. Porque Marcelo Bretas foi seduzido por Bolsonaro. Acontece que o inquérito é todo do Ministério Público Federal, da Lava Jato do Rio de Janeiro, onde não há nenhum procurador seduzido pela falsa promessa de se tornar Ministro do STF. E o juiz não tem nenhuma ingerência no inquérito.
Luis Nassif

6 Comentários

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  1. witzel não passa de um CÍNICO ao extremo. eleito nas asas da ignorância do eleitor carioca, se acha do direito de botar a culpa no congresso, quando é tão irresponsável pelo caos que o mesmo está levando o estado do Rio! espero que a CNN não seja”mais 1″ da abaixo de medíocre imprensa brasileira.

  2. Solidariedade com a população pobre do Rio de Janeiro.
    Crivela, Witzel …. Oxalá, nas próximas eleições, se elas ocorrerem, a cidadania do Rio eleja gente decente.

  3. Esse é o “homem” que mandava “atirar na cabecinha” porque “bandido bom é bandido morto”?! Reparando-se no tamanho da “cabecinha” do verme fascista pode-se concluir que dá de mirar lá de Manaus, ou de Rio Branco!

  4. Mais triste e assustador é supor que eles podem desviar a atenção sobre estes escândalos na área da saúde com o uso da principal propaganda de campanha, ou seja, combate à corrupção dos outros, morte aos bandidos e, consequentemente, mais moradores atingidos por balas perdidas…
    logicamente impossível, em um Estado e uma cidade às voltas com dificuldades financeiras, o governador e o prefeito não tomarem conhecimento de contratos de milhões de Reais, já passando de um bi, e ainda mais com as entregas de equipamentos, materiais e suporte humano ( mais médicos, técnicos e enfermaria) ainda muito abaixo do mínimo necessário para o combate ao coronavírus.
    De uma coisa já podemos ter certeza, dinheiro não faltou, pelo contrário, até sobrou para velhos conhecidos

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