Xadrez do apoio da mídia a Sérgio Moro, por Luis Nassif

A condescendência com que é tratado pela Rede Globo é a comprovação maior de que a defesa da democracia é apenas um instrumento de luta política, quando o déspota de plantão não satisfaz.

Peça 1 – a defesa dos valores democráticos

Nos últimos meses, houve um aumento da defesa da democracia pela mídia, uma atoarda impulsionada pelos arroubos de Jair Bolsonaro, e pela convicção de que ele, efetivamente, aposta em um golpe, em um ponto qualquer do futuro.

Na parcela mais informada da população, da mídia, do Congresso e dos Tribunais superiores, não há mais dúvidas sobre as ameaças que pairam sobre a democracia.

As manifestações de apreço pela democracia são comoventes, sendo engrossadas por figuras que, até algum tempo atrás, eram os maiores arautos do discurso de ódio.

Até que ponto essas manifestações são sinceras, ou apenas expressam o desagrado com o candidato a ditador de plantão?

Para saber, é só fazer a prova do pudim: Sérgio Moro.

Peça 2 – Sérgio Moro é uma vocação autoritária

Cinco pontos para comprovar que Moro é uma ameaça à democracia muito mais grave do que Bolsonaro. É a maior vocação autoritária que chegou ao Ministério da Justiça, desde Felinto Miller e Armando Falcão.

Cinco cenas exemplares,

  1. Lei de Segurança Nacional contra o porteiro do Condomínio de Bolsonaro.

Invocou a LSN para colocar a Polícia Federal no encalço do porteiro e obriga-lo a retificar o depoimento anterior, de que o motorista do carro que conduziu o assassino de Marielle Franco, tinha entrado no condomínio pedindo autorização para a casa 58, de Bolsonaro. Seria inconcebível esse tipo de atitude com o Ministro da Justiça de qualquer outro presidente do período democrático, de José Sarney a Dilma Rousseff.

  1. Usou a LSN contra Lula, por críticas a Bolsonaro.

Valeu-se do mesmo expediente, de invocar a LSN, para obrigar Lula a depor na PF, por críticas endereçadas a Bolsonaro. Foi tão vexaminoso, que obrigou a própria PF a assumir o papel de juiz, em um comunicado em que dizia não ter identificado atentado à segurança nacional na declaração.

  1. Lista dos bandidos mais procurados sem Adriano da Nóbrega

Mais uma vez colocou o Estado na defesa do presidente. O miliciano Adriano da Nóbrega já era procurador pelas polícias de vários estados, mas não entrou na lista de Moro, sob o argumento que não era crime da alçada federal.

  1. Inação com milícias digitais

Não tomou nenhuma medida contra as agressões sofridas por jornalistas, incluindo ataques à reputação, ameaças de morte, exposição dos filhos menores. As milícias continuam agindo incólumes, apesar dos notórios atentados contra o Estado de Direito.

  1. Lei de Segurança Nacional contra festa punk

Endossou a decisão de utilizar a LSN contra festa punk em Belém do Pará, por cartazes considerados ofensivos contra Bolsonaro. Em nenhum momento tomou qualquer medida contra cartazes insinuando morte de Lula e de outras lideranças da oposição.

  1. Não condenação do motim dos policiais do Ceará

Foi ao Ceará, acompanhando a tropa convocado pela Garantia de Lei e Ordem, e minimizou o motim dos policiais, alegando que a GLO não foi feita para enfrentar motins, mas apenas para garantir a tranquilidade das ruas. Ora, o primeiro ponto de justificativa de uma GLO é justamente a possibilidade de motim das polícias  estaduais.

Depois, não reagiu contra a ordem de Bolsonaro, de interromper a intervenção antes do final da greve. Só voltou atrás quando os governadores ameaçaram enviar suas tropas para conter os amotinados.

  1. Ameaças a Glenn Greenwald

Mais um episódio em que invocou a LSN contra adversários, no caso um jornalista no exercício do seu trabalho profissional.

Peça 3 – por que é poupado pela Globo?

A condescendência com que é tratado pela Rede Globo é a comprovação maior de que a defesa da democracia é apenas um instrumento de luta política, quando o déspota de plantão não satisfaz.

Alguns poderiam interpretar que é uma prova de má consciência, pelo apoio dado a Moro, quando se tornou peça central da campanha do impeachment.

Mas, se houvesse intenção, haveria um episódio de corte para justificar a mudança de posição: a própria indicação de Moro para Ministro da Justiça do governo que ele ajudou a eleger.

É evidente que Moro é tratado como exército de reserva político, em função do seu atual nível de popularidade, amplamente turbinado pelo Jornal Nacional.

Essa é a grande desgraça nacional. Não existe convicção democrática, mas uso oportunista do discurso, dependendo das circunstâncias. A mesma voz que estuprava a democracia passa a ser sua defensora. E, dependendo das circunstâncias, amanhã voltará de novo a namorar o estado de exceção. E a hipocrisia nacional fingirá que há sinceridade nos dois momentos.

Luis Nassif

25 Comentários

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  1. “Não existe convicção democrática, mas uso oportunista do discurso, dependendo das circunstâncias.”

    Isso resume o que vivemos. E, na verdade, o mesmo pode ser dito a respeito do discurso neoliberal sobre a desigualdade.

  2. ainda sobre o ex-juiz

    8 – tirou licença com poucos meses no cargo para recorrer aos órgãos de espionagem do tio sam (nada santo) para montar a caça aos hackers que expuseram suas maracutaias na levajetons.

    9 – segundo advogado dos hackers, a pf-morista-nada-republicana montou esquema de espionagem e escuta na cela.

    10 – projeto para liberar a milicianagem das polícias ao permitir matança liberada

  3. Nas relações íntimas que o moro mantém com o bozo, a LSN é o creminho suave, a loção com que ele unge o saco do bozo antes da felação. (vão desculpando aí a visão medonha)
    Ou, mais precisamente, moro é um apavorado puxa-saco, que faz qualquer coisa no patrão para não perder o emprego.

  4. 1) Um juiz seletivo já não é juiz. É político e/ou corrupto abusando de autoridade concedida pelo Estado.
    2) Um juiz que investiga e acusa não é juiz. É parte.
    3) Um juiz que autoriza condução coercitiva de qualquer um (se for um ex-presidente, mais grave ainda!), à disposição da Justiça, sem antes sequer convidá-lo a prestar depoimento, não é juiz.
    4a) Um juiz que intercepta conversa telefônica qualquer SEM AUTORIZACÂO judicial (dele mesmo!), não é juiz. Comete crime, portanto é criminoso.
    4b) Um juiz que intercepta conversa telefônica com uma autoridade PRESIDENCIAL, com ou sem autorização judicial (dele?) não é juiz. Comete crime, portanto é criminoso.
    4c) Um juiz que DIVULGA uma interceptação telefônica em processo de investigação sob sigilo, de qualquer um (quanto mais um ex e um presidente), ainda que TIVESSE autorização judicial, não é juiz. Comete crime, portanto é criminoso.
    5a) Um juiz que intercepta conversas telefônicas de advogado de um processo seu, não é juiz. Comete crime, portanto é criminoso.
    5b) Um juiz que intercepta toda uma CENTRAL telefônica de advogados de um processo seu não é juiz. Comete crime, portanto é criminoso.
    6) Um juiz que mesmo sem ser questionado declara que não entrará para a política e depois de condenar o candidato líder nas pesquisas e deixa de ser juiz para entrar na política convidado pelo beneficiado daquela condenação, não é juiz. Apenas um mentiroso.
    7) Um juiz que articula com uma das partes para fortalecê-la e rejeita repetidamente pedidos e provas da outra parte, tratando-a como inimiga, não é juiz.
    Por quê a míRdia defende Moro? Porque ela trabalhou juntinho com ele e sua “quadrilha” judicial (MPF e TRF-4) para conduzir o processo a fins políticos comuns, vazando publica e defendidamente os processos (até mesmo antes das fases de investigações), com o fim de influenciar a opinião pública à seu favor e contra investigados, indiciados e réus selecionados.
    A maior evidência de que Moro não é juiz é que para a míRdia e a opinião publica, o EMBATE com Lula não era contra o MPF (acusador), mas contra o próprio juiz, que é OBRIGATÓRIAMENTE NEUTRO até o julgamento, pois ele não pode acusar, mas JULGAR, acusando ou absolvendo de acordo com as provas e a lei.
    Nem precisa(va) de vaza-jato para constatar que este pseudo-juiz é até criminoso. Ou ligações ilegais e suspeitas com instituições estrangeiras, publica e confessadamente envolvidas na “operação”.
    Mais grave do que ter criminosos na política é ter criminosos no Judiciário.

  5. Moro e Globo são operados “de fora”.
    Fifagate e Banestado deixaram muitos de rabo preso.
    “Ninguém solta o rabo de ninguém!” é a palavra de ordem.
    Mas, … no meio do caminho tinha uma pedra…
    Maria Lúcia Fattorelli, equipe e muitos outros já estão trabalhando sobre as contas CC5 do Banestado.
    A mãe-de-todas-as-corrupções virá a tona, dando fim a um pacto macabro de trinta anos.

  6. Esse ai tem traços nitidos de psicopatia: falta de sentimento para com suas vítimas, falta de remorso, fala e gestual psicopata: se a vitima não for da extrema-direita, sai de baixo

    1. É nítido q a aposta maior é em Moro por parte da Globo/EUA/militares entreguistas,com certeza temos uma corrupção na informação e desrespeito total às leis é só vermos q militares da ativa estão no governo(proibido em lei),q tiraram a multa do FGTS dos empresários sem enquadrar na lei de responsabilidade,a carteira verde amarela totalmente inconstitucional e por aí vai,naturalizam o anormal e escondem o normal, vamos lembrar o processo de condenação do Lula e a aceitação para o governo eleito daquele q o condenou(Moro)por si só é uma ABERRAÇÃO jurídica, política, humanística e etc…
      Obs:QUEM É VÍTIMA DO SISTEMA(q criou em parte)É O PRÓPRIO LULA E NÃO BOLSONARO Q SÓ QUER SE FAZER DE VÍTIMA E FICAR DE MIMIMI !!!

  7. e o sujeito ainda é covarde ao ponto de não assumir as arbitrariedades que ele mesmo assinou. É o verdadeiro defensor de miliciano já que não pode assumir em praça pública.

    – Facada Fest expõe mentira de Moro e mostra requisição assinada por ele
    No Twitter, a página do Facada Fest, censurada por Moro, publicou uma imagem mostrando a assinatura do ministro na requisição contra o coletivo e escreveu:

    “A Folha não mente. Pelo contrário. A requisição, peça jurídica que foi condição de procedibilidade para o procedimento contra o Facada Fest, é assinada por Moro. O despacho é dele”.

    https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/facada-fest-expoe-mentira-de-moro-e-mostra-requisicao-assinada-por-ele/

  8. Uma peça nesse xadrez é a rainha Rosângela Moro. Em participação num evento do Conselho Federal de Medicina em 2019, às 7:23:00 na gravação em vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=ynmB3Z_vCEQ), ela pergunta aos presentes quem representa mais a sociedade e seus interesses: o Legislativo ou o Executivo? Se a advogada compartilhou a visão do “conge” sobre democracia representativa, a coisa preocupa mesmo.

  9. O Estado de exceção desejado por bolsonaro é old scholl: execuções, tortura, ustras. O Estado de exceção desejado por Moro é mais sofisticado e palátavel à Globo e à burguesia: um Estado policialesco que prenda seus inimigos através de processos ridículos igual esse que condenou Lula, mas que a mídia convence parte do povo de que é um processo legal,. Essa luta dos governadores, congresso e STF contra Bozo é a burguesia brasileira tentando recuperar seu poder. A mídia, fortalecendo o fascismo judiciário (lava jato, ) criada pelo imperialismo, também ajudou a fortalecer o fascismo militarista e o fascismo neopentecostal. Ambos impedem que ocorra o impeachment. Quem vencerá: burguesia nacional ou o fascismo diretamente comandado pelos U.S.A. ? Bozo vai provocar caos ao máximo pra criar pretexto pra uma intervenção militar. Os neopentecostais e bancada da bala impedem o impeachment. A burguesia gostou da ditadura de 64, mas não querem um ditador maluco olavista e aliado de fundamentalistas religiosos. “Voces vão ter que me engolir.” Bozo vai levar o Brasil a um limite. O que ocorrerá depois acho que ninguém sabe.

  10. Provavelmente a vontade do imperialismo norte-americano e a vontade dos militares brasileiros serão determinantes para o desfecho dessa estória (História).

  11. O texto menciona Filinto Strubing Müller, chefe de polícia política de Vargas, responsável pela injusta e odiosa prisão de Olga Benário.

  12. Companheira Gleisi mais calada que canário na muda.

    Que saudades do PT sendo dirigido por quem entende de Politica e é do ramo

    Sobre o Moro a falta de qualquer brilho próprio, o excesso de esperteza e a avidez vão acabar por expor mais ainda o seu tamanho minúsculo.

  13. Nassif toca no ponto central. A elite brasileira defende a democracia apenas quando conveniente. Acrescento, qualquer outro interesses maior do País somente é defendido quando esbarra em um interesse particular.
    A crise de lideranças do cenário atual deixará marcas para os próximos 50 anos. Nem nosso charmoso sociólogo tem qualquer coisa a dizer. Deve estar em Paris.

  14. O excelente jornalista Jamil Chade, num post que está aqui no GGN, informa que “Imprensa que mente” foi um instrumento usado pelos nazistas. Ele se refere ao termo, usado por Hitler e agora repetido pelo presidente. Imprensa que mente, hoje, não é mais só um termo que no passado foi usado contra uma imprensa que falava a verdade. Hoje a realidade é outra, o nazismo não se apossou só do termo, trouxe junto uma grande parte da imprensa, a que mente.

    1. Claro que não, assim como Judas, Joaquim Silvério dos Reis, Cabo Anselmo e muitos outros traíras do povo povo. Será exemplo futuro e nem tão longe assim da infâmia e de como tão baixo na escalo zoológica alguém pode chegar, um parasita dos EUA.

  15. No preâmbulo do texto Nassif resume todo nosso drama.
    Ele(e muita gente boa e sincera)crê na luta pela democracia em si. Como uma visão. Uma cousa abstrata.

    Não. Não é e nunca foi.
    A luta pela democracia é um instrumento político (sim) que deve ser apropriado para derrotar e extirpar aqueles que desejam o fim da luta democrática usando justamente essa abstração vazia…e que o Nassif compartilha.

    Por isso nunca teremos democracia sem luta por ela.
    Até porque democracia é algo em permanente expansão e mutação.

    Por isso a luta democrática sempre foi abandonada pelas elites ao menor sinal de ameaça ao establishment que garante-lhes a perpetuação de seus privilégios.

    Não Nassif.

    Minha luta, ou melhor nossa luta não pode ser a mesma dos barões da mídia e dos figurões que você biografa, ainda que tática ou estrategicamente possamos contar com apoio deles.

    Seu tempo está se esgotando…

    Passa a hora de você deixar de acreditar nessas lendas centristas para que construa um legado que orgulhe sua descendências para além dessa bajulação tipo rotary club ou daquelas premiações recheadas de autoindulgência.

    Cresce meu filho.
    Esses mitos de origem, tradições, quermesses e cordialidade encenada são ridículas.

    Virtuose musical, saraus e outros salamaleques apenas garantem um funeral animado.

    Saia do muro homem!

    Chute o balde ao menos uma vez e escreva para honrar as calças que veste ao invés de sempre parecer pronto a borrar nelas.

  16. Lá atras, durante a operação LJ, quando determinou a condução coercitiva do ex-presidente Lula, ficou claro que Moro era um fora da lei e um sujeito que menospreza a democracia.

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