
Na dinâmicas econômicas mais recentens, sobressaem conceitos como “eco-eficiência” por sobre a “eco-suficiência”. Enquanto o primeiro pressupõe o uso cada vez mais eficiente dos recursos necessários, o segundo evidencia a necessidade de reduzir ou estabilizar a oferta de determinados produdos e serviços de forma a não ultrapassar a capacidade ambiental do mundo.
É o que explica o professor titular da Faculdade de Saúde Pública da USP, Ricardo Abramovay, em artigo para o Valor Econômico.
“A evidência de que há bens e serviços dos quais é importante estabilizar e até mesmo reduzir a oferta é ofuscada em benefício do cândido otimismo que faz da ciência e da tecnologia caminhos quase exclusivos no enfrentamento da crise climática, da erosão da biodiversidade e da poluição”, expôs.
Ele ressalta que “produzir mais com menos é consigna unânime”, mas reduzir bens e serviços do consumo ainda está fora das lógicas pensadas mundialmente. Esse cenário é visto no sistema agroalimentar: enquanto para fazer frente ao aumento populacional, será preciso aumentar a produção agropecuária, tal aumento é incompatível com a meta de conter a elevação da temperatura global e com a redução da destruição da vida no solo.
“Entre 2020 e 2100, a oferta de alimentos, energia e fibras a partir dos atuais padrões produtivos, provocará emissões de 1.365 gigatoneladas de gases de efeito estufa. Ora, o orçamento carbono para que o mundo tenha 67% de chance de conter a elevação da temperatura global média em 1,5% é de 500 gigatoneladas. Se a meta for uma elevação não superior a 2º a margem é maior, mas chega a apenas 1.405 gigatoneladas”, detalhou.
Na prática, ainda que a economia global adotasse a descarbonização, somente a agropecuária já ultrapassaria a meta para evitar o colapso ambiental.
A mudança da dieta mundial para alimentos mais baseados em plantas do que carne é uma das saídas. E, neste ponto, acrescenta Abramovay, entra também o fato das desigualdades.
“Condicionar o uso dos recursos ecossistêmicos voltados à alimentação às reais necessidades dos indivíduos é a premissa básica para que a agricultura contemporânea não ultrapasse as fronteiras planetárias que até aqui ela tem agredido.”
Para ele, na eco-suficiência será preciso mudar o pensamento de uma alimentação saudável e um sistema agropecuário sustentável exigem o aumento da produção.
“O mundo empresarial tem ampliado os parâmetros que medem a eficiência de suas atividades, muito além daquilo que o sistema de preços é capaz de revelar. Levar a sério esta transformação exige mais que a avaliação dos impactos da oferta de bens e serviços sobre os ecossistemas”, concluiu.

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