Luís Nassif lança livro na UFPE: “Precisamos recriar um sonho”

Camila Bezerra
Jornalista

Jornalista explicou os fatores que resultaram no surgimento da Lava Jato e apontou caminhos para que possamos criar um projeto de país e aprofundar a democracia no Brasil

Crédito: Reprodução/ Youtube

A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (Adufepe) promoveu, na última sexta-feira (14), o evento “Lava Jato e a luta pela Democracia”, ocasião que contou ainda com o lançamento do livro “A conspiração Lava Jato: o jogo político que comprometeu o futuro do país”, do jornalista Luís Nassif.

Nassif explicou que a operação que levou o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o desfecho de um processo iniciado em 2005, a partir de uma conjugação de mudanças estruturais no Brasil e no mundo.

“No livro eu tento trazer esse conjunto grande de fatores. Não é apenas uma operação que surge do nada. Vocês imaginam um juiz com a mediocridade do Sergio Moro conseguir quebrar um país? Não é mérito dele. Teve toda uma preparação antes”, apontou o jornalista.

Entre as explicações que levaram o avanço da Lava Jato estão as mudanças tecnológicas, tendo em vista o início da Era Digital. Como consequência, o mercado de notícias e opinião foi amplamente impactado, especialmente pela criação de espaços em que se publica “todo tipo de conspiração”.

Tais mudanças também geraram uma crise no modelo de negócios da mídia, que passou a criar outras formas de faturamento. Entre eles estão a realização de seminários e a ampliação de modelos de assinatura.

Assim, a partir de 2005, tem início uma guerra cultural das mídias, em que alguns líderes passaram a se ver como donos de partidos.

“Soltam notícias inverossímeis e aquilo se espalhava pelas redes sociais. Esse modelo vai até 2009, criando um jornalismo de ódio, que espalha o ódio em todo o espaço brasileiro”, continua o jornalista, que lembrou que em 2008, o Mensalão foi a maior manipulação jurídica da história.

Resistência

Apesar deste cenário, existem alternativas para que possamos não só resgatar a imagem do país, mas também criar mecanismos para aprofundar a democracia no Brasil.

Para Nassif, é preciso “recriar um sonho”. “O Brasil tem um país pujante nas universidades, na ciência, na tecnologia, na inovação, tem um país que tem um Sergio Rezende [secretário-geral da 5ª CNCTI], que na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação mostra que tem um país que não aparece.”

Entre as oportunidades de salto desenvolvimentista para o Brasil está a transição energética, liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“O Haddad tem um programa que ele está tocando, a Nova Indústria Brasileira, junto com as pesquisas que ocorrem no âmbito acadêmico. A civilização depende do quê? depende do ambiente acadêmico, depende das universidades. Nós somos a resistência”, emenda o jornalista.

Luís Nassif citou ainda um estudo americano que aponta que a forma de salvar democracias é o aprofundamento delas, a partir de experiências que foram encontradas no Brasil, como a participação social, conselhos de participação e estudos.

“Nós temos estruturas que pegam o Brasil inteiro. Temos o Sistema S, cooperativismo, temos os sindicatos, temos o MST, temos a frente agrária, temos o Banco do Brasil, Caixa Econômica, Correios. Estruturas inigualáveis”, acrescentou o jornalista.

Por fim, para que os diferenciais brasileiros virem um projeto de país, Nassif ressalta a importância da criação de grupos de trabalho, pois o país conta com profissionais de alto nível e com capacidade de planejamento em todas as áreas do setor público.

“Lula precisa trazer um sistema de trabalho integrado, trazer os melhores técnicos e dar liberdade de atuação. Porque ele conseguindo recriar o futuro, ele ganha força política para enfrentar o Centrão, no momento em que o supremo está a favor da democracia”, concluiu o jornalista, que nutre a esperança de que o presidente da República volte a ser o Lula de 2008/ 2010.

Veja o debate na íntegra:

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13 Comentários

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  1. Carta ao Nassif.

    Seu otimismo comove, mas entristece.

    Eu não li o livro, mas pelo que leio de seus textos, e da apresentação desse resumo do lançamento, eu posso dizer que é desesperadora a sua falta de perspectiva histórica.

    Ainda que reconheça a precocidade do fenômeno (lava jato) brasileiro, que tinha difícil esse olhar acurado, o fato é que a questão é muito mais ampla que a alteração do modelo de negócios da mídia.

    Ou de inovações de plataformas digitais.

    O golpe no Brasil, que começou quando Lula pisou no planalto, em 2003, teve sua gênese nos centros de tomada de poder mundiais, com ênfase nos EUA, que já entendiam que haveria um cataclismo geopolítico pela frente.

    A primeira guerra do golfo foi um ensaio tradicional, mas é na guerra contra o terror e a invasão do Iraque, por armas químicas de fantasia, que os EUA mostraram qual seria a nova plataforma mídia-militares-energia-dinheiro.

    A sua incapacidade de aprofundar e ampliar questões cruciais, tomando como causa aquilo que é mero efeito assusta.

    O golpe está presente no furto(?) do laptop da Petrobrás com as informações do pré sal, lá atrás…

    Sim, você não é um observador qualquer, e sua falta de cuidado com essas questões empobrece suas análises.

    Dizer que é possível “recriar o sonho” e aprofundar democracia neste estágio crepuscular do capitalismo mundial é grave, erro grave.

    Subtrai força e energia políticas de atacar o cerne do problema.

    O momento de alteração do jogo, Nassif, se deu em 1970/80, nos EUA, quando a semente ultra neo con foi plantada na gestão Nixon, que apesar da renúncia deu frutos:

    Reagan, Bush e Cheney…

    Talvez um pouco antes, com o fim do padrão-ouro, quem sabe?

    A total ruptura das amarras e lastros do capital financeiro deu no subprime de 2008, sabemos, mas há um outro efeito pouco percebido:

    A enorme montanha de dinheiro que trocou de mãos, desde 1970, passando por 2008 e chegando até hoje, permitiu uma acumulação primitiva para mudar a forma de acumulação e concentração de riqueza, mais ou menos como os excedentes comerciais dos burgos e mercadores feudais fizeram a primeira revolução industrial.

    A mudança da mídia é resultado direto disso, e com essa mudança, veio a alteração das formas institucionais de representações políticas, dramaticamente influenciadas pelo fim de qualquer regulação nos EUA, e como sempre, por aqui também, já que refletimos, de um jeito piorado, tudo que eles fazem.

    Se antes a democracia era impossível, no capitalismo, hoje é mais que impossível…

    Está em tempo Nassif, ainda dá tempo de corrigir isso na segunda edição.

    Fraterno abraço.

    1. Você é um professor de Deus que destrói o livro sem ler. O livro fala da geopolítica da anticorrupção, das estratégias norte-americanas com os neopentecostais e o relatório Rockefeller, o impacto das mudanças no mercado de informações, do advento das organizações semi-criminosas, como a máfia do jogo e dos rifles. Como é que pode escrever um longo texto questionando o que você não leu?

      1. Nassif, eu fiz a ressalva e baseei minhas críticas ao todo que você escreve.

        E ao texto que apresenta o evento.

        E principalmente, a sua crença quase ingênua que capitalismo rima com democracia.

        Mas você só enxergou o “não leu o livro”, rsrs.

        Olha, um fruto não cai longe da árvore.

        Claro que há fatos relevantes em seu livro, mas não se escreve história partindo de particularidades, como foi a lava jato, ou a “mudança dos paradigmas de negócios da mídia”.

        É só isso…

        Quando você ampliar seus horizontes (acho que há tempo), eu prometo, eu leio …

  2. O Brasil é uma merda rodeada de moscas varejeiras da direita que dele se alimentam sem deixar nem besouro chegar perto. Nâo pela ferocidade das varejeiras, mas pelo excesso delas é que o país não consegue cumprir seu destino de voltar a ser adubo.

    1. Hahahah

      É uma boa definição, mas dentro dessa merda tem um bocado de gente boa.

      Essa quantidade de varejeiras é herança somente do desequilíbrio de forças decorrente da ditadura e do não combate dos seus crimes. Estão aí até hoje pra ressuscitar o fascismo.

      1. Antes fosse uma herança tão recente. O país é assim desde a sua formação. As forças e poderes que aqui se instalaram trouxeram os vícios de que sofremos até hoje.

  3. Vou repetir amigo, falar de conspirações ou de máfias ou etc não dão a perspectiva histórica que, dialeticamente, une esses eventos a uma causa bem mais ampla, que é o funcionamento da ordem capitalista.

    Você acha que esses eventos são distorções do modo de produção, enquanto eu acho que eles são a essência dele.

    É essa a base seminal de nossa divergência, e não preciso ler seu livro para mostrar isso…

  4. Precisamos ler é isso e não pesquisas fajutas ao qual eu postaria nas redes com um rolo de papel higiênico ao qual na FOLHA teria ima DATA !!!Obs.: Lula fez um favor ao Brasil de nos livrar dos psicopatas anti brasil bolsonaristas ,isso aqui é uma encrenca conforme o próprio Haddad disse !!

  5. Carta ao Nassif 2.

    Nassif.

    Desde muito tempo eu admiro sua coragem.

    Dentro da mediocridade geral da mídia, que eu acho, é um requisito para ser jornalista, de tão poucos bons que existem, eu destaco sua retidão e sua capacidade de articular pessoas.

    Mas eu sei que não basta ter coragem.

    Falta a você um quesito crucial.

    Conhecimento.

    Favor não confundir com informações, porque você é muito bem informado.

    Mas, infelizmente, não sabe bem o que fazer com esse enorme acervo que você acumulou em anos e anos.

    Sua teoria econômica é fraca.

    Sua capacidade de entender eventos históricos patina entre a “moralidade dos eventos”(quando proclama uma indolência imanente do povo brasileiro, esquecendo a História, ou ora, clama por “virtudes ancestrais”) ou quando advoga soluções “mágicas” (planos, metas, grupos de planejamento, etc) para problemas cuja solução passa, primeiro, em reconhecer sus origem: o capitalismo, seu funcionamento e as desigualdades, que apenas serão extinguidas quando extinto o modo de produção.

    É a luta de classes, jornalista!

    Mesmo assim, Nassif, eu respeito a sinceridade com a você encaminha suas crenças, ainda que ingênuas.

    Por isso sou leitor (e comentarista) diário, e tinha esperança que a crítica severa, dura mesmo, fosse encarada como um tributo mais útil que o aplauso subserviente e desencorajado.

    De certa forma, sua imagem é um reflexo dessa geração que chegou ao governo com Lula, em 2022.

    Uma mistura de hesitações e limitações, e pior, medo de dar o próximo passo intelectual.

    Eu posso até deixar de comentar aqui, caso prefira, mas não me pela condescendência, isso eu não tenho para te oferecer, porque julgo que, aí sim, estaria te ofendendo demais.

    Abraço e boa sorte com o livro.

    1. Sua auto-suficiência e modéstia intelectual chega até o limite da condescendência. É simples dizer que a única saída é o fim do capitalismo. O niilismo é prático porque não obriga a se pensar em saídas, na construção de alternativas, em projetos que melhorem as condições de vida. Se você não acredita que a única saída é o fim do capitalismo, você é uma besta! E eu não vou perder meu tempo pensando em alternativas para melhoria da população sem passar pelo impossível. Prezado Douglas que não é Douglas, mas uma professora de Campos de Goytacazes, que já atazanava aqui há tempos.

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