Fernando Castilho
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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A barbárie usada para fins políticos, por Fernando Castilho

No filme, a vingança foi feita por foras da lei e na vida real, por agentes da lei, profissionais treinados pelo Estado

Foto: Reprodução | Josué Emidio / Governo do Estado de SP

A barbárie usada para fins políticos

por Fernando Castilho

O tema é recorrente nos filmes de faroeste: o bandido chega a uma cidadezinha, entra no saloon, bebe um pouco e começa a importunar os presentes. À certa altura os ânimos ficam acirrados, o forasteiro saca sua arma, mas o xerife é mais rápido no gatilho e o mata.

A notícia se espalha rapidamente e chega aos ouvidos do bando ao qual o defunto pertencia. É chegada a hora da vingança.

Armados até os dentes os bandidos já chegam na cidadezinha atirando. Seriam 8, 10 ou 12 as pessoas mortas? Ou seriam mais?

A analogia é imperfeita, eu sei. E os sinais entre bandidos e mocinhos estão trocados. Porém, o cenário de velho oeste em que se transformou a cidade de Guarujá é coerente.

Há, contudo, uma diferença gritante: No filme, a vingança foi feita por foras da lei e na vida real, por agentes da lei, profissionais treinados pelo Estado para prender bandidos garantindo a segurança dos cidadãos.

Certamente nossa classe média deve estar exclamando “BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO!”

Guarujá e muitas outras cidades Brasil afora vivem hoje uma situação de insegurança, principalmente porque o número de armas nas mãos de bandidos aumentou muito graças as decisões do ex-presidente que liberou geral para os CACs. Armas não procriam como coelhos, mas são colocadas na bandidagem por quem, utilizando-se do privilégio de possui-las legalmente, as repassam por preços módicos. Devido à essa sensação de insegurança, o cidadão médio vibra quando algum suspeito é assassinado sem o devido processo legal e a culpa formada. E se morreu, torna-se desinteressante provar que o cidadão era inocente, pois não volta mais.

Além de tudo isso, é preciso acabar com essa loucura que acomete nossos policiais toda vez que um companheiro é assassinado. Claro, é muito difícil ter sangue de barata, mas treinamento e punição exemplar contra excessos servem para isso mesmo.

Pelos relatos, que podem ser verdadeiros ou falsos e que só podem ser comprovados pelas câmeras nos uniformes dos policiais, houve torturas e execuções, ou seja, nossos agentes da lei descumpriram a lei arvorando-se juízes e algozes.

E não estou falando que os mortos não eram todos bandidos perigosos que não receberam os policiais à bala. Novamente, isso saberemos quando as imagens das câmeras forem liberadas (esperemos que sejam realmente e que não estejam adulteradas).

Por isso, caso os PMs tenham cometido crime, deverão ser punidos na forma da lei.

Porém, aqui entra o fator Tarcísio.

O governador já afirmou à imprensa, sem nenhuma investigação, que os policiais agiram extremamente (sic) dentro da lei, contestando a ouvidoria da própria Polícia Militar.

Portanto, é preciso acreditar muito em histórias da carochinha para confiar que Tarcísio de Freitas punirá os policiais.

Mas o que pretende Tarcísio? Ele não vinha dando sinais de que estava aos poucos rompendo com o extremismo de Bolsonaro para assumir o vácuo de uma direita mais civilizada que governou São Paulo por tantos anos? Até os bolsonaristas radicais se surpreenderam.

Parece que Tarcísio pretende, com sua atitude, trazer os policiais militares do estado para seu lado, dentro da estratégia de rompimento com o capitão.

É muito triste e nojento usar a barbárie cometida no Guarujá para fins políticos.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor

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Fernando Castilho

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

1 Comentário

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  1. Não existe qualquer controvérsia histórica acerca do que as tropas de ocupação do III Reich costumavam fazer nos países ocupados. Na Holanda, França, Noruega e Grécia, os soldados nazistas executavam aleatoriamente 10 pessoas para cada soldado alemão morto pela resistência local. Essa é a prática que a PM/SP está utilizando. Todavia, assim como chamou “extrema direita” de “direita” durante o governo Jair Bolsonaro, a Folha de São Paulo naturaliza o “nazismo policial” de Tarcísio de Freitas chamando-o de “realinhamento com a direita”. Nos próximos meses ninguém deverá ficar surpreso se os policiais começarem a assassinar jornalistas que cobrem as chacinas cometidas pela PM/SP.

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