PM mata 10 pessoas após morte de soldado da Rota e Tarcísio elogia operação no Guarujá, litoral paulista

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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“A partir do momento em que a polícia é hostilizada, a partir do momento em que a autoridade policial não é respeitada, infelizmente há o confronto", justificou o governador

Operação Escudo segue em curso no Guarujá. | Foto: Reprodução/Facebook

Ao menos 10 pessoas morreram, neste final de semana, durante a Operação Escudo, deflagrada após a morte do soldado da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Patrick Bastos Reis, na última quinta-feira (27), no Guarujá, litoral de São Paulo. Contudo, o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), minimizou os números em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (31)

Segundo moradores de comunidades da região, a Polícia Militar (PM) prometeu que 60 pessoas seriam assassinadas em forma de vingança. Também há denúncias de torturas por parte dos agentes de segurança. 

De acordo com a Ouvidoria das Polícias, outras duas mortes aguardam confirmação e número de assassinatos pode chegar a 12. Os nomes das vítimas não foram divulgados oficialmente. Além disso, outras 10 pessoas foram presas. 

O número, no entanto, diverge dos apresentados pelo governador do Estado. Hoje, Tarcísio de Freitas afirmou que oito pessoas morreram ao longo do fim de semana e não há qualquer indício de “hostilidade” por parte dos policiais envolvidos na operação. 

A partir do momento em que a polícia é hostilizada, a partir do momento em que a autoridade policial não é respeitada, infelizmente há o confronto. A gente não deseja o confronto de jeito nenhum. Tanto é que tivemos 10 prisões. Aqueles que resolveram se entregar à polícia foram presos. Não houve hostilidade. Não houve excesso. Houve uma atuação profissional”, afirmou o governador.

O governador destacou que o ataque contra policiais é “inadmissível” e parabenizou o trabalho de investigação sobre o caso. “A PM é praticamente bicentenária. É uma polícia que é profissional, age com profissionalismo e que deu uma grande demonstração de profissionalismo nessas operações“, declarou Tarcísio.

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60 pessoas vão morrer

O ouvidor das Polícias de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, contou para veículos da grande mídia alguns relatos de moradores do Guarujá, que teriam sofrido tortura e ameaças de policiais em meio à operação.

De acordo com esses moradores, a PM espalhou um aviso pelas comunidades que pessoas com passagem pela polícia e com tatuagens seriam mortas. A promessa era de 60 mortes.

No sábado, um perfil atribuído ao soldado Raniere, que trabalha no 21º Batalhão da PM, que atende os municípios de Guarujá, Cubatão e Bertioga, publicou uma sequência de imagens e vídeos no Instagram sobre a operação. Um desses registros diz: “Para o conhecimento: atualizando o placar até o momento 12×1. Mais um vagabundo para a pedra…Por volta das 08h de hoje na Vila Edna.”

Ainda, segundo os relatos, casas foram invadidas por policiais encapuzados e adolescentes e crianças sofreram abordagens agressivas. 

Aparecido garantiu que a ouvidoria irá apurar as denúncias e requisitar as imagens das câmeras dos policiais que participaram da operação para constatar os abusos. Vale ressaltar, no entanto, que nem todos os agentes carregam o equipamento em seus uniformes.

Já a Secretaria de Segurança Pública (SSP) anunciou que “até o momento não foram constatados abusos por parte da polícia, que segue, na Operação Escudo, os mesmos protocolos de ação preconizados pela corporação“. 

A secretaria diz que denúncias de abuso serão investigadas pela corporação.

Tortura

Na noite se sexta-feira (28), o vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, 30, foi morto com nove tiros. Moradores da Vila Baiana, próximo à praia da Enseada, dizem ter ouvido os gritos da sessão de tortura.

Após receber o corpo da vítima para o velório, a família encontrou queimaduras de cigarro por todo o corpo, além de um ferimento na cabeça e um corte no braço.

Nunes já havia sido detido por roubo, mas os parentes afirmam que ele tinha abandonado o crime e se tornado vendedor ambulante.

Na sexta, ele saiu de casa por volta das 21h, para comprar cigarro. Já às 23h, vizinhos ligaram para a família para avisar que haviam ouvido gritos e tiros. Minutos depois, teriam visto o corpo de Nunes ser jogado no porta-malas de uma viatura da PM.

No boletim de ocorrência entregue aos familiares, há o registro de que dois policiais da Rota estavam trabalhando em uma operação na região quando viram um homem que mudou de direção ao avistá-los. Esse homem teria feito menção de sacar uma arma e entrado em um barraco da favela.

Segundo os policias, quando chegaram próximo ao portão do barraco, o homem teria atirado em direção a eles. Em seguida, do sargento André Felipe Quintino Danielli teria disparado seis tiros contra o homem, e o soldado Rodrigo França Lourenço deu três tiros. Os policiais afirmaram que apreenderam uma pistola Glock e uma mochila com 526 porções de maconha.

A morte do policial

Na noite da última quinta-feira (27), o soldado Patrick Bastos Reis morreu durante patrulhamento na comunidade Vila Zilda.

Segundo a SSP, ele trabalhava com colegas do 1º Batalhão de Choque quando o grupo foi “atacado por criminosos armados que efetuaram disparos de arma de fogo”.

Patrick foi atingido no tórax, por um sniper, em uma distância de mais de 50 metrôs. Ele usava colete a prova de balas, mas o projétil atingiu o ombro dele e transpassou o peito em seguida. O agente chegou a ser atendido no Pronto Atendimento da Rodoviária (PAM), mas não resistiu.  

Um outro policial também foi atingido por um tiro e levado a uma Unidade de Pronto Atendimento da região. Ele não corre risco de morte.

Testemunhas presas pela polícia identificam Erickson David da Silva, conhecido como Deivinho, como autor do tiro que matou o soldado. Ontem (30), o suspeito se entregou e Tarcísio anunciou, por meio das redes sociais, que ele foi “capturado na Zona Sul de São Paulo“.

Antes de ser preso, Silva gravou um vídeo e pediu que o governador e a PM não matasse inocentes.

Com informações do Uol, Folha de S. Paulo e Brasil de Fato.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

2 Comentários

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  1. Durante a Segunda Guerra Mundial as tropas de ocupação alemãs tinham o costume de executar 10 pessoas para cada militar do III Reich morto por membros da resistência francesa, grega, belga, holandesa, polonesa, etc.. A morte de um policial tem que ser reprimida com base no Código Penal. Compete a polícia localizar o assassino e prende-lo para que ele possa ser julgado na forma da Lei. A execução sumária de suspeitos é crime e não deveria ser aplaudida pelo governador. Tarcísio de Freitas é um nazista e está acelerando o processo de nazificação da PMSP.

  2. E quando é a polícia que hostiliza a população, como costuma acontecer nas periferias, porque não há confronto ou se há as armas e meios dos hostilizados são abissalmente desproporcionais?

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