A oposição pela frente e por trás do governo Bolsonaro, por Sergio Saraiva

O governo Bolsonaro lembra, em muitos aspectos, o segundo governo FHC – e não somente pelas propostas de medidas similares – mas também porque mal começou e já se pode discutir sua sucessão.

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A oposição pela frente e por trás do governo Bolsonaro

por Sergio Saraiva

Olhando desde este momento, o governo Bolsonaro deverá ter sempre duas oposições pelo tempo que o seu governo durar. Uma externa e aparente, outra interna ao seu próprio governo e nele dissimulada. Uma imediata outra a médio prazo. Uma de confronto, outra aberta para “acordos programáticos”.

Doria, Ciro e Haddad – nenhum dos três está no Congresso, mas formarão a oposição ao governo Bolsonaro. Serão a oposição externa ao governo. Mas Bolsonaro terá ainda uma poderosa oposição dentro do seu próprio governo.

Haddad

Haddad é a oposição externa, imediata e de confronto.

Haddad dá sinais de que aceitou ser o novo líder da oposição a partir do que sobrou do PT. E sobrou muito. A maior bancada na Câmara – pelo menos até o troca-troca de acomodação de todo início de legislatura. Além de quatro governadores, todos do Nordeste. Teria o PT se tornado um partido regional e essencialmente nordestino?

O PT surpreendentemente obteve 40% dos votos na capital paulista, nas eleições de 2018. Uma cidade caracterizada por seu antipetismo. E o mapa de votação mostra uma clara distribuição segundo o poder aquisitivo. Os mais pobres deram os votos a Haddad. Haddad ganhou entre os mais pobres. Mas desta vez, ou ainda, por enquanto, os votos da classe média baixa – localizada entre a periferia e os bairros de maior pode aquisitivo da classe-média consolidada – penderam para Bolsonaro – 55% a 45%. A mesma proporção do Brasil. Nos bairros nobres foi 70% a 30% para Bolsonaro.

Não, o PT não acabou resumindo-se ao Nordeste. Conservando os pobres e aguardando um fracasso do governo Bolsonaro que poderá trazer os eleitores da pequena burguesia. Essa que foi formada nos anos Lula e hoje em processo de empobrecimento sem ele.

E quanto a Lula? Lula será mantido na prisão – talvez domiciliar. Mas condenado em tempo recorde na 3ª instância – entre fevereiro e março – porém, sempre a tempo de não poder ser beneficiado pela decisão do Supremo em abril, quando a prisão em 2ª instância será derrubada, até para dar uma folga ao sistema prisional brasileiro. E para libertar Eduardo Azeredo – o único tucano preso. É pedra já cantada. Mais uma vergonha que o STF terá de purgar.

Ocorre que Lula é uma ideia. Para seu próprio bem – físico inclusive – será melhor se assim, como reserva moral – incrivelmente, como reserva moral, apesar condenado – se assim permanecer.

João Doria

É a oposição externa e a curto prazo – se Bolsonaro fracassar a curto prazo – ou a médio prazo – caso Bolsonaro tenha algum sucesso a médio prazo.

Dória é um psicopata social e megalômano. Seu único objetivo é ser presidente da República. Elegeu-se mais apoiando-se em Bolsonaro do que apoiando Bolsonaro. Trairá Bolsonaro com o mesmo descompromisso com que traiu seu criador, Geraldo Alckmin.

Assim como o PSDB – basta ver o secretariado de Doria que veio do governo de Temer. Sintomático de alguém como Doria que não tem dimensão partidária.

Não, Doria não é a oposição “aberta a acordos programáticos” com Bolsonaro. Doria se viabiliza à direita com o fracasso de Bolsonaro. No entanto, terá inicialmente que obter de Bolsonaro algum acordo que leve recursos para seu governo paulista e para negociar um acordo para a eleição de prefeito em 2020.

A eleição de 2020 para prefeito será uma prova de fogo para Doria. E Bolsonaro fará parte dos seus planos. Não seria adequado já ter o partido de Bolsonaro disputando com com Bruno Covas na sua tentativa de reeleição para prefeito – melhor uma composição dando a Doria um palanque em São Paulo. Contudo, caso o PSDB alckminista se agrupe em torno de prefeito, para enfrentá-lo com apoio de Doria – que teria assim um palanque em São Paulo. Doria trairia Covas com menos cuidado do que o nenhum cuidado com que traiu Alckmin.

De qualquer sorte, após a eleição de 2020, é pau em Bolsonaro. Doria se apresentará como o super-Bolsonaro. Aquele que prometerá ser o que Bolsonaro não teve competência para ser. O sonho conservador que não morreu, apenas foi adiado aguardando João “o trabalhador” Doria.

Doria, no entanto, pode vir a ser o principal opositor de Dória. Desta vez, Doria terá de ficar até o fim de seu mandato e se responsabilizar por ele. Será interessante. Dória é um profissional de eventos. Se amofina com qualquer atividade mais longa. Quatro anos serão um desafio que veremos se Doria consegue suportar. Mas um fracasso de Bolsonaro pode abreviar esse tempo.

Ciro Gomes

Ciro Gomes faz a leitura política correta, mas decide com os colhões e não com o cérebro. Ciro Gomes já notou que a oposição à esquerda é pequena demais para ele e Haddad juntos. Mas a hora de bater no PT não é agora.

Ocorre que Ciro Gomes é um “pote até aqui de mágoas”; até consigo mesmo, por ter deixado passar a chance de ser candidato a presidente a partir da posição de vice do Lula.

Ciro Gomes vai tentar encontrar a terceira margem do rio. Ser um conservador-progressista-social-democrata-liberal. Comprometido com a justiça social e com a economia de mercado.

Não, Ciro Gomes não está nem louco e nem sozinho.

Luciano Huck e as ideias que recolheu em seus “workshops” americanos, recicladas da derrota do livre mercado e da globalização para Trump, navegam nas mesmas águas tingidas de rosa do assim chamado “capitalismo de propósitos” – agora preocupado com a redução das desigualdades sociais. Mas Huck é “o eterno novo” guardado para os momentos de falta de opção. O que não é o caso atual.

E para notar que Ciro Gomes tem plateia, basta acompanhar pelas redes sociais a virulência com que os “isentões” se tornaram ciristas radicais atacando Lula e o PT com os mesmos impropérios dos bolsonaristas da era pré-Queiroz.

Além disso, Ciro poderá, retomando a antiga aliança com Tasso Jereissati, atrair os escombros do PSDB tal qual o conhecíamos até implodir com a derrota acachapante de Alckmin. Com João Doria não haverá partido.

Ciro Gomes faz a leitura certa. Com Bolsonaro fracassando e se for possível manter por mais algum tempo a miragem do PT como esquerda radical, o centro se torna altamente viável.

Mas é preciso vestir seu figurino. E talvez ele seja fino demais para alguém como Ciro.

O espaço histórico de Ciro é a centro-esquerda. Ocorre que essa é a posição consolidada de Haddad que terá para si um PT purgado e retornado ao campo da oposição, ainda que não mais o PT de Lutas. E aí não tem acordo.

Restaria a Ciro o centro puro – algo raríssimo na história mundial e inédito – senão impossível – no Brasil. Ou talvez uma centro-direita light – um Macron tupiniquim tardio. Algo que caberia mais ao manequim de Huck. E ainda pior, Macron está com problemas na França e seu genérico – Macri – está com problemas na Argentina.

E assim, sem um espaço definido que chamar de seu, Ciro parte para o pescoço do petismo e pode, na tentativa de ainda ser um anacrônico anti-petista, acabar sendo a oposição “aberta a acordos programáticos” com Bolsonaro e pôr tudo a perder.

Sergio Moro

No nosso modelo presidencialista, que segue o modelo americano de reeleições, o primeiro compromisso do presidente eleito para com seu grupo é buscar a recondução a um novo mandato. Bolsonaro tem a obrigação de tentar a reeleição. Mas seu fracasso igualmente arrasta consigo o grupo que o elegeu.

Moro não é do grupo de Bolsonaro, mas está no governo Bolsonaro. Essa é a encruzilhada de Moro. Se Bolsonaro ganha, ele nada ganha – não é do grupo. Se Bolsonaro perde, ele perde – faz parte do governo.

Que Moro tem ambições presidenciais não há quem o negue. Para ser indicado a Ministro do Supremo bastaria manter-se na Lava Jato e garantir Lula preso. Moro não largou o poder que já tinha para ser apenas ministro. Nem do STF, nem de Bolsonaro.

Desde de que foi apresentado como integrante do governo Bolsonaro, foi tratado como potencial candidato a presidente, nas próximas eleições. E o novo governo ainda nem havia tomado posse.

Moro tem se desgastado muito com as estripulias do governo Bolsonaro. Malfeitos aos quais tem de fazer vista grossa. E isso consome seu capital político.

A ruptura de Moro com o governo Bolsonaro é inevitável; ambos estão no mesmo governo, mas com interesses conflitantes. A pergunta que voa ao veto é: em que momento Moro se tornará a oposição interna – a que nascerá do próprio governo Bolsonaro?

 

PS: Oficia de Concertos Gerais e Poesia – haja saco.

Redação

8 Comentários

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  1. Há também os militares

    que podem derrubar bolsonaro a qualquer momento

    e eles têm um vice para assumir o governo, de forma constitucional

  2. Mudando de pato para laranja,
    Mudando de pato para laranja, coitado do Ministro da Justiça. Ele é cria do clã Marinho. A Rede Globo atacou Jair Bolsonaro e a decisão de Fux. Se defender Queiroz, Sérgio Moro perde seu patrono poderoso. Se não fizer isso o Bozo não vai indicá-lo para o STF. Perdeu vagabundo!

  3. O atual mandatário se elegeu

    O atual mandatário se elegeu com a proposta do nada.assim,seus eleitores já estão contemplados e nada podem reclamar,e não estão reclamando.

    Se tivesse que apostar,diria que ele tem muito mais chances de fazer sucesso do que todos seus oponentes juntos.

    Não podemos nos esquecer que ele é resultado de um modelo que foi implantado durante muitos anos e,ainda que alguns que ajudaram a implantar este modelo se vejam meio perdidos neste momento,não há espaços para arrependimentos com resultados instantâneos.

    Todos aqueles que contribuiram para a derrocada da democracia,pelo impeachment da presidenta Dilma e pela prisão e exclusão das eleições do presidente Lula ,não terão onde se apegar e muito menos a quem se socorrer.Voltarão,já,já para a toca golpista e lambedora de botas onde sempre se deram muito bem.

    Assim,ainda na aposta,o sujeito tem tudo para nadar de braçadas.

  4. Um pote até aqui de magoas

    Mas que coraçãozinho cheio de rancor esse do Ciro Gomes! Eh tanto rancor do PT que ele não consegue mais parar de falar que o partido esta chegando ao fim… Ja tinha proclamado o fim do lulismo. Ciro Gomes queria um partido com grandes bases para chamar de seu e como não foi possivel com o PT, quem sabe o PSDB… Mas o PSDB, hoje dividido entre Doria e Jereissati, esta respirando através de aparelhos. Ah, então, como se reiventar a essa altura? E da-lhe bater no Lula e no PT. 

  5. Nhém nhém nhém, mi mi mi

    Çerá?

    Çei…

    6 ficam pregando para convertidos aí enquanto o Bolsonaro janta todo mundo com farinha.

    Um dia 6 acordam.

    Mas até lá já se foram dez, talvez vinte anos.

  6. Sergio , cade você e seus comentários fantásticos, grande abraco de um admirador , ainda mais sabendo que és um ‘oswadino’

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