Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
[email protected]

Relembre: A profecia de Jucá e a Farsa Jato ou Farinha do mesmo saco, por Armando Coelho Neto

Artigo de agosto de 2017 explica a razão para Armando Coelho Neto chamar de Farsa Jato as operações policiais desencadeadas pela Polícia Federal

A profecia de Jucá e a Farsa Jato ou Farinha do mesmo saco

Por Armando Rodrigues Coelho Neto

Não existe combate à corrupção no Brasil e sim uma caça a Lula e ao Partido dos Trabalhadores. Já o disse antes neste espaço e reafirmo até prova em contrário. O processo seletivo de alvos permanece e alguns atos pontuais diferenciados, com aparente cunho apartidário, são calculados e seus efeitos são minimizados com notícias contra Lula, Dilma, PT. Os oficiantes da Farsa Jato sabem disso, enquanto ajudam a alimentar o bordão de que “todos são farinha do mesmo saco”, na desqualificação e criminalização da política.

Ao que parece a farinha do mesmo saco carece de melhor reflexão. Um bom começo é explicar a razão porque chamo de Farsa Jato as operações policiais desencadeadas pela Polícia Federal. Operações essas aplaudidas pelos políticos a quem servem, como se fossem farinha de outro saco, sob ovação de fósseis da guerra fria, ignorantes raivosos e uma legião de desavisados. Permaneço em estado de reserva crítica com meu “desconfiômetro” ligado.

Não estranhem a linguagem. Os tons das falas e os termos se adequam à aura que o ambiente ou interlocutor merecem. O interlocutor ausente, no caso, não merece respeito, pois integra a horda dos que se julgavam mais brasileiro e mais honesto que eu. Por ignorância ou má fé, destituíram uma Presidenta honesta e içaram ao comando da Nação um gabinete de quadrilheiros. A corja de suspeitos e investigados que destituiu Dilma Rousseff é a mesma que diz sim a um traidor golpista. Ele fica e não será investigado.

Nesse ponto, imprensa, Farsa Jato e seus derivados se nivelam aos parlamentares. Aqui afirmei que delegado federal não poderia ter o mesmo discurso de Eduardo Cunha. E é justamente aqui que me ocorre a fala de Romero Jucá quanto a “um grande acordo nacional envolvendo o supremo e tudo”. A cada omissão no STF diante das evidências de que estamos num estado de exceção,  soa mais claro que “as farinhas do mesmo saco” estão em sacos distintos, mas vêm da mesma plantação de mandioca. Estão estrategicamente acomodadas nos pontos de interesse dos donos da plantação. Trata-se de mandioca de um país com dono, que cansou de brincar de democracia e que recorreu ao mal do qual sempre se alimentou e se alimenta (corrupção), para dar violar a democracia.

Mais fina ou mais graúda, a farinha da Farsa Jato vem da mesma plantação. Nesse concurso de farinhas, ficou claro o suspeito e criminoso conluio entre a mídia golpista e a cozinha do golpe. Veio à tona o vicioso círculo de produção recíproca de fatos: a farsa alimentando a mídia e a mídia alimentando a farsa, enquanto o brasileiro consciente ou não ficou órfão da verdade. Ninguém da Farsa Jato esboçou nota crítica ou esclarecedora quanto às coincidências entre operações e fatos políticos, nem quanto à relação de causa e efeito entre ações e omissões. Algo assim: quinta-feira tem um boato, na sexta-feira uma matéria na Globo, no sábado a capa da Veja e suas assemelhadas, no domingo… bate cachimbo…

Neste espaço chegamos a documentar as estranhas declarações de ministros da ex-suprema corte (minúsculas de protesto), que alardeavam a necessidade de que as decisões da justiça precisavam estar de acordo com o anseio da sociedade. Como assim? Se a Farsa a Jato em conluio com a justiça é quem alimenta a mídia e esta, por sua vez, forma, cria e desenvolve o anseio popular, como esperar uma sentença isenta, republicana, em conformidade com o Direito e a Justiça? Noutras palavras, existe uma promíscua ligação entre a aparente coerência de uma sentença e um anseio popular fabricado. Tudo a revelar a degradante relação da imprensa com o judiciário ou um encontro de farinhas.

(E surtiu efeito. Como um meliante em bando – um rouba a carteira e joga pro outro, que passa para um terceiro que grita: perdeu playboy!)

Promiscuidade. Esse é o termo que com clareza substitui expressões eufemísticas como imparcialidade, ação republicana, liberdade de imprensa. A Farsa Jato vaza, a imprensa divulga, escandaliza, reverbera o sentimento de indignação social. Logo, a sentença precisa atender o indignado anseio social.

Essa relação de causa e efeito ficou clara no pouco escrúpulo da sentença condenatória do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, no caso triplex. Moro descartou a prova legalmente admissível em direito (escritura, posse, domínio, controle) e se entregou ao contorcionismo jurídico para justificar um injustificável. Reconhecer a falta de provas seria um preço muito alto, não só para a Farsa Jato, mas também para a dita grande mídia, que segundo más línguas, quando condenada, dobra indenizações às vítimas para não ter que se retratar. A Farsa Jato não faria isso com suas parceiras.

Em nome da liberdade de imprensa, a execração pública do sentenciado fez parte do moto continuo. Eis a imprensa legitimada pelo judiciário; eis o judiciário legitimado pela imprensa; eis a imprensa e o judiciário legitimado pela opinião pública que ambos se encarregaram de formar. Eis o retrato da profecia de sarjeta difundida na surdina por Romero Jucá: o grande acordo nacional para içar o impostor Michel Temer ao comando da Nação. O congresso corrupto que destituiu Dilma Rousseff com ajuda da Farsa Jato é o mesmo que impede o traidor de ser investigado. O silêncio do STF sobre tudo, inclusive quanto a anulação do golpe, é parte do acordo.

A farsa continua. Para garantia do beiju e do pirão a serem feitos com as farinhas do mesmo saco urge preservar o “grande acordo nacional com judiciário e tudo”. Lula ficou horas-mídia exposto ao ódio insuflado pela mídia, etapa na qual a TV Globo cumpriu criminoso papel e conseguiu inserir no imaginário popular do eleitor do Lula ou não, a idéia de que o triplex do Guarujá é do ex-Presidente. Hoje, a grande decepção é constatar que nesse mesmo imaginário há significativo resíduo da imagem do melhor presidente da história. Isso pode queimar o beiju ou encaroçar o pirão.

 

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Existe uma equação humana em andamento onde praticamente todo o brasileiro está envolvido e começa a atrair estrangeiros!
    Houve um pequena parcela que deu o golpe e viu nisso oportunidade de lucros na casa dos bilhões / trilhões.
    Essa parcela já lucrou e continua lucrando.
    Só que isso também tem um custo.
    Milhares de empresários perderam seus negócios e muitos ainda têm dívidas que são cobradas pelo grupo 1 que foram quem bancou o golpe.
    Milhares de outras pessoas perderam seus empregos e perderam seus imóveis que em ultima instancia voltarão para o grupo 1.
    Dessa forma os golpistas continuarão lucrando com o espólio do golpe!
    O grupo 2 de empresários lucrarão sobre o povo com reforma trabalhista e outras reformas.
    O grupo 3 são hordas de bandidos que têm nesse momento a chance de lucrar milhões, um lucro modesto em relação ao grupo 1, que são do crime organizado.
    E achando que dá suporte somente ao grupo 1, estão forças armadas e judiciário, como já vimos precisa apenas da aparência para manter o povo trouxa pagando suas contas, seus impostos e mantendo a esperança na vida.
    Isso traz desesperança pois, depois de ver seu sonho construído entender que você perdeu tempo, vida e dinheiro empenhados para pessoas que não respeitaram a constituição, a lei suprema de um país para te lesar…
    Quando você achava que eles lutavam contra comunismo e contra a corrupção do PT!
    Ai as forças que representaram o tal nacionalismo cairá no chão!
    Não valerão nada!
    Forças externas aguardam este momento, por que depois disto vai ser mamão com açúcar…

  2. – De onde afinal, vem tanto poder da Globo, recordando de todos os males que essa CONCESSÃO de serviço público já causou ao país e, portanto, à nação? Como pode violentar os fatos de modo absolutamente indecoroso como faz, e distorcer a verdade de modo tão repulsivo como estamos reiteradamente vendo? E toda essa indecência, leviandade, imoralidade, não vem de hoje, data pelo menos de 1965!!!!. Afinal, que ocorre entre as paredes e corredores do poder, para que ninguém, nem mesmo aquele que foi prejudicado algum dia por algum motivo, casse ou afronte essa CONCESSIONÁRIA CRIMINOSA? Mesmo tendo poder para, pelo menos, tentar. Vale lembrar que nem mesmo o PT se manifestou ou pelo menos tentou colocar freios nessa despudorado conduta. Dizem que o Intercept não é comandado por amadores. E dizem que tem sustentação de milionária, desde o exterior!!! A VER!!!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador