A Venezuela, as narrativas e Lula, por Ricardo Mezavila

A América do Sul precisa se unir e tentar resolver diferenças de cunho ideológico, social e comercial, com total soberania interna

Brasília (DF), 29/05/2023 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Venezuela, as narrativas e Lula

por Ricardo Mezavila

A ideologização sobre tudo o que se move na sociedade é uma espécie de patologia que expandiu-se com o MBL (Movimento Brasil Livre), em 2014, desenvolveu-se no lavajatismo e atingiu grau máximo com o bolsonarismo, em 2018. 

Muito foi escrito sobre a permanência do lavajatismo e bolsonarismo mesmo após a desmoralização de seus líderes, como Dallagnol, Moro e Bolsonaro. Todos erraram, porque sem o apoio da imprensa reacionária, nada fica de pé por muito tempo. 

Com a vinda do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ao Brasil, para a reunião de cúpula dos países da América do Sul, vimos, mais uma vez, como esses ‘adjetivismos’ são dependentes de uma boa imprensa parcial e financiada para produzir as narrativas de interesses dos EUA. 

O Presidente Lula, como anfitrião, teve que tomar atitudes de acordo com cada convidado. Com Maduro, que se parece com aquele primo beberrão que vive aprontando, mas que é convidado por ser da família, Lula teve que normalizar sua presença, mesmo sabendo das críticas que receberia. 

As análises simplistas feitas por jornalistas e palpiteiros da internet sobre a ditadura na Venezuela, não colocam na discussão o cidadão e cidadã venezuelanos, não aprofundam as questões como nacionalidade e pertencimento. 

Os venezuelanos, nas análises dessa turma, são fugitivos de um regime ditatorial de um sanguinário, que abandonam suas vidas, sua pátria, seus sonhos, para viverem de maneira sub-humana em outros territórios. 

Na verdade, existem venezuelanos saindo da Venezuela, como existiram cubanos indo para Miami. Porém, não é criando sanções e embargos comerciais contra o governo, que na prática se vira contra a população, que esse problema será resolvido. No Brasil, a aprovação do Marco Temporal na Câmara, foi uma derrota para o governo, como apregoa a imprensa, ou uma derrota para os indígenas?  

Aos berros, reacionários de todos os naipes e escalões, fazem coro com o imperialismo que sustenta as narrativas que refletem na crise por qual passa o povo venezuelano e, agindo assim, são responsáveis indiretos por aquilo que denunciam.  

O Presidente Lula, com toda a sua sensibilidade, percebeu isso e, diplomaticamente, de maneira cordial, do alto do exercício de seu mandato de chefe de Estado, afagou e acolheu Maduro em sua casa, tentando ‘humanizá-lo’ perante a opinião pública mundial, para que o povo venezuelano seja tratado com mais respeito e tenha a devida atenção daqueles que levaram seu país à condição que está hoje. 

A América do Sul precisa se unir e tentar resolver diferenças de cunho ideológico, social e comercial, com total soberania interna dos países do continente. Desde sempre convivemos com a desvalorização de nossas moedas, com o abafamento da nossa cultura e andamos de cabeça baixa pelos corredores da ONU e fóruns internacionais. 

Aos que olham a vida com viés ideológico, fica a lição de que existe limite entre uma nação e outra, que as diferenças precisam ser abordadas com respeito a essa regra, porque só assim é possível o diálogo, mesmo que seja com um ditador,   para que haja solução positiva que coloque em primeiro plano as necessidades dos principais envolvidos, nesse caso, o povo venezuelano. 

Ricardo Mezavila, cientista político

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. A publicação do artigo dependerá de aprovação da redação GGN.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador