Bolsonaro e os eleitores lêmingues, por Erick Kayser

 


Reprodução

Existe um mito, muito difundido, que os lêmingues – espécie de roedor que vivem no ártico e tundras – seriam animais com um bizarro ímpeto suicida. Conta-se que se um dos líderes do bando se atira de um penhasco, todo o grupo de roedores o seguiriam sem pestanejar, morrendo todos juntos em uma marcha coletiva para a própria morte. Esse suposto hábito suicida dos lêmingues é uma noção muito antiga, nunca fundamentada, mas que se popularizou, principalmente graças a um documentário da Disney, chamado White Wilderness, ganhador do Oscar de Melhor Documentário em 1959.

No documentário aparecem dezenas de lêmingues pulando de um penhasco para o Oceano Ártico, enquanto o narrador conta que os pequenos roedores que nadam em direção ao horizonte vão morrer afogados após um exaustivo e inútil esforço.(cena disponível neste link: https://www.youtube.com/watch?v=xMZlr5Gf9yY ). O filme, no entanto, não passou de uma grande farsa. Os produtores da película produziram uma engenhosa montagem para sustentar um mito irreal, soube-se, décadas depois, que não houve suicídio em massa, mas que os animais foram encurralados e jogados deliberadamente na água.

Hoje sabemos que este mito suicida dos lêmingues, mesmo que muito popular (retratado em animações, jogos de videogame, etc) não corresponde a realidade. Mas o comportamento dos lêmingues serve como uma metáfora válida dos riscos de se seguir as massas estupidamente sem levar em conta riscos e consequências.

Valendo-se desta figuração dos lêmingues, é inescapável a comparação com os chamados “Bolsominions”, o barulhento grupo de apoiadores radicais do candidato Bolsonaro. Grupo de baixa capacidade argumentativa, eles basicamente repetem, de forma agressiva, os argumentos de seu líder, por mais absurdos e ilógicos que eles sejam. Incapazes de refletir sobre qualquer tema que escape a um binarismo primário, muitos destes abraçam abertamente as teses mais tresloucadas, muitas delas ferindo a seus próprios interesses imediatos.

Um exemplo: uma quantidade importante de apoiadores do Bolsonaro são trabalhadores, pessoas que dependem da renda de seu trabalho para sobreviver. Mesmo assim, abraçam e apoiam teses que lhes retiraram direitos básicos, como Carteira de Trabalho, 13º salário, férias remuneradas, etc.

Neste mesmo terreno, é interessante observar nas pesquisas do 2º turno apontam que, para a maioria dos eleitores, Bolsonaro representaria uma candidatura alinhada aos interesses dos ricos. Sabemos que a imensa maioria do povo brasileiro não é constituída por pessoas ricas, no entanto, a maioria dos eleitores entrevistados expressaram intenção em votar no militar da reserva. O que faria pessoas votarem em alguém que, sabidamente, não defenderá os seus próprios direitos, mas de uma minoria de privilegiados?

Outro exemplo é o próprio tema da democracia: abraçam teses autoritárias e de supressão da democracia sem refletir, por nenhum momento, que o fim da democracia não atingirá apenas seus oponentes, mas a todos e todas. O aliado circunstancial de hoje será o alvo da perseguição de amanhã. Todos os regimes ditatoriais do século XX tiveram este comportamento de, após eliminar as oposições, perseguir alguns setores que lhe deram sustentação, num movimento de “purificação” contra setores mais moderados (portanto, menos convictos da infalibilidade de seu líder) ou ainda contra setores excessivamente radicais (por estarem indo muito além da vontade expressa pelo regime).

A marcha suicida dos lêmingues é um mito, mas os seguidores do “mito” agem como os lêmingues da Disney: marcham decididamente para o abismo, mesmo que isso os leve ao seu próprio fim.

 

Redação

10 Comentários

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    1. Hoje todos estão surpresos, mas simplesmente deixaram……

      Hoje todos estão surpresos, mas simplesmente deixaram passar por mais de cinco anos discursos deste tipo ou mesmo pior no Youtube e ninguém criticava.

      Durante um período de tempo razoável alertei diversas pessoas de esquerda que deveriam assumir as redes do Youtube, alguns grandes editores de sites de esquerda pessoalmente mandei longas cartas avisando que um espaço importante estava sendo deixado de lado e vazio por toda a esquerda.

      Porém a soberba foi maior do que outra coisa, como o manejo da pena era algo mais nobre e feito há mais de cinco séculos para quem queria impor a sua mensagem de oposição, os novos Luteros, Émiles Zolas e mais centenas de grandes revolucionários através da imprensa continuaram a escrever seus textos, cada vez mais elaborados, bem escritos e lidos por milhares. Porém ao mesmo tempo, pessoas surgidas das sombras, que alguns talvez sejam até semianalfabetos, postavam seus vídeos para milhões e não milhares.

      Depois de muito tempo, há mais ou menos um ano, se deram conta, e começaram a tentar ocupar o espaço do vídeo, algo que é ainda considerado menos nobre, porém se somarmos todos os canais de esquerda não ultrapassa o número de auditores da Loira do Banheiro.

      Todo mundo dedicou seu tempo para criticar a grande imprensa, e não viram que esta também está moribunda.

       

  1. No falso documentário, os

    No falso documentário, os lêmingues são forçados ao “suicídio”. Já no Brasil de hoje, os bolsominions fazem isso por conta própria. A conclusão óbvia é que lêmingues são mais inteligentes que bolsomínions.

  2. Culpa da mídia quadrilheira
    Culpa da mídia quadrilheira que temos…..

    Se fossem mostrados como são, não teriam nem cinco minutos de fama….

    A mídia mafiosa trata de manipular e enganar, como sempre fez…..

    Querem voltar ao passado, quando o povo era dócil e servil e assistia as porcarias que produziam as oito da noite e depois ia dormir……..

    O mundo mudou, esse pessoal retrógrado será atropelado pela realidade, vai demorar um pouco, infelizmente, mas voltarão para as catacumbas da história, a qual pertencem…..

  3. Vale para os dois lados, gaudério Erick, os dois lados.

    “Mas o comportamento dos lêmingues serve como uma metáfora válida dos riscos de se seguir as massas estupidamente sem levar em conta riscos e consequências.”

    1. Claro, porque a mídia e o

      Claro, porque a mídia e o judiciário sempre estiveram do lado do PT.

      Claro, porque foi o PT que recebeu o apoio “voluntário” de empresários que gastaram milhões com fake news via WhatsApp.

  4. O PROBLEMA É ELEGER MESSIAS

    E há também histórias reais de pessoas que se suicidam coletivos (ou em massa) por orientação de uma pessoa a quem elegeram messias. Jim Jones, dos EUA (de onde mais seria?), é o mais célebre mas há muitos outros.

    Do outro lado a gente tem pessoas que usam de carisma natural – e não de fama criada por marqueting – e que defendem a educação e a saúde, necessárias à auto-consciência, como imprescindíveis a todos, sem distinção.

  5. Votar nos candidatos dos ricos

    Votar nos candidatos dos ricos sempre foi a regra, antes da chegada do PT ao poder. Ocorre que acabou por ficar evidente que, infelizmente, não havia assim tanta diferença entre os dois, depois de instalados no poder. Então…

  6. Na veterinária temos duas
    Na veterinária temos duas situações em que isso acontece: com ovelhas e aves de produção. As ovelhas por serem gregárias seguindo a um lider se amontoam e se sufocam. As aves principalmente na fase de pintinhos devido ao frio. Quando adultas devido ao acuamento seja de um animal ou pessoa. Diria que estamos nos comportando como ovelhas e aves. Somos gregários, gostamos de estar juntos, de ser guiados por alguém. Estamos acuados pelos monstros que soltaram contra nós. Uns sufocando os outros sem ao menos perceber.

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