Impostores, por Alexandre Coslei

Na política é pior, os enganadores evoluíram para caricaturas de proporções mitológicas, personagens burlescos, orgulhosos de suas deformações hediondas.

Impostores

por Alexandre Coslei

O sucesso é um conceito que nos remete a alguma virtude exclusiva de quem o alcança. No passado pode ter sido assim, mas os novos tempos reviraram as ideias. A Internet, as Redes Sociais e a grande mídia se tornaram ferramentas fundamentais para a visibilidade de impostores e vigaristas. As duas primeiras décadas do século 21 ficarão marcadas pela ascensão da mediocridade e idolatria aos medíocres. A devoção insuspeita e perseverante do brasileiro pelas figuras banhadas em ouro, criadas pelo marketing e pela mídia, é sintoma elementar da mente colonizada, da submissão voluntária e irrevogável.

O escritor inventado, que as editoras alçam ao topo, que a televisão transforma no roteirista da vez, em geral não escreve por amor à literatura, escreve pela paixão comercial, pela fama que se descomprometeu com o conteúdo. O religioso materialista, que faz do milagre um evento vulgar e transmitido ao vivo, que se exibe como santo, jamais acreditou em qualquer divindade espiritual. Sua impostura se dá pela ganância, pela fé mercantil inabalável, pela crença no poder patrimonial. O propagador de discursos que compõe a retórica pueril da inércia para colecionar likes no Facebook e participar da disputa das subcelebridades. O capitalista da Forbes que enriquece sem fazer parte da cadeia produtiva. O intelectual que acumula títulos, mas padece na miséria crítica. Não se pode julgar condenável aquele que busca os holofotes e o dinheiro, a depravação reprovável ocorre quando querem revestir de mérito e grandeza as intenções ordinárias.

A grande imprensa, suprema alquimista dos falsários, por muitas vezes, é a engenheira que ergue o espigão projetado pela arquitetura da fraude. Quando possuem privilégios financeiros, os próprios impostores investem na autoconstrução da publicidade que viraliza a imagem planejada.

Smartphones e aparatos digitais de acesso à malha cibernética facilitaram a produção de enganadores em escala quase industrial. Sim, o charlatão desenvolve formas eficientes de expressões plastificadas e esforça-se para conseguir trilhar à fama, mas não trabalha pelo objeto que instrumentaliza, não atua pela elevação da palavra, da fé, nem do progresso. O charlatão só se dedica à ambição individual.

Na política é pior, os enganadores evoluíram para caricaturas de proporções mitológicas, personagens burlescos, orgulhosos de suas deformações hediondas. Com essa convicção pelo anti-humano, cativam milhões de mentes simplórias, deslumbradas pela perversidade. É fácil constatar que líderes de extrema direita são caricaturas do grotesco que ornamentam um projeto execrável como se fosse ufanismo original. Semeiam a cólera no campo fértil de um povo recalcado e sadomasoquista.

Embusteiros da arte se apoiam na fragilidade cultural do público, impostores da política investem na incivilidade dos eleitores. Promovem a inaptidão crítica do coletivo para permanecerem em evidência. São favorecidos por uma elite financeira que só crê no lucro como método. Apesar do cenário caótico, o pessimismo não é recomendável. Canastrões não se sustentam no palco principal. Mentes colonizadas perecem.

Redação

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