Master Chef Hannibal Lecter na Esplanada dos Ministérios, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A imagem do Brasil no exterior está sendo destruída. Mas o pior será a transformação da imagem que os brasileiros fazem de si mesmos e do seu país.

Master Chef Hannibal Lecter na Esplanada dos Ministérios

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Desde que assumiu o Ministério da Educação, Abraham Weintraub tem se esforçado para destruir o legado do PT. O autoritarismo e a perversidade ideológica dele parecem ter agradado Jair Bolsonaro.

Primeiro, Weintraub atentou contra a autonomia das Universidades Públicas. Em virtude da reação dos Reitores ele começou a desgastá-las financeiramente. Ele também reduziu o financiamento dos programas de pós-graduação e extinguiu o programa “Ciência sem Fronteiras”. A confusão no ENEM de 2020 parece ter sido deliberada. O Ministro da Educação quer liquidar de vez com todos mecanismos que permitem aos pobres, negros e índios (não necessariamente nessa ordem) ter acesso às Universidades Públicas. O último ataque de Weintraub à educação foi o corte de todas as bolsas de especialização.

Após um alpinista social chegar à presidência (digo isso pensando especificamente em Jair Bolsonaro, pois ele é oriundo de uma família miserável do Vale do Ribeira) os pobres não passaram a ser apenas sub-representados. Eles foram simplesmente excluídos de todos os cálculos de médio e de longo prazo. A prioridade do desgoverno é privatizar o Sistema Público de Ensino e destruir o único mecanismo que permitia alguma mobilidade social. A pirâmide econômica brasileira está sendo congelada. O próximo passo será a segregação racial. Não por acaso um Ministro defendeu escolas diferenciadas para brancos e negros.

A violência simbólica do desgoverno Bolsonaro é ilimitada. O tirano não quer apenas impedir os pobres de terem acesso à educação. Ele quer doutriná-los. Livros didáticos impressos serão destruídos. Novos livros serão escritos seguindo duas orientações básicas: glorificação do militarismo e da Ditadura Militar e; a valorização dos dogmas evangélicos. O MEC foi transformado numa correia de transmissão do fascismo religioso. A revolução cultural defendida Weintraub não será apenas ideologicamente violenta. Em pouco tempo ela garantirá a legitimação de violências ainda maiores contra as pessoas consideradas inimigas do novo regime.

Os educadores reagem e reagirão como podem. Mas eles já começaram a ser coagidos administrativa e judicialmente. A tolerância do MPF aos ataques de Bolsonaro e Weintraub ao Sistema Público de Educação é evidente. Ela chega a ser criminosa, pois a esmagadora dos procuradores estudou nas Universidades Públicas que eles estão ajudando a destruir. Eles acreditam que serão mais livres numa sociedade em que o conteúdo pedagógico é controlado por um grupo de tiranos?

A imagem do Brasil no exterior está sendo destruída. Mas o pior será a transformação da imagem que os brasileiros fazem de si mesmos e do seu país. Bolsonaro não esconde seu desejo neurótico de domesticar ideologicamente o Estado para definir os contornos da realidade presente. Sempre que Bolsonaro diz algo em público sobre educação ecoa a frase Minha luta (mein kampf) é para reescrever o passado segundo minhas necessidades políticas a fim de criar um futuro exclusivamente dominado pela minha ideologia.”

O sistema nervoso central do Brasil está sendo literalmente mutilado, dourado no azeite com especiarias para ser oferecido ao Leviatã brasileiro. Abraham Weintraub não é apenas um Ministro da Educação. Ele é o “capocuoco” da familícia mafiosa que assaltou o poder.  Dito isso, não posso deixar de mencionar uma ironia.

O canibalismo praticado pelos índios tupis, tupinambás, caetés, etc… causou intensa repugnância aos nossos antepassados quando eles chegaram no Brasil no século XVI. Eles ajudaram a construir esse país que agora está sendo obrigado a devorar pedaços de si mesmo sob a supervisão de um Ministro da Educação que sente intenso prazer em agir como se fosse o Hanibal Lecter tupiniquim.

Um ciclo histórico de longa duração está se fechando nesse momento. E Raul Seixas, sempre ele, pode ser considerado o bardo do desgoverno Bolsonaro.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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