Pérolas do Terraplanismo Econômico e Jornalístico, por Frederico Firmo

Depois de entrar no palco planificado da nova política, os terraplanistas acham que tudo que fazem é o novo.

Pérolas do Terraplanismo Econômico e Jornalístico, por Frederico Firmo

O terraplanismo é um fenômeno contagioso. Neste mundo de narrativas foi se infiltrando e fazendo com que tudo seja completamente raso, sem profundidade, mas também extenso. Sob aqueles poucos centímetros de profundidade abundam as análises, as frases, os debates e os atos. Governantes eleitos recentemente nos levam à pergunta: quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha. Mas eu diria que o terraplanismo mental nasceu antes da ideia de Terra Plana.

Trump depois de muito meditar concluiu que matar um general traria a paz. Segundo os planos bastaria matar o general e todas as tropas iriam retroceder para o deserto e pedir perdão aos céus.

A imprensa noticia os fatos com a mesma profundidade com que fala do desemprego. Se perde em adjetivos gerados em releases estrangeiros, onde o General é descrito como um verdadeiro Conde Drácula, e segundo as palavras escritas, ele é pessoalmente responsável pela morte de 600 americanos. Segundo a análise profunda dos filmes de ação, as mortes causadas pela CIA e ou exército americano são efeitos colaterais, casualidades.

Depois de entrar no palco planificado da nova política, os terraplanistas acham que tudo que fazem é o novo.

Sobre o terraplanismo político muito já foi falado, mas o pior dos terraplanismos é o econômico. Enquanto o político é descerebrado por Olavo, o econômico é por Guedes que se transformou em ícone. O homem unidimensional que vê o mundo através de reformas e privatizações sempre ligadas a seus fundos de investimento. Tem a seu lado um presidente de uma das maiores petroleiras do mundo que repete junto com os presidentes da Caixa e BB que o objetivo é fatiar e privatizar, privatizar e privatizar. Não saiu da boca de nenhum deles uma análise profunda de suas companhias e nem dos impactos da privatização. O pensamento não chega a esta profundidade.

Por estas paragens tropicais o terraplanismo atingiu principalmente os colunistas econômicos, e os economistas colunistas. A medida em que a Terra foi se achatando, o pensamento foi perdendo profundidade se solidificando em crenças e se cristalizando em clichês que são repetidos como mantras. Os termos dos discursos foram se repetindo. Ao contrário da arte e da poesia que sabe falar da mesma coisa de mil formas criativas, eles falam a mesma coisa sem nenhuma criatividade ou estética.

O mundo agora se resume a mantras que devem ser repetidos ad náusea :ajuste fiscal, reforma da previdência, reforma trabalhista, reforma administrativa contenção de despesas, funcionário público, estado mínimo. Todos foram tomados de muita fé e esperança e quase místicos repetem diariamente em todos os diários .

Reformas são essenciais e uma vez feitas tudo vai mudar.

A marcha das privatizações está lenta.

Privatizar para competir

Competitividade contra monopólios estatal.

Com os fundamentos corretos os investimentos externos chegarão.

O termômetro da nossa economia é a bolsa.

E assim Mendonça de Barros, um dos terraplanistas, acredita que se privatizarmos a Petrobrás vamos fazer nossa economia mais competitiva. Algo assim como vender a EMBRAER, para a Boeing, que por acaso é a antitese da competição.

Lara de Mesquita após uma profunda análise sobre a democracia e salários mínimos diferenciados conclui que democracia é quando um operário trabalha por hora. Pois por hora segundo Lara de Mesquita:

“TRABALHAR POR HORA ATENDE AO REQUISITO DE PLENA LIBERDADE DE HORÁRIO DE TEMPO DE TRABALHO QUE CADA PESSOA PODE ESCOLHER TER PARA SI.”

Gustavo Franco, não sei se por crença ou ironia, alerta para que não se recorra a consultas populares, pois elas podem levar a becos sem saída .

Elena Landau fica entre economia e auto-ajuda, um tom que deve usar em suas palestras:

– A PERDA DE MOMENTUM NO SENADO NÃO ABALOU A FÉ DOS INVESTIDORES.

-PRIVATIZAR DEMANDA ESFORÇOS ALÉM DA ARTICULAÇÃO POLITICA NO CONGRESSO.

-SÓ COM OPORTUNIDADES IGUAIS PODEMOS TER UM PAÍS MAIS JUSTO E MAIS LIVRE.

-ESTUDAR E PENSAR É VITAL PARA A MULHER ROMPER UM QUADRO DE DEPENDÊNCIA

Zeina Latif que na época de pleno emprego receitava que uma dose de desemprego seria salutar para o mercado, mantém sua linha:

-O AUMENTO DO CONSUMO NÃO É PARA TODOS. SÃO 17 MILHÕES DE “DESOCUPADOS” E DESALENTADOS.

Observem que ela chama desempregado de desocupado e em artigo seguinte alerta:

-A JULGAR PELO NOSSO PASSADO, O RISCO A SER COMBATIDO É A COMPLACÊNCIA.

Roberto Rodrigues: em análise profunda afirma

-SÃO MUITAS NUVENS CINZENTAS NO HORIZONTE DOS PRODUTORES BRASILEIROS.

Quais seriam estas nuvens? Ele não responde e em tom de súplica grita

-TEM QUE DAR CERTO! INTERESSES SETORIAIS DEVEM CRIAR DIFICULDADES PARA APROVAR REFORMAS.

De onde se conclui que sem as reformas agro não é tec, agro não é nada.

Alguns Terraplanistas são enigmáticos como Pastore :

– O CDS É UM SEGURO CONTRA O DEFAULT DA DÍVIDA EXTERNA E POR ISSO, SUAS COTAÇÕES ACOMPANHAM DE PERTO OS PRÊMIOS DE RISCO DOS TÍTULOS DE DÍVIDA SOBERANA TRANSACIONADOS NO EXTERIOR.

Depois desta frase incompreensível, mas muito técnica e profunda, ele mostra sua perspicácia para incentivar mais reformas.

– NENHUM INVESTIDOR SE SATISFAZ APENAS COM HIPÓTESES SOBRE O CURSO DA CONSOLIDAÇÃO FISCAL

Com a produção industrial estagnada ele encontra finalmente a resposta, a reforma tributária.

-É BOM QUE AS ATENÇÕES SE VOLTEM AOS VERDADEIROS PROBLEMAS DA INDÚSTRIA: UM BOM COMEÇO SERIA O APOIO À APROVAÇÃO DE UM VERDADEIRO IVA, ABSORVENDO TODOS OS IMPOSTOS.

Uma figura carimbada no cenário jornalístico impresso e televisivo, o cientista político Carlos Melo do INSPER, repete um mantra pós libertação de Lula

– POLARIZAÇÃO BASEADA NO ÓDIO INTERDITA DEBATE SOBRE O PAÍS.

E no mais alto estilo Karnal continua com a frase :

-O SUCESSO DEPENDERÁ DO ALINHAMENTO DE VISÕES E OBJETIVOS

Já deve ter o contrato para a próxima palestra, esta sim uma atividade altamente rentável e em alta, que só é suspeita se for exercida por um operário.

Quanto a Guzzo não se poderia esperar muito devido a suas deficiências sobejamente conhecidas, mas eis aqui uma citação que mostra sua profundidade:

-O QUE TEMOS HOJE, EM TODA ESSA QUESTÃO, NÃO É CIÊNCIA. É VODU AMBIENTAL

E por último, mas não menos importante, o filósofo Denis Lerrer Rosenfield, na sua intensa busca para ganhar um espaço no coração do presidente. Quem sabe ocupar o espaço de Olavo de Carvalho.

A APROVAÇÃO DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA É, SEM DÚVIDA, UM MARCO NA HISTÓRIA DO PAÍS. APESAR DE SEUS PERCALÇOS E ATRASOS, ELA VEM POR BEM OPERAR UMA GRANDE TRANSFORMAÇÃO NÃO SOMENTE DO PONTO DE VISTA DO EQUILÍBRIO FISCAL, MAS TAMBÉM TORNAR EFETIVA A LUTA CONTRA OS PRIVILÉGIOS. HÁ UMA DUPLA SIGNIFICAÇÃO AÍ ENVOLVIDA: ECONÔMICA E POLÍTICA.

Na frase seguinte ele se aproxima mais fortemente das partes pudendas do dignatário.

O PRESIDENTE JAIR BOLSONARO E SUA EQUIPE ECONÔMICA RECUPERARAM E AMPLIARAM O PROJETO DE PROFUNDA MUDANÇA PREVIDENCIÁRIA, QUE CHEGA AGORA A BOM TERMO.

Rosenfield é professor e funcionário público, porém sem o menor pejo defende reformas no serviço público não por análise mas sim pelo seu caráter moralizador.

NÃO É MORAL NEM POLITICAMENTE ADMISSÍVEL QUE UMA MINORIA USE EM PROVEITO PRÓPRIO A MAIOR FATIA DOS RECURSOS PÚBLICOS, ENQUANTO A MAIORIA VIVE EM CONDIÇÕES SOCIAIS DAS MAIS PENOSAS, COM DESEMPREGO, FALTA DE ESPERANÇA E BAIXA RENDA. A REFORMA DA PREVIDÊNCIA DEVE, NESSE SENTIDO, SER SUCEDIDA, EM NOVA ETAPA, PELA REFORMA ADMINISTRATIVA, MAIS PROPRIAMENTE, DO ESTADO.

Isto é a reforma administrativa vai resolver o problema do desemprego da falta de esperança e a baixa renda. Com esta frase final é melhor virar o verso e verificar se a Terra Plana é melhor do outro lado. Não acredito.

Redação

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