Por que 2019 não será reedição de 1964, por Angela Alonso

Eleição de Bolsonaro é vitória de mobilização social duradoura e arraigada. Não é marola de opinião. 
 
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
 
Jornal GGN – “A eleição de Jair Bolsonaro é a vitória de uma mobilização social duradoura e arraigada. Não é marola de opinião. Nem é reencarnação de populismos ou fascismos”, avalia a professora de sociologia da USP e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento,  ngela Alonso.
 
Em um artigo publicado neste domingo (30) na Folha de São Paulo, a socióloga pontua que o fenômeno que levou à eleição de Bolsonaro é “complexo e moderno”, tanto que surpreende cientistas políticos, sociólogos, jornalistas e economistas que “estiveram cegos para a avalanche até que ela os atropelou”. Nessa complexidade, Angela pondera que 2019 não será uma mera reedição de 1964, como muitos estão sugerindo.
 
Para ela, “o triunfo bolsonarista”, tem várias camadas. Algumas recentes e oscilantes, como o voto de protesto contra o PT e o apoio das elites econômicas, e outras mais antigas e sedimentadas.
 
“Desde o governo Lula, vem se configurando uma mobilização social anti esquerda no Brasil. São institutos, no formato think tank, como o Millenium, que promovem debates, cursos, publicações. São rádios e TVs, canais no YouTube e jornais digitais. E há redes de empreendedorismo cívico e religioso que estimulam ativismos, movimentos de “renovação”, novas lideranças e novos partidos”, lembra a professora.
 
Ainda nesta linha, ela destaca o Instituto Mises Brasil, criado em 2007, o movimento Basta que, em 2011, levou milhares para as ruas em protesto contra a corrupção e o Movimento Contra a Corrupção, que surgiu em 2012, em escala nacional.
 
O Partido Novo, inclusive, aproveitou os protestos de 2013 para colher assinaturas em apoio à sua fundação. Cerca de dois anos depois, em março de 2015, Angela lembra do surgimento de 54 grupos que formaram a Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos e que levou a manifestações de quase 1 milhão contra o governo Dilma Rousseff.
 
“Esse campo anti esquerda é amplo e enraizado. E nada tem de homogêneo. Ao contrário do que o uso farto das noções de populismo e fascismo leva a crer, trata-se de universo de alta complexidade”, reforça a socióloga.
 
A complexidade do movimento pode ser resumida “em uma matriz 3 por 3”, continua a pesquisadora:
 
“Um eixo é o grau de controle sobre o comportamento que se prescreve —com práticas mais liberais, mais conservadoras ou mais autoritárias. Outro é o das dimensões valorativas sobre as quais o controle incide: costumes, economia, instituições políticas. A combinatória produz desde autoritários puro-sangue até contra intuitivos grupos anarco liberais”.
 
Esse cenário é, absolutamente, novo para qualquer analista político, especialmente, pelo tamanho da diversidade resultando em um ambiente mais suscetível à desordem. 
 
“O que agrega os diferentes é uma retórica ambígua, com definições genéricas o bastante para produzir unidade mínima face a um campo adversário. Um de seus pólos de aglutinação é o antipetismo. Outro é a “ética” na vida pública”, e isso explica a ambiguidade de tantos grupos sob um mesmo guarda-chuva que vão desde nacionalistas, militaristas, anticomunistas até pró-livre mercado, anticorrupção e controle dos costumes.
 
“Todos ansiosos por uma sociedade mais “ética”, cada um entendendo “ética” à sua maneira”, completa Angela.
 
“Esse universo deu bases para a propaganda de valores alternativos aos da esquerda. Via mídias sociais, seminários, marketing e ferramentas de planejamento estratégico, difundiu narrativas de detração do inimigo comum”, conclui. Para ler o artigo na íntegra, clique aqui. 
 
Redação

11 Comentários

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  1. Sem a mídia do grande capital

    Sem a mídia do grande capital dando suporte e amplificando o antipetismo, nada disso existiria. E ainda precisaram prender o maior líder político da esquerda para que se chegasse a Bolsonaro.

  2. Tijolada na testa

    Do PT (leia-se Lula). No apagar das luzes do maldito 2018. Vou imprimir umas 30 cópias e mandar para a direção do PT (leia-se Lula), com a recomendação de ler ao menos 100 vezes e escrever 1.000 vezes: “O PT (leia-se Lula) não vai apresentar candidato a presidente em 2022, 2026, 2030, 2034, 2038″. Mais 1000 vezes: ” O PT (leia-se Lula) não é (mais) o centro do Universo, muito menos o maior partido de esquerda (!!) das galáxias”. 

    1. Chega a ser revoltante esse seu comentário

      Vc quer censurar o maior partido do país? É exatamente o que eles querem, se assuma logo como bolsonarista e de direita.

  3. Por que então mantem o Lula preso? por que tanto medo…

    Por que então mantem o Lula preso? por que tanto medo… de um velhinho indefeso, nosso futuro e primeiro premio nobel da PAZ? e nunca é demais lembra… se tivessem deixado ele concorrer, o povo iria elege-lo.

  4. A autora só faltou mencionar

    A autora só faltou mencionar a fraude nas eleições. Os mecanismos de disparos de fakenews difamatórios contra candidatos do PT na vespera das eleições via financiamento de caixa dois. Como explicar a derrota de Roberto Requião, Eduardo Suplicy e Dilma que estavam em primeiros lugares nas disputas aos senados de seus respectivos estados?

    O judiciário foi decisivo para o resultado dessas eleições, seja pelo impedimento do principal candidato do PT, seja pela conivência com todos os abusos cometidos pelo candidato adversários ao partido. Além disso a delação do Pallocci na véspera das eleições, foram cassados mais de 3 milhões de votos no nordeste com o recadastramento eleitoral, não houve debates e os princiapis canais de tv e rádio faziam campanhas para o candidato fascista.

    Foi uma eleição ganha por tecnincas sujas idealizadas por Steve Bannon, da mesma forma como o Trump venceu nos EUA e o Brexti na Inglaterra. Estamos diante de novas formas de controle popular por meio de engenharia social sofisticadíssima. Não é por acaso que no mundo todo o fenomeno que levou Bolsonaro ao poder se repete. Na França o Partido Socialista tinha mais de 300 deputados, após a última eleição caiu para apenas 29.

     

  5. Um texto completamente

    Um texto completamente descabido e “neutro” como se escreve na velha mídia. Parece texto do Estadão e não trabalho acadêmico sociológico. Não vale uma resposta.

  6. ‘Complexo e Moderno’ como ‘Côncavo e Convexo’ de RC

    Coitado dos astrólogos, não bastavam economistas fazendo concorrência na passagem do ano, agora também sociólogos engrossam a competição.

    Nem bem saídos do vexame das análises apressadas e descoladas dos fatos, das tais jornadas de junho de 2013, embarcam em nova aventura, ignorando o quanto perseguem o PT desde 2004 e por tabela os demais partidos e movimentos que representam a esquerda no Brasil, embora a maioria desses insista em ter o PT como seu maior ‘inimigo’, como se já não bastasse o verdadeiro inimigo a persegui-lo com instituições do estado e o monopólio da mídia, sobretudo a partir da quarta vitória eleitoral, através da seletiva lava jato, em 2014.

    Como ignorar na campanha de 2018, a prisão para impedimento de Lula candidato, a qualquer preço, o mal explicado atentado a Bolsonaro anabolizando-o, a delação de Palocci divulgada à véspera do primeiro turno por moro, o segundo turno sem debates, com a mídia dócil aceitando o absurdo e fazendo campanha a favor do candidato fujão e o uso criminoso das redes sociais, emulando campanhas cafajestes de antanho, baseadas em boatos, agora disfarçadas travestidas de tecnologia moderna de divulgação, compreendendo Big Datas e Algorítimos, que tornam disponíveis as informações e precisos os perfis dos destinatários desses boatos que substituem a verdade dos fatos.

    Esgotado meu estoque de paciência em 2018:      

    Quer fazer bolhas? Peida na água.

    Quer ao menos desconfiar do que se trata para correção do rumo? Leia texto da psicóloga Eni Gonçalves de Fraga em: 

    https://www.balaiodokotscho.com.br/2018/12/30/bolsonaro-e-os-milhoes-de-bolsonaros-um-caso-de-delirio-coletivo/

  7. Aberta a temporada das asneiras!

    A eleição de Bolsonaro não é tão difícil de explicar politicamente, mas começam os sociólogos, os psicólogos, os psiquiatras e mais outro bando de idiotas a teorizar sobre coisas que são facilmente descritas pela política.

    Ponto 1) Lula estava na frente e disparado.

    Ponto 2) A direita do PT no lugar de bancar até o fim a candidatura Lula inventou o salto triplo, Lula, Haddad e Manuela.

    Ponto 3) Haddad é alguém sem o mínimo carisma que não sabe falar ao povo.

    Ponto 4) Manuela nacionalmente não existe.

    Ponto 5) Rifaram o Lula deixando-o na cadeia e lançando o o Robin e a Batgirl (Haddad e Manuela)

    Ponto 6) Haddad no lugar de se lançar em campanha ficou procurando FHC, Ciro e mais outros escrotos.

    Ponto 7) Quando não achou ninguém começou uma campanha frouxa em que o povo não existia, só existiam as grandes realizações de Haddad, a Manuela ficou dançando literalmente.

    Ponto 8) Muitos eleitores resolveram não votar em ninguém.

    Ponto 9) A fakefacada ocorreu.

    Ponto 10) No lugar de aproveitar o tempo, Haddad deu parte deste tempo, rezando para Bolsonaro se reestabelecer.

    Ponto 11) A justiça, como um juíz de futebol suspeito foi o décimo segundo e terceiro jogador.

    Ponto 12) A mentira, a farsa e a fraude eleitoral correu solta no RJ, SP e MG.

    Ponto 13) Haddad continuou com o discursinho frouxo esperando no segundo turno o apoio do Ciro, FHC e outros escrotos.

    Ponto 14) Bolsonaro com tudo isto conseguiu passar a frente de um político que nem conseguiu se reeleger em SP.

    Ponto 15) Bolsonaro e seus bolsomitos, com ausência de uma oposição descente ganhou.

    Precisa sociologia ou psicologia para tanto!

    Como diz o nosso amigo Francisco, quer fazer bolhas, peida na água.

  8. Intelectuais!!!

    Parece-me que os intelectuais correm para explicar o fenômeno do Bolso Presidente, sempre com seu vieis de neutralidade e apartidário. Neste momento é importante para que possam ganhar dinheiro com livros e o apoio institucional para o discurso oficial, ou narrativa oficial, que prevalecerá na midia e nos livros didáticos. Angela Alonso segue nesse discurso. 

     

  9. Faltou leitura.

    Se está socióloga, em vez de escrever um artigo para Folha de S. Paulo, estivesse a defender seu TCC, teria levado uma reprimenda da banca pela falta de leitura suficiente – vale dizer, não ter feito uma revisão bibliográfica apropriada.

    Caso eu estivesse na banca, pediria gentilmente a socióloga para ler, ainda que tardiamente, o livro de R. Dreifuss, “1964: a conquista do Estado”.

    A leitura atenta de, pelo menos, os capítulos 1 e 5 permitiria a ela observar que o fenômeno Bolsonaro não é novo na história política brasileira.

    O livro, com sua sistemática pesquisa, também revelaria a ela que as práticas empregadas pela direita, culminando na eleição de Bolsonaro, também não são nada “modernas”, no sentido colocado pela referida socióloga.

    Quando Collor venceu a eleição de 1989, também não faltaram “pesquisadores” e “intelectuais” a defenderem a emergência de um fenômeno novo na politica brasileira.

    Esta socióloga e sua hipótese “original” parecem um tanto envelhecidas, quando observadas numa perspetiva histórica.

     

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