Tragédia consumada, fica na rua quem nunca saiu dela, por Ana Paula B. Bogdan

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Tragédia consumada, fica na rua quem nunca saiu dela

por Ana Paula B. Bogdan

Tragédias, são raios que caem sem ninguém esperar, são tempestades que chegam sem avisar, são furacões que derrubam o mundo de uma hora para a outra sem tempo sequer para gritar!

O desmoronamento do “prédio de vidro” não é uma tragédia e menos ainda uma fatalidade. É resultado do desmoronamento do homem como cidadão, das autoridades como responsáveis pelas vidas dos cidadãos. É o resultado de uma não-política de acolhimento dos moradores de rua, é resultado da cegueira voluntária de quem pode fazer alguma coisa e não faz.

Esse desmoronamento é criminoso. Ceifou as vidas dos inocentes e deixou na rua quem nunca saiu dela. Jovens, crianças e idosos, todos réus de um crime que nunca cometeram, vítimas de suas opções de vida, dentre todas as opções que nunca tiveram.

Escolheram entre a chuva e a coberta furada, entre o relento e o abrigo inseguro, entre a falta de banho e o banho frio. Quando um pouco de energia compartilhada de forma irregular e dividida entre geladeiras e televisões interligadas, deixou de ser comunidade para ser chacina!

Sim, uma chacina! Igual a todas as outras, mas disfarçada de acampamento. Uma forma anticristã de culpar os não culpados e de tirar do ombro dos assassinos mais uma grande maldade da humanidade.

E voltam ao relento, enquanto todos os outros se protegem em seus apartamentos de luxo e casas de cimento. Onde nada pega fogo a não ser as churrasqueiras, onde ninguém passa fome, a não ser para manter a forma!

Uma injustiça com cara de tragédia, com culpados confessos que jogam toda a responsabilidade em quem nunca terá como se defender!

Para o inferno todos que praticam a religião da igreja para dentro e que tratam iguais como se fossem ninguém.

Culpados por fazer “gato” de luz, porque não tem um gato pra puxar pro rabo, culpados por lotar os postos de saúde porque tomam água suja, culpados por serem sujos porque não tem onde tomar banho. Culpados por serem pobres do jeito que são!

E a culpa não é das autoridades! A culpa é de “ninguém”. O ninguém que voltou para as ruas, o ninguém que nunca saiu delas, o ninguém que vai morrer à míngua porque NINGUÉM se compadece deles.

Tão perto e tão longe, mundo Cristão!

Ana Paula B Bogdan é médica

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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