PT paulista prefere perseguir dissidentes a se opor ao PSDB em São Paulo

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Fábio Serapião

O PT se perde em São Paulo

Da CartaCapital

A votação para a criação de cerca de cem cargos por livre indicação, sem concurso público, na Assembleia Legislativa de São Paulo causou um racha no PT paulista e expôs seu atual modelo de organização partidária, cada vez mais distante da base eleitoral e dominado por caciques. O péssimo exemplo dos petistas do estado mais rico do País, quase sempre replicado na esfera federal, é uma das principais causas do desgaste atual, enfrentado apenas com um ensaio de mea-culpa veiculado na terça-feira 5 em rede nacional.

Após o apoio do PT na aprovação do projeto, três deputados dissidentes, Carlos Neder, João Paulo Rillo e Professor Auriel, classificaram como desnecessário o gasto com os novos cargos e afrontaram o comando do partido, representado pelo primeiro-secretário, o deputado Enio Tatto. A crítica mirava os caciques responsáveis por influenciar as decisões dentro da Assembleia, inclusive a nomeação de Tatto. Não é de hoje que a bancada petista descuida de sua função de maior partido de oposição, e segue estritamente a indicação desses líderes interessados nos acordos pelo poder. Nos últimos anos, os petistas apoiaram a aprovação do Código Florestal criticado por setores do partido, facilitaram a aprovação de financiamentos de obras de metrô que nunca saem do papel e são citadas em escândalos, e desfrutaram das benesses de um Legislativo pouco transparente e distante da sociedade.

O próprio Rillo, ex-líder do partido na Casa, em entrevista ao site de CartaCapital, criticou o afastamento do PT de suas bases, a ausência de um projeto partidário e denunciou a interferência do presidente do diretório estadual, Emídio de Souza, e do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, na recondução de Tatto à primeira secretaria, cargo mais importante depois da presidência, ocupada pelo tucano Fernando Capez. Tatto, disse Rillo, é o símbolo da oposição frouxa na Assembleia.

Em vez de ouvir as vozes de sua militância e de uma minoria que ainda insiste em lembrá-lo de sua história, o PT paulista prefere perseguir os dissidentes. Após a entrevista, Rillo foi convidado para uma reunião no diretório estadual, na qual foi duramente criticado. Dias depois, suas aparições foram excluídas do programa regional de tevê da legenda, única forma de o parlamentar aparecer perante seu eleitorado, e do calendário enviado para os filiados.

O bastidor da manutenção de Tatto na primeira secretaria é interessante e revela como o antigo partido torna-se cada vez mais uma versão caricata do PMDB e do próprio PSDB, seu principal rival. Disposto a ser o próximo candidato petista ao governo paulista, Marinho visava com a recondução de Tatto garantir o aumento de seu poder na corrente interna Construindo um Novo Brasil (CNB), a maior da legenda. O antigo grupo da família Tatto, o PT de Lutas e Massas, integrou-se ao CNB guiado por Marinho, a quem apoia a partir daí. Por sua vez, Souza procurava mais força política e influência. Fora do Executivo e sem cargo eletivo, o presidente estadual precisa manter sua estrutura para continuar no comando do diretório da sigla.

Com o apoio dos dois, Tatto atropelou a discussão na bancada, retirou o deputado Geraldo Cruz da disputa e manteve seu cargo de primeiro-secretário, fato inédito na histórica da Casa. O prêmio de consolação para Cruz foi a liderança da bancada. O resultado da interferência dos caciques surtiu efeito nos primeiros dias de mandado de Tatto. Tão logo garantiu sua recondução, o deputado articulou o apoio à proposta de Capez de criação do chamado “Trem da Alegria”.

O projeto, apresentado pela mesa diretora da Casa, propõe utilizar os novos funcionários na Ouvidoria do Parlamento, no Gabinete da Corregedoria Parlamentar e no Núcleo de Avaliação Estratégica. As despesas aumentariam em cerca de 10 milhões de reais por ano e serviriam para bancar um cabide de empregos. Em tempos de crise, sem aumento para professores, fechamento de oficinas culturais, paralisação de obras e proposta de extinção de órgãos como a Fundação do Desenvolvimento Administrativo e do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal, a proposta não poderia ser menos oportuna.

Mesmo assim, dos 14 deputados estaduais do PT, apenas os três citados foram contrários ao projeto. Os outros seguiram a indicação de Tatto. Outro exemplo é a postura da bancada na escolha das comissões no Legislativo a serem comandadas. Após negociações de Tatto, o partido deixou de lado a presidência das comissões de Saúde, Educação e Direitos Humanos, antigos bastiões petistas na Casa.

Optou pela presidência da comissão de Infraestrutura e pela vice-presidência em Transportes. Na visão de um dos dissidentes, a escolha é facilmente explicada. “Essas comissões debatem obras milionárias, as outras preteridas discutem o bem-estar da população, em especial daqueles que antes formavam a base eleitoral do PT.”

O diretório estadual do partido informa não ser possível posicionar-se sobre os temas relacionados à bancada da Assembleia, uma vez que as decisões são de exclusividade dos deputados. O líder dos petistas, deputado Geraldo Cruz, disse desconhecer a ingerência de Souza e Marinho na recondução de Tatto e nas votações e escolhas de comissões a serem presididas pelo PT.

A aliança tácita com os tucanos não tem rendido bons frutos. Ao contrário. Na eleição de 2014, o PT perdeu dez cadeiras na Assembleia e seu candidato ao governo, Alexandre Padilha, ficou na terceira colocação, o que não ocorria há duas décadas. Não se entende, portanto, o motivo de a legenda insistir no erro.

Leia a resposta do PT a este artigo aqui.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Isso é típico,e diz o já provérbio //(Joaquim Barbosa, Marina)

    que as esquerdas só se reúnem na prisão.Há mil amostras de eleitoreirismo, facilidades, se enturmar, não pecar, p.ex.,outros ângulos em Marina,Joaquim Barbosa – já toquei nesses dias – e o sofrimento de uma vida sob o racismo e a necesidade de se autoafirmar – mas me deram 1 estrelinha como se eu o estivesse livrando da satanização, as dualidades inteligentes e  não tão longe daqui…). Pelo menos uma personalidade forte que chamou atenção po STF. (E eu só não imagino pra onde vai Tarso Genro. Pro PSOL?que,em Recife,tá numa luta interna de fazer inveja,só falta sair sangue – a julgar pelo que já sai na grande mídia).

  2. Para registro histórico:
    Em

    Para registro histórico:

    Em São Paulo o deputado estadual de esquerda mais votado é do PSOL.

    E o federal mais votado do PSOL ficou míseros 906 votos atrás do federal mais votado do PT.

    A boca do jacaré fechou para o PT. 2016 e 2018 prometem.

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