“Difícil a construção do consenso”, diz Doria que recua da renúncia à Presidência

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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"A omissão é a fantasia dos covardes, a coragem é a marca dos líderes", diz Doria sobre se manter na disputa presidencial

Foto: Reprodução Governo do Estado de São Paulo

“Sim, serei candidato à Presidência da República, pelo PSDB”, afirmou o agora ex-governador de São Paulo, João Doria, no evento que iria anunciar a sua renúncia à disputa presidencial e que se tornou uma celebração de fim de mandato no Palácio dos Bandeirantes. “Pelo PSDB”, enfatizou.

No aguardado discurso que durou cerca de 1 hora, Doria recuou da renúncia à disputa presidencial, que pela manhã havia martelado junto aos seus assessores e ao vice-governador, Rodrigo Garcia. Visivelmente emocionado, fez questão de elogiar Garcia, que assumirá o governo interinamente, a partir deste sábado (02).

“Como é bom olhar para os olhos das pessoas, Rodrigo, e perceber esse sentimento de amizade e de gratidão. E gratidão é o que sinto por você. Amigo, colega, parceiro, leal, dedicado”, iniciou, antes de se dirigir ao presidente da sigla, Bruno Araújo: “Um raro caso, raro, Bruno, onde um governador delega força, poder e autonomia para o seu vice. E eu fiz isso consciente da capacidade do Rodrigo.”

Tanto o presidente do PSDB, quanto o vice expressavam no palanque o desconforto, ao contrário da forçosa “gratidão” do governador, após a longa jornada do dia para convencer Doria a não desistir das eleições à Presidência e deixar a cadeira dos Bandeirantes ao vice Rodrigo Garcia.

“Ao longo desses 3 anos e 3 meses, São Paulo teve o privilegio de ser governado por dois governadores, dois governadores”, insistiu João Doria, nos elogios a Garcia.

No restante do discurso, dedicado a criticar o governo federal de Jair Bolsonaro, a criticar o líder das pesquisas Lula e a fazer um balanço extremamente positivo do seu próprio governo em São Paulo, Doria falou desde o “negacionismo” de Bolsonaro a “populismo” e “corrupção” para se referir a Lula.

“O Brasil foi surpreendido pelo negacionismo. Ataques à democracia, à imprensa, à verdade e às liberdades individuais”, disse sobre Jair Bolsonaro. “Trouxemos a vacina, este era o único movimento para retornar à normalidade em São Paulo e no Brasil. São Paulo investiu em pesquisa e ciência 6 vezes mais do que o Brasil nesses últimos 3 anos”, comparou-se.

Coincidentemente no 31 de março, a despedida de Doria do governo de São Paulo também deixou espaço para ele homenagear seu pai, João Doria, exilado na ditadura do regime militar brasileiro. “A herança de um pai e de uma mãe que sofreram com a ditadura militar, que aliás não merece ser celebrada, merece ser condenada”, afirmou.

Aparentando ignorar os resultados das pesquisas eleitorais, que o colocam abaixo das opções da chamada “terceira via”, disse que irá “mostrar que é possível, sim, ter uma nova alternativa para o Brasil.”. “E fazer isso com determinação, longe da ideologia, distante do populismo e, absolutamente, condenando a corrupção e mal trato do dinheiro público.”

Não terminou sua fala sem mencionar, de maneira sutil, a crise interna que assola o PSDB, com as divergências. “Agora, é hora do voto ser a favor do Brasil. A pressão dessas forças de extremistas tem tornado difícil a construção do consenso. O consenso em prol de uma aliança nacional, Bruno Araújo, contra os erros do petismo e do bolsonarismo”, completou.

Doria finalizou com uma expressão de que não irá renunciar à disputa presidencial: “A omissão é a fantasia dos covardes, a coragem é a marca dos líderes.”

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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