Dono do Coco Bambu constrangia sócios a financiarem campanha de Bolsonaro, por Luís Costa Pinto

Alguns parceiros de negócios de Afrânio Barreira Filho protestaram contra a contribuição compulsória que tinham de fazer à campanha de reeleição de Bolsonaro.

do Plataforma Brasília

Dono do Coco Bambu constrangia sócios a financiarem campanha de Bolsonaro

Por Luís Costa Pinto

O grupo de whatsapp no qual Afrânio Barreira Filho, o dono do Coco Bambu, administra seus negócios nas 64 unidades da rede de restaurantes (especializada em servir camarões de cativeiro nadando em piscinas de creme de leite com presunto e batatas-palha), vai se tornar um manancial de novos inquéritos para os investigadores que apreenderam o smartphone do cearense metido a chef do bolsonarismo.

Barreira Filho, que já preparou jantares com seu cardápio de mau gosto para Jair e Michêlle Bolsonaro no Palácio da Alvorada, é um dos bolsonaristas que se dizem “empresários” e agora são investigados pela Polícia Federal, pela Justiça Eleitoral e pelo Ministério Público por atentarem contra a Democracia: articulavam e pediam, no Brasil, em caso de vitória do ex-presidente Lula, um golpe de Estado nos moldes do que vem ocorrendo há uma década e meia na Hungria de Viktor Orbán.

Mensagens do grupo de “gestão” Coco Bambu em mãos dos investigadores mostram que o dono dos restaurantes constrangeu seus 164 sócios nas 64 unidades da rede a financiarem a campanha de Bolsonaro doando de R$ 3 mil a R$ 5 mil para a reeleição do presidente da República. Barreira Filho detém ao menos 70% de todas as lojas. Os demais 30% são composições acionárias que ele faz com sócios-trabalhadores. Só há duas mulheres no grupo, pois é proverbial e histórica a misoginia do “empresário” cearense. Ele exigia o envio, para o grupo de whatsapp, de comprovantes da contribuição eleitoral sob pena de punir os sócios na distribuição de lucros futura. Está tudo lá, nas mãos dos policiais e procuradores liderados pelo ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE.

Alguns parceiros de negócios de Afrânio Barreira Filho protestaram contra a contribuição compulsória que tinham de fazer à campanha de reeleição de Bolsonaro. O dono do Coco Bambu, muitas vezes, respondeu a tais mensagens com emojis de armas, figuras típicas do bolsonarismo iletrado. Depois das “arminhas”, que funcionam como marca registrada das patas bolsonaristas, ele registrava: seguia esperando o comprovante dos depósitos para a tesouraria do PL. A lei eleitoral permite que pessoas físicas contribuam para campanhas políticas até o limite de 10% da renda bruta anual (por CPF) declarada no Imposto de Renda de 2021.

Sócios tiveram de comprar vinho “Bolsonaro”

Além da contribuição compulsória para a reeleição de Bolsonaro que seus sócios minoritários tinham de fazer, Barreira Filho exigiu que todos eles comprassem lotes do vinho “Bolsonaro – Il Mito”, rótulo que ele mandar preparar em lote especial numa vinícola chilena em ainda 2019. Elaborado a partir da uva Carmenére, é um vinho fraco e aguado, mas, teria preço de cardápio estimado entre 110 e 130 reais. Porém, para ver os rótulos sobre as mesas de suas unidades, o dono do Coco Bambu determinou que eles poderiam ser vendidos até abaixo dos R$ 100, com prejuízo, a fim de expor o nome de seu “mito”. Também foram registradas reclamações dos sócios quanto a essa postura esdrúxula de quem se diz bom gestor. Os protestos novamente eram respondidos com os emojis ridículos de armas.

O modelo de negócio do Coco Bambu estabelece que Afrânio Barreira Filho recebe o retorno proporcional dos lucros das unidades a partir dos seus 70% de participação mínima. Apenas cinco das unidades não registram lucro. Os demais 30% são distribuídos por parceiros que atuam como funcionários, contudo ganham o status de “sócios”. Estes sócios são os que efetivamente trabalham nas lojas como gerentes, supervisores, maitres etc. Se houver divergências que levem a dissoluções dessas sociedades, os “sócios” não têm direito (por contrato) a sair levando nada além do capital societário com o qual entraram no negócio – mesmo que as unidades pelas quais estivessem responsáveis estejam se revelando altamente lucrativas. Agora, muitos desses sócios conversam entre si, em grupos paralelos, a fim de se protegerem contra as investigações desencadeadas em razão do bolsonarismo atávico de Afrânio Barreira Filho. Foram arrastados para o meio do inquérito da PF e do TSE à revelia de suas vontades e até de suas preferências políticas em razão do fanatismo do “empresário” cearense.

Luís Costa Pinto, 52. Jornalista profissional desde 1990. Começou como estagiário no Jornal do Commercio, do Recife. Foi repórter-especial, editor, editor-executivo e chefe de sucursal (Recife e Brasília) de publicações como Veja, Época, Folha de S Paulo, O Globo e Correio Braziliense. Saiu das redações em agosto de 2002 para se dedicar a atividades de consultoria e análise política. Recebeu os prêmios Líbero Badaró e Esso de Jornalismo em 1992. Prêmio Jabuti de livro-reportagem em 1993. Diversos prêmios “Abril” de reportagem. É autor dos livros “Os Fantasmas da Casa da Dinda”, “As Duas Mortes de PC Farias” e “Trapaça – Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro” que já tem dois volumes lançados e o volume 3 está em fase de edição.

2 Comentários

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  1. Vergonhoso para eles apoiarem um candidato tão ruim que se tem que assediar sócios e cooptarem funcionários. Se o homem vai bem no datapovo, para que isto tudo?

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