
Ganhar as eleições e diminuir o capital político das milícias
por Ricardo Mezavila
Muitas comparações são feitas na tentativa de adjetivar reiteradamente a consolidada polarização entre o PT de Lula e o Centrão de Bolsonaro. Civilização e barbárie; os extremistas de esquerda e direita, e até comunistas e conservadores. As estratégias maniqueístas são antigas e muito utilizadas entre adversários políticos.
Esse discurso de narrativas dura o tempo de uma campanha eleitoral, não necessariamente dentro do cronograma do TSE, mas principalmente na internet, o maior canal de comunicação disponível. Depois são pulverizados dentro da rotina e do tédio dos noticiários.
Precisamos aproveitar o tempo para refletir sobre a existência, fortalecimento e as raízes profundas das milícias antes, durante e depois do governo atual que trouxe para dentro do gabinete da presidência figuras ligadas à estrutura de uma organização criminosa.
Em 1967 surgiu a Polícia Militar nos moldes atuais como força ostensiva e auxiliar dos militares que exerciam o poder através de uma ditadura sanguinária.
No final daquela década as milícias criaram grupos de extermínio compostos por Policiais Militares e outros agentes de segurança que atuavam como matadores de aluguel, ou seja, a milícia era composta por agentes do Estado.
É errado dizer que a milícia nasceu pela ausência do Estado, quando na verdade ela é uma continuidade dele. Houve uma fusão entre o poder público e os milicianos, quando estes entraram na política e se elegeram vereadores, deputados, senadores, governadores e presidente.
No governo Bolsonaro a milícia mostrou que não é um poder paralelo, que não está somente no controle dos bens de consumo de uma comunidade, mostrou força na esfera legal com instalação e assento em gabinetes do Planalto, tornando-se milícia estatal.
A tendência é que esse poder cresça com a aproximação das eleições, ameaçando a democracia, as instituições, a imprensa, e tudo com o respaldo da lei e das armas.
Ricardo Mezavila, cientista político
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