Os 15%, por Gunter Zibell

"Os 15%", caso essa hipótese tenha fundamento, são não dogmáticos, representam de 60 a 70% da classe média (5 SM e +), têm em geral curso superior

Os 15%

por Gunter Zibell

Mais de uma vez se verificou uma parcela do eleitorado, que eu estimo em torno de 15% e de centro-direita, cujo objetivo não é ser conservador ou reacionário, mas evitar o PT.

De um modo quase atávico e acrítico, talvez, mas tem. E uma estratégia do consciente coletivo é antecipar turnos. De memória:

Exemplo 1: em 2014 Marina Silva passou um tempão em 2º ou 1º lugar. “De repente”, nas últimas 2 semanas, Aécio saiu do patamar de 15-20% para terminar em 33,5%. (Acho que nem ele contava com isso, pois pareceu na época que o PSDB queria evitar a conta de assumir a grande recessão que se previa).

Exemplo 2: em 2018, depois da impugnação de Lula e do atentado a JMB (e eu acredito que foi real), JMB alcançou um patamar em torno de 30%. Haddad + Ciro já contavam com 40-45% somados (e ficou assim até o final). Então os outros da 3ª via de então tinham 25%.

Pois bem, teve o #EleNão e tal. Isso reforçou, embora não o suficiente, a rejeição a JMB e consolidou os 45% contrários. Daí surgiu nas redes sociais o temor, confirmado por algumas poucas pesquisas, de que Haddad poderia vencer, ainda que por 52×48, no 2º turno.

Os “15 %” entraram em ação (eu vi esse movimento na minha bolha) e de modo frenético mudaram de Alckmin, Marina e Amoêdo para JMB. O objetivo era tentar fechar no 1º turno para evitar a propaganda negativa do entreturnos. Os 30% da maior parte de setembro alcançaram 46%.

Isto posto… É possível movimento rápido e assim em direção a Tebet? Acredito que sim. Se ela se revelar melhor em pesquisas de 2º turno versus Lula.

“Os 15%”, caso essa hipótese tenha fundamento, são não dogmáticos, representam de 60 a 70% da classe média (5 SM e +), têm em geral curso superior, e trabalham em posições em que podem se articular para um movimento assim (em SP Capital vimos também na eleição de 2016).

Isso pode levar Tebet ao 2º turno? Poder pode. Pelo menos pode levar a 2º lugar. É trabalho da direita escolher seu melhor representante a cada 4 anos (e escolheu muito mal em 2018, quando desperdiçou a racionalidade, competência e espírito democrático de Alckmin). Basta que os 40% históricos desse campo se redividam convenientemente.

Isso pode ameaçar Lula + Alckmin? Provavelmente não. Porque há outros 15%, em geral homens do Centro-Sul (na faixa 2 a 5 SM) que não são dogmáticos anti-PT nem fiéis ao PSDB e MDB. É um grupo que oscila a cada 4 anos em busca do “melhor para o momento”. Vão de FHC para Lula, daí para Dilma e daí para JMB sem se ocupar com programa. Basta parecer realizador. E esse grupo talvez já tenha decidido por Ciro ou Lula este ano.

Por esta visão, que é apenas um diagnóstico pessoal, nós temos grandes grupos no Brasil:

Cerca de 45% que sempre escolhem a opção mais “trabalhista” possível no 2º turno. Note-se que desde 1989 os candidatos do PT não ficaram abaixo desse patamar. Em geral são majoritários na faixa de renda até 2 SM.

Cerca de 15% (contidos nos 40% de 2 a 5 SM) que são pragmáticos e oscilam a cada 4 anos.

Cerca de 40% (mínimo de PSDB em 2002-2014) que sempre tentam evitar a esquerda, distribuídos em todas as faixas mas majoritários no segmento 5 SM e +. Dentro tem tem uns 10% “liberal-democratas” (que sustentam um núcleo de 3ª via), uns 15-20% bastante conservadores (que preferem os sucedâneos da antiga ARENA mas aceitam PSDB e MDB se necessário) e os citados 15% nos primeiros parágrafos e que se apresentam como influenciadores nas últimas semanas antes de cada 1º turno.

O ponto é que “os 15%” conseguem influenciar partes dos vários subgrupos, mas quase nada o núcleo duro dos 40-45% de centro-esquerda (que pode até incluir liberais comprometidos com agenda identitária e democrática.)

Em 40 meses acompanhando essa novela, e com cerca de 200 conhecides presenciais, eu nunca vi eleitor de Haddad dizendo que não apoiará Lula num 2º turno. Então um mínimo de 45% aí é quase certo. E tem muitos que tentarão influenciar contatos, principalmente ciristas, para resolver no 1º turno.

Pode ter eleitor de Haddad, Ciro ou Alckmin em 2018 disposto a apoiar Tebet em 1º turno? Poder pode. E se Lula não vencer no 1º turno poderá o 2º turno ficar mais para 2014 (52%) que para 2006 (61%). Mas segue favorito.

Então, embora não pareça que será decisivo, temos quase 120 dias para ver quem o campo da direita colocará como seu representante. Isso não é trivial, pois apontará como anda o tensionamento entre conservadores e liberal-democratas e como será a qualidade tanto da campanha como da oposição a partir de 2023. Também depende de como Tebet e Ciro (o campo nem conserva nem lulista) se articularão entre si.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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