Estamos já em plena ditadura civil rumo à militar?, por Leonardo Boff

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: EBC

Por Leonardo Boff

Estamos já em plena ditadura civil rumo à militar?

O que vivemos atualmente no Brasil não pode sequer ser chamado de democracia de baixíssma intensidade. Se tomarmos como referência mínima de uma democracia sua relação para com o povo, o portador originário do poder, então ela se nega a si mesma e se mostra como farsa.

Para as decisões que afetam profundamente o povo, não se discutiu com a sociedade civil, sequer se ouviram movimentos sociais e os corpos de saber espcializado: o salário mínimo, a legislação trabalhista, a previdência social, as novas regras para a saúde e a educaão, as privatizações de bens públicos fundamentais como é, por exemplo, a Eletrobrás e campos importantes de petróleo do pré-sal, bem como as leis de definem a demarcação das terras indígenas e, o que é um verdadeiro atentado à soberania nacional, a permissão de venda de terras amazônicas a estrangeiros e a entrega de vasta região da Amazônia para a exploração de variados minérios a empresas estrangeiras.

 

Tudo está sendo feito ou por PECs, decreto ou por medidas provisórias propostas por um presidente, acusado de chefiar uma organização criminosa e com baisíssimo apoio popular que alcança apenas 3%, propostas estas enviadas, a um parlamento com 40% de membros acusados ou suspeitos de corrupção.

Que significa tal situação senão a vigência de um Estado de exceção, mais, de uma verdadeira ditadura civil? Um governo que governa sem o povo e contra o povo, abandonou o estatuto da democracia e claramente instaurou uma ditadura civil. Assim pensa um de nossos maiores analistas politico Moniz Sodré, entre outros. É exatamente isso que estamos vivendo neste momento no Brasi. Na perspectiva de quem vê a realidade política a partir de baixo, das vítimas deste tipo novo de violência, o país assemelha-se a um voo cego como um avião sem piloto. Para onde vamos? Nós não sabemos. Mas os golpistas o sabem: criar as condições políticas para o repasse de grande parte da riqueza nacional para um pequeno grupo de rapina que segundo o IPEA não passa de 0,05 de populacão brasileira, (um pouco mais de 70 mil milhardários) que constituem as elites endinheiradas, insaciáveis e representantes da Casa Grande, associadas a outros grupos de poder anti-povo, especialmente de uma mídia empresarial que sempre apoiou os golpes e teme a democracia.

Transcrevo um artigo de um atento observador da realidade brasileira, vivendo no semi-árido e participando da paixão das vítimas de uma das maiores estiagens de nossa história: Roberto Malvezzi. Seu artigo é uma denúncia e um alarme: Da ditadura civil para a militar.

“Antes do golpe de 2016 sobre a maioria do povo brasileiro trabalhador ou excluído, já comentávamos em Brasília, num grupo de assessores, sobre a possibilidade de uma nova ditadura no Brasil. E nos ficava claro que ela poderia ser simplesmente uma “ditadura civil”, sem necessariamente ser militar. Entretanto, como em 1964, ela poderia evoluir para uma ditadura militar. Naquele momento pouquíssimos acreditavam que o governo poderia ser derrubado.

Para mim não há dúvida alguma que estamos em plena ditadura civil. É um grupo de 350 deputados, 60 senadores, 11 ministros do Supremo, algumas entidades empresariais e as famílias donas da mídia tradicional que impuseram uma ditadura sobre o povo. As instituições funcionam, como dizem eles, mas contra o povo e apenas em favor de uma reduzidíssima classe de privilegiados brasileiros. Claro, sempre conectados com as transnacionais e poderes econômicos que dominam o mundo.

Portanto, nós, o povo, fomos postos de fora. Tudo é decidido por um grupo de pessoas que, se contadas nos dedos, não devem atingir mil no comando, com um grupo um pouco maior participando indiretamente.

Acontece que o golpe não fecha, não se conclui, porque a corrupção, velha fórmula para aplicar golpes nesse país, hoje é visível graças a uma mídia alternativa presente e cada vez mais poderosa. E a corrupção está em todos os níveis da sociedade brasileira, sobretudo nos hipócritas que levantaram essa bandeira para impor seus interesses.

Mas, a corrupção é apenas o pretexto. Segundo a visão de Leonardo Boff, o objetivo do golpe é reduzir o Brasil que funcione apenas para 120 milhões de brasileiros. Os 100 milhões restantes vão ter que buscar sobreviver de bicos, esmolas e participação em gangs, quadrilhas e tráfico de armas e drogas.

Então, começam aparecer sinais do verdadeiro pensamento de quem está no comando, uma reunião da Maçonaria, um general falando a verdade do que vai nos bastidores, a velha mídia com a opinião de “especialistas”, nas mídias sociais os saudosos da antiga ditadura dizendo que “quem não é corrupto não precisa ter medo dos militares”.

Enfim, estão plantando a possibilidade da ditadura militar. Para o pequeno grupo que deu o golpe ela é excelente, a melhor das saídas. Nunca foram democráticos. Não gostam do povo. Inclusive nessa Câmara e nesse Senado, poucos vão perder seus cargos ou ir para a cadeia.

O pior de uma ditadura civil ou militar é sempre para o povo. As novas gerações não conhecem a crueldade de uma ditadura total.

É de gelar a alma o silêncio da sociedade diante das declarações do referido general”. Que Deus e o povo organizado nos salvem.

Leonardo Boff é articulista do JB on line e escritor

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. ditadura

    na última, civil/militar, a presença, e ação, militar era explícita.

    agora, os samangos, melhor orientados pelo comando geral em DC, estão na sombra.

    o resultado é o mesmo, não há necessidade de uma ditadura explicitamente militar.

    ver a situação em DC,  por trás de uma figura de proa, o cenoura, há um governo de fato de uma junta militar.

  2. Com toda certeza

    teremos outro golpe militar e muito pior do que o de 64. Esse golpe é para impedir a volta do Lula. Mesmo se o Lula for impedido de sair candidato, o golpe virá para impedir qualquer manifestação do povo. Então, teremos a direita no poder para que o golpe prossiga. O golpe só foi dado porque os milicos apoiaram e apoiam.

     

     

  3. Se o Rodrigo Viana estiver certo

     

    E os deputados tiverem um surto de civismo motivado não pelo altruísmo  mas  porque seus dedos  sentiram algo, e  despacharem o Temer, teremos um presidente biônico .  E como a Constituição e as leis mudam conforme as  circunstâncias esse presidente com respaldo militar manteria as eleições para 2018 ou as adiaria para que um  “Ministério de Esclarecimento Popular e Propaganda”  eliminasse qualquer chance de vitória de algum candidato progressista  após a interdição de Lula pela justiça? E teríamos eleições só em 2022, aniversário de 200 anos de trancos e trancas. O Aldo Rebelo vai se pronunciar?

  4. Para evitar os militares

    Para evitar os militares darem o golpe era preciso evitar que houvesse o primeiro golpe.

    Os militares, pelo menos alguns, mesmo com obediência estrita e hierárquica, não são tolos assim. Tem a mesma percepção daqueles 90 e tantos por cento que desaprovam o governo e suas medidas antipovo, incluindo o Congresso. Se é desaprovação no mesmo tom e na mesma medida, é um importante detalhe, mas está tratorado pela coisa da “ordem institucional”.

    E tem que colocar na conta a Amazônia, as missões norte-americanas na América Latina.

    Então, o medo de um novo 1964 pode ser real, mas acho que há poréns.

    Para evitar o golpe militar para a pior, onde está o povo?

    As análises, todas elas, deveriam ser base para ações presentes e futuras. E não para uma mera compreensão de espectador.

    Pessoalmente, estou bastante preocupado com o futuro, mesmo de curtíssimo prazo, a tal ponto que as conversas diárias se tornaram tolas, banais, perda de tempo, difíceis de acompanhar. Questão de contexto.

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