Folha endossa “supremacia branca” com artigo sobre racismo reverso

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Intelectuais, artistas, jornalistas e políticos reagem ao artigo de Antonio Risério, na Folha, denunciando o racismo de negros contra brancos

Racismo reverso não existe. Mas Folha de S. Paulo conseguiu transformar a tese do racismo de negros contra brancos em um dos assuntos mais comentados nas redes sociais desde domingo (16), quando publicou o artigo do poeta Antônio Risério, afirmando que o racismo reverso está em alta graças ao identitarismo do movimento negro.

Intelectuais, advogados, políticos, jornalistas, artistas, brancos e negros, reagiram ao artigo e criticaram o jornal pelo espaço dado à teoria fantasiosa.

A deputada federal Talíria Petrone (PSOL) foi uma das vozes mais contundentes na defesa do movimento negro. “O artigo na @folha sobre um suposto ‘racismo reverso’ causado pelo ‘identitarismo’ é absurdo! No Brasil da falsa abolição, que ataca corpos negros e indígenas, esse tipo de matéria endossa a supremacia branca”, disparou.

“Falar de racismo reverso em pleno 2022 é desonestidade intelectual, uma aberração histórica, um desserviço para a luta antiracista!”, acrescentou a deputada estadual do PSOL, Renata Souza, do Rio.

A antropóloga e advogada feminista Debora Diniz também achou o artigo um desserviço da Folha. “Racismo é mais do que afetos negativos: é ter o poder para usar o afeto como poder de destruição. Por isso, não há racismo reverso. Artigo desnecessário da Folha: só para criar controvérsia, intrigas e múltiplas réplicas.”

Um dos intelectuais negros mais respeitados na academia, o professor Silvio Almeida teceu comentários sobre o artigo e rebateu internautas que o cobraram por também ser colunista da Folha. “Tem gente que acha que racismo é performance e não relação de poder”, apontou.

Para Almeida, o texto de Risério integra a lista de “artigos de arruaceiros, nulidades e oportunistas que têm assento na grande imprensa”.

Particularmente, não vou gastar meu tempo e nem minha coluna para lidar com esse tipo de gangsterismo intelectual”, disparou Almeida. “Há polêmicas sérias sobre racismo, há uma situação geopolítica que demanda nossa atenção; há um disputa sobre a identidade nacional que vai se intensificar com o bicentenário da Independência, os 100 anos da semana de arte moderna; pandemia, copa do mundo e eleições cruciais para o destino do país. Muitos livros básicos dementem tudo o que estes articulistas têm escrito, de tal sorte que com eles não se deve gastar energia”, respondeu Silvio Almeida.

Para ele, a Folha, ao abrigar essa “baderna mental”, tenta parecer um espaço plural e democrático, mas se assemelha “a arenas, e na pior, becos de lutas clandestina e sem regras.”

O professor e advogado Thiago Amparo, referência para o movimento negro, avaliou o artigo como “desonestidade intelectual”: “Não existe racismo reverso. Racismo é sistema de poder – econômico, jurídico, midiático, social, físico – fundado na ideia de que não somos humanos. Nunca houve no Brasil negros com poder oprimindo brancos. Afirmar o contrário, com anedotas, é desonesto na medida em que é cruel.”

A cantora e compositora Tereza Cristina se manifestou lembrando que o artigo de Risério faz parte de um contexto político-eleitoral maior: “Polêmica é passas no arroz, maçã na maionese. Um homem branco puxar uma discussão sobre racismo reverso num ano em que renegociaremos as cotas é de uma canalhice sem tamanho. E racista. Tem que gritar, sim.”

A cantora Zelia Duncan também criticou a Folha: “Dar voz ao desserviço, ao que questiona uma luta fundamental e urgente como a luta contra o racismo é ,no mínimo, irresponsável e cínico. Racismo reverso não existe!”

A jornalista Carol Pires explicou que “racismo é violência sistemática e institucionalizada. Se uma pessoa ou um grupo não têm poder sobre você institucionalmente, eles não definem os termos da sua existência. Portanto, racismo reverso não existe.”

Cecilia Olliveira, jornalista do El Pais, compartilhou um vídeo que praticamente desenha para os brancos por que o racismo reverso não existe:

Reação da direita

Já Sérgio Camargo, o presidente da Fundação Palmares que sapateia em cima da biografia de grandes negros e negras da história brasileira, endossou a tese do racismo reverso. “Não existe lei que defina racismo reverso. A expressão beneficia pretos racistas, garantindo a impunidade. Existe somente o racismo; a cor do racista não importa.”

O cineasta que dirigiu um filme propagando as ideias de Olavo de Carvalho, José Teófilo, também concordou com o sentimento expressado no artigo da Folha: “Não é racismo reverso, é apenas racismo – qualquer um pode ser racista.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Ora,ora, se existe o “dia do orgulho hetero”, por que não existir o “racismo reverso”.Numa sociedade cujo lema é a meritocracia, nascer branco, macho, rico e saudável é um merecimento divino, que pode “desencadear preconceito nos negros invejosos”. e esses, maldosamente podem investir contra os privilegiados brancos procurando subtrair-lhes direitos. É injusto e comovente o “racismo reverso” (respeitoso Afff!)
    Quando assisto “Eu, a patroa e as crianças”, “As visões da Raven”, “Todo mundo odeia o Chris”, “Raizes”, “A cor púrpura”, entre outras muitas produções norte-americanas com atores, autores, produtores e capital quase que exclusivamente negros, começo a pensar no “tratamento igualitário” que o negro brasileiro recebe. Ele é tão temido que não tem o direito de sequer reunir-se.A tentativa de uni-los numa busca única de identidade para um discreto progresso e visibilidade é implodida pela discurso do brasileiro branco de que “não há preconceito no brasil”.
    Então, vivas ao preconceito norte-americano, quando um negro assassinado na rua pela polícia é capaz de mobilizar um país inteiro. E viva o brasileiro que corre da polícia e do guardinha do supermercado quando vai fazer uma compra. E viva se puder!
    A sociedade brasileira é de uma hipocrisia angustiante.

  2. É verdade, estamos chegando ao fim do mundo. E, é forçoso e triste admitir, essa porcaria já vai tarde.
    Como se não bastasse a crise econômica, a absurda concentração de renda progredindo na razão inversa à degradação crescente do trabalho, que, por sua vez, degrada a já esfarrapada condição daquele que dispõe apenas de sua força de trabalho para sobreviver – por baixo, 99% da população que anda sobre duas pernas neste planeta – não bastasse o cometa que está vindo aí, e que, do jeito que as coisas são, vai cair, na verdade, sobre a África, Ásia, ou América do Sul, não bastasse essa pandemia deprimente, os kwais e tiktoks da vida que invadem nossos celulares como uma peste sem fim, não bastasse isso tudo, e mais uma penca de desgraças que não quero elencar no curto espaço de um comentário, agora temos essa ameaça horrorosa, iminente e altamente organizada pelos quatro cantos do mundo, da supremacia negra.
    Pois é. Estamos à beira de uma invasão bárbara, que assolará a raça branca, criadora e guardiã da Cultura e dos valores cristãos, da indústria, do comércio, de Hollywood e do Vale do Silício, a raça responsável por uma civilização livre, justa e equânime, igualitária e generosa, e que em breve será saqueada, escravizada, explorada, terá suas terras invadidas e pilhadas, suas riquezas e recuros naturais extraídos e levados ao continente negro, que assim, às custas da desgraça e da morte do povo de Deus, essa gente branca e de olhos azuis, que será amontoada em porões imundos dos navios loureiros (piadinha do tempo do Casseta e Planeta), metade morrendo no caminho, e metade sendo vendida como escravos para os ainda mais diabólicos amarelos de olhos puxados, mais à leste.
    Que ninguém se espante. Afinal, ou eu muito me engano, mas não foi assim que o branco europeu estabeleceu as bases para sua prosperidade, para o seu domínio sobre o mundo, para o seu IDH que tanto invejamos?
    Invasão, saque, pilhagem, assassinato, estupro, exploração – não são essas as características da ascensão do homem branco, a partir dos Grandes Descobrimentos?
    Ironias à parte, creio que não passa pela cabeça do supremacista branco (e seus áulicos, como o Risério, que dão verniz intelectual as Ku-Klux-Klans do mundo) que a reação dos oprimidos pode vir com sentido e conteúdo diferentes daqueles que os levaram, os supremacistas brancos, ao poder e ao domínio.
    Quem só entende e pratica a linguagem da opressão não pode fazer senão isso: medir os outros com a própria régua.
    Gostaria que a revolta dos oprimidos – quando e se vier – fosse uma revolução pacífica. Mas não creio nisso. Frantz Fanon dizia que regimes impostos pela força e pela violência só podem ser combatidos com essas mesmas armas. Ninguém abandona uma posição forte, e favorável, por generosidade ou drama de consciência.
    E não demos mais bola para isso: a Folha já ganhou as visualizações e compartilhamentos que queria, e a caixa registradora já tilintou.

  3. Nassif, considerando a figura do Jumento, abraçada por alguns.

    Conversando com um amigo, lá do Bom jardim, questionei sobre essa individualização exacerba dos anseios. Não que deva (ou mesmo possa) haver uma uniformização irrestrita, mas como não se consegue enxergar que há um conjunto eminentemente coincidente de necessidades na base da pirâmide. E que essa base é ampla o suficiente para abarcar grande parte dos que se enxergam na mediana dessa pirâmide.

    Ele, como já de algum tempo, não mais sorriu ao responder:

    “Meu filho, o controle dos meios de comunicação de massa, ao longo da história, e a pressão exercida pela chamada aceitação social (econômica) tiveram um papel fundamental nessa formação de consciência. Gradativamente, e de forma estrutural, foram fazendo cada um olhar para os outros (semelhantes), enquanto classe, como um estorvo à economia. A não se enxergar como parte desta classe, cujos direitos sendo destruídos representariam uma oportunidade para a ascensão individual de cada um (mais qualificado).

    Aí surge a pergunta de uma vida; qual a ascensão (qual a qualificação?)?

    Bem, vejamos. No filme Planeta dos Macacos, A Guerra, há uma figura interessante, o macaco que ‘ascendia’ a condição de Jumento. Jumento é como são referidos os macacos que, tais quais os capitães do mato, aceitavam o opróbrio de perseguir seus semelhantes, a serviço dos algozes. Eram tratados com desprezo, mas consideravam a possibilidade de evitar a via crúcis da realidade ‘liberal’ escravocrata.

    Talvez, na iniciativa privada, não seja tão incomum essa figura. Bonificações e outras premiações podem incentivar a chefia mediana a abraçar a importância da exploração da renda do salário na base, com um ‘doce’ analgésico para consciência de que isso é necessário e, principalmente, suficiente para ampliação do mercado de trabalho. Como se isso fosse apenas uma questão de oferta e não de demanda.

    Mas como já fizemos as gloriosas reformas trabalhista e previdenciária para os terráqueos, tratemos dos marcianos; A reforma administrativa.

    Pensemos (“O prato mais caro do melhor banquete é o que se come cabeça de gente que pensa…”); Imaginemos, só por um instante, a terceirização total e irrestrita no serviço público, com as regras para funções comissionadas ao bel prazer da ‘autoridade de plantão’. Qual seria o potencial de ampliação do número de ‘jumentos’ no serviço público, meu filho?

    Mas, como diria aquele francês, sobre a dinastia Bourbon; “não aprenderam nada e não esqueceram nada”.

    Ainda vemos ‘iluminados’, como que tocados pela cegueira branca, de Saramago, fazendo cara de paisagem e fingindo não ver a tempestade já posta, nem a escuridão que se amplifica. Acreditam, talvez, que haja função de jumento suficiente (quem sabe, já pensando no seu Janjão), ou mesmo que, com a devida dedicação e sacrifício, consigam ser aquilo que pensam ser.

    O serviço foi muito ‘bem’ feito, e demandará um longo tempo e sacrifício para reverter seus efeitos. Para que todos consigam entender que; você não é um jumento (burro), você é um macaco (um de nós), como alertou Cesar.” Né não?

    E em tempo, qualquer semelhança com aquela pessoa da Fundação Palmares não será mera coincidência.

  4. ESTOU MUITO FELIZ PQ VEJO Q O GGN ESTÁ ASSUMINDO DEFINITIVAMENTE O SEU LUGAR NA HISTÓRIA JORNALÍSTICA DO BRASIL,A INFORMAÇAO SÃO VCS E NÃO FOLHA E ESTADÃO

  5. A reação violenta vinda Cleptocracia que surge a partir do Revisionismo Histórico da Ditadura Esquerdopata-Fascista de 1930 contra qualquer um que insurja contra o Pensamento Absolutista, contra o Pensamento Único diz mais que o próprio Artigo. É esclarecedor. Cuidado Antonio Risério. A História Brasileira mostra como a NecroPolítica se vinga. Diversos exemplos em décadas diferentes. Mas a Bandidolatria continua a mesma desde 1930, piorada a partir da Anistia de 1979. Já tivemos os Paus de Arara, Centros de Tortura e Prisões Políticas fora Cemitérios Clandestinos de Filinto Muller. A vingança pode surgir entre tiros na madrugada, vindos de Assassinos de Aluguel como na Toneleiros. Podem ser Justiciamentos como faziam Marighella, Lamarca, Prestes ou Olga. Ou como a própria percebeu, podem ser deportações (ainda bem que não existem mais Crematórios Nazistas). A vingança pode vir de uma facada de Terrorista (chamaremos aqui apenas Transtornado) filiado à Extrema Esquerda. Ou pode ser apenas a queima de Estátua, símbolo nacional ou o quadro da Princesa Isabel, Redentora da Libertação dos Escravos. Quase me esqueci, podem ser também perseguições fascistas arbitrárias e fora da lei de STF (algo mais comum aos dias de hoje). Mas de qualquer forma, muito cuidado Antonio Risério. Pensar e ter opinião, ainda mais libertária, que se contrapõe às ‘Certezas Stalinistas’, produz ódio nas nossas Elites da Cleptocracia, que ainda sobrevivem aos instantes finais até as eleições de Outubro. Muito cuidado na Pátria destes 91 anos, onde pensar é proibido.

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