Indígena brasileiro divide Nobel Alternativo com Greta Thunberg

Davi Kopenawa recebe homenagem por sua luta contra o desmatamento na Amazônia e proteção dos povos indígenas

Jornal GGN – Quatro ativistas foram agraciados com o Right Livelihood Award de 2019, também conhecido como o “Prêmio Nobel Alternativo”. Entre eles está o brasileiro indígena Davi Kopenawa. As homenagens foram anunciadas nesta quarta-feira (25) em Estocolmo.

Além dele, foram reconhecidos a jovem ambientalista sueca Greta Thunberg, que se tornou ícone contra as mudanças climáticas, a advogada chinesa Guo Jianmei e ativista marroquina Aminatou Haidar. O Nobel Alternativo foi criado há 40 anos e, desde então, homenageou 174 indivíduos e entidades de 70 países.

Guo Jianmei foi reconhecida por “seu pioneirismo e trabalho persistente para garantir os direitos das mulheres na China”. Ela tem auxiliado milhares de mulheres e desfavorecidos à Justiça no seu país.

Já Aminatou Haidar foi reconhecida por “sua iniciativa firme e não violenta, apesar de prisão e tortura, em busca da justiça e da autodeterminação para o povo do Saara Ocidental”. Há mais de 30 anos a ativista luta pela independência do Saara Ocidental do Marrocos.

Greta Thunberg foi anunciada pelo diretório da Fundação Right Livelihood “como uma voz poderosa de uma geração jovem que terá de suportar as consequências do fracasso político atual em se deter as mudanças climáticas.”

A estudante iniciou seu ativismo a partir de um protesto solitário em frente ao Parlamento sueco com um cartaz propondo uma greve escolar pelo clima. Cerca de um ano depois, veio a se tornar um ícone na luta contra as mudanças climáticas motivando a paralisação em mais de 3,5 mil cidades de 161 países.

Sobre o brasileiro indígena Davi Kopenawa, a entidade declarou reconhecimento “pela corajosa determinação dele em proteger as florestas e a biodiversidade da Amazônia, e as terras e a cultura de seus povos indígenas”. A Hutukara Associação Yanomami, entidade fundada e presidida por ele em Roraima, também foi citada.

Ameaças de morte 

Davi Kopenawa e seu filho, Dário Vitório Kopenawa Yanomami, vem sofrendo ameaças de morte por conta de denúncias de invasão ilegal na Terra Indígena (TI) Yanomami, entre Roraima e Amazonas, na fronteira com a Venezuela. Entidades indígenas afirmam que as invasões de terras indígenas em todo o país dispararam no primeiro semestre deste ano. Pelo menos 20 mil garimpeiros atuam ilegalmente nos territórios indígenas.

“[A homenagem] Demonstra confiança em mim e na Hutukara, e em todos aqueles que defendem a floresta e o planeta Terra. O prêmio me dá a força para continuar a luta para defender a alma da Floresta Amazônica”, disse Kopenawa nesta quarta-feira (25).

Em entrevista à rádio Brasil de Fato, em janeiro, o líder Yanomami deu as seguintes declarações sobre as ameaças de morte que vem sofrendo: “Dói pra mim. Eu era amigo do Chico Mendes. Você conheceu ele, né? Um cara pagou um pistoleiro e mataram ele. Para mim, tem muito perigo”.

“Eles pensam que sou chato, que eu atrapalho eles, que eu sou yanomami ruim. Eu não sou yanomami ruim, não. Eu protejo meu povo. E a sociedade não-indígena não gosta. Eles querem acabar com minha vida, mas eu não quero deixar isso acontecer”, completou.

Na ONU, Bolsonaro diz que Amazônia não corre perigo 

A homenagem ao líder Yanomami acontece um dia após o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, apresentar seu discurso na abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nos Estados Unidos.

Bolsonaro não abordou ações práticas do seu governo contra o desmatamento e proteção dos povos indígenas. Pelo contrário, ele fez declarações no sentido de não compactuar com acordos internacionais para a proteção do bioma.

Leia também: Como os Estados Unidos viram o discurso de Jair Bolsonaro

“Quero deixar claro: o Brasil não vai aumentar para 20% sua área já demarcada como terra indígena, como alguns chefes de Estados gostariam que acontecesse”, afirmou. Em seguida, o presidente indicou que a demarcação e terras indígenas já estabelecidas poderá sofrer revisão.

“O índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas. Especialmente das terras mais ricas do mundo. É o caso das reservas Ianomâmi e Raposa Serra do Sol. Nessas reservas, existe grande abundância de ouro, diamante, urânio, nióbio e terras raras, entre outros”, disse.

“É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo. Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista. Questionaram aquilo que nos é mais sagrado: a nossa soberania!”, completou ainda Bolsonaro.

Essa é a sétima vez que o Brasil tem um representante entre os ganhadores do prêmio Nobel Alternativo. Além de Davi Kopenawa, foram reconhecidos o bispo Erwin Kräutler (2010); o arquiteto e ativista social Chico Whitaker Ferreira (2006); o teólogo Leonardo Boff (2001); a Comissão Pastoral da Terra (1991); Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (1991) e o agrônomo e ecologista José Lutzenberger (1988).

*Com informações da DW Brasil

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Redação

1 Comentário

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  1. O atual presidente é um ridículo mesmo. Até suas “falas bombásticas” são um furo n’água e descambam para a inverdade, o fake. Disse em seu discurso para o mundo que acabou o monopólio do cacique Raoni. Ora bolas, foi justamente a partir de sua entrada no governo que o tal monopólio do cacique ganhou vulto e mais destaque. Ele foi recebido e festejado por governantes diversos na Europa. Recebeu apupos e elogios do novo inimigo de Bolsonaro, o Macron. Foi recebido, beijado e abraçado pelo papa Francisco. Sua ONG de proteção à floresta receberá milhares de euros em doação e ainda vai ser indicado ao nobel da Paz de 2020.

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