Tudo como dantes no quartel d’Antawi

Suspender a constituição e fechar o congresso é o programa mínimo de um golpe de Estado, não o motivo pelo qual pelo menos trezentos egípcios morreram enfrentando as forças do regime que agora tenta perpetuar-se na forma de um Conselho Supremo.

As reivindicações dos manifestantes, comunicadas pelo Ziad al-Olaimai, advogado de 32 anos da Campanha Popular para Apoiar El-Baradei e único porta-voz autorizado da Liderança Unificada da Juventude da Revolução da Ira, agrupamento que reúne os principais grupos que organizaram e conduzem as manifestações no Cairo e nas cidades mais importantes do Egito, são sete: 

  • saída do Mubarak; 
  • revogação imediata  estado de emergência; 
  • libertação imediata de todos os prisioneiros políticos; 
  • dissolução das duas casas do parlamento; 
  • formação de um governo civil de unidade nacional para o período de transição; 
  • investigação pelo judiciário dos abusos das forças de segurança durante a revolução; e 
  • proteção dos manifestantes pelos militares.

O que a junta militar fez até agora, depois de se livrar da figura do Mubarak, foi suspender até as mínimas garantias oferecidas pela constituição e fechar o congresso. Quanto ao resto das reivindicações:

  • manteve o estado de emergência;
  • não libertou nem os manifestantes detidos, que dirá os presos políticos;
  • prendeu centenas de outros manifestantes em Suez e Alexandria;
  • proibiu as greves e as reuniões sindicais;
  • mandou a polícia do exército cercar os manifestantes que permaneciam na praça Tarhir;
  • destruiu, a golpes de facão e baioneta, as instalações dos manifestantes na praça;
  • manteve o governo nomeado pelo Mubarak.

Se a onda de greves não se mantiver e se ampliar e se as manifestações não recomeçarem nas próximas horas, os dezoito dias de uma  mobilização popular histórica terão conseguido instalar no Egito, com a cumplicidade ativa da famigerada “comunidade internacional (e o silêncio vexaminoso do Brasil, diga-se de passagem), uma ditadura militar que em poucos meses se legitimará com “eleições” idênticas às que mantêm o regime no poder desde 1952.

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