Júlio Marcelo, o procurador que usou o TCU de escada

Que caia a ficha dos seus colegas, sobre os males que o deslumbramento de Júlio Marcelo trouxe ao TCU, assim como já caiu a ficha dos procuradores da República sobre o prejuízo para a categoria do deslumbramento de Dallagnol.

Principal agente do impeachment no Supremo Tribunal Federal (STF), o Ministro Luís Roberto Barroso admitiu, recentemente, que o impeachment foi um processo político, sem crime de responsabilidade. E admitiu que os atos de Dilma Rousseff – batizados de “pedaladas” – eram prática habitual em outros governos.

Ao mesmo tempo, há notícias dando conta do desaparecimento do contrato de Sérgio Moro com a Alvarez & Marsal e insinuando a responsabilidade do setor do Tribunal de Contas da União (TCU) sob a coordenação do procurador Júlio Marcelo de Oliveira.

E, aí, tem-se dois personagens centrais do golpe do impeachment.

Júlio Marcelo foi o principal responsável pela desmoralização do TCU, ao partidarizar as investigações. No jogo de cena do impeachment, coube a ele a suposta sentença técnica de que houve crime de responsabilidade – negado, agora, por Barroso. Nas sessões do impeachment, admitiu ser um militante, tendo participado do movimento “Vem pra rampa”, visando pressionar os ministros do TCU a rejeitarem as contas de Dilma.

Na época, Júlio foi flagrado almoçando com Marcos Lisboa, principal ideólogo da “Ponte para o Futuro”, o estudo que serviu de base para a montagem da frente contra Dilma.

Em determinado momento, a apoteose mental da Lava Jato de Curitiba contaminou os militantes abrigados no TCU. O ridículo foi tão grande que o Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais de Contas lançou o nome de Júlio Marcelo como substituto do Ministro Teorizava Zavascki.

No dossiê Vaza Jato, aparece conversa de Júlio Marcelo com Deltan Dallagnol, na qual o procurador afirma que o TCU estaria infiltrado por “bandidos”, e precisaria ser limpado. Na conversa, ele ataca diretamente o Ministro Bruno Dantas – o que está avalizando, agora, as medidas contra o contrato de Sérgio Moro com a Alvarez & Marsal. E passa inúmeras dicas para Deltan. A jugar pela demora de Deltan em responder, e pela resposta rápida, não havia muita paciência com as abordagens de Julio Marcelo.

E, aí, se entra na questão central do impeachment, a conspiração em favor das chamadas reformas liberais, mostrando o alinhamento completo do Ministro Barroso e do procurador Júlio Marcelo com as teses sustentadas pelos golpistas. 

Em mais de uma ocasião, Barroso endossou integralmente as teses da “Ponte para o Futuro”, o ultraliberalismo, a saída do estado de qualquer atividade econômica, o excesso de proteção aos trabalhadores. O próprio Michel Temer, que assumiu a presidência, em palestra nos Estados Unidos sustentou que, caso tivesse endossado a “Ponte”, Dilma não teria caído.

Portanto, não resta dúvida que, se o impeachment foi um processo político – como admite o próprio Barroso – e que se Barroso e Júlio Marcelo foram agentes ativos do impeachment, a conclusão óbvia é que agiram politicamente. Uma coisa é o Congresso atuar politicamente no impeachment. Outra, é a atuação política de representantes do Estado brasileiro.

Coube a Barroso todos os votos decisivos em favor do impeachment: o voto para a abertura do impeachment, para a prisão de Lula, para impedir a candidatura de Lula. E a Júlio Marcelo o álibi técnico utilizado pela mídia e pelo Senado, para avalizar o que, hoje em dia, Barroso admite ter sido apenas um processo político.

Que caia a ficha dos seus colegas, sobre os males que o deslumbramento de Júlio Marcelo trouxe ao TCU, assim como já caiu a ficha dos procuradores da República sobre o prejuízo para a categoria do deslumbramento de Dallagnol. Ambos utilizaram as respectivas corporações de escada para projetos pessoais.

Agora, a partidarização se alastra na ofensiva de Lucas Furtado contra Sérgio Moro. Valer-se dos mesmos métodos de Julio e de Moro – ainda que contra Moro – significará a vitória final da barbárie. Que Moro seja investigado, julgado e condenado, dentro do devido processo legal.

Luis Nassif

6 Comentários

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  1. tudo ocorre às claras … causa-me estranheza que não há nenhuma reprimenda, punição ou algo que moralize e discipline a atuação de órgãos que deveriam ser justos e imparciais. LAMENTÁVEL !!!

  2. Ora, corporativismo pouco é bobagem. Um Poder em que as punições mais se parecem com uma premiação e justa recompensa…Não há ficha para cair. O que caiu foi a máscara, faz tempo, mas eles não estão aí. Vão seguir, cada um deles, aguardando o cavalo encilhado passar na frente deles, ou os trinta mil caírem sobre suas cabeças: ‘Chegou a minha vez!’
    Creio que a única preocupação plausível é com os seus protetores midiáticos; esses, é melhor não contrariar. Veja-se o Moro, mais sujo e enrolado a cada dia que passa. Sua sina parece já estar definida, entre uma cadeira no senado e o ostracismo em Miami. Vai depender da conja, eu acho…
    O Dallagnol ainda está em andamento. Ainda está pesando as alternativas, palestras ou câmara.
    Não serão punidos. Punição, na atual conjuntura, poderia soar como…punição. O Judiciário desse país triste não está interessado em dar exemplo ou estabelecer reputação legalista. Querem deixar claro, a quem quer que seja que venha ocupar o Planalto: Conte conosco.
    Com o supremo, com tudo. Tamo junto.

  3. Veneno se combate com veneno. Só depois de recuperada a vítima é que se mata a cobra. Ministério público e judiciário profundamente corrompidos não nos oferecem garantias de justiça no “devido processo legal”, Tudo “o que temos pra hoje” é barroso e seu pântano.
    Dancemos conforme a música.

  4. Sem punição é ilusório imaginar que haverá tomada de consciência. Será preciso que os responsáveis sejam penalizados. Cometeram crime de falsidade ideológica. Que arquem com as consequências.
    Restará a dúvida: as instituições serão capazes de cortar na própria carne.
    Se não, que o próximo congresso aptove medidas coercitivas contra todo e qualquer abuso. Prazo pra ministro do STF; limites da estabilidade de servidores publicos; responsabilidade civil, etc A discussão e por aí.

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