
O experiente Manuel Domingos Neto, historiador, especialista em história militar, está preocupado. No período Bolsonaro, foi um crítico severo da falta de rumo das Forças Armadas, da politização desenfreada e da perda de objetivos.
Agora, a preocupação é de outra ordem.
Os conspiradores devem ser punidos, concorda ele. Mas os ataques generalizados contra as Forças Armadas são improdutivos. Mais que improdutivos, são preocupantes. Alimentam o espírito de corpo, alimentam o revanchismo, tiram o foco do ponto principal: a necessidade premente de uma mudança de rumo no papel das Forças Armadas.
É hora do governo Lula e dos militares profissionais providenciarem um acerto definitivo de rumos das FFAAs. E não se trata meramente de uma mudança no currículo da Academia Militar das Agulhas Negras. Em toda parte do mundo, diz ele, a formação de militares não se dá pelos livros, mas pelos rituais, das marchas, dos hinos, dos cânticos, dos gritos de guerra, da camaradagem. Por isso mesmo, o ponto de mudança é o do objetivo central. E ele passa por uma mudança no artigo 142 da Constituição, que define como papel das Forças Armadas a Defesa da pátria; Garantia dos poderes constitucionais e Garantia da lei e da ordem. Além do Art. 142, outros dispositivos da Constituição tratam da atuação das Forças Armadas, como:
- Artigo 34 : Sobre uma intervenção federal, que pode ser realizada para “por termo a grave comprometimento da ordem pública” com o apoio das Forças Armadas.
- Artigo 136 : Durante a decretação do estado de defesa.
- Artigo 137 : Durante a decretação do estado de sítio.
O objetivo de qualquer FFAA deve ser o da defesa da pátria contra o inimigo externo, e não contra o interno, mote de sua atuação até agora. A reformulação das FFAAs deve se dar a partir da mudança desse enfoque central. E essa mudança passa pela necessidade premente de se fortalecer os setores tecnológicos das FFAAs, especialmente do Exército e de eliminar essa visão subdesenvolvida do seu papel na geopolítica global, como mera subordinação ao Pentágono. Como manter essa subordinação em um momento em que ascende ao poder Donald Trump, em que o fantasma da guerra se espalha por todo o globo e mesmo a América Latina começa a se dividir politicamente?
A tese de doutorado de Domingos Neto foi sobre o Exército da Primeira República até a Segunda Guerra. Em todos esse período, iludiu-se com a ideia da transferência de tecnologia, um blefe que nunca permitiu a autonomia bélica das FFAAs brasileiras.
O país já teve uma indústria bélica de alguma dimensão, com lançadores de foguetes, tanques de guerra. Tudo isso foi desmontado por essa subordinação ao Pentágono. A própria licitação para a compra de jatos deixou a decisão nas mãos de brigadeiros umbilicalmente ligados aos Estados Unidos, que optaram pelo Gripen (com aviônica americana), quando não conseguiram os F-15.
A mudança das FFAAs passa pela busca da autonomia tecnológica, pela reformulação das instalações, com a venda de ativos imensos e onerosos, para focar no objetivo maior de aparelhamento tecnológico, de defesa das fronteiras e da costa. O que as três forças têm de melhor são seus engenheiros, seus institutos de tecnologia, a possibilidade de acordos tecnológicos com a universidade e institutos de pesquisa civis, a exemplo do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares).
Lembro – e agora é minha opinião, não necessariamente a de Manuel – que há muitos aventureiros querendo aproveitar o ressentimento militar para organizar uma revanche em um ponto qualquer do futuro. É evidente que Bolsonaro e seus golpistas precisam ser punidos severamente.
Mas, sem resolver a questão militar, será uma mera troca de guarda, com seu posto sendo assumido por representantes em negociatas das FFAAs, como o governador paulista Tarcísio de Freitas, ou por candidatos a novos ideólogos da direita, como Aldo Rebelo, pretendendo um pacto entre FFAAs, agronegócio e mineradores e garimpeiros da Amazônia. Bolsonaro sai de cena, mas o bolsonarismo não. E, depois dele, o bolso-militarismo sendo assumido por candidatos militares muito mais palatáveis ao centro-direita e aos grandes grupos nacionais.
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As forças armadas brasileiras nada mais são do que um reflexo da história do Brasil. Um país, como tantos outros no mundo, dependente.
A gênese do Brasil e, consequentemente, dos militares brasileiros, é contraditória. Basta lembrar que Dom João VI deixa seu filho herdeiro para declarar a independência da colônia.
Ora, nas monarquias, o poder territorial, era hereditário. Logo, Portugal e Brasil, mesmo depois de 07 de setembro de 1822 continuam a pertencer a uma mesma família, pai e filho. Prova disso é que o filho, Dom Pedro I, após declarar a independência do Brasil, retorna à Portugal (deixando seu filho herdeiro no Brasil) para defender o poder monárquico/territorial de sua família na Europa.
Em resumo, é nesse contexto contraditório que as forças armadas brasileiras se constituem, como mantenedoras da ordem colonial e defensoras de uma pátria supostamente independente, mas que na verdade é dependente de um poder estrangeiro. Essa contradição perdura até hoje. O Brasil nunca foi independente, e as forças armadas refletem isso.
Para deixar mais claro, a pátria brasileira, defendida pelos militares, como não podia ser diferente, representa a manutenção da ordem/poder interno e, principalmente, externo.
Mal comparando, e retrocedendo ao império brasileiro, é como se defender a pátria representasse garantir um Brasil independente da Espanha, mas a dependente de Portugal. E, nesse caso, a “defesa da ordem/poder”, é a defesa do império português e de suas relações/alianças, por exemplo, com a Inglaterra.
Mais recentemente, quando explode a II Guerra, Espanha e Portugal devem ser substituídos por “países do eixo” e “aliados”. Depois, na Guerra Fria, por URSS e EUA. E, agora, a independência da Espanha e dependência de Portugal deve ser substituída por independência da China/Rússia e dependência dos EUA (Europa/Otan). Essa é a ordem/poder que o Brasil e suas forças armadas defendem. Ou seja, a defesa da pátria, supostamente independente é, na verdade, a defesa de uma subordinação a uma pátria (ordem/poder) estrangeira.
Internamente, as classes dominantes no Brasil estão vinculadas a essa ordem/poder estrangeiro (estadunidense), e estão satisfeitas nessa posição por conta da riqueza natural e humana abundante e da desigualdade abissal.
O comportamento das forças armadas, simplesmente, reflete essa pátria dependente dessa ordem/poder, interno e externo, vigentes. E assim é desde que Portugal desembarcou na Ilha de Vera Cruz com suas “forças armadas”, que depois virou Brasil “independente/dependente” com suas forças armadas.
Para compreender melhor esse contexto histórico, basta ler jornais e assistir telejornais, em tv aberta, pela internet e mídias sociais (estadunidenses). Nesses meios de comunicação preste atenção nos comentários de analistas políticos e econômicos.
Quem defende uma “ordem/poder” independente brasileira?
Ou defendem uma ordem/poder do EUA* (Europa/Otan) ou uma contra ordem/poder da China/Rússia.
O problema não são os militares, mas os brasileiros que ainda não declararam sua independência, como fizeram os EUA, a China e a Rússia. Devemos imitá-los, sendo independente deles.
*E aí se incluem os democratas e o Trump.
Quer dizer, o problema não são só os militares brasileiros, mas também os civis. Azelites!
Concordo. E mais, não precisamos de tantos Exércitos, temos 4. Que país na América do Sul pode ameaçar o Brasil ? É razoável imaginar uma invasão massiva a nosso território ? À costa e águas nacionais ? Modernidade e agilidade de ações seriam bem melhor e com menos custos.
A única coisa brasileira nas forças armadas brasileiras é o uniforme. Nem isso os colonizadores precisam pagar.
Nassif,
Lula nunca teve e nem terá coragem de fazer o que se deve.
O primeiro passo em 2003, ou 2006, 2010, já com Dilma, ou na sua volta, em 2022, era encostar todos os generais e tenentes-generais, enfim, promover coronéis e tenentes coronéis, criar um comando fiel.
Dividir a cúpula para reinar.
Não fez.
FFAA em país capitalista periférico só servem para manter a obediência desses países aos patrões externos.
Não há inimigo externo, porque países pobres, como o Brasil, não disputam a hegemonía territorial ou de recursos com os grandes.
Algumas refregas ocasionais, e só.
É um monte de gente parada, e mente parada é oficina do tinhoso.
Não temos FFAA, nunca tivemos, temos, no máximo jagunços, como foi na guerra do Paraguai, fazendo a chacina para a Inglaterra ou, recentemente, no Haiti.
Se Lula se achasse com metade do poder que muitos inocentes – ou maldosos – atribuem a ele, já teria dado um golpe no mundo e hoje seria deus.
Nassif, oportuno momento para repensar o papel das FA’s no Brasil. Por isso gostaria de abordar dois pontos, além da dimensão da formação apontada por você.
Em primeiro lugar, precisamos redefinir a noção de defesa da nação sob a qual se alicerça a doutrina de defesa. Dos três pilares que sustentam a ideia de nação – território, povo e governo soberano – a idéia de povo que fundamentou a constituição das forças de segurança que protegiam o Brasil desde a colonia excluiu o negro e o indígena, pois era justamente para proteger o território colonial ocupado antes pertencente aos povos originários e garantir o modo de produção escravista que se sustentou a formação das forcas armadas e de segurança no país, além , claro, de proteger o território da invasão de outras nações europeias em um primeiro momento e das nações recem formadas da América do sul posteriormente.
Pois é justamente na ideia de um povo europeu ocupante, que exclui o negro e o indigena, que se sustentou e se sustenta a ideia de nação que as FA’s devem proteger. A aceitação, desde a colonia, de uma nação subordinada, agora às potencias europeias e americanas no cenário internacional, e a respectiva proteção dos privilegios de uma elite branca cristã eurocentrica contra os demais membros da sociedade, agora incorporados (negros e indigenas), que continua sendo a noção central do papel das FA’s. Por este motivo eles toleram, aceitam e se regozijam com o papel subordinado do Brasil no mundo e os privilégios desta elite, da qual inclusive suas camadas supiores fazem parte, em detrimento da situação terrivel dos pobres e favelados, maioria descendente de escravos no Brasil. Inclusive seu papel é garantir que esta parcela da população não ameace os privilégios do povo que eles defendem, a elite branca privilegiada com aspirações europeias.
Não por outro motivo eles reagem a qualquer projeto autônomo de inserção internacional do país e que inclua esta parcela excluida da sociedade em um projeto desenvolvimentista de nação. Não seria forçoso dizer que parece que eles não querem se indispor contra as nações às quais são subordinados por um projeto autonomo que incluísse esta parcela da sociedade na noção de povo a ser defendido.
Por isso é fundamental pensar em um FA que incorpore no sentido de brasilidade todos os elementos da nossa miscigenação no contexto latino americano, abandonando esta aspiração eurocentrica e americana que ainda prevalece e se engaje no esforço de construir uma nova nação que integre estes elementos.
Em segundo lugar, e não menos importante, a estrategia de defesa deve se subordinar aos objetivos estratégicos geopolíticos do pais definidos pelo poder civil, e não militar. Quem deve definir as prioridades da defesa nacional deve ser a sociedade e às FA’s cabe apenas auxiliá-la como uma espécie de consultor técnico da sua area de atuação em um primeiro momento e posteriormente criar implementar as estrategias de defesa para aquilo que foi definido pelo poder civil. Hoje quem define o que e como deve ser defendido, a noção de ameaça e de inimigos, são os próprios militares, a exemplo da estratégia de povoar a amazonia para defendê-la (como levado a cabo durante o goderno militar com a transamazonica e outras acoes) , mesmo que isso cause impactos ambientais e sociais aos povos originarios. Acredito que o Itamaraty deveria ser um dos protagonistas do pensamento e da definição do papel do Brasil no mundo , junto à academia, aos estudiosos de relações internacionais, às proprias empresas nacionais, e à sociedade civil organizada, em talvez um conselho nacional que defina as prioridades internacionais da nação, cabendo às FAs apenas assessorar as decisões destas instituições tecnicamente, a partir do seu know how, e posteriormente implantar as estratégias necessárias à defesa do pais. Assim, penso ser fundamental esvaziar espaços de pensamento geopolítico exclusivo das FAs e subordina-los ao poder civil, oxigenando suas ideias geopoliticas ultrapassadas e herméticas.
Sobre a formação dos militares, gostaria de chamar a atenção para um aspecto que acho que vai além do conteúdo de formação das escolas militares e que tem a ver com os valores e visões de mundo difundidos nas estruturas militares.
O militar ao longo de sua carreira desde que ingressa nas FAs, além de valores como bravura, coragem e abnegação, aprende basicamente duas coisas: obedecer irrestritamente à hierarquia e executar suas funções tecnicamente com perfeição e profissionalismo. Para subir na hierarquia é avaliado sistematicamente quanto a estes dois aspectos e por isso ao longo da carreira se dedica integralmente a desempenhar estas lições. Como o desempenho técnico acaba sendo muito parecido entre os melhores, como em toda estrutura social serão promovidos, politicamente, aqueles que demonstrarem aderir melhor aos valores requeridos pela hierarquia e definida nos escalões superiores. É aí que se encontra as o centro da reprodução ideologica, pois são os escalões superiores que definem os valores e a visão de mundo esperada dos subordinados ao mesmo tempo que são os que podem premiar aqueles que mais aderem a estes valores. Assim, os comandantes sempre serão aqueles que reproduzem a visão de mundo esperada pelos antecessores e ao assumir postos de comando passam por cursos de formação de estado maior e de estrategia que reforçam estas visões. Dessa forma cria-se o ciclo vicioso sob o qual as tropas aderem a uma visão de mundo definida e imposta pelo alto comando, garantindo a perpetuação desta visão de mundo com a impossibilidade de uma mudança substancial uma vez que aqueles que não demonstrarem aderir àquelas teses podem ser preteridos nas promoções.
Por este motivo, torna-se imperativo subordinar os altos estudos do estado maior, suas teses e estrategias a valores e visões de mundo definidos pela sociedade, fora do ambiente militar, oxigenando seus valores e visão de mundo, além de criar critério objetivos de avaliação para as promoções não subordinados à ideologia assumida pelos superiores.
Perfeito. É isso mesmo. Estamos muito distantes desse cenário proposto, uma vez que os feitores da casa grande intensificaram sua atuação e se consolidaram no aparelho de estado desde 64. Mas sempre é tempo de novas reformas e tentativas de emancipação. Quem sabe não surgem novos positivistas na nossa elite e um novo político habilidoso pra costurar acordos?
Além da correções nos artigos da CF88 que permitem interpretações voltadas para intervenção dos militares, as FAs deveriam ser rebaixadas e colocadas no devido lugar. Este movimento de rebaixamento começou com a própria CF88, a extinguir os 4 ministérios militares e os colocar subordinados ao da Defesa. O rebaixamento deveria seguir com a criação de um super ministério da Segurança, subordinando todas as forças policiais, unificando as polícias estaduais e municipais com as forças armadas. Seria uma forma de dar serviço aos militares, já que não fazem nada e, como o mundo é hoje, só serão mobilizados para serem derrotados fragorosamente em caso de agressão externa. A segurança precisa ser atualizada com as novas tecnologias de vigilância e de redes. Não é aceitável que um país soberano do tamanho e capacidade do Brasil precise usar os whatapps da vida e alugar satélites de lunáticos estrangeiros.
Parceiros, o golpe é os assassinatos só não ocorreram porque o governo Biden não deu aval. Se fosse na gestão deste maluco que venceu a eleição nos EUA, já estaríamos sob ditadura de extrema direita com, minimamente, Lula e Moraes no cemitério.
E Tarcísio? Um dos cardeais do Haiti q se infiltrou na máquina do estado durante o governo Dilma e que agora lidera uma polícia q mais se parece uma milícia assassina de Porto Príncipe e ainda entrega o patrimônio de São Paulo a preço vil? Suas marteladas insanas no Ibovespa mostra a carga de violência q esse sujeito carrega dentro de si e q tem, talvez, o germem das atrocidades cometidas no Haiti. O governador tornou se uma versão melancólica de um Papa Doc, ditador haitiano, fazendo de São Paulo um laboratório macabro de suas torpezas e que por pouco não se transformou em um projeto nacional erigido pelos mentores do golpe frustrado. Tarcísio bebeu das mesmas fontes de Heleno, Braga Neto, Bolsonaro e é quase impossível q de nada soubesse sobre a conspiração, pois fazia parte do núcleo duro do ex presidente.
Nassif, eu penso que já passou da hora já faz tempo. É preciso registrar que governos passados, e o atual, tiveram grande parcela de culpa no desvio que conduziu graduados militares de mentes e de personalidades fracas e inconsistentes a planejarem, propagarem e praticarem apologias, atos e ações criminosas, subversivas e terroristas contra o estado, contra a democracia e pela tentativa consciente ou não, de constranger e denegrir a própria instituição das Forças Armadas do Brasil.
Aproximaram e misturaram militares com o crime organizado e com a marginalidade civil. Sentaram-no lado a lado com membros do núcleo central da delinquência política e ainda fizeram a instituição se passar por uma espécie de jagunços e segurança de uma horda de golpistas insanos, insubordinados e amotinados.
Eu entendo que já passou da hora de devolver às Forças Armadas do Brasil a galhardia honrosa do valoroso papel que deve cumprir na república e também o cobrar com veemência, a obediência e a subordinação às leis, as normas e as regras constitucionais existentes, sob pena de receberem as rígidas punições previstas.
Pau que nasce torto morre torto , a única solução para está bosta é a dissolução.
Verdade. Depois de muito tempo, uma reconstrução com forças limitadas e menores, como na Argentina.
E, como não bastasse, me sai essa agora.
https://clickpetroleoegas.com.br/forcas-armadas-gastam-r-800-milhoes-para-contratar-12-mil-militares-aposentados-com-salarios-de-ate-r-47-mil/
Nas repúblicas bananeiras, golpista é todo oficial militar pego em flagrante.
Que Nélson Rodrigues nos perdoe. Mas a paráfrase de uma das brilhantes citações dele foi irresistível (ele disse “Tarado é todo sujeito normal pego em flagrante).
É uma verdade que deve ser dita, depois que o garoto de recados da caserna veio a público falar o que pensam seus comandantes. Diante da escandalosa mancha de batom na cueca, parece que os generais optaram por sacrificar alguns de seus “irmãos por escolha”. Disse que interessa às FFAA que a culpa seja colocada do “CPF”, não no “CNPJ”, que a pecha de golpismo não pode manchar a instituição e os que estão na ativa. Em outras palavras: dado o tamanho do flagrante, aceitarão que alguns dos seus sejam punidos.
(Obs. “Irmãos por escolha” é como se tratam os futuros oficiais formados na AMAN. Para criar um laço de camaradagem, um compromisso de nunca abandonar um dos seus.)
A verdade é que, se o Comando Militar do Sul tivesse dado o sinal verde, quase todos teriam embarcado nesse barco, ajudando nas “manobras para guiar o barco em direção ao porto seguro que queremos” (segundo as palavras públicas do almirante golpista). Só que entrou água no barco e agora é a hora do salve-se quem puder.
.
Infelizmente, parece que estamos diante de mais uma oportunidade que será perdida, a chance de darmos um importante passo no sentido de romper com a sina de sermos uma eterna república bananeira. Além de punições exemplares para os golpistas, era o momento de reformular a formação dos militares. As academias são hoje centro de formação dos golpistas do amanhã, reféns do ideário de submissão ao “irmão do norte”. Abandonaram de vez a ideia de uma nação soberana em sentido lato. Alguns militares de 1964, mesmo com todo o golpismo, tinham alguma noção da grandeza do Brasil. Atualmente, estão rendidos ao mais simplório neoliberalismo periférico. O tal plano “Brasil 2035” é reflexo dessa visão medíocre que domina a caserna.
Mas o abandono dos “irmãos por escolha” não é total. Um ex-capitão da missão no Haiti e atual governador de São Paulo saiu em defesa dos seus. Disse que o indiciamento do seu mito carece de provas e que ele sempre respeitou o processo democrático. Em outras palavras, disse o que já sabemos: “- Ainda somos os mesmos e golpearemos como os nossos pares”(perdão, Belchior!).
Historicamente, no Brasil, o apreço à democracia não existe na caserna. Sobrevive apenas como figura de retórica. Nosso destino bananeiro é fruto de décadas de passadas de pano, conciliação e impunidade.Se agora os golpistas estão na defensiva, mais à frente não hesitarão em atacar novamente o Estado Democrático, se tiverem essa chance.
Após três dias de sabermos do covarde plano de assassinatos, um dos maiores escândalos da nossa história, ouvimos das principais autoridades da república condenações tímidas, dúbias e vacilantes. Os jornalões, com um prato cheio para praticar o jornalismo investigativo, reduzem de forma sutil e progressiva o espaço destinado ao crime. O PGR diz que, diante de tanto informação nova, só vai se manifestar no ano que vem…Talvez queira saber a opinião de Trump e Elon Musk sobre o assunto.
É difícil, muito difícil, ser otimista numa república bananeira.
Faz já algum tempo que fomos promovidos para república boiadeira. E tudo ficou ainda mais difícil!
Kkkkkkkk muito boa!
Hoje a submissão é ao Pentágono, mas já foi à Inglaterra e à Alemanha. Getúlio flertou direto com o nazismo e o fascismo, mandou até a família passear na Alemanha e na Itália como sua representante.
Luiz Simões Lopes passou um tempo na Alemanha estudando os métodos de comunicação de Goebbels, a quem admirava, que subsidiaram a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP em 1939.
A submissão aos estrangeiros data da guerra de independência na Bahia, que foi curta e teve o apoio de França e Inglaterra, com os comandantes Labatut e Cochrane. Sem eles, poderia até ter sido perdida…
Enfim, o inimigo interno é resultado da eterna aliança com o inimigo externo. É um exército de ocupação, pago pelos cofres nacionais e nada mais.
Ivan Seixas relembrou momentos marcantes da história brasileira, como a Guerrilha do Araguaia e o papel das Forças Armadas na repressão violenta contra guerrilheiros e populações ribeirinhas e indígenas. “Mataram 69 guerrilheiros e um número incalculável de pessoas do povo. Isso foi um crime contra o nosso país”, denunciou. Ele também destacou a importância de recuperar a memória histórica e expor as raízes golpistas na formação militar brasileira: “Eles têm uma formação anticomunista, entreguista e, acima de tudo, contra o seu próprio povo. Isso precisa mudar.”
https://www.brasil247.com/entrevistas/nunca-pensei-num-plano-tao-bom-para-desmoralizar-o-exercito-quanto-o-que-bolsonaro-fez-diz-ivan-seixas