Maratona GGN: José Dirceu reflete sobre o papel da esquerda

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Para ex-ministro da Casa Civil, crise é muito grande e isso impactou a mobilização, sendo necessário trabalho de base e análise do Brasil

O ex-ministro José Dirceu. Foto: Reprodução

Jornal GGN – A esquerda brasileira precisa mudar de uma forma geral e, no caso do PT, é preciso repensar o Brasil, uma vez que o país é muito diferente daquele que o partido encontrou na primeira vez em que elegeu um presidente.

“O legado do Lula é importantíssimo, está mostrando isso agora nas pesquisas. Agora, o Brasil que nós vamos enfrentar é outro, não existe o Brasil de 2002, e o mundo vai mudar depois dessa pandemia”, afirma José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado federal. “E o Brasil está vivendo uma tragédia. Então, nós temos que repensar, o PT tem que repensar a política que ele vai apresentar para o país, que não basta uma política de crescimento”.

Além das questões econômicas, Dirceu lembra que “nós temos um problema democrático grave, poder judiciário, Ministério Público, tem um problema ambiental gravíssimo, temos o problema das grandes cidades com enchentes, péssimas condições de transporte, problema de resíduo sólido, lixo, problema energético, agricultura com agrotóxico. Como é que protege a Amazônia, como é que nós fazemos uma reforma tributária e do sistema bancário – o juro, hoje, expropria boa parte da renda da classe trabalhadora, que paga 40% de juros para comprar qualquer coisa”.

O ex-ministro lembra que, embora o Brasil tenha uma série de problemas, a desigualdade é o principal deles. “O país quer ouvir é o que nós vamos fazer com aquilo que o Bolsonaro desmontou: meio ambiente, ciência, cultura. Sem uma revolução científico-educacional, nós não vamos para lugar nenhum, e sem o povo brasileiro ter poder aquisitivo – se o povo brasileiro tiver poder aquisitivo, nós crescemos 20 anos”.

Como crescer 20 anos? Dirceu lista os pontos que podem ajudar: “(o Brasil tem) metade do saneamento pra fazer, 15 milhões de habitações, toda a infraestrutura, 1/3 da população que não tem as condições de vida básicas que tem um trabalhador qualificado no Brasil. Só isso faz o Brasil crescer, mas não pode crescer como vem crescendo, com consumismo, com uso de matéria-prima que nós abusamos da natureza, da água – nós vamos ter que repensar o capitalismo tem que ser questionado”.

Com relação ao capitalismo atual, José Dirceu lembra que o que estamos vendo atualmente “é o capitalismo no se estado mais puro – é a ideologia que o Bolsonaro defende. Taí o que é o capitalismo no seu estado puro, sem solidariedade social, sem fraternidade, a violência é o objetivo nenhuma proteção à vida, preconceito contra homossexual, contra a mulher”, explica o ex-ministro. “Essa história que o Brasil é uma nação só, que não tem negro e branco, que não tem pobre e rico, nós conhecemos isso, é a ideia básica do nazifascismo, um só povo, uma só nação. É lógico que nós somos um povo e uma nação – agora, o problema da desigualdade e da concentração de riqueza e renda é um problema do brasil, déficit público é um problema, dívida, mas tudo é consequência”.

Diante desse quadro, Dirceu afirma que o PT precisa ouvir e se questionar, como também trabalhar em uma possível união com outros partidos progressistas. “Nós vamos parar a destruição do meio ambiente? vamos retomar a liberdade cultural, a prioridade da ciência, da cultura, educação? vamos repensar as grandes cidades, vamos combater a desigualdade? Unidade no programa nós temos, é só fazer esse programa básico. O problema agora é acertar politicamente os partidos progressistas para a eleição, agora é todo mundo para a vacinação emergencial, criação de emprego e garantir a democracia”, diz.

“Agora não é problema do PT ou só do PC do B, ou do PDT. É todo mundo do Brasil que é democrata, progressista, que tem um sentimento nacional, se unir para atender e evitar essa tragédia humanitária sem limites se é de esquerda ou direita, francamente. se nós permitirmos ao Bolsonaro continuar com essa política dele, como é que vai acabar o Brasil? Vai ter 500 mil mortos? é uma tragédia humanitária”, questiona Dirceu. “No fundo, eles consideram natural porque tem uma guerra que eles estão salvos e protegidos dessa guerra. Queria saber se estivessem morrendo cinco, sete mil soldados, 200, 300 oficiais das forças armadas, se eles teriam o mesmo comportamento. então podem morrer 270 mil brasileiros? não, não pode. é intolerável, é inaceitável”.

A esquerda e os novos tempos

O grande desafio para a esquerda brasileira é se preparar para os novos tempos, e a crise que se tem visto é considerável mesmo em meio a um grande stress político visto por, pelo menos, sete anos, como explica o ex-ministro da Casa Civil.

“Eu tenho defendido que a crise da esquerda é muito grande. Apesar de que nós temos o atenuantes de que nós somos submetidos a um stress político, a guerra praticamente, durante seis, sete anos, desde 2013”, pontua Dirceu durante sua participação na Maratona GGN – A volta de Lula e a suspeição de Moro, onde conversou com os jornalistas Luis Nassif, Patricia Faermann e Lourdes Nassif sobre Mensalão, Lava-Jato e as sucessivas perseguições que sofreu por parte do ex-ministro Sergio Moro.

“O PT teve que se concentrar na defesa do mandato da Dilma e depois na defesa de Lula, em condições que o mundo do trabalho mudou completamente não só pela reforma trabalhista, previdenciária, fim do imposto sindical, mas também pela automação, robotização, e agora que metade da população economicamente ativa ou está desocupada, desempregada ou está informal ou desalentada. Isso tudo impactou muito o PT, e o PT envelheceu como é natural”.

O ex-deputado lembra que o PT ocupou o governo por quase 14 anos, e existe a necessidade de se realizar adequações para os novos tempos – uma autoreforma, por assim dizer. “Primeiro, vamos entrar na era digital – nessa última campanha o (Guilherme) Boulos tinha 2 milhões, 3 milhões de seguidores e o Jilmar (Tatto) tinha 60 mil, 70 mil, não precisa dizer mais nada”.

José Dirceu também lembra a necessidade do partido voltar para os bairros, uma vez que os bairros foram ocupados pelos políticos de direita e pelas igrejas neopentecostais.

Dirceu participou da Maratona GGN – A volta de Lula e a suspeição de Moro, onde conversou com os jornalistas Luis Nassif, Patricia Faermann e Lourdes Nassif sobre Mensalão, Lava-Jato e as sucessivas perseguições que sofreu por parte do ex-ministro Sergio Moro, no que era uma espécie de modus operandi da Lava-Jato. Confira a íntegra da entrevista no link abaixo

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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