Marçal conquista eleitores que tradicionalmente votariam em Boulos

Enquanto o coach promete 2 milhões de empregos sem dizer como fazê-lo, campanha de Boulos é conhecida pela 'defesa da democracia'

Reprodução Youtube

O último levantamento sobre a disputa pela Prefeitura de São Paulo do instituto Paraná Pesquisas, divulgado na sexta-feira (6), indicou um empate técnico triplo entre Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB). 

Boulos lidera a pesquisa com 23,9% das intenções de voto, seguido por Nunes, com 23,8% e Marçal (21,3%). Para comentar este resultado, o programa TVGGN 20 contou com a participação do professor de Políticas Públicas (UERJ) Samuel Braun, cientista político e especialista em Teoria do Voto. 

Na análise do convidado, o empate tríplice indica que, depois de um crescimento rápido, Marçal parou de crescer. “Você vê que ele vem em um crescimento enorme na última pesquisa e nessa ele estagnou, enquanto o Nunes dá uma recuperada. E o Boulos parado, né? O Boulos está jogando parado ali igual o Romário”, observa.

Para o convidado, um dos fatos sobre o coach que mais chama atenção é o fato de ele ter conseguido atingir eleitores que tradicionalmente votariam na chapa Boulos e Marta Suplicy (PT). 

“Essa campanha que tem um PT dentro dela também, que é um eleitorado mais humilde, um eleitorado mais pobre, de renda mais baixa, trabalhador ou pequeno empresário, mas aquele microempresário mesmo, o cara que tem lá uma loja de automecânica ali no Capão Redondo, uma coisa pequenininha, ele basicamente que trabalha sozinho. Nem dá para chamar esse cara de empreendedor, né? Ele é um trabalhador”, continua Braun.

Campanhas

Um dos motivos que explica a preferência do eleitorado mais carente por Marçal são as propostas de campanha. Mesmo sem explicar como, o coach promete criar dois milhões de empregos no subúrbio, para que as pessoas não tenham de enfrentar tantos deslocamentos. Já a campanha de Boulos é conhecida pela defesa da democracia. 

“Ora, a defesa da democracia é importante para nós, mas isso não pode ser a proposta principal para ativar o eleitor de classe mais baixa, trabalhador. Ele tem que ver no candidato da esquerda a defesa dos valores dos trabalhadores”, emenda o professor. 

Falta, na campanha de Boulos, propostas ligadas ao urbanismo, como a de transformar áreas em espaços de uso múltiplo defendida por Fernando Haddad (PT). 

“Você tem escola, você tem serviço de saúde, você tem o comércio básico alimentar, enfim, os alimentos mais necessários do dia a dia e você tem o seu local de trabalho, ali num raio de dois quilômetros, você conseguiu fazer tudo ou a pé ou em algum outro veículo que não seja uma bicicleta. Isso aí é o modelo que Barcelona tenta já implementar a partir das olimpíadas que aconteceram lá ou outras cidades europeias vieram adotando isso”, continua Samuel Braun, que ressalta que este foi o modelo proposto por Haddad, mas executado timidamente enquanto esteve à frente da Prefeitura.

Desidratação

Os resultados de Marçal nas campanhas de intenção de voto podem ser impactados por diversos fatores, entre eles o fato de compor um partido pequeno e, por isso, não ter tempo de campanha na televisão. O fato de a Justiça ter derrubado as redes do coach e imposto limites ao conteúdo também impactar a campanha. 

“Ele tinha um símbolo de força, estou crescendo, estou chegando, eu vou atropelar, chegou e parou. Conforme o Nunes for ganhando, e aí é inevitável [a recuperação]. Quem vai tirar o voto dele não é o Boulos, quem vai tirar voto dele é o Nunes. Conforme o Nunes for ganhando 2%, 3% ali, ele [Marçal] estagna. Quando ele começar a ter um pequeno viés de queda, a motivação inicial do eleitor ali em agosto, que viu nele um meteoro, um foguete que não dá ré, aí corre sim o risco dele cair e virar um terceiro colocado estagnado”, continua.

Confira a entrevista completa:

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7 Comentários

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  1. Não ouvi a entrevista toda mas o que da para perceber e que o Marçal e um grande vendedor. Principalmente daquilo que não vai entregar. Mas ele toca naquela parte negra dos corações de alguns. E , acho que é o real objetivo, esta com um mandato assegurado em 2026. Se a esposa do Moro pode, porque não ele?

  2. A direita, desde o Paraíso com Adão e Eva que ela é muito mais eficiente em convencer. Kkkkkkkkkk
    E a esquerda, SEMPRE RACIONAL, e a comer poeira.
    O povo gosta de usufruir do Estado democrático. E só.

    1. “As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios da produção material dispõe também dos meios da produção espiritual, de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daqueles aos quais faltam os meios da produção espiritual. As ideias dominantes não são nada mais do que a expressão ideal das relações materiais dominantes, são as relações materiais dominantes apreendidas como ideias; portanto, são a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante, são as ideias de sua dominação (MARX e ENGELS, 2007, p.47).

  3. Bolsonaro prometia baixar o gás para a metade do preço. Mais do que dobrou. Se não o colocarem contra a parede para ele dizer como vai cumprir suas promessas, ele vai enganar muita gente que se contenta apenas com promessas. Aí o Marçal vai se assemelhar àquele rato que sugeriu botar um guizo no gato, a fim de que os gatos soubessem com antecedência quando ele estivesse se aproximando e estava sendo aplaudido estonteantemente pela assembléia dos ratos, quando alguém perguntou a ele quem iria colocar o guizo no gato.

  4. O fato do crescimento do voto ao Marçal em detrimento ao boulos na periferia indica uma situação bem mais grave do que do genocida contra Haddad. Porque: lá eles não conheciam o bandido que vem com o papo de ser de”fora dos políticos corruptos”, votaram, passaram fome e perderam os seus para a covid. Esqueceram de tudo para confiar novamente num malandro de mentiras fáceis?

  5. Esse papo brochado de defesa da democracia é o que está enterrando a esquerda há tempos. Esquerda sempre foi sinônimo de revolução, ruptura. O trabalhador médio não se sente representado pela democracia burguesa, e quando ouve isso se seduz pelo discurso “antisistema” de candidatos que são o sistema purinho mas se vendem como sendo contra. Fora que por si só, a democracia burguesa é ineficiente e lenta. Na hora que as pautas de esquerda estão avançando demais, a democracia tão defendida por esses partidos é a primeira a defenestrar a esquerda.

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