Mídia ignora participação dos EUA no caso Lula e continua “campanha de difamação”

O Departamento de Justiça, a Comissão de Valores Mobiliários e o serviço de inteligência dos Estados Unidos cooperaram com a Lava Jato

Jornal GGN – Brian Mier, jornalista da Fair.org, um dos observatórios da imprensa mais respeitados dos EUA, escreveu um artigo (veja aqui) em que narra a reação da mídia internacional à libertação de Lula. Para ele, o fato é que os veículos de comunicação continuam abafando a participação do governo americano na Lava Jato e seguem com a campanha de “difamação” em relação ao ex-presidente, mesmo diante das fortes evidências de ilegalidades e politização do processo.

No texto, Brian relembra a fragilidade do caso envolvendo o triplex no Guarujá, passando pelas provas de inocência feitas pelos advogados de Lula e ignoradas por Sergio Moro, o uso da delação questionável de Leo Pinheiro (OAS), até chegar à sentença controversa.

Segundo Brian, um aspecto do julgamento deixado à margem do debate na mídia nacional e internacional diz respeito ao papel do governo norte-americano na construção da Lava Jato.

Os procuradores brasileiros trocaram informações com autoridades norte-americanos – Departamento de Justiça, Comissão de Valores Mobiliários e FBI, NSA e outros órgãos de inteligência – que investigaram a Petrobras em processo próprio nos Estados Unidos.

Há evidências fortes demais para serem ignoradas – como um vídeo do procurador Kenneth Blanco, que o GGN mostrou aqui – de que a cooperação entre Lava Jato e EUA ocorreu muitas vezes de maneira ilegal, o que seria suficiente para anular a operação. A cooperação informal e irregular, aliás, se repetiu com autoridades da Suíça, como confirmaram as mensagens de Telegram vazadas pelo Intercept Brasil.

Para Brian, esses dois fatos contrastam com a cobertura da imprensa, que minimaliza a questão mesmo após a libertação de Lula. Segue tratando sua condenação como se tivesse sido fruto de um processo judicial padrão, e não algo totalmente politizado.

“Alguém poderia pensar que agora a mídia corporativa dos EUA iria finalmente duvidar da narrativa de que Lula pudesse realmente ser culpado de corrupção. Os leitores americanos não estariam interessados em saber qual o papel desempenhado pelo Departamento de Justiça nesse processo?”, questiona.

“Infelizmente, desde a libertação de Lula nenhum dos principais meios de comunicação corporativos mencionou o papel do Departamento de Justiça dos EUA na Lava Jato. Embora alguns artigos tenham mencionado as revelações do Intercept, eles foram reformulados para terem uma narrativa menos ameaçadora, apresentada em um contexto que pudesse ‘levantar algumas dúvidas’ sobre a investigação”, afirmou.

Segundo Brian, “apesar das provas da inocência e perseguição ilegal a Lula, com a cooperação do Departamento de Justiça dos EUA, que o afastou das eleições presidenciais de 2018, a grande mídia se apega a uma falsa narrativa que, embora enfraquecida pelas ações subsequentes do atual ‘Super Ministro da Justiça’ Moro , ainda busca prejudicar a imagem pública do presidente mais popular da história brasileira.”

Ao final, ele escreveu: “Enquanto a campanha de difamação continua, é importante lembrar que Lula representou um projeto de desenvolvimento nacional social-democrata, na tradição do que os brasileiros chamam de desenvolvimentismo, baseado no controle estratégico sobre os recursos naturais e seu uso para financiar serviços públicos, como saúde e educação, políticas de fortalecimento do salário mínimo e direitos trabalhistas, ampliação do acesso a universidades públicas gratuitas e forte investimento em pesquisa científica. Este é o projeto que foi desmontado após o golpe de 2016, em benefício de empresas como Monsanto, Chevron, ExxonMobil e Boeing. A história mostra que todo presidente brasileiro que já tentaram implementar políticas desenvolvimentistas – de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jango Goulart a Dilma e Lula – foi submetido a um golpe, prisão ou assassinato político, com suspeita permanente do envolvimento dos EUA. E como vemos a mídia corporativa trabalhando para normalizar o golpe militar na Bolívia (FAIR.org, 11/11/19), fica claro que esse problema não se limita ao Brasil.”

Redação

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Tudo de ruim no mundo tem o dedo dos EUA. As invasões dos países do Oriente Médio para roubar suas riquezas minerais (petróleo, principalmente), a deposição de presidentes eleitos na América Latina, para roubar suas riquezas (petróleo, gás, lítio e inúmeras outras), pela desigualdade inédita que sofre a humanidade, pela instituição do ódio, do medo e do terror para vender armas às pessoas e aos governos, pelo retorno do fascismo em lugares importantes do mundo, pela manutenção da ideia da supremacia branca (copiada por Hitler, com base no “Movimento Eugenista”), cultivada nos EUA desde de sua Constituição, etc.

  2. Em outra materia, a XP investimentos fez pesquisa que informa que 30 % da população culpa o PT pela atual crise

    Esse é um dos motivos da população cravar o culpado

    E o PT tem que parar de fazer tricô e começar a fazer politica de divulgação, marketing e retomar a liderança do discurso

  3. Hipoteticamente, a mídia – qualquer mídia: grande, pequena, nacional, estrangeira, etc. – pode, se quiser, manipular as pessoas. Se manipularem, em qualquer grau/extensão, poderão ter um ganho em termos de influência, poder ou mesmo $.
    Se há potencial de ganho a pergunta é: Por que não o fariam?
    A resposta dependerá de uma ponderação entre custos e benefícios.
    Como fonte de benefícios estão: os anunciantes (note-se o papel do mercado financeiro); os “donos” (plutocratas/fundos) e governos.
    Pelo lado dos custos: credibilidade e ética de empregados e de “donos” de pequenos meios.
    Num oligopólio, os custos de credibilidade podem ser controlados e, dependendo da concentração no “mercado da informação”, tornados desprezíveis.
    Quanto à ética, o fator humano é essencial. Vivemos tempos de precarização, desemprego e redução de renda. Os empregadores não teriam dificuldades em “ajustar” os empregados por meio de “seleção artificial”, descartando os que não se enquadrarem. Os “donos” de pequenos meios, se a renda ali obtida é significativa para eles, ficam em situação semelhante à dos empregados.
    Seguindo a lógica exposta, o comportamento parcial da mídia é exatamente aquele que seria esperado.
    Se acreditamos que algum desses agentes não se rege por esse raciocínio é muito provável que apenas não tenhamos percebido (ou não queiramos perceber) o viés por eles adotado.

  4. Pior que a ignorância silenciosa da imprensa internacional é a nossa ignorância deslumbrada.

    – “Ah, vá… não seja tão crica. Só porque a gente se deixa levar pela propaganda dos EUA significa que não faremos oposição a tentativas daquele país de nos saquear, de depredar nossas instituições democráticas, de sabotar nossas tentativas de prosperidade? Uma coisa é a política de estado do ‘Tio Sam’, beligerante, invasora e de rapina; outra, bem diferente, é o parquinho de diversões da Disney, a faculdade Harvard, a putari… ops! a alegria colorida de Las Vegas… Nunca vi o Mickey Mouse dando tiro nem roubando ninguém. E quer saber? New York é o centro do mundo e eu adoro, tá? Vou gostar do que, do Brasil? Só porque sou brasileiro?… bah!”

    A propósito esse jornal e jornalista são estadunidenses, pois não? E a propósito mesmo, ele falou, em seu artigo, da imprensa estadunidense e não da internacional. Tá bom, o que é estadunidense nos é estrangeiro mas nem tudo que é estrangeiro é estadunidense. Os EUA são só um país estrangeiro, há muitos mais além deste, né? E na imprensa dos EUA, alguém acredita mesmo que vai encontrar crítica aos próprios EUA? Só se for à moda da Folha: prá fingir alguma credibilidade, alguma diversidade, alguma isenção…

    Um dia nos libertaremos.

  5. Acho bacana esse negócio de ver potencias estrangeiras como inimigas…
    O problema é ter traidores da pátria em MASSA ocupando postos chaves no alto escalão de nossas instituições somados a egoístas miseráveis de parte da elite que querem apenas lucrar em cima do povo!
    Os EUA sofrem isso vindos da China, da Rússia e fazem isso contra eles!
    E são bilhões!
    Nem isso teve aqui!
    Tudo está sendo entregue via corrupção!
    3 Trilhões que foram entregues não deve ter chegado a 1 bilhão em propina!
    E nem violência nas ruas tivemos como Chile e Bolívia!
    Isso matará a ética, por que qualquer inteligência vai ver que há algo errado nisso tudo e ai teremos basicamente 3 tipos:
    a) Os que compreendem o erro e vão lucrar com isso – (Perda da ética e humanidade)
    b) Os que compreendem o erro e não conseguem lutar contra isso – (Vão perder a humanidade com o tempo)
    c) Os que não conseguem compreender (Vão perder a ética e humanidade com o tempo, apesar de serem as principais vítimas)
    Todos nós vamos perder, a diferença é que uma parte vai comer e morar melhor, enquanto forem vivos…

  6. Infelizmente , a nossas elites econômica e política estão de conluio com os estadunidenses.Estamos fodidos. A influência deles no nosso povo ignóbil é enorme. Perdi as esperanças nesse país. Como dizia Renato Russo: “nosso estado que não é nação”.

  7. Está amadurecido a ideia, para pavor dos americanos, que os povos latinos americanos precisam criar
    para proteger seus paíes; notadamente a Soberania e a Democracia, de dois projetos políticos: 1) O Nuclear, os povos latinos americanos precisam criar seus arsenais atômicos. É um fator de segurança e defesa crucial. 2) Criação de uma espécie de “Exército do povo”, ou forças civis armadas, ou “milícias” democraticas. Como fez a o povo venezuelano.

    Os povos da América Latina não podem confiar nos seus militares; E agora, infelizmente, não pode confiar no seu poder judiciário e na sua mídia.

    Então para cada um desses problemas é preciso encontrar agora soluções.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador