MSTS critica ideia de que manifestações são provocadas por insatisfação com Dilma

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Assis Ribeiro

Da RBA

‘Não vamos criar Frankensteins’, diz MTST sobre aproximação conservadora em atos

Coordenador de movimento classifica como ilegítima ideia de Campos e Aécio de pregar que manifestações são provocadas por insatisfação com Dilma, embora critique presidenta por falta de avanços

Por Rodrigo Gomes

São Paulo – Assim como fez o Movimento Passe Livre (MPL) no ano passado, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST),Guilherme Boulos, reafirmou hoje (14) a postura “de esquerda” das manifestações que antecedem a Copa do Mundo no Brasil e rejeitou que setores conservadores se apropriem das mobilizações.

Nesta entrevista exclusiva à RBA, concedida logo após a coletiva do MTST no início da tarde de hoje, no centro da capital paulista, Boulos criticou a postura de parte da imprensa e dos pré-candidatos à presidência da República Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), que pregam que as ações são reflexo de uma insatisfação com o governo de Dilma Rousseff (PT).

O militante explicou ainda que as ações têm objetivos que dialogam com a pauta de reivindicações do movimento e não se prestam a uma difusa mobilização anti-Copa, embora entenda que os movimentos devam aproveitar o megaevento para agir e colocar em debate pautas consideradas importantes.

As pautas de reivindicação do MTST já estão nas ruas há bastante tempo, mas a vitrine da Copa transforma tudo uma grande agenda antiCopa. Como evitar essa situação?

Isso é um problema. Uma coisa é o que o movimento defende e o que o movimento faz. Outra coisa é a forma como parte da mídia e setores conservadores se utilizam disso para fazer a sua própria política. Isso não está sob controle do movimento. Nós cumprimos o papel de deixar claras as nossas pautas, de se mobilizar em torno delas.

Mas o MTST também não pode deixar de fazer mobilizações sob o risco de que essas ações sejam utilizadas por esses setores para objetivos políticos que nós não concordamos. De fato, essa é uma dificuldade hoje, que não só o MTST está passando, como vários outros movimentos populares legítimos, com pautas no campo da classe trabalhadora.

Visivelmente há uma campanha buscando atacar o governo da presidenta Dilma Rousseff a partir da Copa do Mundo. Da nossa parte nós não nos somamos a essa campanha. Nós estamos com aqueles que assumem posturas críticas quanto à realização da Copa. Não vemos o evento como um processo benéfico para a maioria da população trabalhadora brasileira. Temos as nossas reivindicações quanto a isso e nos mobilizamos.

O MTST se declara independente no cenário político. Mas há pré-candidatos à Presidência interessados em pegar carona nas mobilizações para dizer que o povo está insatisfeito “com tudo que está aí”. 

Nós achamos completamente ilegítimo. O discurso de Eduardo Campos e Aécio Neves é completamente esquizofrênico. Ao mesmo tempo que dizem estar com as mobilizações, que estão ouvindo a voz das ruas, defendem políticas que impedem qualquer governo de atender às pautas de reivindicação que estão sendo colocadas pela população.

Quando Campos diz que vai reduzir a meta de inflação e aumentar o superávit primário, ou o Aécio convida Armínio Fraga para ser seu ministro da Fazenda, caso eleito, tudo que essas pessoas estão anunciando que não vão fazer é atender às reivindicações dos trabalhadores.

Esse uso é no mínimo oportunista e o MTST considera isso lamentável. E fazemos questão de deixar bem claro que esses grupos políticos não nos representam.

Vocês têm mantido uma mobilização que tem certa constância, de colocar na rua de cinco a dez mil pessoas com certa facilidade. Já as manifestações sobre Copa, em geral, não são tão massificadas. Não está havendo adesão da população?

Na verdade, você tem uma insatisfação bastante considerável em relação à Copa, medida por pesquisas. Agora, se isso não se vincula a uma pauta concreta, o discurso fica vazio e as pessoas não vão às ruas mesmo. Elas se mobilizam por questões claras.

Nós temos a nossa pauta, que se vincula a outras, e vários setores têm as suas. Não temos qualquer pretensão de nos tornarmos o eixo aglutinador de todas as pautas e trazer toda a população para a rua. Até porque, se isso não se der em torno de uma proposta política bem definida e claramente de esquerda, a coisa fica perigosa…

Repete-se o que ocorreu em junho de 2013…

Sim, pode ocorrer o que houve no final de junho. As ações iniciais eram muito legítimas, por conta do aumento da passagem, uma reivindicação concreta. E terminou com cartazes pedindo redução da maioridade penal e a volta da ditadura. Isso nós não queremos causar. Não vamos criar Frankensteins. Vamos fazer mobilizações sobre nossas pautas.

As mobilizações têm girado em torno de empreiteiras que lucraram com a Copa, questões de moradia, direitos dos trabalhadores. Vocês pretendem seguir nessa dinâmica de atender diferentes pautas em cada ação?

Não vamos focar exatamente assim. Começamos pelos construtores porque foram os verdadeiros vencedores da Copa. Foram os que ganharam mais dinheiro abocanhando dinheiro público com as obras. No caso de hoje, o objetivo era fazer ações de maior visibilidade, por isso esse número e a descentralização.

A próxima vem no sentido de trazer pautas de outros setores da classe trabalhadora. A pauta não é exclusiva sobre moradia. O processo vai ser pensado conforme é realizado, não existe um planejamento definido.

Falando em mobilizações de trabalhadores, você avalia que eles estão fora do processo?  Tem havido pouco envolvimento da classe trabalhadora organizada?

Isso vai da dinâmica de cada categoria. As pessoas se mobilizam pelos seus direitos e interesses imediatos. Não tem como inflar e constituir mobilizações individuais. Alguns sindicatos têm buscado fazer ações e enfrentado condições que nem sempre são favoráveis. Outros têm tentado inibir mobilizações e são atropelados, por exemplo, no caso dos garis e dos rodoviários, no Rio de Janeiro, em que a direção sindical tomou uma decisão que não representava a categoria.

Nós evitamos julgar o movimento sindical sobre suas mobilizações, mas é claro que a entrada de trabalhadores organizados enriqueceria esse processo.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. 5 minutos de fama

    Com o dominio avassalador da midia conservadora, não tem como não ser usado como massa de manobra, caracterizando para as massas uma insatisfação com o governo de plantão que não é de todo real. Inocente útil o Boulos não é. Ele sabe muito bem o que está fazendo, o partido que está tomando e que essas manifestações serão usadas durante a campnha eleitoral. É isso, ele tá gerando imagem para a oposição e essas suas declaraçoes junto a Rede Brasil Atual, de baixissima penetração não vai aliviar a sua barra nem a sua consciencia.

    Melhor seria se se pudesse conciliar uma pauta reivndicatóra junto aos poderes publicos municipais e federal por moradia e ao mesmo tempo rechaçar qualquer alternativa pelos oportunistas da oposição, mas isto teria que estar exposto em faixa e cartazes dos manifestantes, que siginfica manter seus líderes longe dos olofotes, dos 5 minutos de fama e disso muitos não abrem mão.

  2. Guilherme Boulos
    É bom você

    Guilherme Boulos

    É bom você também questionar qual a possível influência dessa manipulação da mídia e oportunismo de Aécio e Campos, apoiados por essa mesma mídia, no resultado da eleições futuras.

    Sabendo que a grande mídia influencia o jogo político, como vocês se sentiriam, e quais as consequências para o próprio movimento dos MSTS,  se o atual governo perdesse as eleições pela “insatisfação popular contra o governo Dilma manifestada nos movimentos de rua” , como diz a grande imprensa e que muitos passam a acreditar?

  3. Muito bem colocado por

    Muito bem colocado por Edivaldo Oliveira, e, ainda chamo a atenção para um fator que tem ocorrido frequentemente comigo e deduzo com muitas pessoas que expressam seu pensamento aqui, ou simplesmente acompanham o jornal, o alcance é muito pequeno. Quando exponho meu pensamento com alguns amigos, gente de Universidade,  que demonstra revolta com o que chama “desgoverno dos Governos do PT”, me perguntam que tipo de leituras eu faço,  se eu acompanho a imprensa, que comentários eu leio, enfim, eles estão numa bolha muito bem fechada pela Globo e companhia e acham que estão dentro do conhecimento. Os lideres dos movimentos por trás das manifestações sabem sim e muito bem que estão sendo usados e explorados, mas como tem  necessidade de avanços em suas pautas assumem o risco que correm, isto é, o retrocesso, aliás não só para eles,  mas para a sociedade como um todo.

    As principais bandeiras de Aécio/Campos-Marina, vão dar em exclusão de continuação de algumas políticas que por enquanto são consideradas assistencialistas, mas o futuro dirá que é como tirar o carro do atôlo (assim mesmo se fala nas brenhas do Brasil) depois o carro consegue andar na estrada enlameada, até alcançar um auto-estrada, que pode ainda estar longe.  

  4. Não consegui ler tudo…e

    Não consegui ler tudo…e afirmo que nada disso ai vai sair no Jornal Nacional. O que vai sair lá é que a manifestação é contra o PT e pronto. Seguido de entrevistas com Aécio,Álvaro Dias, comentário de Jabor e memes nas “TVs revoltas” por aí.
    O Sr. Boulos queira ou não.

    1. Não tem nada contra o PT e

      Não tem nada contra o PT e contra o Governo federal, não. Vamos tacar fogo em pneu na Arena Corinthians e ficar #xatiados pq a PM não segurou o pessoal da Fiel e da 12 para a gente continuar fazendo o que quer como se fossemos a esmagadora maioria da população, só pq precisamos das imagens de violência para serem veiculadas mundo afora. Pq razão um grupo que se dá o direito de cometer atos de violência e vandalismo,  se ofendenderia qdo outros grupos os recriminam ou desafiam? Talvez seja interessante, perceber que os outros tb tem direitos. Se o problema do Movimento não era com o estádio, foram lá fazer o que? Sabendo que para os torcedores, aquele é um espaço simbólico?

      http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/140230/Latuff-Sader-incita-viol%C3%AAncia-contra-manifestantes.htm

  5.   
    Por mais que o sr. Boulos
      

    Por mais que o sr. Boulos do MTST se esforce, a verdade é que esses movimento de grupelhos de extrema-esquerda sempre serviram aos interesses da direita. Foram grupelhos de extrema-esquerda na Alemanha pré-nazista que inflaram o nazismo e permitiram a ascensão de Hitler ao poder. Aqui no Brasil foram movimentos de extrema-esquerda no campo (como as Ligas Camponesas do pernambucano Francisco Julião) que serviram de pretexto para atemorizar a classe média e consequentemente de Viagra para ajudar a direita civil e militar depôr o presidente João Goulart e implantar uma cruel ditadura em 1964 (que se prolongou até 1985).
    Os resultados dessas patetadas de extrema-esquerda todos nós conhecemos e todos nós sabemos onde desastrosamente foram dar. Mas tem gente que tem vocação masoquista (adora apanhar de quem ajuda sem querer querendo) e que parece que não aprende nada com a história e com os erros do passado, repetindo-os grotescamente.

  6. Autocrítica

    Perfeito. Tais manifestações teriam uma mensagem de autocrítica . o que muito é louvável, daqueles que continuam apoiando o governo , mas não se furtam de expor as deficiências a serem corrigidas.Minfestantes político partidário não assumem tais posicionamentos.

  7. As mobilizações do ano

    As mobilizações do ano passado NÃO eram as da direita. Eram da esquerda mais radical do que o PT. Espertos que só eles, a direita, representada pelo PIG, fez e faz parecer o contrario. A direita, burra que só ela, uma hora destas, vai ter escolher entre a esquerda moderada e a esqiuerda radical. Porque a DIREITA já não volta mais, nos proximos dez anos.

    1. Rudo, na verdade, se ao menos

      Rudo, na verdade, se ao menos a nossa mídia fosse democratizada minimamente, assim, o básico do básico, e mais as conquistas que teremos nos próximos anos… eu me arriscaria a dizer que nunca mais a direita como a conhecemos voltaria ao poder.

  8. O que está parecendo é que

    O que está parecendo é que percebendo a bomba que está prestes a estourar, ninguém mais quer ter qq relação com a criança que nascerá dessa gestação. Tô vendo todo mundo pulando fora e dando explicações que, poderiam ter sido dadas, normalmente, desde o início das manifestações. A não adesão ao # NãoVaiTerCopa pode ter provocado um susto. Quem estava nas redes sociais, esse tempo todo, pode perceber,claramente, travestida de agenda anti-copa, uma agenda ant–Brasil, com tweets dispardos em vários idiomas para o mundo inteiro. Com todo o respeito ao autor do post; no início as manifestações eram claramente contra o PT, e o exemplo claro disso é SP. Tudo em SP acabava na prefeitura. Além disso, até agora, ninguém para explicar a coincidência da presença de grupos financiados no mundo inteiro. nesses protestos. E, como no resto do mundo, já ficou claro a que vieram, ninguém mais quer estar associado à eles. O problema é que já estão aqui dentro. E, agora, não foi ninguém; ninguém sabe, ninguém viu.  Tava todo mundo junto até a hora em que o país não embracou no movimento contra a Copa; agora, Anonymous e BB’s, são só da Mídia ( que, parece, tb não quer mais ser amiga deles ).

  9. O ano passado foi a gurizada

    O ano passado foi a gurizada do MPL, que de movimento quase invisível (e proscrito pelo PIG) transformou-se num “gigante”, com direito a entrevistas coletivas entusiásticas com a bajulação da Globo (Leilane Neubarth os rotulou como “lindinhos”) e cia pra cima deles; quando os nazi-fascistas tomaram conta do “bonde de Junho” a mídia os esqueceu e eles passaram a ser tratados como antes.

    Agora a cena se repete, o antes marginalizadíssimo MSTS passa a ser ovacionado e convidado para entrevistas coletivas… que chic né? Aguardem até que os mascarados das tropas de assalto golpista (black-blocks, new-anarquistas, usuários da tal TV-Revolta…) darem as caras, vocês passarão a ser tão importantes como uma barata ou uma muriçoca para essa mídia escrota que temos.

    Em 2013 teve um “saradão” que arrombou a porta da Prefeitura de São Paulo, quantos vocês vão usar para ocupar o prédio todo, num “autêntico” levante revolucionário local filmado e comentado em real-time por esses porcos da grande imprensa?

    Cê né ingênuo meu camarada, o nome disso é oportunismo, e dos brabos!

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