O futuro em risco: A derrota simbólica de 2026 e o perigo da esquerda dividida, por Reynaldo Aragon

O avanço autoritário no país não é apenas uma ameaça interna, mas também um alerta para a estabilidade global

Adriano Machado

Por Reynaldo Aragon

No atual cenário político brasileiro, enfrentamos desafios complexos, marcados pelo fortalecimento de forças autoritárias e o uso de estratégias híbridas que vão além das disputas eleitorais. Uma eventual derrota das forças progressistas não se resume a um revés político, mas acarreta um impacto simbólico profundo, capaz de abalar a identidade histórica da luta por justiça social e comprometer a credibilidade das pautas construídas ao longo dos anos.

Essa realidade ressalta a necessidade de uma união consciente entre os movimentos sociais para garantir a continuidade dos avanços democráticos. Observa-se uma transformação nas correlações de poder, evidenciada pela intensificação da polarização nas estratégias de mobilização e comunicação.

De um lado, há um governo de frente ampla com ethos progressista, empenhado em consolidar conquistas sociais e ampliar a participação popular mesmo diante de um ambiente adverso. Do outro, discursos autoritários se reforçam por meio de uma estratégia que combina críticas às vitórias sociais com propostas que apelam para valores tradicionais e a promessa de segurança imediata.

Essa dinâmica se manifesta na simplificação de problemas complexos, explorando sentimentos de insegurança e a urgência por respostas rápidas a desafios históricos. Tais discursos encontram eco entre aqueles que se sentem ameaçados pelas rápidas mudanças sociais, criando um clima de tensão e polarização tanto nas redes sociais quanto nos debates públicos.

Assim, uma derrota eleitoral das forças progressistas transcende a perda de votos: ela simboliza o enfraquecimento de políticas inclusivas e a desarticulação dos movimentos que lutam por direitos e transformações profundas.

O avanço autoritário no país não é apenas uma ameaça interna, mas também um alerta para a estabilidade global. Quando práticas que restringem liberdades se solidificam, criam-se precedentes que podem limitar a participação cidadã e a pluralidade de ideias, influenciando a agenda internacional e disseminando uma cultura antidemocrática.

Além disso, o papel das big techs na manipulação de informações e na influência sobre a opinião pública contribui significativamente para a polarização e o enfraquecimento das instituições democráticas.

Diante desse panorama, a unidade das forças progressistas é essencial para a defesa da democracia e o fortalecimento das pautas sociais. Superar disputas internas e transformar diferenças em pontos de convergência permite a construção de uma agenda firme e pragmática, alinhada às necessidades reais da população.

Reconectar-se com a base popular e reafirmar a luta anticapitalista de forma concreta são estratégias indispensáveis para resistir ao retrocesso autoritário e preservar as conquistas históricas.

Em síntese, a análise dos desafios atuais evidencia que a derrota eleitoral das forças progressistas vai além de um simples resultado nas urnas, afetando profundamente o simbolismo da luta antissistema. A união em torno de uma agenda clara e objetiva, fundamentada em justiça, igualdade e inclusão, é o caminho para assegurar a continuidade dos avanços sociais e combater o avanço autoritário.

Somente com uma mobilização coesa e consciente será possível garantir um futuro em que a democracia se fortaleça e os direitos sociais sejam plenamente protegidos. Em meio a desafios complexos e ao fortalecimento de forças autoritárias que ameaçam as conquistas históricas, é imperativo que as forças progressistas se unam de forma estratégica e consciente para proteger a identidade da luta por justiça social.

Mesmo diante de críticas legítimas ao governo Lula, compreender o nosso zeitgeist e adotar uma visão leninista dos processos históricos é essencial para transformar divergências internas em um movimento coeso, capaz de frear o avanço do fascismo e consolidar pautas que promovam igualdade, democracia e mudanças estruturais profundas.

Reynaldo Aragon Gonçalves é jornalista, Coordenador Executivo da Rede Conecta de inteligência Artificial e Educação Científica e Midiática, é membro pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC – INCT DSI) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Disputas e Soberania Informacional (INCT DSI).

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2 Comentários

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  1. O maior perigo para a esquerda, e para os sistemas representativos, chamados erroneamente de democracias, é quando a esquerda, a título de integrar frentes amplas, movida pela mito do espantalho fascista, se parece cada vez com a direita.

    Aí o PT, derretendo como picolé ao sol, apesar de ser governo, e de estar a caminho do quarto mandato, mais um pela metade (Dilma).

    Foi isso, por exemplo, que levou a esquerda socialista alemã a ser engolida pela social democracia, em 1930, que preferiu suavizar o embate, para tentar uma unificação anti nazista.

    O resultado sabemos.

    A social democracia afastou a esquerda, e ficou em cima do muro, e assim, deu espaço para a minoria parlamentar nazista conseguisse, mesmo minoritária, fazer o chanceler em 1933 (Hitler).

    Agora, o SPD perdeu espaço, e a esquerda que disputa espaço na pobreza oriental com os neonazistas, foi a legenda partidária que mais cresceu, e pode assim dar um contraponto necessário para reforçar o isolamento neonazista.

    E cresceu sendo a esquerda como ela é.

    Ou seja, essa tese fatalista de ou junta ou perde, já é antes, derrota.

  2. É sempre a mesma coisa: o PT se ajeita com o Centrão e quando se vê na corda bamba vem com papo de União Nacional. É só ver o que sempre fizeram com Ciro Gomes. Abraçam o Lira e exerçam Ciro. E não aprendem: aposto que rejeitaram ou criticaram o Ciro até se os apoiasse. Cansa…

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