Por que não temos uma frente ampla contra Bolsonaro?

A questão que surge para a construção da frente ampla seria como destacar uma figura de autoridade que seria capaz de resolver os problemas sociais

Por Sidnei Rinaldo Priolo Filho

Políticos, pesquisadores e a sociedade contrária ao modelo autoritário de Bolsonaro defendem a formação de uma frente ampla. Esse ideal de luta conjunta de todos aqueles no espectro democrático da sociedade esbarra em diversos problemas, desde a sua estruturação política, até a qual ponto isso conseguiria de fato pôr um freio no autoritarismo vigente. Para além dos aspectos práticos de fazer com que pessoas com visões de mundo tão díspares se aglutinem em um só polo, cabe destacar a postura dos dois maiores líderes da esquerda neste momento: Lula e Ciro Gomes. Para explicar o comportamento desses políticos irei recorrer a uma visão de moralidade baseada nas pesquisas de Jonathan Haidt, psicólogo e professor da New York University. Recomendo fortemente a leitura de seus trabalhos para uma compreensão mais complexa dos fenômenos e discursos políticos que tem afetado a nossa sociedade. As pesquisas de Haidt buscam compreender as características psicológicas da moralidade na vida, na sociedade e na política. Não estou buscando fazer um perfil psicológico de Lula e Ciro, mas sim focar nos discursos, nas mensagens que ambos têm passado para a sociedade e da visão que ambos têm demonstrado com suas falas e discordâncias públicas.

Para Haidt, as decisões e condutas morais são guiadas por cinco aspectos principais: cuidado, justiça, lealdade, autoridade e santidade. Não é meu objetivo aprofundar a discussão sobre cada uma delas, mas sim focar em duas: cuidado e autoridade. A eleição de Lula em 2002 é um marco na escolha da moralidade do cuidado como vencedora do debate com a população. Sua campanha e seus discursos no início do mandato focam no cuidado com os elos mais fracos da sociedade, o sofrimento causado pela fome e a compaixão.  A moralidade da autoridade, por sua vez, relaciona-se com a obediência, o respeito e o seguimento de regras postas de forma hierárquica na sociedade. Políticos capazes de criar e transmitir uma imagem de liderança e respeito às leis (sejam elas escritas ou não) são os que influenciam os indivíduos que valorizam esse aspecto da moralidade. A moralidade da autoridade não deve ser confundida com autoritarismo ou elementos autoritários. Mas sim, compreende as relações humanas que envolvem conhecimentos diferentes e hierarquias sociais distintas, que podem inspirar respeito, obediência ou dominação. Importante destacar que essas visões morais não são imutáveis, pelo contrário, fatores individuais, sociais e culturais impactam fortemente em mudanças nas visões de moralidade ao longo da vida. Experiências e necessidades vigentes também modificam quais aspectos da moralidade serão mais valorizados pelos indivíduos (cuidado ou autoridade, por exemplo) quando confrontados com decisões morais, como a escolha de um candidato em uma eleição.

Vamos agora para as eleições de 2018. O contexto social indicava a necessidade de autoridade forte, mas isso fica mais claro depois do resultado eleitoral. A compaixão, a gratidão e os elementos de cuidado e justiça não foram os mais discutidos durante a campanha do candidato vencedor, mas sim a necessidade de liderança para uma segurança pública mais efetiva e a necessidade de liderança não relacionada ao chamado establishment político. Logo, o candidato que venceu as eleições foi o que apresentou mais características da moralidade da autoridade para realizar as mudanças desejadas pela população naquele momento político. Bolsonaro encampa esse aspecto com decisões e falas simplistas e, quase sempre, incorretas no diagnóstico e resolução dos problemas. O seu famoso bordão “mudar isso que tá aí, talquei?”, na realidade, traduz um sentimento de alguém que seria capaz de alterar a realidade de desemprego e insegurança através de sua autoridade, alguém que dominaria os desmandos e submeteria os políticos, considerados nocivos, à ordem e progresso. Os aspectos principais desse discurso são o respeito e a obediência e são traduzidos em linguagem simples por Bolsonaro. Essa mudança da solidariedade para a autoridade não é automática nem ocorre em saltos. Ela foi criada e alimentada, em parte, pela Lava-Jato, mas também pelos meios de comunicação. As necessidades sociais que emergem da crise de 2014-2016, em especial, emprego, renda e combate à corrupção, bem como a conjunção da Lava-Jato/mídia tornam esse aspecto moral fundamental nas eleições. Ora, quem irá resolver os nossos problemas não podem ser os políticos da compaixão, mas sim uma figura de autoridade, tal qual os elementos apontados como solucionadores pela mídia e pela Lava-Jato.

No ano de 2019-2020, a discussão diária sobre a necessidade de uma frente ampla que consiga barrar o autoritarismo de Bolsonaro ganha novos contornos. Dois políticos da esquerda disputam a hegemonia e liderança na área. A solidariedade e o cuidado estão em segundo plano, com uma pauta prioritária de segurança pública e emprego. A direita, compreendendo e tendo raízes mais ligadas a essas questões (mesmo que equivocada nas soluções), consegue apontar a importância da autoridade para o resgate da segurança e da renda. Interessante observar como no campo da direita vários candidatos apresentam o mesmo tom nos discursos e a efetividade do mesmo em arrastar boa parte do eleitorado. Esses políticos estão respondendo a uma demanda legítima da sociedade para sua resolução de problemas, porém, com quase todas as soluções erradas. A questão que surge para a construção da frente ampla seria como destacar uma figura de autoridade que seria capaz de resolver os problemas sociais. Para isso, precisaria modificar seu discurso com ênfase no cuidado, solidariedade e respeito, focando na resolução dos problemas de segurança e do emprego mostrando ter autoridade para resolver essas questões. Interessante notar que o importante é passar a impressão de resolução, não necessariamente comunicar as ideias de forma complexa. Caso você duvide desse ponto, indique-me três ideias complexas que Bolsonaro apresentou na sua vida política!

Vamos analisar primeiro o discurso de Ciro Gomes. É possível verificar por diversas vezes essa tentativa de criar uma figura de autoridade. Frases como “eu estudei isso”, “eu sei fazer” são costumeiras do candidato do PDT. O primeiro ponto que podemos destacar de seu discurso é que Ciro busca aprofundar aspectos cognitivos nas análises de resolução de problemas da sociedade. Ou seja, utiliza-se muito de reasoning (análises multifatoriais de situações complexas) e parte da audiência perde o interesse nessa elucubração. Com um eleitorado focado em soluções de problemas e aceitando autoridades, o foco está em discursos que tenham uma temática mais simples e direta como “isso aí é fácil, é só vontade política” ou “é acabar com os marajás/mamata”. Alguém viu esses discursos de solução fácil serem acatados pela sociedade em eleições? O segundo ponto problemático na figura de autoridade moral de Ciro é que ela não gera somente respeito, aspecto fundamental da autoridade, mas também desgosto quando esse realiza suas críticas. Quando Ciro ataca parceiros próximos ideologicamente causa repulsa, violando a sua autoridade e a lealdade para com os pares. Inúmeros exemplos podem ser dados desse aspecto: críticas ao PT, Lula, às pautas identitárias. Esse discurso afeta a sua convergência com o eleitorado de esquerda prejudicando que a sua autoridade emerja e seja reconhecida como fundamental. Nesse aspecto, Ciro como inimigo de si mesmo, como seus adversários políticos gostam de declarar, é uma verdade. Seus discursos afetam a sua autoridade e o respeito que pares poderiam ter, impactando negativamente sua liderança política.

Lula, por sua vez, parece construir seus discursos em um feeling da sociedade. Ao mesmo tempo, disputa esse espaço da liderança dos não autoritários, ou dos anti-Bolsonaro, ao tentar se mostrar como a autoridade capaz de inspirar obediência e respeito de diversos setores. Um exemplo é a não assinatura dos diversos manifestos pela democracia que estão ocorrendo, mesmo após figuras importantes do PT, como Fernando Haddad, terem assinado. Isso é uma tentativa de sinalizar para a população a sua figura de autoridade que seria capaz de entender os problemas e propor soluções para liderar a frente contra o autoritarismo. Obviamente, o discurso anti-esquerda e anti-PT fortalecido pela Lava-Jato e a mídia enfraqueceu muito essa posição de autoridade de Lula e do PT. Considerando esse ponto, TALVEZ (um grande TALVEZ) fosse melhor uma candidatura sem a marca PT em locais em que a moralidade da autoridade ainda se apresenta muito forte! Ao mesmo tempo, Lula entende a grande oportunidade que se abre para o partido de demonstrar para a população a sua autoridade em resolver os problemas de renda e emprego. Como o PT e Lula irão reconstruir parte dessa autoridade com o eleitorado dependerá de movimentos políticos futuros. Outros eventos, como as manifestações contra o racismo, por exemplo, podem mudar o balanço moral da sociedade de volta para o cuidado e a justiça. Isso explica o medo de Bolsonaro dessas manifestações, pois seu discurso de obediência e dominação pode começar a não ter mais o efeito desejado para com a população.

A história é escrita todos os dias e como Lula e Ciro irão construir a sua versão de autoridade ainda está por ser escrito. Contudo, caso a esquerda queira de fato estabelecer uma frente ampla vislumbro duas possibilidades. A primeira seria estabelecer uma figura de autoridade política que seja capaz de congregar os diferentes interesses do campo da esquerda e dos defensores da democracia. A segunda seria uma transformação da matriz moral devido a mudança sociais (por exemplo, desemprego em massa, diminuição da renda, fome). A bússola moral da sociedade sairia de onde Bolsonaro ainda dispõe de prestígio com parte da população (autoridade) para os campos onde o discurso da esquerda tem mais possibilidades de convencimento (cuidado e justiça). Aguardemos os próximos movimentos desse xadrez político.

 

Autor é doutor em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Forense da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).

 

Redação

14 Comentários

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  1. Wilson Gomes – 4 de junho às 12:05 ·

    Não é uma aliança para disputar eleições, criar um partido ou governar, é uma frente para conter o fascismo que se avizinha a galope. Antes de tudo, é preciso tirar o joelho do bolsonarismo do pescoço da democracia. Até para continuar divergindo, é preciso primeiro respirar.

    ***
    Wilson Gomes é professor de Teoria da Comunicação na Universidade Federal da Bahia, pesquisador e orientador no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da mesma universidade.
    Mestre e Doutor em Filosofia (Universitas a Scte. Thomae, Roma) e graduado em Teologia (Universitas Gregoriana, Roma). Doutorou-se em 1988 com uma tese sobre a idéia de construção da realidade no Idealismo Alemão, na Fenomenologia e na Hermenêutica. Em 1998, realizou estágio pós-doutoral em Cinema na Universidade de São Paulo.
    Desde 1989 ensina, pesquisa e orienta na área de Comunicação, nas especialidades de comunicação e política e democracia digital. É autor de Transformações da política na era da comunicação de massa (S. Paulo: Paulus, 2004 e 2008), de Jornalismo, fatos e interesses (Florianópolis: Insular, 2009) e co-autor, com Rousiley Maia, de Comunicação & democracia: problemas e perspectivas (S. Paulo: Paulus, 2008).

  2. E por que não uma frente ampla que tenha como objetivo combater sim o fascismo e mandar os cafajestes que atualmente desgovernam tudo à p.q.p….mas que eleja, mais à frente uma chapa com Requião e algum petista, não necessariamente nessa ordem. Pois consta que Lula não é mais candidato, conforme palavras dele próprio e da justiça eleitoral cafajeste deste país. Se vier a ser, tem meu voto já.

  3. Pq Bozo não foi eleito. foi colocado no governo por STF,MPF e TSE. Ou seja, ninguém tá nem aí pra esse governo sustentado por milícias armadas. O midiciário que se vire com essa farsa qur criou. Estão acabando com o país mas ñ querem assumir a fraude que montaram, então estão presos numa arapuca nazi-fascista que está matando milhares de brasileiros, todos os dias. Bolsonaro é o MENOR problema do Brasil. O maior são as instituições que fraudaram o processo apoiadas em milícias e uma emissora de TV à serviço dos EEUU. Bozo tá que nem moleque, sem noçãoo barbarizando,MAS, só está matando milhares de pessoas pq STF, TSE,MPF estão recebendo, uma fortuna, todos os meses e não estão trabalhando. O MENOR problema do Brasil, é o semovente que responde pelo nome de Bolsonaro.

  4. Porque não temos uma frente ampla contra bolsonaro?
    Porque a esquerda tem um sabotador chamado ciro gomes que, aliás, nunca foi de esquerda originalmente, que estraçalha toda tentativa dos verdadeiros progressistas de se unirem e tirarem este crápula da presidência. Simples assim.

  5. Porque o Lula deveria se unir, se misturar, se juntar a uma parte dos seus carrascos a fim de derrotar a outra parte dos seus carrascos?

    Ora, os inimigos dos meus inimigos não são necessariamente meus amigos. Então deixa os carrascos do Lula se matarem entre si. Quando um tiver assassinado o outro, os Anti-capitalistas entrarão em cena para derrotar os vitoriosos. Assim, os Inimigos vitoriosos do Lula tiveram apenas uma vitória de Pirro sobre os outros inimigos do Lula

  6. Bezerra da Silva diria sem muita teoria :
    “E malandro é malandro
    Mané é mané”

    Todos a favor de uma união desde que sejam eles o unificador …
    Com o “bigode” foi assim , uma monte de “espertos” o ajudou…
    Torço para que apareçam otários pois os espertos não estão ajudando.

  7. Não temos e nem teremos uma frente ampla porque ainda estamos sob a vigência do golpe de 2016, e o golpe quer apenas trocar a figura incomoda que o conduz para uma mais palatável mas igualmente golpista, quem é verdadeiramente de esquerda e considera Bolsonaro o único inimigo comum a ser derrubado ainda não internalizou toda a extensão do golpe que o país sofreu. A “frente” burguesa que se formou não quer a volta da democracia que destruiu, quer apenas um condutor do golpe que possa chamar de seu. Se manifestar para derrubar o ogro? Com certeza, se misturar com camisas verde amarelas que apenas querem um Bolsonaro domesticado? Jamais.

  8. O Ciro desistiu de captar os votos petistas, simplesmente porque nunca os terá, e isso independe das críticas que faz. O PT luta até o fim por manter-se líder inconteste da esquerda e é brutal nesse jogo, com foi em 2018. Curioso que a burocracia petista adora esses ataques e os destaca desproporcionalmente. Veja-se a entrevista ao Mino Carta, destacaram tudo o de ruim que disse o Ciro sobre Lula e PT, mas em nenhum momento disseram sobre os momentos elogiosos que também fez, sobre as boas referências positivas a quadros do PT, etc. Essa dinâmica do exalta o ruim é esconde o bom vem desde 2018 e, verdade seja dita, tem tornado as referências elogiosas cada vez menores. Ciro carrega o estigma de ter sido aliado de primeira hora por anos e anos, de ainda o ser regionalmente, mas recebeu em troca uma cusparada. Tem que se livrar desse rótulo para alcançar o eleitor de centro.

  9. Essa minha ideia resolveria o problema da ausência de um líder, do condontiere, do “populista”, do personalismo.

    A Crítica À Crítica Acrítica.
    Pausa na treta
    Por Edivaldo Dias de Oliveira

    Governança colegiada.
    fadiga mecânica
    É o fenômeno de ruptura progressiva de materiais sujeitos a ciclos repetidos de tensão ou deformação. O estudo do fenômeno é de importância para o projeto de máquinas e estruturas, uma vez que a grande maioria das falhas em serviço são causadas pelo processo de fadiga, cerca de 95%.

    Em todo o mundo com pouquíssimas exceções como Cuba, China e Coreia do Norte onde há um sistema de partido único, – o que é uma contradição, pois se é único não pode ser partido e se é partido não pode ser único – nos demais países vigora um sistema de governança em que partidos políticos distintos disputam a preferencia do eleitorado, com programas de governos que pouco ou nada diferem um do outro e mesmos quando a diferença programática é acentuada, após a vitória, a implantação do programa pouco difere do programa perdedor como aconteceu na Grécia de Tsiripas, na França de Hollande e no Brasil do último governo Dilma, só para ficar nos mais recentes e conhecidos.
    No meu entendimento, isso acaba por gerar na sociedade, em relação a prática política uma sensação enfadonha de mais do mesmo, em que o perdedor vai para uma oposição aguada e minguada, quando não inconsequente e irresponsável, enquanto o vencedor vai tocando o governo de forma modorrenta, confirmando o velho adágio do autor de O gato Pardo, Tomasi di Lampedusa que diz que “Tudo muda para nada sair do lugar”.
    Assim, a medida que o tempo vai passando nesse rame rame, a sociedade vai perdendo a confiança nos governos e também nas oposições, independente de sua coloração político ideológica.
    Será que uma grande parte dessa frustração generalizada a todo e qualquer tipo de governança que vem ocorrendo em todo mundo, não está relacionada com a fadiga de material? Com o sistema de alternância de poder que em nada ou quase nada altera as condições de vida dessa sociedade? Me refiro ao sistema Governo/situação X Oposição que aos olhos do povo aparece muito mais como uma disputa de posições, de egos e personalismos que em nada altera a vida desse povo, ou quando altera no mais das vezes é muito pouco ou fica pior do que antes.
    Refletindo a partir do ponto de vista acima colocado, pensei em alterar esse sistema de governança, colocando todos os partidos que atingirem um percentual mínimo de votos a tomarem parte do governo de acordo com os votos conquistados.
    Depois da ideia surgida, fui buscar algumas referencias para me certificar de que tinha encontrado algo realmente novo. Me lembrei a principio da gestão de alguns sindicatos em que os cargos são meras formalidades, nos congressos de partidos como o PT e centrais sindicais como a CUT onde as direções são divididas de acordo com a representação de cada tendência interna. Também a presidência da União Europeia e do Mercosul são ocupadas alternadamente pelos presidentes dos países membros. Bem, já é alguma referencia, embora não tenha encontrado em minhas buscas nenhum país, estado/província ou município que tenha adotado este tipo de governança.
    Lembrei-me de dois pequenos livros, no tamanho, de Norberto Bobbio que li há décadas, que talvez pudesse me auxiliar na montagem da proposta; são eles Democracia e Liberalismo e A Teoria sobre as Formas de Governo, que recomendo muito, até para se fazer uma crítica mais fundamentada a minha proposta, pois especialmente no segundo, há uma breve análise sobre diferentes formas de governo desde Platão até Marx, sendo o que há de comum em quase todos, exceção a Hobbes e outro, é a importância da partição do poder, que ele denomina de governo misto e que foi definitivamente estabelecido até os dias de hoje por Montesquieu em “O espírito da Leis”.
    Importante afirmar, embora obvio, que num sistema como o proposto abaixo, já teríamos nos livrado do verme que foi eleito em nosso país com o apoio de todos os setores e o respaldo militante das Forças Armadas. Mesmo que seu sucessor fosse do mesmo campo, acredito que estaríamos agora lutando somente contra o vírus que assola o mundo.
    Sem mais delongas, vamos a descrição minuciosa da minha proposta.
    Como isso se daria?
    1 – Acaba se definitivamente com eleições para cargo majoritário em todos os níveis, pondo fim a desgraça da idolatria e do culto a personalidade que muitas vezes desembocam em autoritarismos das mais diversas formas. Isso não significa o fim do Poder Executivo, mas uma forma mais avançada de governança.
    2 – Cada partido faria a indicação ao poder executivo de acordo com a porcentagem de votos obtidos, sendo que o programa de governo a ser executado seria o do partido vencedor. Aquele que obteve o maior número de votos, que por isso faria a escolha dos ministérios a ser por ele ocupados na proporção dos votos obtidos.
    3 – Em eleições nacionais, cada partido poderá indicar até 3 nomes para captar votos nacionalmente para Deputado Federal, visando a aumentar a bancada legislativa e assim conquistar maior representação no governo colegiado. Isso não implica que esses nomes farão obrigatoriamente parte do Colégio, pois a indicação caberá ao partido e é do partido o cargo a ser ocupado.
    4 – De outra parte, é justo que cada eleitor possa escolher até 3 nomes para compor o legislativo federal no seu estado, impondo-lhe a obrigatoriedade de que pelo menos um ou dois desses nomes sejam do seu estado.
    5 – O partido vencedor indicaria o primeiro presidente do Governo Colegiado e também seria o primeiro a escolher os ministérios a que teria direito proporcionalmente, ficando o segundo colocado com as indicações subsequentes e assim sucessivamente até que todos os partidos classificados completem todas as pastas.
    6 – O mandato do Governo Colegiado duraria o tempo suficiente para contemplar todos os partidos que atingiram o percentual de votos que os credenciem a compor o Governo Colegiado, que a meu ver deve ser entre 7 e 9 nomes, que até chegar a sua vez de assumir a presidência do colégio poderá ocupar um ministério.
    7 – O mandatário de turno, chamado Presidente, Governador ou Prefeito ficaria no cargo pelo tempo suficiente para contemplar a todos os indicados e indicaria já de inicio o seu SUCESSOR, que assim seria chamado cumprindo todo o papel de vice, este por sua vez ao assumir a presidência do colégio também já indicaria o sucessor, que não poderia ser ninguém que já tenha ocupado o cargo, contemplando assim todos os que fazem parte do Governo Colegiado. Importante reafirmar a proibição de se nomear parentes para o colégio, bem como todo o ministério e outros cargos de que trata a lei vigente, mesmo que tenha sido eleito para as casas legislativas.
    8 – Em um mandato de 4 anos por exemplo, como ocorre no Brasil, haveria 8 ocupantes da chefia do executivo, mas também em um sistema assim se poderia pensar em ampliar esse tempo para um período maior. Só como referencia, na França o mandato de presidente é de 7 anos com direito a reeleição, o que totaliza 14 anos. Não se tem conhecimento de qualquer crítica a política francesa diretamente relacionada a duração do mandato. Com um mandato de duração maior se poderia aumentar o tempo de cada ocupante a frente do Colégio.
    Em um mandato maior de cinco anos se poderia pensar num recall na metade do mandato, através de um referendo em que, se o colegiado perder se procederia a novas eleições legislativas num prazo de 90/120 dias.
    9 – Para que a presidência do Governo Colegiado não passe por todo o ministério, deve-se constituir uma espécie de Executiva do Governo Colegiado, que contemple uma proporcionalidade maior dos votos obtidos. Assim, embora todos os partidos que tenham atingido determinado número de votos tenham direito a uma pasta ministerial, somente aqueles que atingiram os maiores índices terão direito ao revezamento na Executiva do Governo Colegiado.
    10 – O presidente em exercício do mandato terá o mesmo poder de um mandato presidencial convencional, tendo a executiva o papel de conselheiros e executores das diretrizes de governo, reunindo ordinariamente uma vez por semana ou extraordinariamente, a critério do presidente.
    11 – O presidente nomeado não é obrigado a indicar o sucessor de seu próprio partido. Assim, dependendo da quantidade de cadeiras obtidas no colegiado, pode achar conveniente nomear alguém de partido com quem tenha afinidade político/ideológica, deixando colegas de partido para o meio ou para fazer o fechamento do mandato, onde poderá fazer os ajustes que outros ocupantes não fizeram ou desfizeram durante seus mandatos. Por outro lado, o sucessor indicado poderá uma única vez abrir mão dessa indicação. Durante o turno de governo nenhum sucessor poderá ser demitido ou renunciar ao cargo se não por motivo de força maior ou em consequência de algum delito grave que obrigue a sua substituição ou por decisão do partido ao qual pertença, que como já foi dito, é o dono do mandato e também do cargo na executiva.
    A vantagem de um sistema como esse é que de cara acabaria com o personalismo inerente a esse tipo de cargo, em que a principal preocupação do ocupante é inscrever seu nome na história do lugar e ou galgar um posto maior se ele já não está no topo. Também, ao nomear o seu sucessor assim que é nomeado, evita a conspiração que envolve quase todos os vices, dando tranquilidade e serenidade a todos que compõem o Executivo, pois sabem que a sua vez de assumir o posto irá chegar antes que o mandato daquela governança termine.

    Do Poder Legislativo.
    É aqui na verdade que está o cérebro de todo o sistema proposto, pois nas disputas eleitorais não existem mais eleições para a chefia do executivo, toda a disputa se dá para os cargos do poder legislativo e são os partidos vencedores quem vai indicar quais nomes irão ocupar a chefia do executivo em nome do partido, que em última instância é o titular do posto.
    Um candidato determinado poderá em nome do partido a que pertence dizer que ele será um dos escolhidos para ocupar uma vaga no poder executivo para o mandato, após o qual ele ficará em um ministério ou volta ao cargo para o qual foi eleito.
    Só poderá ser indicado para compor a Executiva da Governança Colegiada em quaisquer de suas pastas quem foi eleito para o parlamento. Aparentemente, parece uma espécie de parlamentarismo mais avançado, mas é só aparência. Na verdade a proposta suplanta o parlamentarismo, pois inclusive pode ser aplicada ao mesmo sem que aja qualquer mudança, ou seja, também no parlamentarismo se pode adotar a Governança Colegiada.
    Ao final da apuração dos votos e definido os partidos que comporão o Colégio do executivo, qualquer partido pode se recusar a compor o Colégio arcando com as seguintes consequências:
    Proposta extremada; O partido que, contemplado com os votos, se recusar a compor o Governo Colegiado perde todos os votos e os parlamentares eleitos, dividindo as cadeiras remanescentes entre todos os demais partidos proporcionalmente. Esse partido não deixa de existir, mas perde acesso a todos os benefícios que os outros partidos possuam durante a vigência do mandato.
    Proposta radical; O partido que se recusar a compor o Governo Colegiado não perde as cadeiras conquistadas e nenhum beneficio, mas seus parlamentares não comporão nenhuma comissão nem assumirá cargos de direção na casa legislativa bem como não terão direito a voto, nem ser autores de quaisquer espécies de leis que alterem a constituição.
    Proposta moderada; O partido que se recusar a compor o Governo Colegiado não perde as cadeiras conquistadas e nenhum beneficio, mas seus parlamentares não comporão nenhuma comissão nem assumirá cargos de direção na casa legislativa. Seus parlamentares terão direito a voto, menos em votações qualificadas, quando também não podem ser autores de quaisquer espécies de leis que alterem a constituição.
    Nos dois casos acima os votos e a presença dos deputados não serão computados para efeito de votação qualificada.

    Do Poder Judiciário e afins.
    Assim que a eleição for apurada e o Governo Colegiado constituído, todos o cargos ocupados em órgão colegiados como Tribunais Superiores, TCs, Procuradorias, Advocacias e afins terão seus cargos colocados a disposição da Governança Colegiada, que os repartirão de acordo com os votos obtidos por cada partido, reconduzindo ou não esses membros a seus postos.
    As nomeações obedecerão aos mesmos critérios de composição da Executiva do Governo Colegiado.
    Feitas as nomeações, os membros desses órgãos cumprirão seus mandatos até o final da Governança Colegiada, só podendo ser substituídos em caso de livre escolha, aposentadoria ou morte, ficando o partido que os nomeou responsável pelas novas indicações até o final da Governança Colegiada.
    Das Forças Armadas.
    Aqui se aplica os mesmos critérios adotados para composição do Poder Judiciário, onde todo o comando dessas forças colocarão seus cargos disposição do Colégio que os reconduzirá ou não aos seus postos.
    O conjunto de propostas aqui apresentadas não precisa necessariamente ser implantas de alto a baixo da administração, podendo sua implantação começar pela base, nos Municípios, depois nos Estados para depois chegar ao plano federal, depois de passar pelos ajustes que se julgarem necessários através da pratica administrativa. Isso permitirá a todos os entes federativos a melhor maneira de se adaptar as novas formas de governança.

  10. Como se juntar a um elemento que ante a possibilidade única de integrar uma frente capaz de evitar que se instalasse um governo de caos no seu país, simplesmente pega a mala e vai passear no exterior?
    Assim fez Ciro, e fará de novo sempre que falhar em seu projeto pessoal de poder.

  11. Por que não temos uma frente ampla contra Bolsonaro?
    Porque além de tudo que já vem sendo denunciado, mostrado, investigado e comprovado, também foi preciso a tragédia da pandemia para, mais uma vez, ratificar o que todos já sabem, o que muitos fingem não saber, o que quase todos evitam combater e o que se confirma e se reafirma ser mais potente que a tragédia da pandemia. Uma força epidêmica praticamente autoimune, que se alimenta de interesses seletivos, delinquentes, corruptos, abusivos e abomináveis. Uma força que ganha corpo sem parar e cresce assustadoramente. Uma força chamada Política Suja, Rasteira, Mercenária, Trapaceira, Traiçoeira e Intimidatória.

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