Quanto vale a delação de Palocci? Por Ricardo Amaral

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Quanto vale a delação de Palocci? Nada

Por Ricardo Amaral

O depoimento de Antonio Palocci ao juiz Sergio Moro, tão festejado pela Globo, tem o mesmo valor jurídico da delação recentemente desmoralizada de Delcídio do Amaral: rigorosamente nenhum. Serve, como serviu o ex-senador, para dar verossimilhança à ficção contra Lula que a TV dirige e a Lava Jato encena. São atores que valem mais pelo currículo passado que pelas falas de hoje. Ícones de uma farsa.

Palocci está preso ilegalmente há quase um ano, condenado a 12 anos de prisão. Está sob controle de Sergio Moro e seus carcereiros. Assim como outros réus, desistiu de se defender e passou a acusar Lula, orientado pelos advogados de porta de cadeia que Moro arregimenta a peso de ouro em Curitiba. Com garantia de benefícios, orientam o cliente a mentir para preencher as lacunas das denúncias porcas do MPF.

Foi o caso de Leo Pinheiro, da OAS, que mudou seu depoimento original às vésperas do interrogatório de Lula, em maio, no caso do Guarujá. A história se repete uma semana antes de Lula ser ouvido em outra ação sem fundamento, sobre um imóvel que ele nunca recebeu. Assim como Pinheiro, Palocci (que também depôs sem jurar a verdade) deu um depoimento cênico, para a plateia, não para a Justiça.

As mentiras, contradições e armações de Palocci não sobrevivem aos fatos:

1)      A Odebrecht não colocou R$ 300 milhões à disposição de Lula após seu mandato presidencial. Nenhum dos 77 delatores do grupo disse isso. O valor foi citado por Marcelo Odebrecht, referindo-se a R$ 200 milhões doados para as campanhas municipais de 2008 e R$ 100 milhões para a presidencial de 2010. Até a Globo (certamente por descuido) evidenciou isso no Jornal Nacional.

2)      Lula não autorizou nem foi informado sobre a suposta movimentação daquela ou de qualquer outra soma. O pai de Marcelo, Emílio Odebrecht, em delação premiada, confirmou a declaração do filho sobre doações eleitorais, mas destacou que nunca conversou sobre valores com o ex-presidente.

3)      Lula não pediu nem recebeu “pacote de propinas” da Odebrecht no final de seu governo, que incluiria um prédio para o Instituto Lula. Marcelo Odebrecht afirmou que o imóvel foi comprado pela empresa DAG, mas nem ele nem o pai nem qualquer dos outros 75 delatores da empresa disse que o imóvel seria doado ao Instituto. Marcelo e Demerval Gusmão, dono da DAG, afirmaram que, se o terreno viesse a ser usado pelo Instituto Lula, seria alugado ou comprado por um grupo de empresas.

4)      A denúncia do MPF contra Lula sobre este imóvel não procede nem deveria estar sob a jurisdição de Sérgio Moro. Marcelo Odebrecht afirmou em sua delação que aquisição do imóvel não teve qualquer relação com os contratos da Odebrecht com a Petrobrás, que é o foco das investigações da Lava Jato.

5)      Não foi Palocci quem convenceu Lula e os diretores do Instituto a recusar o terreno, numa suposta reunião em fins de 2011. O imóvel foi descartado pelo próprio Lula, por ser inadequado, após uma visita de avaliação em julho daquele ano. Em fins de 2011, Lula estava sob intensa quimioterapia para tratamento de câncer, afastado de qualquer atividade.

6)      A Odebrecht não pagou propina de R$ 4 milhões ao Instituto Lula. As doações de diversas empresas e pessoas físicas ao Instituto, inclusive a Odebrecht, foram registradas, contabilizadas e informadas à Receita Federal, dentro da lei. Ninguém, exceto Antonio Palocci, jamais se referiu a essas doações como suposta e inexistente “propina”, expressão que passou a ser utilizada por delatores premiados e procuradores levianos para criminalizar qualquer movimentação financeira envolvendo seu alvos políticos.

7)      As palestras de Lula, mais de 70 para mais de 40 empresas e entidades empresariais do Brasil e do exterior, entre 2011 e 2015, foram registradas, contabilizadas e informadas ao Imposto de Renda. Nenhum delator ou testemunha referiu-se a elas como suposta e inexistente “propina”.

8)      Quem fez um pacto de sangue com a Lava Jato foi Antônio Palocci. A expressão que ele usou para causar impacto e fazer manchetes estava escrita em um papel que o ex-ministro consultava ao longo do depoimento, diante das pessoas presentes à audiência.

Antônio Palocci candidata-se a ser mais um entre 158 que fizeram acordos de delação com a Força Tarefa, quase todos presos ilegalmente ou seus familiares. Ao contrário de comprovar eficiência, como alardeiam o juiz, os procuradores e a Globo, esse número escandaloso expõe a fragilidade das acusações e a incompetência dos investigadores, que recorrem à chantagem (por que não dizer tortura?) para arrancar delações onde escasseiam as provas, contra Lula e contra o PT.

Há quem faça seu “pacto de sangue” com sofreguidão, poupando anos de mais que merecida cadeia e salvando milhões no estrangeiro. Há espertalhões, como Sérgio Machado, e canastrões, como Delcídio do Amaral. Antônio Palocci mostrou-se frio como sempre e cínico como nunca se esperava.

Ainda vamos saber quanto vale a delação de Palocci; quanto tempo será abatido de seus 12 anos de pena para perambular com a própria consciência como um personagem de Dostoievski. O preço já está sendo cobrado, pelos muitos que o estão julgando, alguns até com benevolência, pela dignidade que jamais vai recuperar.

Mas não podemos perder o foco da indignação: o mal da Lava Jato não está nos delatores, sejam eles cínicos, oportunistas ou desesperados. O mal está em uma exceção aberta no sistema judicial brasileiro, com o patrocínio da Globo e a conivência dos tribunais superiores, que suspende o estado direito para perpetrar a caçada contra Lula e o campo político que ele representa. O preço é a revogação da soberania nacional e de tudo o que o povo brasileiro conquistou desde 2003. 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

17 Comentários

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  1. O artigo é suspeito

    como qq artigo sobre o tema num blog claramente lulista petista(partido centro-esquerda,social-democrata).Não dá pra ler.Eu não gosto de frases soltas(exceto pra impressionar ou q podem nos levar à reflexão,nos tirar da zona de conforto,de verdades absolutas).Nunca li Gramsci (mal li e esqueço),mas é famosa a frase dele “A verdade é revolucionária”. Aí, pergunto,cadê os revolucionários ou afins?Se Palocci fala a verdade,ele não trai o povo,ele não trai a gente,ele não trai o q entendo que deva ser a Esquerda (pouco importam suas motivações individuais). Um “projeto” de se perpetuar no poder,na mais clara concilização, dando alguma coisa aos miseráveis,só empurra a Mudançapra longe. Um golpe pode ser também um processo a longo prazo.

    1. Vamos ver se entendi: não deu

      Vamos ver se entendi: não deu para vc ler o artigo; Gramsci  vc também nunca leu ou o que leu, esqueceu – mas mesmo assim se sente qualificado a opinar sobre ambos porque, no seu modo de ver, o blog é “claramente lulista petista”. É isso? Os argumentos não interessam? A propósito, se tivesse lido o artigo, saberia que não existe nele hipótese de o Palocci ter dito a verdade. Portanto, se revolução houver a partir dessa delação, não será por conta de Gramsci ou do que Palocci contou. Até porque é uma delação feita ao molde da  inquisição espanhola, em que o delator pode ficar indeterminadamente preso até que decida dizer o que dele o sistema espera que diga. Já quanto ao assunto aleatório que vc coloca sobre se “perpetuar no poder”, gostaria que mostrasse a diferença, seja aqui no Brasil ou em outros países – situações em que o governo em fim de mandato não luta pela reeleição, nem apóia candidato do mesmo partido. Algo assim como o Obama apoiando Trump para evitar que outro democrata suba ao poder uma vez mais.

  2. Traidores
    Só não pode comparar Palocci com Silvério dos Reis(como fez um colaborador do blog). Se assim for fica implícito a veracidade da delação do ex-poderoso petista.

  3. O preço de Pallocci
    É muito triste ver até onde chega a ação nefasta da rede globo aliada do juiz Sergio Moro: transformaram um homem de baixa fibra moral, mas de passado honrado, num verme rastejante.

  4. Que está havendo uma
    Que está havendo uma perseguição ao Lula, concordo deveria agir assim com políticos de outros partidos que são iguais ao Lula, ou seja desonestos. Mas você falar que as palestras do Lula foram todas corretas, a palestra do Lula é mais cara que a do Bill Gates e do cara do Facebook que não lembro o nome, e o que explica os filhos do Lula ter ficado todos bilhonarios da noite para o dia.
    Você está igual a eles, sendo parcial e isso não pode acontecer com jornalistas

    1. Delação do Palloci
      E vc Raimundo tá sendo tão imparcial que diz absurdos como estes. De que conto de fadas imparcial vc tirou essa de que os filhos do Lula estão Bilionários? Vc eh folclórico. As palestras do Lula poderiam ser muito caras, até as mais caras do mundo porque o Lula era o político mais importante do mundo na época. Simples assim. Se o Bill Clinton podia cobrar 200 mil dólares por palestra, por que o Lula, o mais importante político do mundo não podia cobrar 200 mil tb?

    2. Qual a relação entre preço de palestra e correção de palestra?

      Se as palestras do Lula são mais caras do que as palestras do Bill Gates, porque o Lula não tem nem um milésimo da fortuna pessoal do Bill Gates?

      Você acha que um veículo Ferrarri não é correto apenas por ser mais caro do que um chevete?

      Qual é a relação que existe entre carestia de um produto ou serviço e correção desse produto ou serviço?

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