Uma solução definitiva para reverter a política dos juros altos

Por José Carlos de Assis

A diretoria do Banco Central presidida por Tombini estabeleceu, por unanimidade, mais um aumento da taxa básica de juros. O lado sórdido dessa decisão é a unanimidade. Não existe nesse colegiado sequer uma voz discordante. Seus membros se apoiam uns nos outros em busca de impunidade para um dos casos mais asquerosos de crime continuado na história da República, reflexo da ação criminosa que os discípulos de Milton Friedman realizaram no Chile depois do assassinato de Allende, sob a segurança implacável do ditador Pinochet.

Sim, essa Diretoria do Banco Central tem as mãos sujas de sangue. Não o sangue físico que escorreu das vítimas de Pinochet, mas do sangue que lentamente escorre das veias de brasileiros abertas por uma política monetária estúpida, que combina um principismo técnico tosco com o poder absoluto, ditatorial, conduzido por um bando de burocratas não eleitos e que não obstante tem a prerrogativa de ajudar a provocar no Brasil a maior recessão de todos os tempos, caso esses degenerados não sejam bloqueados.

Creio que devo ter escrito mais de 100 artigos sobre a política monetária adotada no Brasil desde a ditadura, e com mais vigor a partir do domínio neoliberal. O argumento é o mesmo, os dados são similares, o ritmo das decisões igual – exceto no breve período inicial do Governo Dilma. Basta. Cansei de repetir a mesma sinfonia. Observem na chamada imprensa especializada e verão que nada muda. As justificativas são as mesmas – combater a inflação. E não obstante a inflação não sai do lugar e, se sai, sai por outros motivos que não os juros.

A teoria monetária na qual acreditam dogmaticamente esses cavaleiros do Apocalipse é um embuste, um ato de supremo charlatanismo em situações fora do pleno emprego. Essa teoria só pegou fora dos Estados Unidos, tendo em vista o balanço de forças internas na alta burguesia. Aqui, sua efetividade está ligada à política cambial, não à política monetária propriamente, na medida em que juros altos atraem capital especulativo para ajudar a fechar o balanço de pagamentos tendo em vista os altos déficits em conta corrente que temos.

Se tivéssemos uma política antiinflacionária eficaz – eliminação da indexação, estímulo à competitividade, estoques reguladores etc – cairia a máscara da política monetária, que já não poderia ter o pretexto do combate à inflação para aumentar os juros. Em consequência, estamos presos a uma política cambial-monetária e fiscal que elimina qualquer possibilidade de autonomia na gestão da política econômica. A sociedade inteira trabalha para os banqueiros, dentre os quais se destacam os que foram “privatizados” nos últimos anos.

Quando o queridíssimo amigo, o Vice Presidente José Alencar assumiu cumulativamente o Ministério da Defesa, eu, que era uma espécie de seu assessor informal em economia, comentei com ele: “Aproveite a oportunidade, Alencar, e resolve essa questão dos juros de uma vez por todas. Mande uma divisão de tanques cercar aquele prédio do Banco Central no Setor Bancário, dê uma ordem para a evacuação de todos os andares – exceto o da diretoria – e dê ordem para abrir fogo. Garanto que a sociedade vai amanhecer aliviada.”

*Economista, professor, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre Economia Política Brasileira.  

Redação

29 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Enquanto mantiverem essa

    Enquanto mantiverem essa bazófia de deixarem meia duzia de desconhecidos do povo, não eleitos, decidirem numa canetada, mensalmente, que a união deverá desembolsar mais alguns bilhões transferindo essa bolada para meia duzia de gatos gordos, inclusive, utilizando para essa decisão uma “estudo” que parte dos proprios que recebem a bolada isso não vai acabar; eu sou funcionario publico, minha categoria briga desde 2009 por um plano de carreira, o argumento é que não tem verba, esse aumento de ontem poderia cobrir sem problemas o nosso plano, o aumento do funcionalismo causa uma grita de todos os lados, mas o do juros é celebrado com champanhe, vergonhoso!

  2. o sujeito escreve 100

    o sujeito escreve 100 artigos, e não percebe que os juros (indesejáveis) são consequência do desequilíbrio fiscal, das pedaladas, etc…. será tão difícil perceber o óbvio? 

    1. O japão tem taxa de juros

      O japão tem taxa de juros próximas de zero e o maior défict fiscal (por volta de 8% do PIB) e a maior divida pública do mundo(mais de 200% do PIB); a inflação não chega na meta que é de 2,0%, está abaixo disso. Usa o teu manual aí para explicar para a gente como pode isso: desequilibrio fiscal e juros próximos de zero….

    2. O japão tem taxa de juros

      O japão tem taxa de juros próximas de zero e o maior défict fiscal (por volta de 8% do PIB) e a maior divida pública do mundo(mais de 200% do PIB); a inflação não chega na meta que é de 2,0%, está abaixo disso. Usa o teu manual aí para explicar para a gente como pode isso: desequilibrio fiscal e juros próximos de zero….

  3. Os pornográficos juros do BC do Brasil

    É caso de polícia mesmo, Assis. 

    Mas o problema é a moeda que usamos, que está nas mãos deles e assim voluntariamente nos submetemos às chantagens e a espoliação.

    De tanto obedecer adquirimos o reflexo da submissão.

    Acorda, Dilma!

  4. Prezado Prof. Assis
    Se ela

    Prezado Prof. Assis

    Se ela mudar de rumo, como tentou no primeiro mandato, tiram ela de lá, e acho que ficará pior.

    Abração.

  5. Sempre ele……………………..

    Concordo com o autor do artigo, muito embora, tanto eu quanto ele saibamos que se forem virar a mesa e acabar com a festa dos juros altos, não ficam no governo.

    É so pesquisarmos na historia, e veremos que fim levou os que tentaram.

    Os ganfanhotos, dominam a economia mundial, e se libertar delas, é lquase impossível. Vide os paises que tentaram e como estão economicamente.

    Os abutres sempre foram os predadores, e nós as presas !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  6. “…a medida em que juros

    “…a medida em que juros altos atraem capital especulativo para ajudar a fechar o balanço de pagamentos tendo em vista os altos déficits em conta corrente que temos..”

    Ou seja, gasta mais do que pode e acha que todo o MUNDO vai ficar emprestando de graça…

    Parece CUNHADO…

  7. O único com coragem e

    O único com coragem e inteligência para enfrentar e acabar, sem conciliações, com essa farra é o Ciro Gomes. Há muito que não temos um político com projeto de país como ele.
    Não fosse pelo Eduardo Campos talvez hoje ele estivesse no seu segundo mandato. Paciência.

    Terá o Brasil perdido uma oportunidade de ouro se não escolhê-lo presidente.

  8. NÃO ADIANTA RECLAMAR!

    Afinal, o que fizemos para as eleições de 2014?

    Por acaso tentamos nos organizar, debater a política, negociar apoios, e firmar compromissos?

    Ora, mas nem ao menos oferecemos trabalho voluntário?

    Então agora resta engolir esse tipo de coisa, que inviabiliza investimentos, reduz o consumo, os empregos, e a renda. Afinal, eles souberam agir, debater, unir-se, organizar-se; e, é claro, fazer a “vaquinha”! Ou seria melhor dizer “vacona”? Pois enquanto todos assistiam as eleições sem erguer um dedo, sem se preocupar com nada, sem participar nem ao menos com trabalho voluntário; eles despejaram bilhões de reais na campanha dos 3 principais candidatos a presidente. Por isso hoje estão tranquilos, enquanto os folgados, irresponsáveis, e inconsequentes, pagam a conta da roubalheira dos políticos…

    Vejam como continuam ilesos às crises, praticamente isentos de impostos; e também, é claro, quem está puxando a carroça:

    http://democraciadiretabrasileira.blogspot.com.br/2015/02/impostos-sim-mas-com-justica.html

    O que fazer?

    2016 está aí, e 2018 vem logo em seguida. Que tal estudar um pouco mais de política, e trazer pra cá a NOVA POLÍTICA desenvolvida na Europa (Nova política não significa “rede sustentabilidade”, muito pelo contrário…):

    http://democraciadiretabrasileira.blogspot.com.br/2015/02/impostos-sim-mas-com-justica.html

  9. E enquanto sobe a inflação, a

    E enquanto sobe a inflação, a imprensa comemora:

     

    – “Lucro recorde no Bradesco!”

    – “Viva o Santander!”

     

    É mole? Bancário tem aumento? Tem, sim senhor! Aumento nas metas…

     

    A solução? Não sei mas poderia se pensar em economia baseada na produção – e não na especulação, no atravessamento agiota – e taxação muito mas rigorosa de quem ganha mais, grandes fortunas, coisas assim, que tal?

  10. Cadê os petistas ?

    Nesses posts eu sempre espero uma contra-argumentação dos petistas, mas parafraseando o padre-cantos Alessandro Campos : “nada, nada,nada”…

  11. Não sou economista mas penso

    Não sou economista mas penso que o Governo deveria informar a população que durante 2 anos vamos conviver com uma inflação da ordem de 10% anuais, em contrapartida reduziríamos a taxa Selic para 3/4% ao ano. O vlume de dinheiro que deixaria de ir para os bancos equilibraria as contas dos Governo, não causaria desemprego e o sacrifício seria entendido pela população.  

    1. Conversinha safada de banqueiro desonesto

      O blá-blá-blá de que os juros reais são a taxa Selic – Inflação é conversa para enganar trouxa, pois o efeito da inflação só ocorre quando o dinheiro “NOVO” atinge o mercado, ai sim, dilui o poder de compra, mas quando ele e fresquinho nas mãos dos banqueiros ele não esta harmonizado ainda, logo é uma transferência odiosa de patrimônio sem causa e sem trabalho para as mãos dos banqueiros emissores.

      Acorda, Dilma!

  12. Alma Imoral
    No livro “A alma Imoral” do pensador judeu Nilton Bonde há uma passagem em aquele fala de uma prática jurídica dos antigos judeus em que quando um acusado era condenado por humanidade o julgamento era automaticamenet e anulado e o acusado absolvido. Era considerado uma aberração numa causa não haver uma miséria discordância.

  13. Não é só de inflação, que se trata aqui…

    O país está no pior dos mundos econômicos: inflação + recessão, ou seja, ESTAGFLAÇÃO ! 

    Eu não consigo entender por qual mecanismo se combate estagflação com juros altos; No Japão nunca foi assim, na Europa tampouco e nos Estados Unidos menos ainda…

    Em quê teórico e desgraçado modelo esse aloprado Levyano, e sua patroa, estarão se baseando? 

    1. A questão subjacente não é

      A questão subjacente não é combate a inflação, mas transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos, como sempre. O lucro do Bradesco (lembre-se do Levi) no 1º trimeste aumentou 23% em relação a 2014, atingindo 4,5 BILHÕES de reais. E daí, não é?

       

  14. Quem gosta de pagar juros?

    É lastimoso ter que, novamente, passar pela crise que os juros excessivos nos levará.

    Não sou economista, mas não gosto de pagar juros. E vejo neles – altíssimos como agora – um sacrifício que está imposto aos trabalhadores e autônomos brasileiros, que, no frigir dos ovos, é que terão que pagar a conta. Todas as despesas vão para o consumidor pagar. Esta é a lógica do mdercado. Até se pode entender que as mercadorias irão ter preços mais elevados porque quem produz quer lucro. E se não houver lucro, deixará de produzir. Caindo a produção, virá a excassez e, e com ela, novamente a inflação.

    E isto é tudo que o Brasil não precisa.

     

  15. A Presidente é também vítima

    A Presidente é honesta? É sim.

    A Presidente é contra os altos juros? Tenho certeza que seja.

    A Presidente é a favor do sistema produtivo? Também certeza que sim.

    Mas não esqueçamos quem ‘é’ Dilma Russef: 1) é originária de uma família classe média alta; 2) formada em economia.

    Esses dois fatos fazem com que (imagino eu) que uma pessoa como ela deva ter algum patrimônio, minimo que seja. Aplicacões financeiras, aplicações em bolsa, etc. Ela é um ser humano como todos nós, e devido a isso ela com certeza enfrenta dilemas.

    Foi criada na época da economia do regime militar, inflação alta e juros altos, ‘overnight’, etc. Fico pensando o quanto ela pensa no ‘futuro dela’ depois da Presidência.

    Com certeza ela deveria somente pensar no ‘futuro da nação’, mas como todo ser humano ela também pensa em si própria, e muito!

    1. Não domino o assunto mas acho

      Não domino o assunto mas acho que ela já está tão bem garantida quanto a mãe do Beto Rinha.. Ou até mais, sem desonestidade pudica.

  16. CAPITAL FINANCEIRO DOMINA…O MUNDO

    Reverter essa lógica do domínio do capital financeiro é tarefa para mamute. No último concurso para Mamute não apareceu nenhum candidato.Quem sabe Beto Richa com seu esquadrão não resolve isso?.

  17. Política monetária

    Não entendo nada de economia mas acho um absurdo a política monetária de qualquer país ser decidida pelo BC e não pelo governante eleito. Os bancos centrais, que a rigor não deveriam nem existir por ter sido invenção de banqueiro, deveriam se limitar a uma salinha dentro do Ministério da Fazenda e subordinados ao Ministro que, por sua vez, seria subordinado ao presidente eleito.

    Se a existência de bancos centrais fosse alguma coisa boa para o país, por quê a criação do FED (que desencadeou o processo de criação dos demais bc’s) foi na calada da noite no feriadão de um fim de ano? Ainda querem mais independência dos bancos centrais para entregar tudo, completamente, aos banqueiros.

  18. Me lembrem de nunca comprar

    Me lembrem de nunca comprar um livro deste senhor, simplesmente um esquerdopata que deveria fazer parte da equipe economica grega para ver o que é tentar gerenciar uma crise.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador