A codependência da mídia e da delegacia no caso Marielle

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Em entrevista, delegado Giniton Lages fala detalhes de livro que retrata os bastidores em torno da apuração da morte da vereadora

O delegado da Polícia de Homicídios da Capital, Giniton Lages. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A proporção que o assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, tomou em termos midiáticos só se compara com que ocorreu no assassinato da juíza Patrícia Accioly, em 2011. A afirmação é do delegado Giniton Lages, que atua há 14 anos na Polícia Civil do Rio de Janeiro e que foi quem começou a investigação do caso.

Em entrevista exclusiva à TV GGN 20 horas para falar de seu livro “Quem matou Marielle”, Lages explica que o caso “ganhou contornos nacionais e internacionais” e que a pressão era gigantesca.

Lages aponta esse foco como um lado positivo, por conta do tamanho de informações e contra informações encaminhadas às autoridades. “Todo mundo volta os olhares para ela, e aumentam-se as oportunidades e as chances de receber informações que auxiliem nas investigações”.

Contudo, uma preocupação foi o vazamento de informações das investigações para a mídia, percebidos pela equipe de Lages tão logo assumiram o caso.

“Até aquele momento a delegacia tinha uma rotina, uma interface muito aproximada com a mídia de ir informando a mídia passo a passo o que estava sendo feito nas apurações”, explica Giniton Lages.

“Isso foi criando uma codependência daquilo que faz a delegacia e daquilo que a mídia quer informar, o direito à informação ganhando contornos até mais importantes do que o próprio sigilo da investigação”, ressalta Lages.

O delegado destaca dois vazamentos: o do termo de declaração da vítima sobrevivente, que acompanhava Marielle no carro, e as imagens de monitoramento dos autores ao local onde Marielle estava em um evento.

“Nos preocupou que nós deveríamos fazer um fechamento abrupto e dentro daquilo que nós sempre almejamos. De maneira geral, um investigador, principalmente o investigador de homicídio, ele prefere trabalhar no silêncio”

“Ele prefere trabalhar na sigilosidade absoluta, mas era muito difícil naquele momento. No livro, eu faço um mea culpa nesse sentido que, de certa forma, esse fechamento abrupto e total acabou criando essa penetração de curiosidade, de fake news em alguns momentos, de teorias da conspiração (…)”.

Quem é o delegado Giniton Lages

Delegado que deu início às investigações do caso Marielle, Giniton Lages atua há 14 anos na Polícia Civil do Rio de Janeiro – sendo nove deles dedicados à apuração de homicídios.

“No meu segundo ano como delegado de polícia, fui trabalhar na recém-inaugurada divisão de homicídios da capital. Foi um projeto-piloto, que tinha como propósito revolucionar o tratamento ao crime de homicídio no Rio de Janeiro”, explica o delegado.

Segundo Lages, a proposta contava com um aparato mais poderoso para iniciar as apurações tão logo possível, e uma equipe de peritos, delegado, investigadores e legista chegando mais rapidamente nas cenas do crime.

O delegado Giniton Lages explica que foi convidado para integrar o projeto de criação na capital, em 2010. Em 2014, o modelo foi replicado para a Baixada Fluminense toda, para Niterói e São Gonçalo.

“Em 2015, depois de ter sido delegado adjunto, fazendo local de crime, alçado ao cargo de delegado-assistente – aquele que vai tocar propriamente as apurações, o que chamamos de investigação de segmento”.

“Em 2015, fui figurar como delegado-titular em uma especializada na Baixada Fluminense. Aquela delegacia tinha sido criada em 2014, e em 2015 fui participar como gestor daquela unidade cuidando de todos os homicídios da Baixada Fluminense”, ressalta o policial civil.

“Lá permaneci por quase três anos, e aí nós estamos em 2018, quando Marielle é assassinada”, diz Lages. “A princípio não era problema meu, vamos colocar assim. Minha preocupação era cuidar da letalidade violenta da Baixada Fluminense”.

Porém, para sua surpresa, Lages foi chamado para uma reunião na sede da chefia de Polícia no dia seguinte ao crime, e foi quando ele foi anunciado à imprensa pelo chefe da polícia que seria o responsável pelo caso Marielle. Lages respondeu pela primeira fase da investigação, entre 2018 e 2019.

Veja mais sobre os bastidores do caso Marielle na íntegra da TV GGN 20 horas. Clique abaixo e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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