Xadrez do início do controle da Polícia Rodoviária Federal por Bolsonaro, por Luis Nassif

A nomeação de Vasques para a delegacia da PRF de Angra dos Reis mostra que a Polícia Federal do Rio de Janeiro deixou de ser um empecilho para os planos dos Bolsonaro.

No dia 6 de julho de 2020, portanto dois anos atrás, denunciamos aqui no GGN como o governo Bolsonaro iniciou o controle sobre a Polícia Rodoviária Federal. A figura central foi o delegado Silvinei Vasques, frequentador do Clube de Tiro 38, o mesmo frequentado por Eduardo Bolsonaro. O movimento inicial fez parte da estratégia de desmontar a fiscalização no porto de Itaguaí – porta de entrada do contrabando de armas no país.

O episódio ilustrava bem as duas parcerias com as quais os Bolsonaro pretendem botar fogo no país, depois de perder as eleições: os Clubes de Caça e Tiro e a Polícia Rodoviária Federal.

Aqui, a matéria publicada na época.

Peça 1 – Flávio Bolsonaro e o amigo Vasques

Acompanhe o vídeo abaixo. A última cena é de Flávio Bolsonaro saudando o agente Vasques, da Polícia Rodoviária Federal.

Quem é o PRF Vasques?

Vasques era o responsável pelo estande de tiro da PRF em Santa Catarina. E foi Secretário Municipal de Dario Berger, prefeito de São José e posteriormente prefeito de Florianópolis.

Trata-se de um Policial Rodoviário Federal de Santa Catarina, Mais que isso, recebia frequentemente os irmãos Carlos e Eduardo Bolsonaro, em suas viagens a Santa Catarina para frequentar o Clube de Tiro .38. Os irmãos se hospedavam em sua casa, e passeavam em suas lancha e jetski.

Todos frequentavam o Clube .38 e participavam do mesmo grupo de Tony Eduardo.

Peça 2 – Tony Eduardo e o Clube .38

Tony Eduardo é um personagem central na estrutura de clubes de tiro do país.

Em seu perfil profissional, ressalta sua condição de filhos  de Tim Omar de Lima e Silva, criador do Clube 3.8. Tim é delegado de polícia aposentadoria e, no seu currículo, consta o Curso Especial de Explosivos, ministrado pela Academia de Polícia Civil de São Paulo. Apresenta-se como descendente do Duque de Caxias.

O Clube .38 é núcleo do bolsonarismo raiz mais controverso do país. 

Adélio Bispo de Oliveira, autor do atentado contra Jair Bolsonaro, passou uma temporada por lá, pouco antes de cometer o crime. Até hoje não se explicou como uma pessoa desequilibrada, quase limítrofe, sem muitos recursos, saiu de Minas para frequentar o Clube .38.

Esse ponto deu margem a desconfianças sobre as reais motivações do atentado.

Recentemente, a autora de um ataque baixo contra o deputado David Miranda partiu de uma advogada, Julia Zanatta, membro frequente do Clube, uma apologista das armas.

“Vai bichona, usa mais o fato de dar o cu para se vitimizar. Porra, seja um gay macho, caralho!”, escreveu

Peça 3 – os Bolsonaro e o Clube .38

Os Bolsonaro mantém uma ligação umbilical com o clube .38, com o delegado Vasques e com Tony Eduardo.

Em abril do ano passado, em um de seus momentos de crise, Carlos Bolsonaro foi buscar o abraço amigo no Clube .38.

A amizade com Eduardo Bolsonaro surgiu quando este entrou na Polícia Federal e fez curso de treinamento com Tony.

Tony é admirador de Olavo de Carvalho, a ponto de lhe conferir uma comenda: Medalha de amigo da família. São fanáticos pelos Estados Unidos, a ponto de ostentar nas paredes uma bandeira norte-americana maior que a brasileira, conforme anotou o repórter Ricardo Antunes, em reportagem para o DCM.

Aqui, uma cena caseira dos irmãos Bolsonaro com Tony Eduardo, o chamado café higiênico.

E aqui uma cena carinhosa com o amigo Vasques, que assumiu a Delegacia da Polícia Rodoviária Federal em Angra dos Reis.

Peça 4 – os Bolsonaro assumem o controle da PRF

A estrutura de apoio armado dos Bolsonaro tem três pontas.

A mais ostensiva, as milícias do Rio de Janeiro. Em segundo, os clubes de tiro. Em terceiro, as Polícias Militares de alguns estados.

Jair Bolsonaro tem atuado ostensivamente para armá-las, ao facilitar a importação de armas, o não registro nem das armas nem da munição e ao investir contra a fiscalização do Porto de Itaguai, porta de entrada do contrabando de armas no país.

No “Xadrez de Bolsonaro e da expansão das milícias do Rio de Janeiro” descrevo o que vem ocorrendo em Angra dos Reis.

  1. O tráfico foi expulso de algumas favelas do Rio de Janeiro pela ação conjunta das milícias e das forças de segurança do Rio.
  2. Parte do tráfico refugiou-se em Angra dos Reis e passou a ter sucesso no comércio de drogas.
  3. As milícias da Zona Oeste – o grupo mais ligado aos Bolsonaro – voltaram sua atenção para Angra dos Reis.
  4. Nos últimos meses, foi instalado por lá um batalhão do BOPE e, agora, a delegacia da PRF, sob comando de um aliado dos Bolsonaro.
  5. Informações colhidas junto a moradores indicam que acelerou a ida de milicianos para lá, inclusive consultando os cartórios de imóveis para regularizar compras de terrenos. Como se sabe,. nos últimos anos passaram a investir na construção ou apropriação de moradias populares.

Com a inauguração da Delegacia da PRF de Angra, os Bolsonaro matam dois coelhos com uma só cajadada. Primeiro, enfraquecem a Delegacia de Itaguaí, que era uma pedra no sapato do contrabando de armas. Depois, colocam em Angra um amigo íntimo da família.

A nomeação de Vasques para a delegacia da PRF de Angra dos Reis mostra que a Polícia Federal do Rio de Janeiro deixou de ser um empecilho para os planos dos Bolsonaro.

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