Sem reforma política, não tem solução para corrupção; por Mauro Santayana

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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O Petrolão e os outros escândalos abduzidos pelo noticiário

Por Mauro Santayana

Na Rede Brasil Atual

Nas últimas semanas, o Brasil tem vivido sob o impacto da Operação Lava Jato, que, em torna da qual o noticiário, na busca de uma associação ao chamado “mensalão”, batizou de Petrolão. Enquanto se eleva esse novo escândalo ao posto de “o maior da história”, relegam outros episódios aos rodapés, os lançam um imenso Triângulo das Bermudas, o reduzem aos pedacinhos pelas lâminas de Freddy Krueger, os abduzem feito obra de alienígenas.

Esse é o caso, por exemplo, do “mensalão do PSDB”, perpetrado, de forma pioneira, com a ajuda do conhecido Marcos Valério, durante o governo do senhor Eduardo Azeredo, em Minas Gerais.

Esse é o caso do escândalo do Banestado, de desvio de mais de R$ 100 bilhões para o exterior, no qual foram indiciados vários personagens ligados ao governo Fernando Henrique Cardoso, incluído o senhor Ricardo Sérgio de Oliveira, “arrecadador” de recursos de campanhas do PSDB, perpetrado, entre 1996 e 2002, também no Paraná, com a ajuda do mesmíssimo “doleiro” Alberto Youssef do atual escândalo da Petrobras.

Esse parece ser também o caso, do Trensalão do PSDB de São Paulo, que, apesar de ter tido mais de R$ 600 milhões das empresas envolvidas bloqueados pela justiça no dia 13 de dezembro, parece ter sido coberto por um Manto da Invisibilidade digno de Harry Potter, do ponto de vista de sua repercussão.

Seria ótimo se – hipocrisias à parte – o problema do Brasil se resumisse apenas a uma briga entre “bonzinhos” e “malvados”.

Está claro que temos aqui, como ocorre em muitíssimos países, bandidos recebendo propinas no desvio de verbas públicas, atuando como “operadores” e facilitadores no trabalho de tráfico de influência, no superfaturamento e na lavagem de dinheiro e envio de recursos para o exterior.

E claro está também que existem empresários acostumados, com o tempo, a pagar ou a ser extorquidos, a cada obra, a cada licitação, a cada aditivo de contrato, pelos “intermediários” e oportunistas de sempre, e que já sofrem sucessivas paralisações, atrasos e adiamentos nas grandes obras que executam, que ocorrem devido a razões que muitas vezes escondem interesses políticos que nem sempre correspondem aos do próprio país e da população.

E padecemos, finalmente, ainda, da falta de coordenação e entendimento, entre os Três Poderes da República, em torno dos grandes problemas nacionais.

Leis, projetos e obras que são essenciais para o futuro do país, não são discutidas previamente entre Executivo, Legislativo e Judiciário, antes de serem encaminhadas para aprovação e execução, o que acaba levando, nos dois primeiros casos, a relações de pressão e contrapressão que acabam descambando no fisiologismo e na chantagem – e que afetam, historicamente, a própria governabilidade.

Na contramão do que imagina a maioria das pessoas, com algumas exceções, ao contrário dos corruptos e dos “atravessadores”, os homens públicos – incluindo aqueles que trabalham abnegadamente pelo bem comum – estão muito mais preocupados com o poder, para executar suas teses, ideias e projetos, ou apenas exercê-lo, simplesmente, do que com o dinheiro.

No embate político, ter recursos – que às vezes chegam de origem nem sempre claramente identificada, pelas mãos de “atravessadores” que se oferecem para “ajudar” – é essencial, para conquistar o poder, na disputa eleitoral, e nele manter-se, depois, ao longo do tempo.

Esse é o elemento mais importante da equação. E ele só começará a ser resolvido se houver uma reforma política que proíba, definitivamente, a doação de dinheiro privado a agremiações políticas e candidatos a cargos eletivos, promova a cassação automática de quem usar caixa dois e aumente a fiscalização do uso dos recursos partidários ainda durante o período de campanha.

A gravidade da situação coloca em risco a imagem da empresas mais importante do país levou. A ponto de a defesa da Petrobras ocupar parte importante do discurso de diplomação da presidenta reeleita. Foi um recado importante de que não está fechando os olhos para a crise e de que tampouco permitirá que setores interessados na fragilização da companhia se dela de locupletem.

Mas por mais que sejam importantes, e impactantes, as prováveis prisões dos corruptos envolvidos no escândalo da Petrobras e a recuperação dos recursos desviados, se não for feita uma reforma política, de fato, elas não impedirão que mais escândalos ocorram, no financiamento de novas campanhas, já nas próximas eleições.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

12 Comentários

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  1. Desde o primeiro natal. …
    Prezado Mauro, Infelizmente isto é assim, desde o 1o. Natal do mundo. …Como dizia Lula Gonzaga: …tem jeito não!!!…Infelizmente pertencemos a uma espécie de ser vivo, pior do que os abutres e hienas…..vivemos de chafurdar a carniça da alma humana. …

  2. ótimo. a hipocrisia,

    ótimo. a hipocrisia, principalmente da mídia e do PSDB não podem prevalecer. atire a primeira pedra o partido político e/ou órgão de imprensa PURO. conjunto vazio, certamente. a luta contra a corrupção deve ser permanente e diuturna, sem acordos, sem tolerância e, principalmente sem leniência. os pseudos honestos que se dizem delatores devem ser tratados como tais, ou seja, criminosos em busca de penas menores. não são e não podem ser transformados em heróis como tenta a rede Globo. não esqueçamos dos escândalos do psdb, dem e da sonegação fiscal e apoio à ditadura da globo.  

  3. Não tenho ilusão que com o

    Não tenho ilusão que com o fim do financiamento privado oficial a corrupção será espurgada das contas públicas e privadas. Cada licitação, mesmo eletrônica, está sujeita a acordos prévios difíceis de serem detectados.  Os caminhos por onde escorrem a corrupção, nos três poderes e na esfera privada, já produziram sulcos profundos nas camadas tectônicas do planeta. Mas, qualquer movimento no sentido de dificultar e aumentar as barreiras para o controle será bem vindo.

  4. Todo mundo escreve que

    Todo mundo escreve que precisamos de reforma política.

              Isso já se tornou até clichê.

                  A grande pergunta é:

                   E qual seria a reforma política?

                    Eis a questão, porque reforma  todo mundo deseja.

                    Eu sou a favor do parlamentarismo, por exemplo.

  5. Papo furado

    Agora inventaram de repetir esse mantra da reforma política como a salvação de todos os problemas,

    Besteira. 

    Há pouco tempo diziam que a fidelidade partidária seria a salvação da política brasileira pois acabaria com o fisiologismo. O PT pregou isso durante anos e anos. Imposta a fidelidade, os caras trataram de encontrar a saída fundando novos partidos para possibilitar os fisiologismos.

    E hoje quem mais se beneficia da criação de novos partidos para lhe apoiar ? Ora, o próprio PT.

    Ou seja, falta é virtude republicana a todos. E sem virtude, já dizia Montesquieu, pode inventar lei a vontade que não adianta de nada.

    Punição é o que falta a quem se corrompe. E não é uma nova lei preventiva que será obedecida se não houver a certeza da punição. 

  6. Não lhe interessa, é claro!

    Camarotti falando hoje na GloboNews que o Governo e o PT estão muito enfraquecidos para encampar uma reforma politica…

    Êita emissora escrota!

  7. Não vejo futuro em uma

    Não vejo futuro em uma abstrata “reforma política”. Essas propostas de “passar a limpo” não dão muito certo.

    Sou contra a tal “constituinte exclusiva”; ela tem mais chance de paralisar o país e gerar mais frustrações do que de trazer soluções.

    Reformas pontuais como financiamento de campanha e coalizão proporcinal podem ser muito mais efetivas. Ainda que, pra facilitar a aprovação, entrem em vigor duas eleições pra frente.

     

  8. Quando acontecem escândalos

    Quando acontecem escândalos denunciados de corrupçção contra o governo do PT e aliados, mais e mais o atingido direto não é o PT. Quem pensa que é, errou por quilômetros seu alvo. Através de uma curva que será complicada traçar, o feitiço vira contra o feiticeiro. Sou contra qualquer ilusão de mudança por reforma radical  das regrras. Acho que o sistema deve continuar o mesmo, mas com a proibição radical de contribuições privadas de campanha. Se com esse sistema o Brasil atingiu o nível de desenvolvimento democrático que nenhum país grande jamais alcançou, imaginem como será um Brasil livre de parasitas que infestam a saúde da democracia.

  9. não consigo acreditar

    que sendo proibidas as doações de campanha, nossos corruptos parem de receber um troco por fora. tem é que prender esses vagabundos que lesam a pátria!!!

    prisão, isso é que acaba com a corrupção!!

     

  10.  
    SÓ PERDEU VELOCIDADE. E

     

    SÓ PERDEU VELOCIDADE. E NEGUINHO GRITA LOGO, DESCARRILHOU!!!!!

    O trem começa a perder velocidade. Indício provável de que há perda de pressão na caldeira. Cabe ao maquinista, pedir ao foguista para verificar se é falta de lenha na fornalha. Não sendo essa a causa, para o trem, e, examina-se a caldeira para verificar se há algum furo por onde pode estar escapando o vapor.

    Encontrado o furo. Pronto. Convoca-se o soldador, tapa-se o buraco. A caldeira deve recuperar a pressão, e a locomotiva retomar a viagem. Enquanto aos passageiros, cabe continuar a planejar suas vidas. Até o próximo percalço. Pois a vida, é repleta deles.

    Seria leve assim, não surgissem tantos espíritos-de-porco, apregoando o juízo final :  Ah!… Mais não vai resolver, você tapa aqui! Aparece novos furos adiante. Não vai dá certo!…Essa locomotiva é uma merda! Estanca a fuga do vapor aqui, e ele vai vazar ali adiante no caixa II.

    Esse papo me faz lembrar de um ajudante de maquinista…um tal de  Zé Tonho Dias Toffoli. Menino novo, pouca experiência. E,… o quê se ouve por ai…dizem ser um cabra  de insegura e duvidosa formação teórica. Nunca será um bom maquinista. Eh o que dizem…

    Orlando

     

     

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