‘Orbolsonaro’: há uma guerra em curso, e não é na Ucrânia, por Hugo Souza

Bolsonaro foi a Moscou ter com Putin, que tinha acabado de receber Orbán, que ofereceu um jantar para Bolsonaro em Budapeste. Isso em duas semanas. Orbán tentará a reeleição em abril. Bolsonaro, em outubro.

17 de fevereiro de 2022: Viktor Orbán recebe Jair Bolsonaro em Budapeste (Foto: Alan Santos/PR).

do Come Ananás

‘Orbolsonaro’: há uma guerra em curso, e não é na Ucrânia

por Hugo Souza

Bolsonaro, que foi a Moscou ter com Putin, que tinha acabado de receber Orbán, que ofereceu um jantar para Bolsonaro em Budapeste. A triangulação aconteceu no curto intervalo de duas semanas, em meio ao rufar dos tambores da guerra na Ucrânia, mas temos todo um 2022 pela frente. Orbán tentará a reeleição em abril. Bolsonaro, em outubro.

Além de começarem o ano eleitoral com viagens oficiais à Rússia que resultaram, estranhamente, em zero acordo ou tratado, Jair Bolsonaro e Viktor Orbán têm mais em comum. O orgulho do fascio, por exemplo.

Um e outro também bafejam dúvidas sobre os processos eleitorais dos seus países e alimentam a permanente tensão de que podem não aceitar o que o poeta chamaria de “a voz das urnas”. Orbán está neste jogo há 20 anos. Em 2002, como agora, ele tentou a reeleição. Foi derrotado, contestou o resultado e aproveitou a algazarra para guinar seu partido para o mais alvoroçado fascismo.

Além disso, gente tanto de Bolsonaro quanto de Orbán procurou a fabricante israelense de um software, o Pegasus, usado para espionar opositores. O governo Orbán comprou e usou o Pegasus. Carlos Bolsonaro, até onde se sabe, ficou na tentativa. Até onde se sabe.

Jair Bolsonaro e Viktor Orbán têm em comum ainda o apoio de Donald Trump em seus esforços de renovação de mandatos em 2022. Em janeiro, Trump mergulhou na campanha de Orbán na Hungria. Agora, Bolsonaro e o primeiro-ministro húngaro parecem ter entrado no escopo da realpolitik da Rússia de Vladimir Putin, que, como toda potência imperialista que se preza, não se faz de rogada em dar os braços às piores criaturas que andam sobre a Terra para acautelar seus interesses estratégicos.

Vide os esforços de Moscou para eleger Donald Trump nos EUA seis anos atrás, não exatamente apesar de Trump ser “impulsivo, mentalmente instável e desequilibrado”, conforme o então candidato à Casa Branca foi classificado numa reunião da alta cúpula do Kremlin em janeiro de 2006; mas justa e precisamente por isso – porque um inquilino desta categoria na Casa Branca enfraqueceria os americanos nas mesas internacionais.

A respeito disso, Come Ananás publicou artigo nesta quinta-feira, 17, intitulado “A ficha do general Patrushev, com quem Heleno assinou ‘acordo’ na Rússia”.

A relativamente recente aproximação entre Vladimir Putin e Viktor Orbán, por seu turno, tem como pano de fundo suspeitas de que a Hungria tem feito as vezes de porta de entrada e base para os serviços de espionagem russos da União Europeia – a República Magiar é membro tanto da UE quanto da Otan.

Há pouco, uma comissão especial do Parlamento Europeu criada para investigar interferência estrangeira nos processos democráticos da União Europeia alertou que países da Europa Oriental vêm servindo como “laboratórios de manipulação de informação e guerra híbrida”, manifestando especial preocupação com a Hungria.

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Hugo Souza

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