Covid foi mais letal em cidades bolsonaristas, segundo estudo

Trabalho publicado na Lancet afirma que risco de morte foi maior nas cidades onde Jair Bolsonaro venceu as eleições de 2018

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

As cidades brasileiras onde Jair Bolsonaro (PL) venceu a disputa presidencial de 2018 apresentaram uma taxa de letalidade por covid-19 acima daquelas que elegeram Fernando Haddad (PT), segundo artigo publicado na revista científica Lancet.

A pesquisa foi realizada com o uso de bancos de dados de mortalidade entre fevereiro de 2020 e junho de 2021 para os 5.570 municípios brasileiros, e também incluiu parâmetros socioeconômicos, como categorias de cidade, renda e índices de desigualdade, qualidade do serviço de saúde e partidarismo – ou seja, quem a cidade em questão elegeu no segundo turno das eleições presidenciais de 2018.

“Os municípios que apoiaram o então candidato Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 foram os que tiveram as piores taxas de mortalidade por COVID-19, principalmente durante a segunda onda epidêmica de 2021. Esse padrão foi observado mesmo considerando as desigualdades estruturais entre as cidades”, dizem os pesquisadores.

Segundo a pesquisa, a primeira onda da covid-19 foi moldada pelas vulnerabilidades existentes em torno da desigualdade de renda e de infraestrutura no Brasil, enquanto a segunda onda foi “explicitamente moldada” pela escolha partidária dos municípios.

Ou seja: as cidades que escolheram Bolsonaro como presidente do país “mostraram taxas de mortalidade intensificadas durante a segunda onda da pandemia”. Tal comportamento pode ser explicado pelo negacionismo federal – um ano após o início da pandemia, o governo continuava negando apoio às recomendações de distanciamento social e uso de máscara.

Desigualdade e campanha negacionista

Os pesquisadores listam uma série de fatores que agravaram o impacto da pandemia de covid-19 no Brasil, a começar pelo efeito das desigualdades econômicas do país, que influenciaram diretamente a “carga desproporcional da covid-19 em pessoas mais vulneráveis”.

Além disso, o surgimento da variante P1 em Manaus levou o sistema de saúde em diversas localidades ao colapso, somado “ao desinteresse da administração federal na implementação de um programa coordenado de resposta à covid-19, com foco na promoção de intervenções não farmacêuticas como medidas locais de confinamento, distanciamento, uso obrigatório de máscaras, testes em massa e o rastreamento populacional”.

Os cientistas também destacam o atraso do governo federal em iniciar a campanha nacional de vacinação e as ações da administração federal – endossadas “por associações médicas brasileiras de orientação direitista” – em torno da promoção da automedicação com cloroquina e ivermectina, o que aumentou a gravidade dos casos em especial entre a população idosa.

O artigo é assinado por Diego Ricardo Xavier, Eliane Lima e Silva, Flavio Alves Lara, Gabriel R.R. e Silva, Marcus F. Oliveira, Helen Gurgel e Christovam Barcellos, que atuam em instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Confira abaixo a íntegra do artigo publicado na revista científica Lancet

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Redação

2 Comentários

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  1. A tela do meu note só apresenta essa matéria de 2022, todo o resto é de 2018.
    Fiquei até felizão quando vi o Fora de Pauta de volta, postava uns textos lé e agora não sei mais como faço
    E nem é 1 de abril.

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