O início do fim da cirurgia e da radioterapia para os tumores da próstata?

Há exatos 10 anos um artigo publicado no  British Journal of Radiology questionava em seu título: Será o Ultrassom Focado de Alta Intensidade a Cirurgia do Futuro?

Essa modalidade de tratamento de tumores ou lesões no interior do corpo humano passou a chamar muita atenção porque em pouco tempo passou a ser utilizada em maior escala e, pasmem, prometia tratar cânceres sem a necessidade de cirurgias ou cortes para a destruição definitiva dessas lesões.

Após 10 anos da publicação desse artigo, em agosto passado, um conceituado grupo Alemão liderado por Christian Chaussy, publicou em uma das mais importentes revistas médicas do mundo, a The Journal of Urology,  impressionantes resultados de longo prazo de pacientes com câncer prostático tratados com três gerações dessas máquinas, também conhecidas como máquinas de HIFU, ou apenas HIFU.

Mas do que se trata essa tecnologia?

O HIFU se vale dos mesmos princípios do ultrassom convencional, cujas ondas podem se propagar pelos tecidos sem causar danos pois a pequena energia propagada por suas ondas é rapidamente dissipada pelos tecidos,  sem que ocorra concentração da energia em um determinado ponto. Com o HIFU, essas ondas são focadas em um alvo específico, fazendo os tecidos fibrarem causando aumento local da temperatura até níveis que causam dano tecidual.

É bem conhecida a fragilidade dos tecidos quando submetidos a temperaturas fora de uma bem determinada faixa. Quando células são submetidas a temperaturas de 43oc por 60 minutos suas funções ficam paralisadas e quando atingem 56oc por apenas 1 segundo,  ocorre rápida toxicidade com dano celular irreversível. Durante o tratamento com HIFU, a temperatura de 80oc é rapidamente alcançada e aplicada diversas vezes por períodos protocolares, garantindo a morte celular.

Historicamente, o primeiro estudo a considerar o potencial dessa tecnologia foi publicado em 1942 e suas primeiras aplicações foram no ramo da neurocirurgia, do fígado, rins, mamas e bexiga. Atualmente uma das mais disseminadas utilidade do HIFU, seja para o tratamento do Câncer de Próstata, com centros espalhados por todos os continentes, mas ainda sem aprovação final nos Estado Unidos da América.

A grande importância do estudo publicado por C. Chaussy é a comprovação da segurança em se tratar pacientes de neoplasias prostáticas sem a necessidade de cirurgias ou radioterapia. Além dessa segurança, seu estudo aponta para resultados muito animadores em relação à sobrevida global dos pacientes e também em relação à sobrevida livre de recidivas. Os resultados, nesse estudo, foram muito semelhantes ao do procedimento consagrado de retirada completa da próstata e vesículas seminais por cirurgia.

O despontar dessa tecnologia pode colocar em xeque(mate) procedimentos ditos minimamente invasivos como a cirurgia robótica ou a radioterapia (que implica em risco inflamatório inerente ao procedimento). Mesmo as cirurgias convencionais, que tratam de forma adequada quase todos os tipos de tumores prostáticos, poderiam ficar reservadas apenas para casos mais complexos e o HIFU se tornaria uma nova opção de tratamento alinhada as perspectivas de boa qualidade de vida, pouca agressão tecidual e tratamento adequado das neoplasias.

Mas nem tudo são flores, os índices de impotência sexual ainda são elevados, cerca de 1/4 dos pacientes submetidos ao HIFU apresentam um episódio grave de retenção urinária no primeiro ano de acompanhamento e boa parte dos doentes necessitam de um procedimento prévio, chamado pelo grupo de Chaussy de ressecção prostática neoadvante. Esse procedimento que não passa de uma resseção de tecido prostático anterior à aplicação das ondas de HIFU para que a terapia funcione de forma uniforme na próstata e para que não ocorra retenção urinária aguda logo após a aplicação.

Muitos críticos citam também a grande pressão da indústria para o crescimento da tecnologia e uma possível contaminação dos estudos que surgiram nos últimos anos, contaminação a qual outros estudos de outras tecnologias ou procedimentos também podem estar submetidos e que precisam ser ponderadas.

Assim, desde a publicação há 10 anos pelo grupo de Oxford descrevendo os estudos sobre HIFU e a sua história, houve um grande progresso e dezenas de centenas Seres Humanos foram tratados e estudados para consolidação do HIFU. Os próximos 10 anos serão decisivos para essa tecnologia tão intrigante e promissora e é possível que até 2014 os EUA a aprovem para uso em território americano.

Espero também poder um dia oferecê-la com segurança, transparência e baixo custo a pacientes no Brasil (já existem máquinas no Brasil). Vamos torcer

2 Comentários

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  1. Prevenção contra o câncer na próstata.

    O estudo, e a torcida do Dr.  Cesar Câmara, vêm em boa hora, para alertar aos meus contemporâneos, que a prevenção é o melhor medicamento, para evitar, que este mal, quase natural nos homens com mais de 50 anos, chegue ao estágio, de ter que ser tratado com cirugias invasivas e/ou de risco, como ora ocorre, se os exâmes de próstata, sejam iniciados já aos 40 anos, e feitos anualmente, para diagnosticar qualquer anormalidade naquele órgão.

    Uma vez constatada a doença, e se iniciado o devido tratamento em tempo hábil, ela é perfeitamente curável e sanável, com a devida segurança, transparência,sem quimioterapias e/ou outros tratamentos dolorosos e custosos.

    Repito: O melhor remédio, é a prevenção. Sou adepto dela. E sem as “frescuras” que a nossa hipócrita criação e formação, nos deixou como ensinamento.

    1. informaçoes sobre a próstata

      PARABENS, SOMENTE PELA PREVENÇÃO O POVO TERÁ MELHOR SAUDE E, OS HOSPITAIS E PRONTOS SOCORROS COM MENOS CURAS…. OBRIGADO POR SER ASASIM

      EDU PIOMENTEL

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